DE ALGUMA forma, entre a visita do médico, o longo dia e o banho relaxante, ela conseguiu se esquecer completamente da presença de Roslyn naquela casa. Quando Alfonso entrou na suíte para acompanhá-la pela escada, um sorriso acolhedor curvou os lábios de Anahí. Estacando diante dela, ele a observou por um instante. Em seguida, roçou os lábios aos dela
e lhe segurou uma das mãos.
– Está linda, com uma coloração bem mais saudável e com o semblante descansado.
– O médico disse que estou em muito boa forma. Portanto, não há com que se preocupar.
– Isso é ótimo, pedhaki mou. Sua saúde é importante para mim.
De braços dados, os dois saíram do quarto e desceram a escada. Quando alcançaram o último degrau, Anahí ergueu o olhar e se deparou com Roslyn parada à entrada da sala de jantar. No mesmo instante, sentiu o corpo enrijecer. A mulher estava completamente transformada trajada com um vestido de grife, que lhe moldava cada curva do corpo. Constrangida, baixou o olhar à calça comprida e à blusa de gestante que usava, sentindo ímpetos de correr de volta
pela escada e trocar de roupa. Não se sentindo disposta a permitir que Roslyn percebesse o quanto a afetara, apertou o braço de Alfonso e estampou um sorriso no rosto.
– Se soubesse que não estariam vestidos de maneira formal, teria escolhido outro traje – disse Roslyn, gesticulando para o vestido elegante que chamava atenção pela forma como o corpete se colava ao corpo. – Costuma gostar de jantares formais. – O último comentário fora dirigido a Alfonso, mas a mulher desviou o olhar a Anahí para lhe avaliar a reação ao fato de ela saber mais sobre o gosto do patrão do que a própria noiva.
Alfonso guiou Anahí à frente, envolvendo-lhe a cintura com um dos braços.
– O mais importante é o conforto de Anahí, e como pretendemos desfrutar de muita privacidade, não há razão para formalidade. – Anahí relaxou e teve vontade de se atirar nos braços daquele homem. No entanto, Roslyn não pareceu afetada com o comentário. – Venha,
pedhaki mou. Camila e o dr. Karounis estão nos aguardando na sala de jantar.
Os dois passaram por Roslyn, deixando-a para que os seguisse. Anahí podia sentir o olhar malévolo da assistente às suas costas.
A comida, Anahí imaginou, devia estar deliciosa, mas não conseguia sentir o sabor por não prestar a mínima atenção ao que estava ingerindo. Sorria até sentir a mandíbula dolorida e concordava com gestos de cabeça quando Camila e o dr. Karounis falavam, mas o foco de sua atenção estava na conversa em tom de voz baixo entre Alfonso e a assistente. A cabeça dele estava inclinada na direção de Roslyn, e a expressão concentrada, enquanto conversavam em tom reservado. Quando a sobremesa foi servida, e Alfonso não dava sinais de desviar a atenção da mulher que se sentava muito perto dele, Anahí afastou a cadeira, atirou o guardanapo sobre a mesa e se ergueu.
No mesmo instante, o olhar de Alfonso se fixou nela.
– Está tudo bem?
– Ótimo – respondeu ela, com voz tensa. – Não se incomode. Vou subir. – Antes que ele pudesse lhe responder, Anahí virou-se e se afastou com o máximo de calma que podia.
Quando alcançou o sopé da escada, Camila se materializou ao seu lado.
– O sr. Herrera não quer que suba a escada sozinha – disse ela, segurando-lhe o cotovelo com um toque gentil.
Anahí virou-se, mas não viu nenhum sinal de Alfonso. Não estava tão preocupado a ponto de se dignar a acompanhá-la. Obviamente a companhia de Roslyn era mais importante do que o empenho em sua segurança.
A fadiga a envolveu quando ela entrou na suíte principal e Camila retornou ao andar térreo.
O banho quente e longo que tomara antes do jantar a relaxara e devia ter se deitado logo depois. Aquele jantar trouxera de volta o nervosismo do qual conseguira se livrar e não a deixaria dormir.
Anahí se encaminhou à ampla janela e baixou o olhar à piscina e aos jardins. Toda a área brilhava sob os reflexos prateados do luar. Cintilava com uma qualidade mágica que a atraía. Talvez um passeio pelo jardim lhe abrandasse a irritação. Retirou um suéter do closet e o pendurou sobre os ombros enquanto deixava o quarto e
seguia em direção à escada. Não sentia sequer uma pontada de culpa pelo fato de desagradar seu “zeloso” noivo com a desobediência.
Desceu a escada devagar, segurando firme no corrimão e praguejando contra o fato de ter sido contaminada pela paranoia de Alfonso.
Podia ouvir o murmúrio de vozes vindas da sala de jantar quando alcançou a sala de estar. Girou para a esquerda e se apressou na direção das portas francesas que davam para o pátio. Quando as abriu e se esgueirou para fora, foi recepcionada pelo sopro de uma brisa fria que lhe fez arrepiar a pele da nuca. Ainda assim, estava uma noite agradável. A lua brilhando majestosa no céu. Anahí seguiu pela passagem de pedra que margeava a piscina e virou para a direita para tomar o caminho sinuoso do jardim. A distância, o som abafado do oceano era como um bálsamo calmante para seus ouvidos. À medida que penetrava no jardim, o som da água corrente sobrepujou o das ondas. Para seu encantamento, girou em uma cerca viva espessa e curva para se deparar com uma fonte iluminada por holofotes que se erguiam do chão.
Anahí se aproximou e inspirou o ar frio da noite. A brisa salgada tinha um sabor pungente em seus lábios. As mãos se ergueram para ajustar o suéter ao corpo. Estremeceu com o frio,
mas se viu relutante em se retirar daquele cenário deslumbrante tão cedo.
– Não deveria estar aqui fora.
A voz de Alfonso a assustou, mesmo quando sentiu as mãos longas e familiares lhe tocarem os ombros. Os olhos dourados não conseguiam ocultar a raiva e o desagrado o fazia contrair a mandíbula.
– Como conseguiu me achar tão rápido? – perguntou ela, recusando-se a se desculpar pela escapada.
– Soube onde estava tão logo deixou a casa – retrucou com voz calma. – Tenho seguranças espalhados por toda a ilha – esclareceu diante da expressão confusa de Anahí. – Fui notificado no instante em que saiu para o pátio. Desde então, está sendo observada de perto. –
Ela franziu a testa enquanto olhava ao redor tentando avistar os seguranças que Alfonso mencionara. – Não devia ter descido a escada sozinha e saído no escuro, a menos que estivesse acompanhada por mim.
– Isso seria impossível, já que estava grudado em sua assistente – retrucou ela em tom de voz seco. Desejara passar a impressão de que não poderia se importar menos com aquilo, mas
a mágoa refletida em suas palavras a fez cerrar os punhos.
– Não lhe dei a atenção devida durante o jantar e lhe peço desculpas por isso. Tinha vários assuntos a tratar com Roslyn, antes da partida dela pela manhã. Ficarei ausente de meus escritórios durante nossa estadia na ilha e, embora possa trabalhar daqui, prefiro dedicar meu tempo a você.
Alfonso a puxava para perto enquanto falava, e ela se sentiu fraquejar. Odiava sentir ciúme e queria acreditar que não era uma pessoa possessiva, mas como saber? Sempre se sentira tão insegura no que se relacionava a Alfonso? Esperava que não. Aquela teria sido
uma existência infeliz.