Alfonso SE levantou com o raiar do dia. Não dormira desde que Anahí acordara devido ao pesadelo. Após tranquilizá-la, ela cedera a um sono reparador, mas ele permanecera acordado, com o olhar fixo no teto, refletindo sobre o absurdo da situação em que se encontravam.
Com cuidado para não acordá-la, tomou um banho e se vestiu. Após se certificar de que ela não fora incomodada, desceu a escada em silêncio e passou direto pelo escritório, embora fosse seu costume começar lá o dia de trabalho. Naquela manhã, algo o impeliu para a praia, na direção do local que Anahí costumava visitar. O ar soprava frio, vindo do oceano, mas aquilo não o incomodava enquanto
permanecia parado, observando as ondas quebrarem na areia e retornarem ao mar.O passado de Anahí, o passado de ambos, ameaçou visitá-la durante o sono. As lembranças travavam batalhas nos momentos em que ela estava mais vulnerável e o que ele
faria se fossem recuperadas? O terrível conflito que o corroía por dentro o estava desgastando. Podia sentir raiva e de vez em quando sentia, mas também era muito fácil esquecer. Ali na ilha, protegido do resto do mundo, era muito fácil fingir que existiam apenas Anahí, ele e o filho que ainda não nascera. Nenhuma traição do passado, nenhuma mentira ou falsidade. Alfonso enfiou as mãos nos bolsos da calça e baixou a cabeça, resignado. Nunca antes, tanto na vida profissional quanto na pessoal, se sentira tão perdido, tão indeciso. Seria capaz
de perdoá-la por ter tentado destruí-lo e aos seus irmãos? Aquela era a pergunta que valia um milhão de dólares, porque se não fosse capaz, não seria possível um futuro para os dois. Quando Anahí recuperasse a memória, as coisas mudariam radicalmente. E a ele restaria se
agarrar ao sabor amargo da traição ou seguir em frente e lhe conceder seu perdão.
Theos mou! Não tinha a resposta para aquele impasse. Não sabia se seria capaz de tanta generosidade. Não havia dúvida de que a desejava. Sentia-se atraído por Anahí, mesmo ciente de seus pecados. Ela estava gerando um filho seu, mas poderia afirmar com toda a
honestidade que, se não estivesse grávida, a dispensaria facilmente?
Um par de braços pequenos lhe envolveu a cintura e um corpo quente se recostou ao dele. Alfonso baixou o olhar para ver as mãos de Anahí unidas em seu abdome e as cobriu com a dele em um gesto automático. O abraço era apertado e ele podia sentir a face macia pressionada contra sua espinha. Era uma sensação… de perfeição. Lentamente, Alfonso lhe retirou as mãos para que pudesse girar no círculo dos braços delgados. Ela ergueu um olhar afetuoso e receptivo, antes de se atirar nos braços fortes e aconchegar o rosto ao peito largo.
– Bom dia – disse ele, incapaz de impedir a onda de desejo que invadiu cada célula de seu corpo.
– Passei em seu escritório e não o encontrei. Fiquei preocupada – disse ela recuando.
Alfonso inclinou a cabeça para o lado.
– Preocupada?
– Está sempre em seu escritório a esta hora – retrucou Anahí em um tom de voz leve. – Quando não consegui encontrá-lo em mais nenhum lugar da casa, pensei… pensei que talvez tivesse partido.
As mãos longas pousaram nos ombros de Anahí e os apertaram em um gesto tranquilizador.
– Não partiria sem avisá-la, pedhaki mou. – Estivera tão distante, tão arraigado em seus esforços em evitá-la que a fizera esperar uma atitude como aquela da parte dele? Se esse fosse o caso, não poderia culpá-la. Incluindo a srta. Camila e o dr. Karounis, havia colocado um
verdadeiro arsenal de pessoas entre eles.
– Gostaria de fazer uma caminhada comigo? – perguntou ela. – Sempre passeio de manhã pela praia enquanto você está trabalhando. Isto é, se não estiver muito ocupado?
Alfonso lhe segurou a mão e a levou aos lábios.
– Nunca estou muito ocupado para você e para o nosso filho. Mas não deveria descansar?
Um suspiro exasperado escapou dos lábios de Anahí enquanto ela soltava a mão e levava os dois punhos cerrados aos quadris.
– Pareço estar precisando de descanso? – A raiva e o desapontamento lhe faziam brilhar os olhos. – Ouça, se não quiser me fazer companhia, é só dizer, mas pare de repetir o mantra “você precisa descansar” – dizendo isso, ela se virou e saiu pisando duro pela areia,deixando-o parado lá, como se tivesse recebido um soco no peito.
Alfonso passou uma das mãos pelos cabelos e a observou se afastar, apressada, para só então a seguir. Os pés espalhando areia para todos os lados na tentativa de fechar a distância entre os dois.
– Anahí! Espere. – Ele chamou, segurando-lhe o cotovelo. Quando a girou, foi atingindo em cheio pelas lágrimas que rolavam pelo rosto delicado. Anahí virou a cabeça para o lado,limpando as lágrimas às cegas com a outra mão.
– Por favor, vá embora – disse ela com voz engasgada. – Vá fazer o que quer que faça com o seu tempo. Aguardarei minha hora marcada com você à tarde.
As palavras soaram amargas, repletas de mágoa e deixaram claro que ele não conseguira enganá-la com toda aquela distância que colocara entre os dois.
Alfonso esticou o braço e lhe tocou o queixo, erguendo-o até que ela o encarasse. Com a ponta do polegar, limpou uma lágrima que corria pelo rosto delicado.
– Não temos hora marcada.
– Não? – Anahí se soltou e recuou até colocar uma respeitável distância entre eles. – Tenho tentado ser paciente e compreensiva, embora não consiga entender nada do que está acontecendo. Nem a você nem mesmo a mim. Não consigo decifrá-lo, Alfonso, e estou
cansada de tentar. Esforcei-me para ser forte e tolerante, mas não posso continuar assim. Estou apavorada. Não sei quem sou. Acordei e me descobri grávida, com um estranho em minha cama que afirma ser meu noivo e pai do meu filho. Qualquer um pensaria que isso seria o
suficiente para me julgar amada e tratada com carinho, mas todas as suas ações só conseguiram me deixar ainda mais confusa. Você alterna entre quente e frio e nunca sei qual dos dois esperar. Não posso suportar isso.
Um frio aterrorizante se espalhou pelo peito de Alfonso,comprimindo-o até lhe dificultar a respiração.
– O que está dizendo? – Ele quis saber.
Anahí lhe dirigiu um olhar cansado.
– Por que está se casando comigo? É apenas por causa da criança?
Linhas profundas vincaram a testa de Alfonso. Não o agradava ser pressionado daquela forma.
– Está cansada e transtornada. É melhor voltarmos para casa e continuarmos essa conversa em um lugar mais aqueci…
Anahí o cortou com um gesto brusco de mão.
– Não estou cansada. Não estou transtornada e quero que pare com essa superproteção. Nem mesmo acredito que se preocupe tanto. Isso não passa de uma conveniente barreira atrás da qual se esconde quando começo a lhe fazer perguntas.
Alfonso abriu a boca para refutar aquelas palavras, mas paralisou. Não poderia negar a verdade. Ainda assim, não queria que ela se aborrecesse. Certamente aquilo não faria bem para o bebê.
– O que há no meu passado que tanto me assusta? – sussurrou ela. – A noite passada me aterrorizou. Acordei esta manhã com a sensação daquele medo e não por não poder me lembrar, mas por ter medo de me lembrar. – Anahí o encarou, ansiosa, com uma súplica
estampada no olhar. – Conte-me. Preciso saber. Como era nossa relação antes? Como nos conhecemos? Estávamos de fato apaixonados?
Alfonso virou-se na direção do mar e enfiou as mãos nos bolsos de trás da calça.
– Você trabalhava para mim – disse em tom áspero.
Anahí se moveu até se posicionar ao lado dele, sem tocá-lo, mas perto o suficiente para que ele lhe escutasse a respiração alterada.
– Trabalhava? No hotel?
Alfonso negou com um gesto de cabeça.
– Nos escritórios da empresa. Era minha assistente.
Anahí o encarou chocada.