Fanfic: Amor com luxuria | Tema: Portinon

Anahi: Não! Não precisa disso, eu já vou embora. – Um certo medo me invadiu.

Dulce Maria: Para com isso garota, vai tomar café comigo sim. – Ela veio até mim, puxou-me e me fez sentar a mesa. - É o mínimo que posso fazer pelo o que me fez ontem. – Ela sentou-se a minha frente. - Se não fosse por você ainda estaria na rua. Como meu irmão que nem deu as caras ainda.

Anahi: É, eu estou preocupada com ele! – Eu disse me ajeitando a cadeira.

Dulce Maria: Não fique! Ele sabe se cuidar, assim como eu! Provavelmente apagou na casa lá onde estava tendo a festa… – Ela disse pegando um pão.

Anahi: Espero que ele chegue logo…

Dulce Maria: Esquece um pouco isso e vamos comer, vamos….

Olhei para aquela mesa farta e reparei que estava mesmo faminta. De inicio não falamos muito, só comemos mesmo, mas depois de um tempo o papo foi surgindo com a maior naturalidade no mundo. Eu realmente amava estar na presença dela. Sempre aquele misto de sentimentos.

Dulce Maria: Nossa comi a beça! – Ela disse já pegando o maço que estava ao lado e ascendeu um cigarro.

Anahi: Eu também comi muito, estou me sentindo até fraca… – Eu me estiquei para alcançar o maço.

Dulce Maria: Se quiser ir agora, eu não vou te impedir… – Seus olhos pareceram me provocar e o jeito com que soltou a fumaça no final foi extremamente sexy.

Anahi: Não, não quero ir agora, acho que vou esperar o Alfonso chegar… – Eu disse ao ascender um cigarro também tentando não ceder aos seus olhares.

Dulce Maria: Ótimo, não estava querendo ficar sozinha mesmo… – Ela se levantou. – Vamos pra sala.

Anahi: Cadê sua vó? – Eu perguntei indo atrás dela

Dulce Maria: Ela saiu cedo para ir a Igreja, depois ia não sei onde, e depois na casa de uma amiga, talvez ela nem durma em casa!

Anahi: Nossa, mas sua vó sai mais que eu!

Dulce Maria: Não exagere! – Ela riu e sentou-se no sofá da sala, eu me sentei a frente dela do outro lado do mesmo. – É que final de semana ela não para em casa mesmo, mas dia de semana não vai nem a padaria.

Anahi: Alfonso estava me contando esses dias sobre a família de vocês… Mas não conseguiu contar quase nada, porque quando a gente sai tem sempre gente por perto e nunca rola esse tipo de conversa, e quando estamos sozinhos… – Eu pensei no que ia dizer. – Bem… quando estamos sozinhos não ficamos conversando muito…

Dulce Maria: Ok, me poupe dos detalhes nojentos… – Ela fez uma cara de nojo misturada com esnobe.

Anahi: Eu não ia te contar nada, fica tranquila! – Eu sorri achando graça.

Dulce Maria: O que ele te contou?

Anahi: Que a Dona Clara ficou viúva muito cedo, que seu pai era filho único, que eles sempre moraram nessa casa. Que quando seu pai e sua mãe se conheceram foi como amor a primeira vista, mas de inicio só durou o verão, porque ela teve que voltar para Espanha com os pais, mas que lá descobriu que estava grávida e voltou meio que fugida para o Brasil. Vindo morar com seu pai e Dona Clara… – Eu dei o mais um trago no cigarro antes de levantar para pegar o cinzeiro que estava na mesa se jantar.

Dulce Maria: Ai nasceu minha irmã mais velha a Luzia. – Eu sentei-se onde estava. - No ano seguinte minha mãe engravidou outra vez, e para ficar ainda mais complicado eram gêmeos, eu e Alfonso estávamos por vir. A casa ia ficar pequena para minha avó, meus pais e três filhos. Um mês antes de nascermos minha avó materna Dulce Maria morreu, foi assim que recebi o nome dela, se não eu me chamaria Anita. – Eu parecia uma criança ouvindo uma historia sobre contos de fadas. – Conseguimos viver nessa casa muito bem até que eu e Alfonso fizemos nove anos e Luzia quase onze. Quando em mais um acidente minha querida mãe Maitê engravidou de gêmeos pela segunda vez. Logo nasceram as pequenas Joana e Manoela. – Ela parecia sorrir ao lembrar – Eu quis fugir de casa quando elas chegaram, já éramos três no mesmo quarto, fiquei desesperada em pensar que teriam mais duas… Foi só nessa época que as coisas ficaram apertadas. Minha mãe não tinha mais como trabalhar, meu pai estava ganhando pouco e o que minha avó recebia de pensão ela gastava tudo com a gente. Nisso meu avô materno, que ainda morava na Espanha, estava ficando doente e velho de mais para cuidar dos negócios da família sozinho… Foi ai que todo mundo foi para lá… – Ela ficou calada por alguns segundos. – Nunca contei essa historia antes, estranho como me sinto… – Ela pareceu falar a ultima frase mais para ela do que para mim. – Lembro que nós três não queríamos sair daqui, que eu Alfonso e Luzia queríamos continuar a morar no Brasil, com a vovó e todos. Mas já não era possível… Eu e o Poncho sempre fomos mais apegados a vovó, a Lu também era, mas ela sempre teve um amor muito surreal pela mamãe, e entre ficar com a gente e ir com a mamãe, ela preferiu partir. Só ficamos porque escolhemos assim, nossos pais deixaram a gente tomar a decisão, se queríamos ficar ou partir. Lembro que nos primeiros meses eu e Alfonso antes de dormir, nos abraçávamos e chorávamos até conseguir pegar no sono. Sentíamos muita fala de nossos pais e irmã. Não sentia nada pelas gêmeas, na verdade eu as odiava, porque por culpa delas nossa família tinha sido dividida… Coisa de criança sabe? – Eu afirmei com a cabeça. – Eles se foram em junho de 87, em dezembro nós fomos passar férias na nova casa deles. Foi incrível, era tudo enorme, e tinha um quarto para cada um, até mesmo para gente que não morávamos lá. Lembro que a mamãe conversou com a gente, disse que era para ficarmos lá, que íamos nos acostumar com o lugar, e que poderíamos visitar a vovó sempre. Mas eu e meu irmão fomos irredutíveis, e voltamos para o Brasil, para Rio, para Vila…. Todos os outros anos seguintes nós passávamos dezembro, janeiro e julho na Espanha. Com o tempo fomos nos acostumando com essa vida. E por incrível que parece, esse é o primeiro verão que não passamos lá…