Um som à porta o fez erguer o olhar. Anahí se encontrava dentro do escritório, com o semblante iluminado por um sorriso. Os olhos brilhavam de… felicidade.
Alfonso se descobriu relaxando, o redemoinho de minutos atrás se dissipando.
– Cansou-se do passeio pela praia?
Os lábios de Anahí se retorceram, tristonhos, enquanto ela se aproximava.
– Deveria saber que estava ciente do meu paradeiro.
Alfonso gesticulou na direção da janela.
– Tenho uma vista privilegiada daqui. Parece ter se divertido. Está se sentindo bem hoje? Não se cansou demais?
Anahí parou diante da mesa, e Alfonso quase gesticulou para que ela a contornasse e se sentasse em seu colo, mas se refreou, necessitando se manter um pouco distante enquanto se sentia tão volátil e inseguro. Não queria vê-la como uma farsante, nada além de uma atriz experiente devotada a escapar da vingança.
– Estou bem. Você se preocupa muito. Não preciso ser mimada. Parece pensar que sou a primeira mulher a ficar grávida.
– É a primeira a gerar um filho meu – argumentou ele.
Anahí soltou uma risada.
– Está bem. Então farei algumas concessões a seu excesso de zelo por ser esse o seu primeiro filho. Quando tivermos o próximo, espero que aja de maneira sensata.
Alfonso sentiu cada músculo do corpo retesar e lutou contra a escuridão que se estampou diante de seus olhos. Outro filho. Aquilo sugeria permanência. Um relacionamento duradouro. Sim, planejava pedir… não, insistir… para que Anahí se casasse com ele, mas
não refletira no que aquilo implicaria. Um lugar permanente para Anahí em sua vida. Mais filhos. Os irmãos teriam razão? Deveria tê-la instalado em um apartamento, contratado profissionais competentes para cuidar dela até o nascimento do bebê e depois expulsá-la de sua vida?
– Alfonso? Há algo errado?
Ao erguer o olhar, ele se deparou com a expressão preocupada de Anahí. E, mais uma vez, como em muitos momentos em que ela o encarava, lá estava o traço de insegurança. Ou quase medo. Alfonso xingou em silêncio. Não tivera a intenção de assustá-la ou aborrecê-la.
Estendeu os braços na direção dela.
– Não, pedhaki mou, não há nada errado.
Anahí hesitou por breves instantes, antes de finalmente contornar a mesa e sentar em seus joelhos. Ele a observou morder o lábio inferior.
– Não quer ter mais filhos?
Alfonso inclinou a cabeça para o lado, tentando adotar uma expressão casual.
– Acho que ainda não pensei nessa possibilidade. Nosso primeiro filho ainda nem nasceu.
Anahí concordou.
– Eu sei. Acho que presumi que, como tem irmãos, quisesse ter mais de um filho. Havíamos discutido isso antes? Eu queria ter mais do que um filho? Pensando no futuro agora, sinto que quero vários outros. Talvez quatro. Mas não sei se esse foi sempre o meu desejo.
Incapaz de resistir à testa franzida de preocupação de Anahí, ele lhe pressionou os lábios às rugas que a vincavam.
– Não vamos nos preocupar com isso agora. Temos muito tempo para pensar em outros filhos. Primeiro, tem de se casar comigo – disse ele em tom provocador. – Vamos esperar até o nascimento de nosso filho para depois pensar em aumentar a família.
Um sorriso lindo e cativante iluminou o rosto de Anahí o fazendo perder o fôlego no mesmo instante.
– Parece tão adorável quando você menciona isso – disse ela ofegante.
– O quê?
– Família. Não tenho família, ou assim você me disse. Saber que você e eu formaremos uma significa muito para mim. Às vezes, me sinto tão solitária, como se estivesse só há uma eternidade.
Anahí estremeceu de leve contra o peito largo enquanto as palavras assombrosas lhe escapavam dos lábios.
– Não está sozinha – disse ele em tom de voz suave. – Tem a mim e nós temos nosso filho.
Aquela era uma promessa. Uma que se sentiu apenas levemente desconfortável em fazer. Parte dele se admirava com a facilidade com que se comprometia com uma mulher que lhe causara tanto mal, mas a outra era tão incapaz de se afastar dela quanto seria de cortar fora o
próprio braço.
– Deveria descansar – disse ele em tom de voz firme, mais por necessitar colocar alguma distância entre ambos do que propriamente por preocupação sobre o estado de saúde de Anahí. O médico lhe garantira que ela estava muito bem e que o desmaio não passara da
consequência da falta de alimentação. – Chamarei a srta. Camila para ajudá-la a subir a escada.
Os lábios carnudos de Anahí se curvaram em uma expressão desanimada. Ela se esforçou para se levantar do colo de Alfonso, mas ele segurou seu braço.
– Estou muito descansada. A caminhada pela praia foi revigorante.
– Ainda assim, seria sensato repousar um pouco – contrapôs. – Tenho algum trabalho a concluir. Quando terminar, me juntarei a você e poderemos jantar.
Anahí não conseguiu ocultar o desapontamento, antes de desviar o olhar. Ela anuiu, mas não disse nada enquanto deixava o escritório.
Fechou a porta com suavidade e ergueu o olhar quando Camila se aproximou. Anahí tentou dirigir um olhar simpático à mulher, afinal gostava da enfermeira e ela estava apenas fazendo seu trabalho.
– Está pronta para subir? – Camila perguntou com um sorriso.
Anahí suspirou.
– Sinceramente? Gostaria de atirar em Alfonso o travesseiro onde ele quer que eu repouse.
Camila tentou suprimir uma risada, mas não conseguiu.
– Em vez disso, posso lhe servir uma xícara de chá no terraço?
A expressão de Anahí se iluminou no mesmo instante.
– É uma ideia maravilhosa.
Caminhando lado a lado, as duas transpuseram as portas de vidro na direção do terraço. Uma brisa fresca, impregnada do cheiro do oceano, afagou o rosto de Anahí quando saíram.
– Espero que não se incomode que o dr. Karounis venha nos fazer companhia. – Anahí percebeu que enquanto a enfermeira falava, as maçãs do rosto iam adotando uma leve coloração avermelhada. – Nós dois tomamos chá aqui todas as tardes.
– Claro que não – retrucou Anahí enquanto se acomodava em uma das cadeiras dispostas em torno da mesa que dava vista para os jardins.
Quando Camila retornou para dentro da casa para preparar o chá, Anahí ficou sozinha. Inclinando-se para a frente, observou os gramados. Mesmo com a companhia agradável de Camila e do dr. Karounis, a solidão a envolvia como uma capa. Sem mencionar a frustração. Todas as vezes que Alfonso relaxava ao seu lado e desfrutavam de algum tipo de intimidade, imediatamente ele se retraía como se percebesse o que estava acontecendo e se apressasse em corrigir aquilo. Anahí estava convencida de que a presença de Patrice e do dr. Karounis naquela casa era mais uma barreira do que uma preocupação de Alfonso com sua saúde. Não que ele não se
importasse. Não era mesquinha o suficiente para pensar que os temores do noivo com sua saúde e a da criança não fossem genuínos. Mas, ao mesmo tempo, não podia deixar de pensar em como era conveniente para Alfonso atirá-la aos cuidados de Camila toda vez que as coisas se tornavam muito íntimas entre os dois. Parecia que enquanto ela de fato começava a relaxar, Alfonso apenas se tornava tenso. Nada em seu suposto relacionamento com aquele homem fazia sentido. Se ao menos pudesse se recordar! Se ao menos conhecesse alguém a quem pudesse perguntar. Teria se fechado tanto para o
resto do mundo durante seu relacionamento com Alfonso?
– Certamente as coisas não são tão ruins assim – disse Camila ao pousar a bandeja sobre a mesa diante de Anahí. – Está parecendo carregar o peso do mundo em seus ombros.
Anahí conseguiu conjurar um sorriso hesitante.
– Ah, não. Não é nada sério. Estava apenas pensando.
O dr. Karounis, que surgiu atrás de Camila, cumprimentou Anah com um gesto de cabeça. A enfermeira exibiu um sorriso largo e se apressou a gesticular para que ele se sentasse, enquanto servia o chá. Apesar do turbilhão emocional, Anahí não pôde deixar de sorrir diante do casal mais velho. Era óbvio que estavam flertando um com o outro e a agradava ver alguém feliz e animado. Daria qualquer coisa para desfrutar de um momento de paz. Com um suspiro, Anahí ergueu a xícara e a levou aos lábios, observando mais uma vez o belo jardim. Talvez estivesse alimentando muitas expectativas em um curto período de tempo. Talvez estivesse pressionando muito, o que resultava no afastamento de Alfonso. Tanta coisa seria solucionada se ao menos pudesse se lembrar! Porém, não podia esperar que um
milagre acontecesse da noite para o dia. Devia haver alguma forma de penetrar as defesas de Alfonso. Tinha apenas de descobrir como.