Alfonso ESTAVA em seu escritório, olhando além da janela que dava vista para a praia. Anahí se encontrava próxima à água. Os pés descalços e o vestido de gestante que usava ondulando ao vento. Ele a mantinha sob cuidadosa vigilância e instruíra seus seguranças a fazerem o mesmo. Não queria correr nenhum risco após o desmaio de Anahí no dia anterior. Minutos atrás, desligara o telefone depois de falar com o investigador do caso de Anahí. Ainda não havia sido efetuada nenhuma prisão. Não dispunham de nenhuma pista. O homem que a sequestrara ainda estava solto e, portanto, ainda significava uma ameaça a Anahí e ao filho deles. Aquilo era inaceitável. O detetive prometera manter contato e informá-lo assim que houvesse alguma novidade no caso, mas Alfonso ainda estava insatisfeito. Queria resultados. Fazer com que o homem que ousara tocá-la pagasse por isso. Focou a atenção mais uma vez em Anahí, que ainda observava o mar. De vez em quando,
ela erguia uma das mãos para afastar os cachos do rosto, apenas para voltarem soprados pelo vento. Erguendo o queixo, Anahí soltou uma risada, e ele sentiu o impacto atingi-lo no lugar em que se encontrava.
Estava linda e descontraída. Descuidada no momento. Alfonso vasculhou em sua memória procurando pelos momentos em que estiveram juntos. Felizes. Na época, não dera importância ao fato, mas o relacionamento que agora admitia ter tido com ela fora aberto e
complacente. O que a teria levado a lhe trair a confiança? Quase preferia que Anahí o tivesse traído com outro homem. Mas não, ela atacara sua família, seus irmãos. E isso não poderia perdoar… ou
poderia? A indecisão lhe atormentava o cérebro. Uma grande parte de Alfonso ainda se encontrava conflituosa e revoltada. Mas outra, uma pequena fatia de seu ser, se encontrava pronta para seguir em frente. Esquecer o que Anahí fizera e abraçar um recomeço ao lado
dela. Talvez ela nunca recuperasse a memória e, para ser sincero, aquilo tornaria tudo mais fácil. Alfonso continuou a observá-la e moveu o olhar até onde um de seus seguranças se encontrava, a alguma distância. Anahí continuava a desafiá-lo, e ele se fingia aborrecido, mas tudo que fazia era se certificar de que seus homens a seguissem para todas as partes. A determinação de Anahí em lhe contrariar as vontades o divertia porque não sentia nenhuma
irritação sincera nela. Apenas gostava de provocá-lo. Alfonso sabia que estava sendo superprotetor, mas o fato de os sequestradores de Anahí estarem soltos e ainda oferecerem perigo a ela e ao filho deles, fazia com que o medo lhe corresse como uma lava negra pelas
veias. Ela lhe pertencia. Falhara com ela uma vez. Não importava que Anahí o tivesse traído. Ele a havia atirado, grávida de um filho seu e desprotegida, nas mãos dos sequestradores porque deixara as emoções lhe embotarem o bom senso. Alfonso girou, irritado, quando ouviu o toque do telefone. Desviando o olhar de Anahí, encostou o fone ao ouvido.
– Sr. Herrera. – A voz de Roslyn soou clara do outro lado da linha.
– Conversou com Adam sobre a situação dos negócios no Rio de Janeiro?
– Sim, senhor. Ele pediu para que lhe dissesse que, se o senhor atendesse seu telefone, o teria colocado a par das negociações.
Alfonso soltou uma risada abafada.
– Depois me entenderei com meu irmão.
– Se for possível, o senhor terá de participar de uma conferência telefônica no fim da tarde de amanhã, sete horas daqui. Eu lhe enviarei um e-mail com os detalhes. Christopher e Adam
estarão disponíveis, mas o sr. Diego gostaria de falar diretamente com o senhor.
– Participarei – respondeu ele.
– E como vão as coisas com o senhor? – perguntou Roslyn hesitante. Alfonso franziu a testa e relanceou o olhar de volta à praia, onde Anahí permanecia, observando as ondas se chocarem com a areia. – Ela já recuperou a memória? – continuou.
– Não – respondeu Alfonso conciso. Seguiu-se um momento de silêncio em que ele pôde ouvir a respiração suave de Roslyn, como se estivesse relutando em dizer o que lhe passava na mente. – Se isso é tudo – disse ele, em uma tentativa de pôr um fim ao telefonema.
– Considerou a possibilidade de ela estar fingindo a amnésia? – disparou Roslyn.
– O quê?
– Pense bem – retrucou a assistente, impaciente. – Que melhor maneira de contornar sua raiva do que fingindo ter se esquecido de tudo? Nem ao menos pode ter certeza de que esse filho é seu. Anahí esteve em cativeiro durante meses. Quem pode dizer o que aconteceu
durante esse tempo?
Um arrepio gelado percorreu a espinha de Alfonso.
– Basta – disse ele conciso.
– Mas…
– Já disse o suficiente…
– Como queira. Eu lhe telefonarei se houver qualquer novidade.
Alfonso desligou o telefone e voltou o olhar mais uma vez à praia. Porém, não conseguiu ver Anahí. Poderia Roslyn estar certa? Estaria Anahí fingindo aquela amnésia? O pensamento lhe passara pela mente quando ainda estavam em Nova York e ela acabara de ter alta do hospital. Os instintos lhe diziam que não, mas se enganara em todos os sentidos sobre aquela mulher. Se seis meses atrás alguém lhe tivesse dito que Anahí seria capaz de traí-lo como fizera, teria debochado de tal acusação. A raiva e a dúvida se alternavam em sua mente. Alfonso passou a mão no rosto e fechou os olhos em um gesto cansado. Não importava o que pensasse no momento. Anahí estava grávida de um filho seu, e isso se sobrepunha a tudo mais. Era capaz de relevar muita coisa em nome do filho.