Fanfic: Between Now and Never - {Vondy} | Tema: Suspense, amor.

- Dulce, daqui a pouco vou começar a te confundir com um livro! – Titia reclamou pela vigésima vez.

- Isso seria ótimo. – Eu tenho passado muito tempo aqui. Sabe, as vezes as pessoas me perguntam porque eu gosto tanto de ler. Sempre respondo que não sei o porquê, apenas leio. Mas eu sei sim. É que a vida nos livros é bem melhor que a minha. Eu tinha uma vida boa. Na verdade, bom não é o adjetivo certo para essa frase. Eu tinha uma vida perfeita! Um pai e uma mãe maravilhosos. Minha pequenina irmã, Glenda e um cãozinho. Eu fui líder de torcida na minha escola em Nova Jersey. Tinha um namorado lindo. Ele era perfeito também, era capitão do time de futebol. Mas aí, uns bandidos malvados, vamos assim dizer, acabaram com tudo isso. Eu já fui feliz um dia. Sinto raiva daqueles bandidos, não por terem matado tudo o que eu mais amava. Mas por ter impedido que Glenda crescesse, terminasse o colegial, casasse e tivesse seus filhos. Impediram meu pai de realizar o maior sonho de sua vida, que era vender nossa casa depois que saíssemos em busca de nossos sonhos e virar mochileiro junto da mamãe. Impediram que minha mãe visse eu me formar. O que ela desejava desde que me viu em seu colo no hospital. Disso, eu tenho ódio. E infelizmente eu não posso fazer mais nada. Porque agora todos eles estão mortos e enterrados debaixo da terra.

- Não fale assim Dulce. – Me repreendeu. – Sabe, porque você não sai um pouquinho? Não sei, vai a algum lugar. Tente se divertir.

- Minha diversão morreu junto com minha família a seis meses atrás. – Infelizmente, a aceitação veio com uma pitada de grosseria. Não posso evitar. Minha tia é a única pessoa da família que decidiu me ajudar. O tio Johnny, irmão do meu pai nem ao enterro foi. Eles nunca se deram bem. Porque papai e ele amavam a mesma mulher, minha mãe. Mas tio Johnny amava mais o dinheiro, e preferiu ir para Londres realizar seu sonho de se tornar advogado, deixando minha mãe sozinha. Papai e mamãe se casaram, e quando tio Johnny voltou três anos depois, eu já havia nascido. E ele jurou odiar meu pai o resto da vida e fazê-lo pagar. Mas isso nunca foi nada além de palavras. Olhei para minha tia e percebi que a havia magoado. Por mais que eu estou revoltada com tudo, não posso fazer isso com ela. Quer dizer, ela me ajudou. Me deu uma casa e cuida de mim. – Desculpa tia Alma. Não queria magoar você, mas é que é difícil me divertir quando eu sei que meus pais e minha irmãzinha estão a sete palmos debaixo da terra. – Ela agora tinha pena em seus olhos. O que eu mais odeio, pena. O olhar das pessoas de “coitadinha, o que será dela agora? ”.

- Não tem problema querida. Eu sei que está passando por um momento difícil. – Ela tocou minha mão, eu a retirei rapidamente. Ninguém me toca ou me abraça já faz seis meses. Prometi não amar mais ninguém. Todos os que eu amo morrem. – Se precisar de mim, estou lá na frente. – Ela sempre dizia isso. Mesmo sabendo que eu não iria precisar, e que eu não iria sair dali.

Já passavam das três, eu já havia lido dois livros. Estava abrindo o terceiro quando ouvi um barulho vindo da entrada da biblioteca. Deduzi que fosse titia. Ninguém mais entrava lá além de nós duas.

- Tia, já fechou a loja? Não acha que ainda está cedo demais? Quer dizer, são três horas ainda. – Não obtive resposta. Estranhei e resolvi andar até lá, já que eu estava no fundo do local. – Tia? – Bom, se minha tia fosse um cara com blusa branca e calça jeans claras, ela estava bem estranha. Ele se virou para me ver e abriu um sorriso, mostrando dentes extremamente brilhantes, quase que viciantes. Seus olhos eram de um azul claríssimo e seus braços e peitoral definidos. Era um, como diz o livro que li a algum tempo, “deus grego”.

- Olá! – Ele disse. Sua voz era como música nos meus ouvidos. Deus, da aonde esse cara saiu?

- Oi. – Respondi voltando para cadeira onde eu estava sentada.

- Eu queria pegar um livro. Com quem devo falar? – Pediu me seguindo.

- Bom, nós não emprestamos livros. Esta é uma biblioteca particular. – Disse pegando novamente o livro.

- Sua tia me disse que eu poderia pegar. – Ele sorriu. De novo. Ele era estranho, parecia irreal, como se fosse um fruto da minha imaginação. Mas ao mesmo tempo era irresistível. Como se eu não pudesse nunca rejeitar.

- Se é assim, pegue o que quiser. – Eu disse, jogando meu livro em cima da mesa.

- Quero este. – Disse. Apontando para o livro que eu acabara de largar.

- O Morro dos Ventos Uivantes? – Perguntei.

- Sim. Ele mesmo. – Respondeu o pegando. – Já o li 236 vezes. Mais uma com esta.

- 236? Você por acaso não tem nada para fazer? – Perguntei. - Como alguém tão novo lê um livro 236 vezes?

- Garanto-lhe que tenho muito o que fazer. Mas ler é algo que uso para relaxar quando o trabalho me dá uma folga. – Ele revirou os olhos. – Por exemplo, agora estou trabalhando. – Ele disse.

- Lendo? – Negou com a cabeça. – Então como?

- Gostei da sua blusa. – Estava mudando de assunto. Mal o conheço e já me deixou confusa. Ual! Acho que as pessoas de Boston são meio, esquisitas.