Fanfic: Crônicas & Poesia | Tema: Original

- "O que faz pensar que eu quero que pegue aquele avião?" – Ela gritou.

- "O que te faz pensar que eu quero ficar aqui contigo?" – Eu gritei mais alto.

Fez silêncio. Eu havia vencido a estupida guerra de quem machucaria mais. Não senti orgulho disto, pelo contrario, meu estomago se revirou e eu quis vomitar. Mas, não deixei escapar pedido de perdão algum, meu orgulho não permitiu. Talvez eu estivesse fodendo minha vida, talvez não disser algo estivesse me condenando, ou talvez eu apenas estivesse me libertando de tudo.

A porta se abriu. E eu fiquei parado no meio da sala, esperando que todos os meus pedaços voltassem para o lugar. Um flashback de consciência passou pela minha cabeça, e eu me lembrei da vovó e de como ela ocupava o seu tempo pregando botões nas camisas que meu avô jamais voltaria a usar, porque precisava sentir a presença dele de alguma forma. De como havia apenas dois caminhos e eu podia escolher ficar ou partir. 

Ela dirigia em silencio.

E eu pensava sobre o tempo que mal percebi ir embora, tão depressa e atroz. Sobre as estruturas que se ergueram ao meu redor e de como eu nunca pude realmente me senti parte delas. Mas eu sentiria falta da diversão que tínhamos. Dos planos que nós nunca cumpriríamos juntos. E das promessas.

Quando o carro parou, sua face entristeceu, ela ainda estava machucada. Eu quis mover minha mão sobre a sua, mas a dela agiu mais depressa. Era como se nossa vida retrocedesse, eu podia ver nos olhos dela... Nós ainda estávamos lá.

- Você vai ficar bem?

- Sabe, eu vou sentir sua falta. – Eu disse e a envolvi em meus braços com a força de um abraço reprimido durante aqueles anos. E ela riu aliviada entre as poucas lágrimas que tentava esconder.

- Eu queria que ficasse.

- Eu vou. – Eu soltei meus braços da sua volta devagar e a encarei nos olhos para que soubesse que não estava mentindo. - Eu vou ficar na sua história, e você na minha.

- Seja um bom garoto. – Pediu.

Eu apenas sorri.

Eu sabia que o caminho para nós ainda era muito longo, e nunca recuável. Sabia que não a veria novamente, mas está OK. Eu nunca me esqueceria. Eu não me esqueci.