A IRRITAÇÃO havia substituído o bom humor de minutos atrás quando Alfonso entrou no escritório. Dirigiu um olhar austero a Roslyn, que se afastou para que ele passasse.
– Essa intrusão não me agradou – começou em tom áspero. – Não me telefonou, não avisou nem pediu permissão para vir até a ilha. – Roslyn empalideceu e arregalou os olhos. – Essa é minha residência particular, e aqui você não tem o livre acesso do qual desfruta em meus ambientes de trabalho. Estamos entendidos?
– Sim, senhor – retrucou a assistente, tensa.
– E então, o que há de tão importante que não justificou ao menos um telefonema prévio? – perguntou ele.
– Descobri que outro projeto foi roubado – respondeu Roslyn com voz suave.
– O quê? – Alfonso começou a praguejar e demorou um instante para se dar conta de que estava falando em grego, portanto a assistente não estaria entendendo. Espalmou as duas mãos sobre o tampo da mesa, balançando a cabeça em negativa.
– Que projeto? Conte-me tudo.
A expressão de Roslyn endureceu.
– Um antigo que o senhor havia jogado fora. Era o planejamento original para o hotel do Rio de Janeiro. Mas ainda assim ela deve tê-lo vendido para Marcelli, com os outros, porque o hotel que ele está erguendo em Roma tem as mesmas características. Vi as provas
pessoalmente dois dias atrás.
A raiva era como ácido corroendo as veias de Alfonso .
– Meus irmãos já sabem disso?
Roslyn negou com a cabeça.
– Achei melhor lhe contar primeiro.
Alfonso anuiu e fechou os olhos enquanto se virava para olhar a praia, além da janela. Sempre que pensava ter aceitado a traição de Anahí, o passado voltava para assombrá-lo.
Por mais que quisesse esquecer, seguir em frente, colocar aquele episódio para trás, sempre o via retornar, insidioso e implacável.
Esforçou-se para se lembrar de como Anahí poderia ter tido acesso aos planos para o hotel. Certamente não se protegia em casa. Por mais cuidadoso que fosse no escritório e em todos os outros aspectos de sua vida, sempre agira de maneira relaxada e despreocupada com ela, nunca pensara em resguardar seus interesses de Anahí.
Como seria capaz construir uma vida ao lado de Anahí se não podia confiar nela? Estaria sendo tolo em começar um relacionamento temporário, sabendo que tudo iria por água abaixo no instante em que ela recuperasse a memória? Quando tivesse de encarar seus pecados e arcar com as consequências da traição que lhe fizera? Em meio a tudo aquilo, Alfonso só conseguia se lembrar de uma coisa: a expressão de
Anahí no dia em que a confrontara em seu apartamento. O choque e o horror absolutos estampados em seu rosto. Poderia alguém fingir tal reação com tanta perfeição? Pela primeira vez, Alfonso fez uma análise profunda da mulher que ela fora durante todo tempo em que estiveram juntos, antes do sequestro, e da mulher que se mostrara desde então. Não havia nenhuma grande diferença. A única inconsistência era a traição.
– Alfonso – Roslyn o chamou com voz suave. Os olhos mel se estreitaram ao ouvir a assistente se referir a ele pelo seu primeiro nome. Nunca tolerara aquele tipo de tratamento de seus funcionários, embora não soubesse dizer por que se sentia incomodado escutá-lo de alguém que trabalhava tão intimamente ligada a ele há bastante tempo. – Não permitirá que ela faça nada de errado, certo?
Alfonso girou para encará-la.
– Não. Isso não se repetirá – respondeu com a voz tensa. A raiva lhe percorrendo a espinha como uma serpente. Mas aquela raiva não se concentrava somente em Anahí. Por alguma razão, irritou-o o fato de Roslyn se achar no direito de preveni-lo contra a noiva.
A assistente parecia desconfortável.
– Espero apenas que ela não estrague mais uma vez seus acordos para esse novo hotel. Não outra vez. É um negócio muito importante.
– Acho que isso não é de sua conta. Anahí é problema meu.
Roslyn se encolheu diante do tom do patrão.
– Peço-lhe desculpas, mas essa empresa e esse emprego são muito importantes para mim. Trabalhei duro para o senhor e me empenhei muito no projeto do hotel de Paris.
Alfonso permitiu que um pouco da raiva se esvaísse em um profundo suspiro. Roslyn trabalhara duro e era compreensível que tivesse certa animosidade em relação a Anahí, mesmo que ele não estivesse disposto a tolerar isso. Mesmo que não sentisse que aquela animosidade era justificada. Tal pensamento o atingiu como uma bala de revólver, porque aquilo significava que, de algum modo, não acreditava que Anahí fosse capaz de cometer um crime.
– Aprecio muito sua preocupação, porém esse não é um problema seu. Se isso era tudo que tinha a dizer, então pedirei que o helicóptero a leve até o continente.
Roslyn pareceu querer protestar, mas em seguida concordou.
Trinta minutos mais tarde, Alfonso a acompanhou até o heliponto e, tão logo o helicóptero decolou, ele retornou para dentro da casa.