Anahí ESTAVA levemente ciente de estar sendo carregada nos braços outra vez. Não por Alfonso . Estava intimamente familiarizada com seu toque para saber que não se tratava dele. Por um instante, entrou em pânico, mas depois ouviu palavras confortadoras em grego e em inglês.
– Relaxe, irmãzinha. Você está segura.
– Para onde estamos indo? – perguntou ela com voz fraca.
– Para um lugar seguro – respondeu ele com voz suave. – Alfonso não permitirá que nada de mal lhe aconteça.
Anahí teve vontade de protestar, dizer que Alfonso não seria capaz de fazer nada por ela, mas não conseguia reunir forças. Em algum momento, ouviu a voz de Alfonso e amaldiçoou o fato de se sentir imediatamente segura e ter o pânico suavizado. Sentiu o roçar de lábios contra sua testa e, em seguida, mãos firmes a acomodando na cama. Dedos lhe acariciaram os cabelos e a envolveram em um casulo de calor reconfortante.
– Você está segura, agape mou. Nunca mais permitirei que ninguém lhe faça nenhum mal.
– Não me chame assim – gritou ela. – Nunca mais. – Ainda assim, Anahí se apegou à promessa de Alfonso , mesmo que o coração gritasse em protesto. Aquele homem mentira para ela. Não podia acreditar em nada que ele dissesse. Mas mesmo contra sua vontade, se
sentiu relaxar e imergir em um sono sem sonhos.
QUANDO Anahí tornou a acordar, sentiu o cérebro aguçado, como não acontecia desde que recobrara a memória. A névoa que lhe cobria a mente se dissipara. Aquilo era bem-vindo,embora praguejasse contra aquele estado de consciência ao mesmo tempo. A confusão havia
evaporado, mas com aquela nova clareza veio a inevitável tristeza.
Sentia-se alerta como se tivesse dormido durante uma semana. E talvez tivesse. Não tinha noção do tempo que se passara. Embora seu passado não fosse mais um mistério, os eventos dos últimos dias se encontravam fragmentados.Com um suspiro relutante, Anahí afastou as cobertas e atirou as pernas para fora da cama.Quando olhou ao redor, percebeu que não tinha noção de onde estava. O quarto era espaçoso e agradável, com várias janelas que permitiam a entrada da luz natural. Anahí se ergueu e caminhou em direção ao banheiro da suíte, os olhos se arregalando diante do tamanho e da suntuosidade. Observou a banheira de hidromassagem com olhar cobiçoso. Embora não soubesse quantos dias haviam se passado, pois tudo se encontrava envolto em um borrão, tinha certeza de que não tomava banho havia algum tempo e mal podia esperar para se sentir limpa e refrescada. Apoiando o pé no degrau que dava para a banheira, inclinou-se para a frente e girou a torneira para enchê-la de água. Quando ergueu o olhar, se deparou com Alfonso parado à soleira da porta e um arquejo lhe escapou da garganta. Projetando-se imediatamente para a frente, ele lhe segurou o braço para equilibrá-la.
– Desculpe-me se a assustei, pedhaki mou. Não era essa minha intenção. Fiquei preocupado quando vim ver como estava e não a encontrei na cama.
– Queria apenas tomar um banho – retrucou em voz baixa.
– Não quero que fique aqui sozinha – disse ele. – Pedirei a srta. Camila para vir até aqui,portanto se precisar de alguma coisa, basta chamá-la.
Anahí fechou os olhos por um instante e inspirou profundamente.
– Por favor, basta de mentiras entre nós. Não há necessidade de fingir que sou importante para você…
A desolação se estampou nos olhos mel, e o rosto bronzeado adotou uma coloração acinzentada.
– Você é muito importante para mim, agape mou.
Antes que ela pudesse responder, Alfonso se retirou do toalete e, dentro de instantes, Camila entrou. Em questão de minutos, Anahí se encontrou despida e acomodada na banheira aquecida. Não muito quente, assegurou Camila, pois banhos muito quentes não faziam bem
para mulheres grávidas. Quando emergiu sob as bolhas fragrantes, Anahí recostou-se à lateral da banheira e ergueu o olhar a Camila.
– Onde estamos? E como cheguei aqui? Pensei que você estava em Atenas com o dr. Karounis.
– O sr. Herrera pediu para que eu voltasse para tomar conta de você – revelou a enfermeira em tom tranquilizador. – Parecia desesperado. A ideia de retornar àquele apartamento a aborrecia tanto que ele resolveu trazê-la para cá.
– E que lugar é este? – Anahí quis saber.
– A casa dele – informou Camila paciente. – Estamos a mais ou menos uma hora da cidade. Aqui é mais calmo e silencioso. Ele achou que você gostaria.
Lágrimas enevoaram a visão de Anahí. E ela pensara não ter mais lágrimas para derramar! Não sabia que Alfonso possuía uma casa fora da cidade. Assim como a ilha, aquele era mais um lugar em que nunca estivera durante todo o tempo em que se relacionara com ele.
Mais uma prova de que nunca ocupara um lugar importante na vida de Alfonso .
– Ele está muito preocupado com você – disse Camila com o semblante se suavizando pela compaixão. – Todos estamos.
Anahí negou com a cabeça. Alfonso a detestava. Nunca a amara, e ela fora tola demais para não perceber isso.
– O que farei? – sussurrou ela para ninguém em particular. Fora uma idiota em ter aberto mão de seu apartamento, emprego e todos os meios de que disponha para cuidar de si mesma quando fora morar com Alfonso . Estivera cega demais pelo amor e pela certeza de que
teria um futuro com ele.
– Está na hora de sair da banheira – disse Camila em tom de voz gentil. – Precisa se secar para descer e comer.
Anahí permitiu que a enfermeira a paparicasse. Camila a secou e a vestiu com uma calça comprida confortável e uma blusa de gestante. Anahí acariciou o ventre abaulado e sussurrou um pedido de desculpas ao filho ainda não nascido. Não podia se dar ao luxo de colapsar. Seu
bebê dependia dela. Alfonso estava esperando quando ela saiu do quarto. Sem nada dizer, ele lhe segurou o cotovelo e a ajudou a descer a escada. Anahí permitiu, muito entorpecida para protestar. Ela também optou pelo silêncio. As emoções se encontravam muito conturbadas para tentar ter uma conversa sensata. Os dois se acomodaram em uma pequena mesa que dava vista para um jardim
meticulosamente cuidado. A luz clara da manhã incidia através das portas de vidro e ela se sentiu aquecida pelos raios de sol.
Alfonso pousou um pato abarrotado de comida em frente a ela e se acomodou na cadeira oposta. Anahí buliu no garfo e começou a afastar a comida de um lado para o outro do prato,evitando-lhe o olhar. Quando ele suspirou, ela ergueu o olhar para encontrá-lo a observando. A expressão do belo rosto sombria como se tivesse passado por um verdadeiro calvário. Ela quase soltou uma
risada diante do absurdo daquele pensamento. Mas para seu horror, sentiu ardência nos olhos e o rosto de Alfonso começou a embaçar.
– Temos de conversar. Há muita coisa que quero lhe dizer. – A voz grave soava estranhamente estrangulada. – Mas antes tem de se alimentar para recuperar as forças. Sua saúde e a de nosso filho vêm em primeiro lugar.
Anahí baixou a cabeça, recusando-se a lhe sustentar o olhar por mais tempo. Concentrouse em comer e logo percebeu que estava de fato com fome.
Anahi estava tomando o último gole de suco, quando ouviu uma porta se fechando a distância e, em seguida, os passos determinados de alguém pelo chão. Ela se virou para ver Christopher entrar na sala, com expressão séria. Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, Alfonso cravou o olhar no irmão e disse com a rigidez do aço na voz:
– Seja o que for, pode esperar até que Anahí termine a refeição.
Christopher lançou um olhar preocupado na direção dela e anuiu em concordância com o irmão. A raiva fez a garganta de Anahí se contrair. O que quer que desejassem conversar, era óbvio
que não pretendiam discutir na frente dela. Mas por que o fariam? Achavam que ela era a pessoa que os havia roubado.
Anahí se ergueu em um impulso e atirou o guardanapo na mesa. Sem dizer nenhuma palavra, girou e se retirou.
– Anahí, não vá – protestou Alfonso .
Virando-se, ela lhe dirigiu um olhar furioso.
– Fiquem à vontade para conversar. Detesto atrapalhar. Afinal, alguém que o roubou e traiu sua confiança não é digno de escutar sua conversa.
– Theos, não se trata disso. Anahí? Espere, droga! – Mas ela o ignorou e seguiu em frente.
Alfonso a observou partir e soltou um xingamento. Sentia-se estrangulado pela impotência. Como poderia esperar que tudo se resolvesse entre os dois? Girou na direção de Christopher , que
também a observava se retirar e franziu a testa. – O que o trouxe aqui com essa urgência? – perguntou.
Christopher enfiou a mão no bolso do paletó e de lá retirou um jornal dobrado. Em seguida, o atirou sobre a mesa em frente a Alfonso .
– Isso.
Alfonso o desdobrou e xingou em quatro idiomas. A primeira página estampava Anahí sendo carregada por Christopher no dia em que fugira do apartamento. Logo abaixo, estavam as fotos dele e de Roslyn com uma reportagem que detalhava cada faceta da saga dramática de seu relacionamento com Anahí.
Alfonso atirou o jornal longe.
– Isso foi obra de Roslyn. Nenhum dos meus homens falou com a imprensa.
Christopher anuiu em concordância.
– Como fez com que fosse presa por roubo e pela fraude de interceptar os pedidos de resgate, Roslyn deve ter pensando que não tinha nada a perder e tudo a ganhar dando ao público sua versão do suposto relacionamento entre vocês dois.
Alfonso se deixou afundar na cadeira e descansou os cotovelos sobre a mesa.
– Amaldiçoo o dia que contratei aquela mulher. Anahí poderia ter morrido por causa da minha estupidez.
– Você a ama.
Aquela não era uma pergunta e Alfonso não a tratou como tal. Era simplesmente a constatação de um fato. Ele a amava, mas conseguira acabar com o amor de Anahí não uma,mas duas vezes.
Alfonso anuiu e enterrou o rosto nas mãos.
– Não a culparia se ela nunca me perdoasse. Como Anahí poderia se nem mesmo eu me perdoo?
– Vá falar com ela. Conserte as coisas entre vocês.
Alfonso se levantou. Sim. Estava na hora de tentar acertar as coisas com Anahí . Se isso fosse possível.