Anahí SE encontrava parada em frente ao closet do quarto que ele lhe designara, observando com olhar vazio a fileira de roupas penduradas à sua frente. Limpou as lágrimas com o dorso de uma das mãos e se concentrou no que vestir.Vasculhou entre os vários modelos, mas nenhum se parecia com ela. Com a testa franzida em uma expressão tristonha, virou-se na direção da fileira de prateleiras que preenchiam a parte direita do closet e viu uma pilha de jeans desbotados próxima de algumas camisetas dobradas com perfeição.
Esticou a mão para uma das calças jeans, certa de que era naquele traje que se sentia confortável. Porém, quando a desdobrou, constatou que não se tratava de roupas de gestante.
Uma rápida procura na pilha restante produziu o mesmo resultado.
Anahí procurou entre as outras roupas penduradas no armário e verificou que aquelas também não eram roupas adequadas a uma mulher em um estágio mais avançado de gravidez.Por que não tinha nada para vestir? Baixou o olhar à protuberância do próprio abdome.
Embora não estivesse gorda, as cinturas das roupas que lotavam o closet eram muito estreitas para uma mulher com cinco meses de gravidez.Anahí lhe sentiu a presença antes que ele fizesse qualquer ruído. Lentamente, ela girou para se deparar com Alfonso parado à soleira da porta do closet. A expressão se suavizando quando ela limpou as lágrimas do rosto e tornou a virar-se rapidamente.
Aproximando-se alguns passos, ele lhe segurou a cintura com as mãos.
– Desculpe.
Anahí enrijeceu o corpo e ergueu o queixo até lhe encontrar o olhar.
– Não deveria ter tomado a liberdade de mexer em seus pertences. – Ela ergueu uma das mãos e gesticulou para o closet repleto de roupas. – É óbvio que mantemos um estilo de vida bastante segregado. Terá de me perdoar enquanto reaprendo as regras.
Vincos profundos se formaram na testa de Alfonso enquanto ele a encarava com expressão confusa.
– Do que está falando? Não há segregação em nossa convivência.
Anahí deu de ombros, indiferente.
– A evidência está aqui. Não precisa ser muito inteligente para perceber. Você me acomodou em meu quarto. Minhas roupas estão separadas das suas. Nossas coisas são separadas. Nossas camas são separadas. É de se admirar que eu tenha engravidado –acrescentou ela, engolindo em seco, e prosseguiu fazendo a pergunta que lhe queimava a mente. – Por que está se casando comigo? Minha gravidez foi um acidente de percurso? Por acaso sou alguma vadia que lhe preparou uma armadilha para obrigá-lo a se casar?
Anahí soube que soava histérica no instante em que as palavras lhe escaparam dos lábios,mas a dor a estava roendo por dentro. Precisava se certificar, ter algum sinal de que a vida que Alfonso alegava ser dela era feliz e não algo sombrio, repleto de lacunas como os
buracos em sua memória.
– Theos! Venha comigo.
Antes que ela pudesse protestar, Alfonso a estava arrastando do closet e a guiando na direção da cama, onde a sentou e se acomodou ao lado dela.
Anahí olhou ao redor incomodada.
– Onde está Camila? – Não queria ter uma discussão na frente de terceiros.
– Eu a dispensei quando cheguei – respondeu ele impaciente. – Ela só ficará aqui quando eu não puder estar, até a nossa partida para a Grécia. Camila permanecerá na ilha conosco pelo tempo que você precisar dela.
Anahí não pôde disfarçar o desapontamento.
– Mas eu não preciso dela e pensei que ficaríamos sozinhos quando chegássemos à ilha.
O semblante de Alfonso deixava claro que aquela era a última coisa que desejava. Mais uma vez a mágoa a atingiu em cheio diante da aparente rejeição do noivo.
– Pode pensar que os serviços de Camila não são necessários, mas não arriscarei sua recuperação. Sua saúde é importante para mim. – A voz grave se suavizou, e os olhos perderam um pouco da severidade. – Você está grávida e passou por uma situação muito estressante. É natural que eu queira que tenha os melhores cuidados possíveis. – Anahí
engoliu em seco e anuiu lentamente com a cabeça. Alfonso a observou com olhar penetrante. – Agora, quanto à minha rudeza de agora há pouco… peço-lhe desculpas. Não tinha direito de falar com você daquela maneira.
Anahí resfolegou, fazendo-o arquear as sobrancelhas.
– Acho que rudeza não define o que fez. Agiu como um verdadeiro idiota.
Um rubor se espalhou pelo rosto de Alfonso enquanto ele engolia em seco.
– Sim, tem razão, e lhe peço desculpas por isso. Não tenho nenhuma justificativa. Estive ocupado tomando providências para nossa viagem e descarreguei minhas frustrações em você.Isso é imperdoável, mas peço que me perdoe mesmo assim.
– Aceito suas desculpas – retrucou ela em tom de voz seco.
– E quanto às suas outras afirmações. – Alfonso afastou uma das mãos que seguravam as dela e a passou pelos cabelos negros. – Não vivemos vidas separadas. Nem viveremos. Você não me preparou nenhuma armadilha para que a pedisse em casamento e não quero que repita isso. – Ele fez uma pausa e suspirou. – Coloquei-a neste quarto em respeito à sua condição.Não achei justo obrigá-la a dividir um quarto e uma cama com um homem que não passa de um
estranho para você. Não quis pressioná-la a esse ponto.
À luz daquela explicação, a preocupação de Anahí pareceu tola. O que ela havia interpretado como desprezo, na verdade fora um ato zeloso da parte de Alfonso. Os ombros de Anahí se curvaram quando um profundo suspiro lhe escapou dos lábios.
– Pensei…
– O que pensou, pedhaki mou?
– Pensei que me rejeitasse – respondeu Anahí tímida.
Alfonso praguejou em tom de voz baixo e lhe segurou a rosto entre as mãos. Por um longo instante, se limitou a olhá-la nos olhos. Labaredas se refletiam nos olhos dourados. E então, ele inclinou a cabeça na direção dela. A respiração de Anahí ficou presa na garganta
quando os lábios sensuais pairaram sobre os dela.Um desejo feroz se acendeu dentro dela e de repente tudo que Anahí desejava era aquela
boca explorando a dela. Quando os lábios dos dois se encontraram, um raio carregado de eletricidade lhe perpassou a espinha e ricocheteou, se espalhando por seu corpo como uma conflagração.
Em um gesto instintivo, Anahí arqueou as costas na direção dele, amoldando-se ao casulo quente do corpo musculoso, enquanto os dedos longos lhe acariciavam o rosto e ele aprofundava o beijo. Os seios sensíveis intumesceram à medida que o desejo crescia. O peito
largo lhe roçou os mamilos enrijecidos, fazendo-a se contrair em reação.Anahí envolveu o pescoço largo com os braços e enterrou os dedos nos cabelos da nuca de Alfonso. Uma paz avassaladora a envolveu. Uma sensação de perfeição, que não experimentara desde que acordara naquela cama de hospital, se alojou em sua mente.
Um gemido baixo escapou da garganta de Alfonso enquanto ele recuava. A respiração alterada e os olhos faiscando com a evidente excitação.
– Seu corpo se lembra de mim, pedhaki mou, mesmo que a sua mente não se recorde. – Um tom de pura satisfação masculina permeava aquelas palavras. Ele soava arrogante e seguro de si, mas ainda assim aquilo proporcionou a Anahí uma injeção de confiança e um muito
necessário estímulo. Alfonso pareceu muito feliz com a ideia de ela o reconhecer, mesmo que apenas no nível físico.
– Não tenho nenhuma roupa que me sirva – disparou ela, corando em seguida diante do absurdo daquela frase. O cérebro se fundira no instante em que ele a beijara e agora ela lutava
para disfarçar o embaraço. Uma das sobrancelhas de Alfonso se ergueu. – Por que não tenho roupas de gestante? – perguntou. – Não comprei nenhuma? – Anahí procurava por qualquer explicação plausível que justificasse o fato de ela não possuir nenhuma roupa
apropriada dentre um closet abarrotado.
Alfonso franziu a testa.
– Desculpe-me, pedhaki mou. Não pensei nisso. Claro que não pode sair por aí vestindo seu jeans. – Os lábios sensuais se curvaram em um sorriso lento. – Mesmo que eu adore vê-la vestida com um deles. – Anahí inclinou a cabeça para o lado. Alfonso soltou uma risada
abafada, e o som baixo e sexy reverberou em seu corpo hipersensível. – Você não gosta de usar esse tipo de roupa na minha presença. Acho que gosta de estar bem vestida quando estamos juntos, mas posso lhe garantir que a acharia linda em um saco de estopa se optasse
por vestir um. – Um calor intenso subiu ao rosto de Anahí, mas ela sorriu diante do elogio.
Alfonso fez um gesto negativo com a cabeça, com expressão tristonha. – Não estou fazendo um bom trabalho em tomar conta de você desde que saiu do hospital. Eu a aborreci e não providenciei as coisas de que necessitava. Isso é algo que posso corrigir imediatamente.
Porém, admito que sua segurança e seu bem-estar foram minha prioridade.
– Não diga isso – protestou ela. – Tem sido maravilhoso. Bem, exceto naqueles breves instantes em que se comportou como um idiota. – Anahí exibiu um sorriso provocador enquanto falava. – Isso não deve ter sido fácil para você e, ainda assim, tem se mostrado
incrivelmente paciente. Desculpe por ser tão rabugenta.
Alfonso tocou seu rosto e, por um instante, Anahí pensou que ele fosse beijá-la outra vez.
– Não permitirei que peça desculpas. Fica se preocupando com o quanto isso é difícil para mim enquanto foi você quem sofreu. – Alfonso afastou a mão e se levantou. – Agora tenho de dar alguns telefonemas para lhe providenciar roupas mais adequadas.
Anahí piscou várias vezes surpresa.
– Não podemos simplesmente sair para comprá-las?
Alfonso franziu a testa.
– Não está em condições de se lançar em uma maratona de compras. Quero que descanse.Estaremos partindo para a ilha amanhã, pela manhã, assim que você tiver uma consulta com o
médico e ele a liberar para viajar.
– Amanhã? – repetiu ela. – Tão cedo?
Alfonso assentiu.
– Agora sabe por que tenho de me apressar se quiser que suas roupas sejam entregues a tempo.
Anahí ergueu as mãos em um gesto de rendição. O modo como Alfonso falava deixava claro que tinha muita experiência em fazer com que tudo saísse de acordo com sua vontade. Se ele era capaz de lhe providenciar roupas com tanta rapidez, quem era ela para discutir?
– Agora…
Anahí ergueu uma das mãos para silenciá-lo. Conhecia bem aquele semblante e o tom de voz para saber que uma ordem para que descansasse estava a caminho.
– Se me mandar descansar, sou capaz de gritar. – Os olhos dele se estreitaram, como se ele estivesse prestes a protestar. – Por favor, Alfonso. Estou me sentindo bem. Cochilei enquanto você estava fora. Você prometeu que iríamos almoçar quando retornasse de sua
reunião e de repente me descobri faminta. Podemos comer?
Alfonso praguejou mais uma vez cerrando os punhos.
– Claro que sim. Ao que parece, consigo ser negligente em todos os sentidos. Venha, sentese.
Providenciarei algo para comermos.
Continua. ....