Alfonso DESLIGOU o telefone com uma carranca e se inclinou para trás na cadeira de couro. Tinha de retornar a Nova York. Adam lhe telefonara com aquela notícia minutos atrás, e Alfonso a recebeu com um incômodo que lhe era incomum. Pior, tivera de informar Adam e Christopher que outro projeto deles havia sido roubado. Os dois se mostraram furiosos com Anahí, o que era compreensível. Como reagiriam quando soubessem que ele estava resolvido a se casar com ela o mais rápido possível? Alfonso se encontrava dividido entre o desejo que Anahí o acompanhasse e a vontade de mantê-la protegida naquela ilha. Distante de qualquer chance de ela recuperar a memória. Alheia às críticas e à animosidade dos irmãos. O prenúncio de uma dor de cabeça o atormentava enquanto considerava o egoísmo daquele pensamento. Porém, sabia que quando Anahí recuperasse a memória, fato que os médicos o
asseguraram de que aconteceria, tudo mudaria entre os dois.
Ainda deveria estar furioso com Anahí e se esforçando para manter a distância entre os dois, mas ela lhe minara a resistência durante aquele tempo que passaram na ilha. Por mais que aquilo o envergonhasse, não importava mais se Anahí mentira e roubara a empresa. Queria que tudo permanecesse como estava, e, se ela recobrasse a memória, seriam forçados a encarar os fatos do passado.
E provavelmente a perderia. Aquilo o incomodava mais do que deveria. Anahí estava esperando um filho seu, disse a si mesmo, e aquela devia ser razão suficiente para não desejar que as coisas azedassem entre os dois.
O tempo que passara ali com Anahí o remetera aos momentos que desfrutavam, juntos,antes da noite em que descobrira sua traição. Naquela época tinha como certa a presença de Anahí em sua vida e por isso não parava para avaliar a importância dela, mas agora sabia o
quanto gostaria de encontrá-la em casa quando retornasse de um dia de trabalho. Anahí era divertida e descontraída. Terna e amorosa. Todas as características que desejara para a mãe de seus filhos.
Entretanto ela o traíra. E tudo sempre voltava a esse ponto, não importava o quanto quisesse esquecer.
– Alfonso ?
O chamado suave o fez erguer o olhar para se deparar com Anahí parada à porta, com a mão sobre o batente, enquanto espiava lá dentro. No mesmo instante, ele varreu os pensamentos sombrios da mente, esperando aparentar menos macambúzio do que se sentia. O
clima entre eles ficara tenso e pesado desde a visita de Roslyn à ilha. Algo que ele lamentava,mas que nada podia fazer para remediar quando ainda tinha dúvidas e inseguranças em relação
a Anahí.
– O que é, pedhaki mou?
– Você está bem? – Ela deixou a mão pender e entrou no escritório com passos hesitantes.
Alfonso concluiu que não soubera disfarçar e expressão desgostosa.
– Venha cá. – Estendeu a mão e a puxou para sentá-la no colo. – Tenho de retornar a Nova York.
Uma sombra escureceu o semblante de Anahí.
– Quando?
– Pela manhã. Meu irmão telefonou com a notícia de que uma pessoa influente que estamos cortejando para o projeto de um novo hotel estará em uma recepção oferecida em nosso hotelnde Nova York. Piers e Christopher pensaram em resolver o assunto, mas o homem quer se reunir com os três. É algo que não posso faltar.
Anahí parecia desapontada e, apesar da insatisfação de vê-la de volta a Nova York que ainda persistia em sua mente, descobriu-se dizendo:
– Poderia me acompanhar.
O olhar de Anahí se iluminou.
– Não seria um estorvo?
Alfonso franziu a testa.
– Você nunca é um estorvo, agape mou. Acho que será bom. Poderíamos anunciar nossos planos de casamento. Meus irmãos vão querer conhecê-la – disse ele, mais animado. –Poderíamos até mesmo nos casar em Nova York com minha família presente e depois retornar para cá. – Na mente de Alfonso quanto mais cedo se casassem,melhor. – Providenciarei para que o dr. Karounis retorne a Atenas. Acho que não precisamos mais dele.
O sorriso de Anahí se alargou.
– E Camila? Não que eu não goste dela, mas me parece que camila e o dr. Karounis parecem estar se dando muito bem. Talvez ela queira fazer uma viagem até Atenas.
– Estenderei o convite a ela. – Alfonso concordou com um sorriso.
– Então, sim, adoraria ir. – Anahí envolveu o pescoço largo com os braços e se apossou dos lábios sensuais com um beijo ousado. Porém, antes que Alfonso pudesse aprofundar o beijo, ela se ergueu. – Tenho de fazer a mala!
Alfonso soltou uma risada baixa e lhe segurou a mão.
– Tem muito tempo para isso.
Ainda assim, saiu apressada, e Alfonso se deteve a observá-la, muito tempo depois de ela desparecer pela porta. Devia estar se sentindo aliviado pelo fato de que, em breve,estariam casados, e Anahí estaria unida a ele, mas não conseguia se livrar da sensação incômoda que o assombrava.