AOS POUCOS, os dias do casal começaram a se acomodar em uma rotina, assim como as noites. Desde que se certificara de que estava tudo bem com a saúde dela e do bebê, Alfonso fazia amor com ela todas as noites, possuindo-a com uma paixão que a deixava sem fôlego. Mas nas manhãs ele nunca se encontrava na cama quando Anahí acordava.
Tornara-se um hábito ela sair à procura de Alfonso, aborrecida pelo fato de ele ter se levantado tão cedo. Na maioria das vezes, o encontrava na biblioteca falando ao telefone, trabalhando no computador ou analisando contratos e faxes. Quando entrava, ele erguia o olhar e, por um breve instante, Anahí percebia o fogo faiscar nos olhos mel, antes de ele conseguir controlar a expressão. Após murmurar um formal “bom-dia”, voltava a se concentrar no trabalho, dispensando-a sumariamente dessa forma. Portanto, Anahí passava a maior parte das manhãs sozinha ou na companhia de Camila e
do dr. Karounis, que parecia muito contente com o tempo que passavam juntos. Na hora do almoço, Alfonso aparecia, como se não tivesse passado horas encerrado na biblioteca. Para seu crédito, ele lhe dedicava as tardes. Anahí conseguira convencê-lo a fazer caminhadas na praia, embora ele reclamasse da possibilidade de ela tomar friagem e se cansar. Anahí ansiava por aqueles momentos porque só assim o tinha exclusivamente para si. E ao menos naquele tempo, ele parecia perder a atitude reservada e cautelosa da qual raramente abria mão. Foi durante um desses passeios que Alfonso a puxou para que se sentasse no tronco onde ela sempre se acomodava para observar o oceano. Após fixar o olhar no mar por um instante,
ele se virou para encará-la com expressão séria.
– Deveríamos nos casar logo. – Anahí girou o anel de noivado no dedo com a ponta do polegar e imaginou por que aquela não era uma conversa animada. – Queria lhe dar um tempo para que recuperasse as forças. O médico acha que sua saúde está ótima agora.
Anahí relaxou um pouco sob o escrutínio intenso dos olhos dourados.
– Para quando está planejando?
– Logo que conseguir providenciar os papéis. Não quero esperar mais. Não quero que nosso filho nasça bastardo.
Anahí franziu a testa e virou o rosto na direção dele. Aquela estava longe de ser uma declaração romântica de amor e devoção. Mas também não queria que o filho nascesse fora do casamento. De repente, sentiu-se egoísta por desejar um motivo mais sentimental para apressarem o casamento.
– Quer se casar comigo, pedhaki mou? Cuidarei de você e de nosso filho. Juro que não lhe faltará nada.
Anahí lutou para não franzir a testa mais uma vez. Quanto mais Alfonso falava, menos ela se empolgava com o casamento. Ele fazia aquilo parecer uma barganha. Não queria que aquela união fosse fria e racional. Alfonso lhe ergueu o queixo com um dedo e a olhou nos olhos.
– Em que está pensando tão concentrada? – Anahí não queria lhe dizer a verdade. Portanto, em vez disso, anuiu lentamente. Uma das sobrancelhas de Alfonso se ergueu em uma expressão questionadora. – Isso é um sim?
– Sim – sussurrou ela. – Eu me casarei com você tão logo possa providenciar os papéis.
Um brilho de satisfação iluminou os olhos mel enquanto ele se inclinava para roçar os lábios aos dela.
– Não se arrependerá disso, pedhaki mou.
Uma estranha escolha de palavras. Por que razão ela se arrependeria de se casar com o homem que amava, o pai de seu filho? Marley imaginou se ele sempre fora tão enigmático e Anahí havia aprendido a amá-lo apesar disso. Era óbvio que sim. Enquanto se encaminhavam de volta a casa, Anahí escorregou a mão pela dele, necessitando de conforto. Após um breve segundo de hesitação, os dedos longos se fecharam contra os dela e os apertaram. Aquecida por aquele pequeno gesto, Anahí expulsou as dúvidas que a atormentavam.