Alfonso queria negar o fato. Amassar a prova e atirá-la no lixo.Mas a tinha diante de si,encarando-o. A informação falsa que plantara naquela mesma manhã na esperança de
encontrar a pessoa que vendera os projetos sigilosos da empresa para seu concorrente havia sido levada por Anahi. Ela não perdera tempo.De repente, tudo se tornou claro. Seus planos de construção começaram a desaparecer na
mesma época em que Anahi se mudara para a cobertura. Ela continuara a trabalhar para sua empresa e, mesmo depois de ele tentar convencê-la a se demitir para lhe dedicar tempo integral, Anahi ainda tinha acesso irrestrito ao seu escritório. Que tolo fora!O telefonema de Stavros horas antes se alojou na mente de Alfonso como uma adaga. Na ocasião, sentira-se apenas levemente aborrecido, uma questão que planejara discutir com Anahi quando a encontrasse. Pretendia lhe passar um sermão sobre atitudes negligentes,sobre segurança,quando, na verdade, era ele que não estava seguro na companhia de Anahi.Ela fora ao escritório dele e, em seguida, desparecera por várias horas. E agora, os documentos de sua empresa apareciam na bolsa que ela estava usando.Com os papéis apertados em uma das mãos, saiu pisando duro na direção do quarto para encontrá-la ainda sentada na cama. Ela girou o rosto úmido pelas lágrimas para encará-lo, e tudo que Alfonso conseguiu enxergar foi o quanto aquela mulher fora hábil em manipulá-lo.
– Quero-a fora de meu apartamento dentro de 30 minutos –disse sem rodeios.
Anahi o encarou, chocada. Teria ouvido corretamente?
– Não entendo – retrucou com a voz estrangulada.
– Tem 30 minutos para juntar suas coisas, antes que eu acione a segurança para colocá-la para fora.
Anahi se ergueu em um pulo. Como tudo pudera sair tão errado? Ainda nem havia lhe contado sobre a gravidez.
– O que há de errado? Por que está tão zangado comigo? Foi por causa de minha reação ao ouvi-lo me rotular como sua amante? Foi um grande choque para mim. Achei que significava mais do que isso para você.
– Agora só lhe restam 28 minutos – insistiu ele, com frieza,erguendo a mão com várias folhas de papel amarrotadas – Como foi capaz de pensar que poderia levar isso a cabo? Acha
mesmo que eu toleraria sua traição? Não tenho a menor compaixão com traidores e mentirosos, e você, minha querida,consegue ser as duas coisas.
Todo o sangue desertou o rosto de Anahi. Ela oscilou, quase se desequilibrando, mas Alfonso não fez um só movimento para ajudá-la.
– Não sei a que está se referindo. Que papéis são esses?
Os lábios sensuais se curvaram em um sorriso desdenhoso.
– Os que roubou de mim. Tem sorte de eu não telefonar para as autoridades. Mas se eu pousar alguma vez pousar os olhos em você outra vez, será exatamente isso que farei. Seus
esforços poderiam ter enfraquecido minha empresa. Mas quem fez papel de tola foi você.Estes são documentos falsos que plantei para tentar descobrir o culpado.
– Roubei? – A voz de Anahi se ergueu com o nervosismo. Esticando o braço, arrancou os papéis da mão de Alfonso. As palavras enevoadas diante de seus olhos. Tratava-se de um
e-mail interno impresso, obviamente de um endereço do ISP da empresa. Informações sigilosas. Detalhamento de projetos de construção para uma proposta futura em uma grande
cidade estrangeira. Fotocópias e desenhos. Nada daquilo fazia sentido.Anahi ergueu a cabeça e sustentou seu olhar, como se o mundo estivesse desmoronando e se despedaçando ao seu redor.
– Acha que roubei estes papéis?
– Estavam dentro da sua bolsa. Não insulte a ambos negando o que fez. Quero-a fora daqui.
Com um gesto teatral, Alfonso conferiu a hora no relógio. – Agora só lhe restam 25 minutos.
O nó na garganta de Anahi cresceu e lá se alojou, quase a impedindo de respirar. Não conseguia pensar nem reagir.Entorpecida, se encaminhou à porta, sem pensar em juntar suas coisas. Tudo o que queria era sair dali. Estacou segurando a maçaneta para se equilibrar antes de girar para tornar a encará-lo. O semblante de Alfonso permanecia impassível. Linhas vincavam sua a pele em torno dos lábios e os olhos pareciam intolerantes e implacáveis.
– Como pôde pensar que eu faria uma coisa dessas? – sussurrou antes de girar e sair.
Anahi cambaleou às cegas para o elevador. Soluços silenciosos lhe escapavam da garganta enquanto descia até o saguão. O porteiro lhe lançou um olhar preocupado e se
ofereceu para lhe arranjar um táxi. Ela o dispensou com um gesto de mão e penetrou na noite,caminhando, sem firmeza, pela calçada.O ar morno soprava seu rosto. As lágrimas esfriavam sua pele, mas ela não se importava.Alfonso teria de ouvi-la. Faria com que a escutasse. Permitiria que ele se acalmasse durante aquela noite, mas seria ouvida. Tudo não passava de um terrível engano. Tinha de
haver alguma forma de fazê-lo cair em si.Transtornada, Anahi não prestou atenção no homem que a seguia e, quando virou a
esquina, sentiu a mão forte lhe segurar o braço. O grito de alerta foi abafado por um saco de pano que lhe foi enfiado pela cabeça. Ela lutou, frenética, mas com a mesma rapidez se
descobriu empurrada para o assento traseiro de um veículo.Ouviu a porta bater com força e o murmurinho de vozes baixas. Em seguida, o veículo se pôs em movimento.