Anahí ESTREMECEU quando se sentou no banco de pedra frio e abraçou o corpo trêmulo. Baixou o olhar aos próprios pés, mas não conseguia se repreender por ter saído no frio sem sapatos ou casaco. Seu único pensamento era se afastar o mais rápido possível. Não poderia
encarar Alfonso naquele momento. Agora sabia por que fora atraída para aquele lugar. Seu ponto de reflexão. Horas antes daquela noite fatídica, havia se sentado ali, temendo a reação de Alfonso à sua gravidez. E tinha razão em temer. Ele não acreditava nela. Não a amava. Abandonara-a à própria sorte com os sequestradores.
Anahí se recusava a permitir que as lembranças lhe voltassem à mente. Eram muito dolorosas. Ao menos agora percebia por que escolhera esquecer. Todas aquelas semanas convivendo com o medo enquanto seus sequestradores esperavam que lhes atendessem as
exigências haviam empalidecido comparadas à traição de Alfonso recusando-se a atendêlas. Como alguém podia ser tão frio? Não seria capaz de pagar uma quantia ínfima em dinheiro para soltar qualquer pessoa? Até mesmo um completo estranho? Nunca imaginara que
ele fosse tão desalmado. Entretanto aquele homem a mantivera à margem de sua vida, sem um mínimo de consideração. Fora apenas amante dele. Alguém com quem ele saciava sua luxúria e nada
mais. Tola fora ela em se apaixonar por Alfonso . Não uma, mas duas vezes. Um gemido fraco lhe escapou dos lábios e Anahí fechou os olhos quando a dor a assolou mais uma vez. Nunca se sentira tão ferida, tão completamente perdida. As mãos se fecharam em torno do abdome abaulado e lágrimas que ela julgara congeladas começaram a lhe rolar pelo rosto. Como Alfonso fora capaz de uma farsa tão desprezível? Deveria saber que em algum momento ela recuperaria a memória e, ainda assim, passara semanas a cortejando, fazendo com que se apaixonasse por ele outra vez. Fingindo lhe ter afeição. E paixão. A pergunta era: por quê?
Teria sido aquilo uma teia milimetricamente urdida para puni-la? Para fazê-la sofrer ainda mais? Nunca imaginara que Alfonso pudesse ser tão cruel, mas aquilo provava apenas o pouco que conhecia do homem a quem se entregara.
Anahípermaneceu lá, balançando-se para a frente e para trás. Os braços envolvendo o abdome em um gesto protetor. O vento se tornou mais intenso, fazendo um arrepio lhe percorrer a espinha, mas ela ignorou o desconforto.
– Anahí?
O nome foi dito com certa cautela e soou distante. Quando ela ergueu o olhar, um homem se encontrava parado a alguns metros de distância, com olhar preocupado. Anahí o reconheceu.
Christopher . Não era de se admirar que ele tivesse sido tão resistente à ideia de Alfonso se casar com ela. Julgava-a uma ladra, assim como o irmão. Aquilo era mais do que podia suportar.
Anahí abraçou o próprio corpo com mais força ainda e baixou o olhar, determinada a esconder as lágrimas. Christopher se agachou diante dela e pousou uma das mãos em seu punho.
– Preciso levá-la de volta, pedhaki mou. Não é seguro para você ficar aqui fora – disse ele com voz suave.
Anahí se encolheu diante do tratamento carinhoso. Aquele era o apelido que Alfonso usava para se referir a ela e não queria mais escutá-lo. Ela negou com um gesto de cabeça e ergueu a mão como se estivesse se protegendo. Christopher baixou o olhar aos pés descalços de Anahí e xingou baixo.
– Está frio e não deveria ter saído descalça. Deixe-me levá-la de volta para casa.
Anahí se encolheu com um movimento brusco.
– Não – disse, balançando a cabeça vigorosamente. – Não quero voltar para lá – acrescentou, deslizando pelo banco de pedra. A superfície áspera atritando com o tecido da roupa.
Christopher esticou a mão para impedir que ela escapasse.
– Pense no bebê. Deixe-me levá-la de volta. Você está fria.
– Não voltarei para aquele apartamento – disse ela desesperada, levantando-se, pronta para sair em disparada.
Christopher a encarou com olhar tristonho.
– Não posso permitir que fuja. Você está obviamente perturbada e não está agasalhada.
Os olhos azuis se encheram de lágrimas.
– Por que se importa? Eu o roubei, lembra-se? Sou apenas a vagabunda que armou uma cilada para o seu irmão e tentou destruir sua empresa – disse ela amargurada.
O olhar de Christopher suavizou.
– Se eu prometer não a levar de volta ao apartamento, virá comigo? Não posso deixá-la aqui desse jeito.
Anahí oscilou e ele a segurou quando seus joelhos cederam. Christopher a ergueu nos braços e se afastou dali.
Anahí sentiu o corpo todo tenso.
– Por favor, deixe-me em paz – suplicou.
– Não posso fazer isso, irmãzinha.
– Sou apenas a prostituta do seu irmão – disse ela, permitindo que uma nova onda de angústia a invadisse.
Christopher a segurou ainda mais firme.
– Theos! Nunca mais repita isso.
Anahí girou o rosto, recostando-o ao ombro largo, enquanto grossas lágrimas lhe banhavam os olhos. Ela os fechou e se permitiu flutuar mais uma vez para a inconsciência. Era tão fácil fugir da realidade quando havia tanto do que queria escapar. Amaldiçoou o momento
em que recobrou a memória. Aquilo a havia destruído.
Meninas mil desculpas por ter sumido é que o tempo tá corrido mais aí está ,a memória dela voltou e agora hein?