O JATO de Alfonso tocou o solo de Nova York no fim da tarde e uma limusine os aguardava esperando quando saíram do avião. Um homem alto, de aparência estonteante, se encontrava parado ao lado do carro e, à medida que se aproximaram, Anahí percebeu a semelhança entre ele e Alfonso .
– Christopher . – Alfonso chamou. – Não esperava encontrá-lo aqui. Que surpresa!
Christopher exibiu um meio sorriso.
– Não posso recepcionar meu irmão?
Alfonso envolveu a cintura de Anahí com um dos braços e a impulsionou para a frente.
– Christopher , esta é Anahí. Anahí, este é meu irmão mais novo, Christopher .
– Prazer em conhecê-lo – disse ela com um sorriso nos lábios.
O olhar do homem pousou impassível sobre ela, mas ele não lhe retribuiu o sorriso.
Lentamente a expressão de Anahí se fechou ao perceber o olhar nada amistoso de Christopher e,um um gesto instintivo, se encolheu contra Alfonso .
Em seguida, o irmão baixou o olhar ao anel de noivado que ela ostentava no dedo e franziu a testa. Voltou a encarar Alfonso com a mandíbula contraída.
– Seja cortês – disse Alfonso em um tom de voz muito baixo, embora ela conseguisse captar a aspereza que permeava aquelas palavras.
– Prazer em conhecê-la – Christopher retrucou em um tom tenso, embora sua linguagem corporal dissesse o contrário. Em seguida, girou nos calcanhares e caminhou na direção de outro carro que se encontrava estacionado a uma curta distância.
Anahí ergueu o olhar para Alfonso atordoada.
– O que significou aquilo?
– Não foi nada, pedhaki mou. Desculpe se meu irmão foi rude. Não voltará a acontecer.
– Mas por que ele foi rude? – O comportamento de Christopher a deixara perplexa. E então,outro pensamento lhe ocorreu. – Nós já nos conhecíamos? Provavelmente, sim, ele é seu irmão. Fiz alguma coisa que o ofendeu no passado? Ele sempre antipatizou comigo?
Alfonso se apressou em acomodá-la no carro e se sentar ao lado dela.
– Vocês não se conheciam. Não tem de se preocupar se fez algo errado. Esse é o jeito de Christopher . – Alfonso soava ansioso e ela estreitou o olhar diante do que considerou uma mentira.
Quando o celular de Alfonso tocou, ele se precipitou em atender. Anahí comprimiu os lábios e refletiu em silêncio. Algo estava errado. Por que Christopher demonstraria aversão instantânea a ela? E por falar nele, por que nunca o vira antes? Não seria normal ter conhecido
a família do homem com quem iria se casar, o pai de seu filho?
Anahí se inclinou para trás no banco e deixou escapar um suspiro frustrado. Enquanto estivesse em Nova York pretendia buscar respostas e talvez tentar deslocar o bloco de cimento que parecia lhe tapar a mente. Deveria haver uma forma de libertar sua memória. E se
houvesse, ela a encontraria. De preferência, antes de se casar.
Contudo, ainda havia surpresas desagradáveis a aguardando quando chegaram à cobertura.
Anahí quase rosnou de frustração quando as portas do elevador se abriram e avistou Roslyn. Estaria fadada a encontrar aquela mulher em sua casa a todo o momento? A assistente de Alfonso exibiu um sorriso caloroso de boas-vindas, e Anahí não pôde deixar de notar que se destinava apenas ao patrão. Ela permaneceu ao lado de Alfonso
enquanto Roslyn relatava a programação das reuniões, os telefonemas que precisava retornar e os contratos que necessitavam de sua atenção. Não recuaria entregando a vitória àquela
mulher, implícita ou não. Roslyn falava em tom de voz baixo e sensual, tocando o braço do patrão com frequência. Soltou uma risada rouca diante de algo que ele lhe disse, durante todo o tempo ignorando a
presença de Anahí. Tinha de admitir que aquela mulher era ousada. Se não estivesse grávida, teria considerado seriamente a possibilidade de arrastá-la para fora da cobertura pela orelha.
Uma cena divertida em nível de fantasia, mas Alfonso ficaria horrorizado. Anahí suspirou mesmo enquanto a imagem da bela e penteada mulher sendo banida do apartamento a divertia consideravelmente. Por fim, Roslyn se preparou para partir, e os ombros de Anahí relaxaram, aliviados. Porém, quando as portas do elevador se abriram para ela entrar, outro homem, também
bastante parecido com Alfonso , também entrou.
Anahí teve vontade de perguntar quantas pessoas tinham passe livre ao recesso do lar dos dois, mas mordeu o lábio.
– Ao que parece, nosso apartamento está parecendo uma porta giratória hoje – disse Alfonso , fazendo-a imaginar se ele havia lido sua mente.
Embora a desaprovação de Christopher tivesse sido algo mais sutil, não havia dúvidas sobre a opinião do outro irmão sobre ela. Ele escancarou uma carranca quando lhe foi apresentado como sendo Adam.
– Preciso falar com você se não se importa, Alfonso – disse o belo homem com a mandíbula contraída.
– Não os incomodarei – retrucou Anahí, virando e se dirigindo ao quarto, farta da recepção fria que recebera.
Mesmo enquanto fechava a porta, podia ouvir as vozes alteradas e o tom irritado de Alfonso . Hesitou por um instante, imaginando se devia escutar a conversa. Queria ouvir de fato o que estavam dizendo? Com um suspiro, Anahí girou para observar o quarto que Alfonso lhe designara depois que tivera alta do hospital. Sem saber o que fazer, retirou os calçados e se sentou na cama. A viagem não havia sido estafante, mas a ideia de se encolher debaixo das cobertas a atraía. A cabeça começava a latejar pela tensão e se conseguisse
cochilar por algum tempo, talvez se sentisse melhor. E talvez, quando acordasse, não houvesse mais ninguém no apartamento.