Fanfic: Amor com luxuria | Tema: Portinon

Millena •

Atravessei as duas pistas correndo e parei na calçada a uns três metros dela. Minha cabeça estava girando, eu nem sabia o que ia dizer, eu não fazia ideia de como pedir desculpas a ela. Tentei contar até cinco e me acalmar, mas nada parecia ajudar. Minha mente ficava indo e voltando, me mostrando coisas que eu não conseguia absorver direito. Coisas que falamos uma para outra, a vez que nos beijamos em Búzios, as brigas de quando éramos crianças, o beijo que eu havia dado em Henrique a minutos atrás. Nada fazia sentido e a cada segundo que se passava e me sentia mais perdida.

Respirei fundo antes de ir até ela. Eu queria achar um jeito de me desculpar, mas nada que me vinha a cabeça me parecia agradável. Então cheguei perto o suficiente, respirei fundo mais uma vez e me deixei levar.

 Millena: Samara…? – Eu disse baixinho e com muito medo.

Samara: Ah não… – Ela me olhou assustada, e seu rosto estava molhado de tanto chorar. – Vai embora! – Ela se levantou dando um passo atrás. – Me deixa em paz. – Ela me olhava de um jeito estranho, como se eu fosse um monstro. – Por favor, me deixa em paz… – Ela deu as costas e saiu andando pela calçada.

Millena: Calma Samara, calma… – Eu fui atrás dela que apertou o passo. – Deixa eu falar com você… – Eu também apertei o passo. – Espera… para de correr. – Eu consegui alcança-la e segurar em seu braço a fazendo virar para mim. – Espera!

Samara: Não! – Ela puxou seu braço bruscamente e continuou a andar.

Millena: Por favor, deixa eu falar com você! – Eu estava nervosa e acho que isso era nítido em minha voz. – Por favor Samara… – Eu segurei em seu braço outra vez.

 Ela ficou de costas para mim por alguns segundos. Vi nitidamente ela respirar fundo umas duas vezes antes de se vira, e me olhar de um jeito que me fez ter vontade de chorar. Seus olhos ainda estavam molhados, sua expressão era de medo, raiva e até certo nojo

 Samara: Qual é a parte do, me deixa em paz, que você ainda não entendeu, em Millena? – Ela disse com raiva na voz. – É tão difícil assim para você simplesmente me ignorar? – Ela me olhava com desprezo – Não, não… Melhor, você conta até dez, ai eu vou embora, mas vou mesmo, assim você nunca mais vai ter que me ver na vida. E fim, você terá um final feliz. – Meu coração se apertou quando ela disse ‘nunca mais me ver’

Millena: Só me deixa falar, por favor. – Eu praticamente miei para ela.

Samara: Não quero te ouvir Millena, eu não quero nem mesmo olhar para sua cara. Já chega de problemas na minha vida. Não era para ser assim, não era para acontecer desse jeito. E tudo tem acontecido de uma maneira tão ruim, que acho que o melhor que tenho a fazer é ir, ir para nunca mais voltar.

Millena: Do que você esta falando? – Ela estava falando sério e aquilo estava me dando ainda mais medo.

Samara: Não te interessa, na verdade te interessa muito né? – Seus olhos estavam cheios de lagrimas, mas sua voz era dura. – Como se sente sabendo que nunca mais vai ter que ver? Feliz? – Ela sorriu ironicamente. – Então seja muito feliz. Porque mesmo eu não querendo, eu não aguento mais isso… Para mim já deu. – Ela ia dar as costas outra vez, mas eu não deixei segurando em seu braço outra vez.

Millena: Me desculpa esta bem? – Eu disse quase vomitando em sua cara. – Desculpa ter beijado ele, desculpa ter atrapalhado tudo entre vocês, desculpa ter sido uma idiota, desculpa não ter respeitado seu momento… Mas… mas… na verdade eu nem sei o que me deu, só quero que me desculpe, e que saiba que eu nunca gostei dele, ou quis ele… – Eu estava apenas falando, falando sem pensar. – O caminho está livre, ele é seu, todo seu… – Ela me olhava como se eu tivesse falando em coreano. – E se você quiser, eu vou lá agora e falo com ele, nem sei o que, mas eu falo. Só me desculpa, eu não queria ter feito aquilo, na verdade queria… Não, não, eu não queria ter beijado ele… – Já estava me perdendo nas palavras. – Esquece. Só me desculpa ok?

Samara: Você… Esta mesmo me pedindo desculpas?

Millena: Estou, você entendeu o que eu disse? – Eu estava desesperada, queria que ela me desculpasse. – Quer que eu fale outra vez? Eu falo! Ele é seu todo seu, não quero ele, desculpa ter beijado o garoto que você esta afim. – Ela riu da minha cara e confesso que fiquei com raiva. – Porque está rindo?

Samara: Você é mesmo uma idiota sabia? – Ela ainda falava com desdém.

Millena: O que…?  - Eu não estava entendo. – Porque?

 Se eu estava confusa, agora eu me encontrava mil vezes mais. Não é possível que eu não esteja vendo alguma coisa. Porque para mim tudo parecia tão claro em relação a isso. Ela estava triste e chateada comigo porque eu beijei o Henrique.

 Samara: Não vejo meu pai desde os três anos de idade, ele reapareceu a uma semana querendo me ver, eu descubro que tenho uma irmã mais velha. Minha mãe mentiu para mim a vida toda, e a pessoa que eu mais queria que estivesse do meu lado nesse momento, nem sabe que eu queria isso. E você acha mesmo que eu estou me preocupando com aquele garoto? – Ela disse tudo tão rápido que eu demorei a absorver.

Millena: Não… Calma… Então porque você saiu daquele jeito? Se não foi por ele porque? – Eu ainda não conseguia entender essa parte.

Samara: Você é mesmo uma idiota. – Ela olhou ao redor e voltou a me olhar. – Esquece isso ok? Não tem que se preocupar mais… Eu vou mesmo morar com meu pai em São Paulo.

Millena: O que? N-não! – Meus olhos se encheram de lagrimas. – Por quê?

Samara: Porque minha mãe acha que vai ser bom para mim conhecê-lo… – Ela pareceu prender o choro ao dizer aquilo. – Mas eu não quero. – Ela não conseguiu e deixou as lagrimas caírem. – Eu não quero ir embora… Por um lado vai ser mesmo bom, mas por outro…

Millena: E-eu não to vendo lado bom… – Vê-la chorar me dava mais vontade ainda.

Samara: Como não…? Você vai se ver livre de mim…! – Ela disse com um sorriso sínico nos lábios. – O que sempre desejou desde o dia em que me conheceu. – Seus lagrimas ainda escorriam com vontade. – Um dia eu gostaria de entender o que foi que eu te fiz na outra vida, porque sem duvidas isso é um grande karma de vidas passadas.

Millena: Não… Não… Desculpa… – Uma lagrima escorreu dos meus olhos. – Desculpa, mesmo…

Samara: Para de ficar me pedindo desculpas! – Ela ainda estava com raiva. – Nada vai mudar.

Millena: Você não pode ir embora Samara! – Eu já estava em desespero. – Eu não quero que você vá… – Eu disse baixinho com as lagrimas rolando em meu rosto.

 Samara ficou me olhando daquele mesmo jeito de antes, como se não entendesse direito o que eu estava falando. Ficamos caladas, nos encarando, lagrimas brotavam ali e aqui. Meu coração estava em pedaços, e doía como se tivessem pisado nele. Só de imaginar ter Samara longe de mim para sempre, me fazia ter vontade de abraça-la e nunca mais soltar, leva-la para minha casa e tranca-la em meu quarto para nunca mais sair de perto de mim.

Pela primeira vez na vida eu deixei aqueles pensamentos tomarem conta de mim, eu deixei eles soltos sem recrimina-los nem uma só vez. E me deixando levar por aquele sentimento tão bom, que ao mesmo tempo me dava frio na barriga, eu a abracei com força. Deixando minhas lagrimas caírem e sentindo as dela molharem o meu ombro.

Aquele pouco tempo ali abraçada a ela, foi tão bom, mas tão bom, que eu senti como se tivesse levitando, como se eu tivesse virando uma pena. Uma pena que dança com o vento. Me senti segura, confortável, confiante, e o medo pareceu desaparecer…