Anahí AJEITAVA e puxava o vestido enquanto admirava sua aparência no espelho. As safiras faiscavam em suas orelhas e no colar que fazia conjunto e lhe ornava o pescoço.
– Está linda, agape mou.
Quando ela girou, se deparou com Alfonso . Anahí não pôde evitar um arquejo diante da aparência daquele homem. O terno preto de corte perfeito se ajustava com perfeição ao corpo forte, valorizando-lhe a estrutura muscular. A camisa branca contrastava com a pele
bronzeada e compunha um conjunto arrebatador com os cabelos negros e os olhos dourados. Para ser sincera, Anahí tinha de admitir que estava babando.
– Você também – conseguiu dizer por fim.
Alfonso soltou uma risada abafada e se aproximou.
– Lindo? Certamente pode achar adjetivo melhor.
– Estonteante? Devastadoramente belo? Tão deslumbrante que estou tentada a me atirar sobre você e arrancar suas roupas?
– Essa linha de pensamento me agrada.
– Não estava brincando – murmurou ela.
– Está pronta? O carro está nos aguardando.
Anahi deixou escapar um profundo suspiro e girou o anel de noivado no dedo com a ponta do polegar.
– Na medida do possível.
Alfonso a tomou nos braços.
– Não será tão ruim assim. Ficarei ao seu lado a noite toda.
Anahí se colocou nas pontas dos pés para beijá-lo.
– Sou uma covarde. E não me importo em admitir.
Alfonso se deteve lhe explorando os lábios, movendo-se com uma sensualidade que a deixou fraca e ofegante. Quando se afastaram, Anahí percebeu que ele se encontrava igualmente afetado.
– Acho que devemos partir agora – disse ele com voz rouca. – Do contrário, não iremos a nenhum lugar.
Quando chegaram ao hotel, Anahí viu várias limusines enfileiradas no caminho circular do lado de fora da entrada principal. Engoliu em seco, nervosa, ao observar as pessoas brilhantes
e glamourosas que desciam dos carros e entravam no hotel. De repente, se sentiu mal vestida e despreparada.
Quando chegaram à entrada principal, a porta do veículo se abriu e Alfonso saiu para ajudá-la a descer. Anahí encaixou o braço firmemente ao dele e os dois entraram no hotel. Sentiu um frio congelante no estômago enquanto os dois adentravam o imenso salão. Uma banda de jazz executava os acordes suaves em um pequeno palco ao fundo. Garçons circulavam com bandejas repletas de taças de vinho e champanhe, enquanto outros ofereciam uma refinada seleção de hors d’ouvres. Alfonso murmurou algo para um dos garçons enquanto retirava uma taça de vinho da bandeja e, momentos depois, o homem retornou com um copo de água mineral para Anahí. Enquanto olhava ao redor, com o copo em uma das mãos, ela gemeu mentalmente ao avistar Christopher , Adam e Roslyn. Embora soubesse que eles estariam presentes, esperara sinceramente poder evitá-los o máximo possível. Mas aquilo não seria possível, pensou ao ver Christopher
cruzar o salão na direção de Alfonso . Sua primeira reação foi se desculpar e se encaminhar ao toalete feminino, mas Alfonso
lhe segurou o braço com força como se previsse o que ela pretendia fazer.
– Alfonso – disse Christopher como forma de cumprimento. Varrendo Anahí com o olhar,ele lhe ofereceu o mais breve dos acenos de cabeça. Ao menos, não era uma total reprovação ou o homem teria lhe oferecido uma carranca. Anahí ouviu enquanto os dois trocavam amabilidades e, em seguida, Christopher gesticulou na direção de Adam e um distinto senhor que se encontrava ao lado dele. Permaneceu parada quando Alfonso se encaminhou na direção do outro irmão, mas ele a puxou para que o acompanhasse,aumentando-lhe o temor.
Adam franziu a testa quando eles se aproximaram. O homem mais velho exibiu um sorriso largo e cumprimentou Alfonso de maneira polida. Uma mulher que Anahí presumiu ser a esposa do homem, também ofereceu uma entusiasmada saudação. Alfonso a puxou para frente.
– Sr. e sra. Vasquez, gostaria de lhes apresentar Anahí Portilla. Anahí, este é o sr. Vasquez e sua esposa. Vieram do Brasil em viagem de negócios.
Anahi sorriu e trocou gentilezas com o casal mais velho, relaxando em seguida, contra o corpo de Alfonso . Adam estava sendo educado, e Christopher se juntou ao grupo, deixando de lado a completa indiferença com que a tratara momentos antes. Talvez fosse capaz de suportar aquela noite, afinal. Alfonso lhe segurou a mão e a apertou, girando para os demais do grupo, em seguida, com uma estranha tensão no semblante.
– Anahí aceitou ser minha esposa. Planejamos nos casar durante nossa estadia em Nova York. Ficaríamos honrados se pudessem comparecer.
Um arquejo alto soou às costas de Alfonso , e Anahí virou-se para se deparar com Roslyn parada a alguns centímetros de distância, com uma expressão chocada no rosto. A assistente recobrou o controle rapidamente, mas não o suficiente para impedir Anahí de imaginar por que ela parecia tão perplexa com a notícia. Quando tornou a virar-se, apenas os Vasquez pareciam felizes com a notícia.
As expressões de Adam e Christopher refletiam o mesmo choque de Roslyn. Em seguida, a surpresa inicial deu lugar à patente desaprovação. Alfonso lhes dirigiu olhares de repreensão, mas Anahí se viu completamente perdida. Estremeceu ao lado dele, e a mão forte
apertou a dela como se ele entendesse seu desejo sair correndo dali.
Como poderia o anúncio daquele casamento ser uma novidade? Estavam noivos antes do acidente e, ainda assim, todos agiam como se aquilo fosse um acontecimento inesperado. E desagradável. Após as educadas congratulações dos Vasquez e de outras pessoas ao redor que escutaram o anúncio, a conversa mudou para assuntos triviais. Anahí permaneceu em silêncio, alheia ao falatório ao seu redor. Alfonso afrouxou a força com que lhe segurava a mão, mas lhe
envolveu a cintura com um dos braços a ancorando firme contra o próprio corpo. Não havia como escapar, não importava o quanto ela desejasse. A conversação mudou para a possibilidade da construção de um hotel no Rio de Janeiro e, embora Anahí permanecesse em silêncio, apenas observando os outros, o braço forte nunca lhe abandonou a linha da cintura. À medida que a noite se prolongava, mais pessoas se aproximavam para oferecer suas congratulações pelo iminente casamento e logo o salão fervilhava com a notícia. O sorriso
permanente que Anahí estampava no rosto estava começando a enfraquecer. Como se lhe sentisse o desânimo, Alfonso a guiou para a pista de dança enquanto o lento jazz flutuava melodiosamente pelo ambiente.
Anahí suspirou, derretendo-se no círculo seguro daqueles braços fortes.
– Obrigada. Precisava de uma pausa.
Alfonso sorriu e inclinou a cabeça para lhe morder de leve um dos cantos dos lábios.
– É a mais bela mulher neste salão. Todos os homens a observam com olhares apetitosos, o que basta para eu querer nocauteá-los.
– Hummmm, por mais que goste dessa atitude viril, prefiro que me leve para casa e exercite essa arrogância masculina de outra forma.
– Está me tentando.
Anahí lhe dirigiu um sorriso sedutor.
– Estou falando sério.
Alfonso suspirou.
– Por mais que essa ideia me agrade, acho que terei de permanecer aqui durante toda a recepção. Se for muito cansativo para você, posso pedir que Stavros a leve de volta ao apartamento.
Como se ela fosse deixá-lo ali com Roslyn, a “Miss Super Assistente”!
Apesar do fato de os irmãos de Alfonso e de Roslyn estarem decididos tratá-la como uma pária, havia muitos outros que lhe eram gentis e a incluíam em suas conversas. Anahí se descobriu gostando da atmosfera festiva, apesar do início de noite desfavorável.
Estava ficando tarde quando Alfonso se inclinou para lhe falar ao ouvido.
– Tenho de conversar com meus irmãos. Ficará bem sozinha por alguns instantes?
– Claro, seu bobo – retrucou ela com um sorriso. – Vou ao toalete feminino. Pode ficar à vontade.
Alfonso lhe depositou um beijo nos lábios e se encaminhou na direção dos irmãos. Anahí se demorou no toalete. O lugar lhe proporcionou um excelente descanso do falatório interminável e dos olhares animosos que lhe eram lançados pelos membros do clã Herrera.
– Não pode se esconder aqui para sempre – disse a si mesma. Aprumando os ombros, saiu do toalete e retornou ao salão. Quando passou por uma sala de reuniões pequena, ouviu a voz de Alfonso pela porta entreaberta. Hesitou e estacou, decidindo se devia prosseguir ou esperar por ele ali. As palavras que ouviu a seguir tomaram a decisão por ela.
– Droga, não há necessidade de se casar com ela. Coloque-a em um apartamento qualquer até que a criança nasça. Não se case com essa mulher e permita que ela tenha acesso a tudo que possui.
Anahí entreabriu a boca em choque diante do discurso irado de Adam.
– Ela está esperando um filho meu – retrucou Alfonso em tom frio. – Se optei por me casar com ela, não é problema de nenhum dos dois.
Anahí se aproximou da porta, não se importando se a vissem. Que direito tinha Adam de falar com Alfonso daquela forma?
– Não pode se casar com ela! – Soou o grasnido alto de Roslyn. – Esqueceu-se de como ela o roubou? De que ela tentou arruinar sua empresa? Se precisa de alguma justificativa, basta olhar para os hotéis que estão sendo construídos em Paris e Roma. Seus hotéis, Alfonso . Agora estão sendo erguidos sob o nome de seu concorrente.
Uma neblina varou a mente de Anahí. Fervente. Como uma colmeia de abelhas ferozes, fragmentos de informação zumbiam em seu cérebro. E, de repente, era como se uma represa se abrisse. A porta trancada que se esforçara tanto para abrir, se escancarou e o passado a
transpôs como uma enchente de velocidade assustadora. Anahi oscilou e se agarrou ao batente da porta com força. A náusea lhe revirando o
estômago enquanto cada momento espocava em sua mente como um filme avançando rapidamente. A acusação de roubo que Alfonso lhe atirara no rosto. A expulsão de seu apartamento, de sua vida. O sequestro, os meses que ela passou em um temor esperançoso, aguardando que Alfonso atendesse à exigência do resgate. Exigências que ele ignorara. Oh, Deus! Iria vomitar.
Alfonso a deixara. A descartara como um lixo. Meio milhão de dólares, uma quantia ínfima para um homem com aquelas posses, fora a soma que ele se negara a pagar para que ela fosse libertada. Tudo não passara de uma mentira. Ele lhe mentira sem parar desde que acordara naquele leito de hospital. Ele não a amava ou a desejava, mas sim a desprezava. Não valera sequer meio milhão de dólares para ele. Uma dor intensa comprimia o peito de Anahí enquanto ela se sentia despedaçar. Tudo que acreditara ser verdade de repente eclipsou. Sentia o coração rachar e se desmantelar aos seus
pés. Alfonso nem ao menos tentara salvá-la. O grito angustiado que lhe escapou da garganta ecoou na sala. Anahí levou a mão aos
lábios, mas era tarde demais. Todos giraram na direção dela. Christopher se encolheu e um estranho desconforto se estampou no rosto de Adam. Os olhos de Anahí encontraram os de Alfonso e a verdade se estampou nas íris douradas quando se deu conta de que ela havia recuperado a memória. Quando ele começou a cruzar a sala na direção dela, Anahí recuou, cambaleando para trás. Oh, Deus! Não podia enfrentar aquilo. Lágrimas lhe embaçavam a visão. A imagem do rosto pálido de Alfonso apenas a estimulou a dar o próximo passo. Ela saiu em disparada pelo corredor na direção do saguão. Alfonso gritou seu nome, mas ela não parou. Soluços emergiam do peito de Anahí e explodiam sem que os controlasse. Ela tropeçou, mas recobrou o equilíbrio e se projetou para a frente. Atrás dela, Alfonso praguejava e a chamava.
Anahí corria na direção da saída sem um destino definido na mente. Estava quase lá quando colidiu contra uma montanha. Stavros se interpôs diante dela e a segurou. Anahí explodiu em fúria, chutando e socando. Seu único pensamento era escapar dali para o mais
longe que pudesse. Conseguiu se soltar e cambaleou para a frente, caindo ao chão. No mesmo instante, Stavros se ajoelhou ao lado dela, lhe perguntando se estava bem e Anahí soube que não havia como escapar. Uma dor intensa lhe varou o corpo como se inundada por um córrego interminável de agonia. Ela fechou os olhos no momento em que as mãos fortes de Alfonso escorregavam sob seu corpo. Em tom de voz ansioso, ele lhe perguntava se havia se machucado, mas Anahí se viu incapaz de responder. Dobrou o corpo, enroscando-se no chão sem se importar com o fato de estar no meio do saguão do hotel.
Alfonso a ergueu e ela o ouviu chamar seu nome. Xingamentos irritados lhe escapavam dos lábios, antes de ele bradar ordens para que alguém chamasse um médico. Em seguida, se afastou do saguão barulhento e, instantes depois, entrou em um quarto vazio do hotel.
Tão logo Alfonso a pousou na cama, ela voltou a se enroscar, afastando-se dele. Encolheu-se quando Alfonso lhe pousou uma das mãos sobre o corpo, com um toque suave.
– Tem de parar de chorar, agape mou, ou acabará passando mal.
Anahí já estava passando mal, pensou entorpecida. Seu coração havia adoecido. Ela fechou os olhos, mas ainda assim, grossas lágrimas lhe rolaram pelo rosto e Alfonso as limpava com os dedos. Sua única vontade era escapar. Ir para algum lugar em que não sentisse tanta dor. Através de uma névoa, ouviu Alfonso conversar com um médico. Instantes depois, sentiu uma picada no braço, mas não reagiu. Não se importava. E então, começou a flutuar, agradecida pela suavização da dor. A mente se tornou indistinta enquanto o véu do esquecimento pousava sobre ela. Esquecimento. Ansiava por esquecer. Mergulhar no vazio e despencar para um lugar onde não havia dor nem traição.