OS RAIOS de sol que incidiam no quarto envolviam a cama em um calor aconchegante, onde Anahí se encontrava deitada. Ela abriu os olhos, mas no mesmo instante escondeu o rosto sob as cobertas. Tateou à procura de Alfonso, mas encontrou apenas o lugar que ele ocupara
vazio. Com a testa franzida, sentou-se na cama e olhou ao redor, mas ele não se encontrava em lugar algum. O ruído inconfundível do helicóptero lhe chamou atenção, fazendo-a se levantar e
caminhar até a janela. Alfonso se encontrava parado com Roslyn a uma curta distância do helicóptero, tocando-lhe o braço com uma das mãos. A mulher anuiu e, logo depois, se encaminhou ao
helicóptero com o corpo inclinado para a frente. Anahí não pôde evitar o suspiro de alívio. Observou por mais um instante, antes de virar-se e se apressar na direção do toalete. Tomou uma ducha rápida, envolveu o corpo com o robe e voltou ao quarto para se vestir. Alfonso a aguardava. Anahí o encarou com expressão nervosa, ajustando o robe ao corpo.
– Eu a deixarei à vontade para que se vista – disse ele, conciso. Enviarei a srta. Camila para acompanhá-la pela escada dentro de meia hora.
Sem dizer mais nada, Alfonso se retirou do quarto, deixando-a boquiaberta. Uma pontada de dor lhe percorreu a espinha. Ele agira como se mal pudesse esperar para se afastar dela. Depois da noite anterior, certamente aquele não era o tipo de comportamento que Anahí esperava. E enviar Camila para acompanhá-la? Se estava tão determinado a não permitir que ela descesse a escada sozinha, então devia ao menos realizar a função pessoalmente, em vez de
atirá-la aos cuidados da enfermeira como se ela fosse uma tarefa indesejada. Curvando os ombros, Anahí entrou no closet para escolher uma roupa. Tinha preocupações suficientes sem ter de acrescentar um homem mal-humorado e rabugento a elas. Qualquer que fosse o motivo para aquele estado de espírito, ele podia muito bem superá-lo. Todas as sensações cálidas e flutuantes da noite de amor evaporaram enquanto Anahí deixava o quarto. Não ficaria parada como um cachorro obediente, esperando as ordens do dono. Era ridícula a insistência de Alfonso em que a ajudassem a transitar por escadas
como se ela fosse uma criança. Anahí havia descido metade dos degraus quando viu Alfonso parado ao sopé da escada com a mandíbula contraída e a raiva faiscando no olhar. Ela hesitou por um instante, mas apertou o corrimão e continuou a descer. Desafiá-lo em algo tão insignificante a fazia parecer infantil e um pouco mesquinha, mas no momento não se importava nem um pouco em irritá-lo. Sustentou-lhe o olhar, desafiadora enquanto descia os últimos degraus. Os lábios de Alfonso se apertaram em uma linha fina, mas ele nada disse. Segurando-lhe o cotovelo com uma das mãos, a guiou à mesa do café da manhã, mas Anahí se soltou e caminhou à frente dele. Fizeram a refeição em silêncio, embora ela não pudesse afirmar que comera alguma coisa. Mexia as frutas no prato com o garfo e tomava goles mecânicos do chá, mas o silêncio pétreo em que Alfonso se encontrava a fazia ter vontade de sair correndo. Em vários momentos, Anahí abriu a boca para lhe perguntar qual era o problema, mas a cada vez algo na expressão daquele homem a mantinha em silêncio. Por fim, ela desistiu de fingir que estava comendo e afastou o prato para o lado.
Alfonso ergueu o olhar com a testa franzida em desaprovação quando percebeu a comida ainda no prato de Anahí.
– Precisa se alimentar.
– É difícil ter apetite com uma nuvem negra pairando sobre a mesa do café da manhã – retrucou ela com voz tensa.
Os lábios de Alfonso se comprimiram e os olhos faiscaram. Dava a impressão de que iria responder, mas naquele momento ela ouviu o ruído do helicóptero se aproximando.
– Esta ilha está parecendo um aeroporto esta manhã – resmungou ela.
Alfonso se ergueu e atirou o guardanapo sobre a mesa.
– Deve ser o joalheiro. Retornarei dentro de um instante.
Joalheiro? Anahí o observou se afastar, com a mente repleta de questionamentos. Para que diabos ele precisava de um joalheiro? Inclinou-se para trás na cadeira com um suspiro, imaginando onde estaria Camila e o dr. Karounis. Ao menos na presença deles, não teria de enfrentar o silêncio tempestuoso de Alfonso.
Anahí se ergueu e olhou ao redor por um instante, antes de finalmente decidir se aventurar para fora da casa. O sol parecia quente e convidativo e ainda não vira nenhuma parte da ilha à luz do dia. Saiu para o terraço e no mesmo instante fechou os olhos, apreciando a brisa suave do mar que lhe soprou o rosto. Era fria, mas não de forma desconfortável, e a luz do sol deixava um rastro aquecido em sua pele enquanto procurava pelo caminho de pedra que levava à praia.
Quanto mais se afastava da casa, mais o caminho se tornava arenoso. Anahí retirou as sandálias, imaginando como seria a sensação da areia aquecida sob os pés.
Ao final do caminho, havia um declive curto na direção da praia. Quando desceu, os pés se enterraram nos grãos macios, fazendo com que seus lábios se curvassem em um sorriso prazeroso.
As ondas recuaram e ela se aventurou em direção à espuma espalhada sobre a areia úmida à margem da água. O mar tinha um tom de azul que lhe tirou o fôlego. Paraíso. Aquilo era simplesmente o paraíso. E pertencia a Alfonso.
O vento lhe ergueu os cachos da nuca, atirando-os contra seu rosto. Após várias tentativas de colocar as mechas desobedientes para trás das orelhas, Anahí soltou uma risada e desistiu, deixando-as ao sabor do vento. Arriscou um olhar na direção da casa, mas não viu
ninguém se aproximando e continuou a caminhar pela praia, na margem da água. O som das ondas que estouravam a acalmava e logo a tensão em seus ombros começou a abrandar. Sentia-se em paz naquele lugar, porém mais do que isso, tinha a sensação de estar segura.
Aquela palavra a assustou, fazendo-a paralizar onde estava, com a testa franzida pela consternação. Por que não se sentiria segura? Alfonso tinha um verdadeiro batalhão de seguranças que insistia em levar para todos os lugares com eles. Se havia alguém seguro no
mundo, esse alguém era ela. Contudo, ainda assim, até aterrissarem naquela ilha, sentia-se inquieta, o pânico sempre a circundando.
– Está enlouquecendo – resmungou ela. – Bem, você já perdeu a memória. Talvez a sanidade seja uma questão de tempo.
Anahí avistou um grande pedaço de madeira entalado em um monte de areia e caminhou naquela direção. Havia um espaço na extremidade onde a superfície era relativamente lisa e ela espanou a areia com a mão para se sentar. Um suspiro de contentamento lhe escapou dos lábios. Poderia ficar sentada ali durante horas observando o movimento das ondas e escutando os sons confortantes do oceano. Se estivesse quente o suficiente para nadar, teria ficado tentada a se despir e entrar na água. Mas não tinha ideia onde estariam posicionados todos aqueles seguranças que mantinham guarda e não estava disposta a lhes proporcionar um show. Um movimento em um dos cantos de seus olhos lhe captou a atenção e Anahí virou a cabeça para ver Alfonso caminhando pela praia e murmurou um xingamento enquanto ele se aproximava.
Estacando diante dela, Alfonso a encarou com a testa franzida. Em seguida, comprimiu os lábios e fez um movimento negativo de cabeça, antes de se acomodar ao lado dela.
– Vejo que manterá meus seguranças muito ocupados, pedhaki mou. – Anahí deu de ombros, mas não respondeu. – O que está fazendo aqui? – perguntou em tom suave.
– Aproveitando a praia. É muito linda.
– Se eu prometer trazê-la de volta, concordará em me acompanhar até a casa? O joalheiro está nos aguardando, e ele tem pressa de voltar para o continente.
Anahí lhe relanceou o olhar.
– Por que chamou um joalheiro e por que temos de nos encontrar com ele aqui? O normal não seria ir até a loja dele? – Alfonso se ergueu, dirigindo-lhe um olhar arrogante que sugeria que todos costumavam vir até ele e não o contrário. Em seguida, esticou a mão e
Anahí a aceitou, resignada. – Você é muito sério – resmungou ela quando Alfonso a ajudou a se levantar.
– Vejo que terei de mudar sua opinião sobre mim.
Anahí tentou soltar a mão, quando os dois começaram a se encaminhar de volta para a casa, mas ele a segurou com força. Quente e, em seguida, frio. Naquele ritmo, nunca conseguiria entendê-lo. Amnésia ou não, não pôde deixar de se imaginar querendo arrancar os cabelos por causa daquele homem.