Anahí permaneceu sentada por um longo tempo, com o olhar pregado na agora vazia soleira da porta. As mãos tremiam e o peito se comprimia. Ele a amava? Roslyn plantara os papéis incriminatórios em sua bolsa e depois destruíra os pedidos de resgate? Um tremor lhe varou o corpo. A assistente de Alfonso a odiaria a tal ponto? Ou apenas desejava o patrão desesperadamente? Talvez os dois. Ou talvez Roslyn estivesse trabalhando para o concorrente de Alfonso durante todo o tempo.Os acontecimentos dos últimos dias ainda pesavam sobre ela. Não podia simplesmente esquecer tudo porque ele lhe pedira desculpas e lhe oferecera seu amor e um casamento, certo? Nem mesmo pudera reciprocar aquela declaração, porque Alfonso não acreditaria se lhe dissesse isso agora. Anahí suspirou e se deitou de lado, encolhendo os joelhos até que lhe tocassem o abdome. Estava tão cansada! Desgastada, tanto física quanto emocionalmente. Acariciou a barriga, sorrindo quando o filho se mexeu e chutou sob seus dedos.
– O que devo fazer? – sussurrou. Temia dedicar seu amor a Alfonso outra vez. Mas também a assustava a ideia de ficar sem ele. Por mais estrago que aquele homem havia lhe causado ao coração, experimentava uma dor profunda só de pensar em deixá-lo. Anahí fechou os olhos por um breve instante. A exaustão transbordava por todos os seus poros. Não podia tomar uma decisão tão importante em questão de minutos. Havia muita coisa em jogo. Tinha um filho para levar em consideração. E a si mesma.
NOS DIAS que se seguiram, Alfonso lhe satisfez todas e quaisquer necessidades. Ele a mimava, a enchia de atenções e se esmerava nos cuidados com Anahí . Repetia incessantemente que a amava, embora mantivesse uma distância respeitável entre ambos. Ao que parecia, Alfonso se sacrificava ao máximo para não a pressionar em nenhum sentido. Não era capaz de usar a paixão eletrizante que existia entre os dois para persuadi-la e Anahí se sentia grata por isso.
Dois dias depois de Alfonso a pedir em casamento, os dois irmãos vieram visitá-los.
Anahí tentou se retirar pensando em deixar que os três discutissem seus negócios à vontade,
mas, para ser sincera, ainda se sentia constrangida e envergonhada na presença dos dois, embora nada tivesse feito para merecer qualquer censura. Entretanto, era com ela que os dois irmãos desejavam falar, e Anahí encarou, confusa, os semblantes sérios à sua frente.
– Agimos de maneira imperdoável com você, irmãzinha – disse Christopher .
Adam anuiu em concordância.
– Compreenderemos se nunca nos perdoar. Fomos grosseiros. Não há defesa para o modo
como a tratamos, principalmente quando está esperando um sobrinho nosso.
O sentimento de culpa e o arrependimento era patente nas duas expressões, mas Anahí não
tinha ideia do que dizer para aliviar a situação.
Christopher deu um passo à frente, pousou as mãos com suavidade nos ombros de Anahí e lhe
deu um beijo de cada lado do rosto. Quando recuou, foi a vez de Adam fazer o mesmo.
Anahí relanceou o olhar a Alfonso, percebendo a expressão séria em seu olhar. O rosto estava abatido e parecia mais fino, como se tivesse perdido peso. Parecia… infeliz. Não se
ratava de culpa, embora a atmosfera estivesse repleta daquele sentimento. Dava a nítida
impressão de ter perdido a única coisa que lhe importava. Ela? O pensamento quase a paralisou. Anahí exibiu um sorriso trêmulo para Christopher e Adam e, em seguida, se desculpou, quase correndo na pressa de se retirar daquela sala.
Escancarou a porta que dava para o pátio e recebeu de bom grado o ar frio que a
recepcionou. Inspirou várias vezes, tentando acalmar as emoções conturbadas.
A mente passou por todos os sentimentos que a invadiram nos últimos dias. Traição.
Haviam mentido para ela. Anahí impediu a progressão daqueles pensamentos, porque agora
imaginava se Alfonso realmente havia mentido sobre seus sentimentos.
A aparência dele refletia o modo como ela se sentia. Perdida. Ambos estavam obviamente
feridos. Se Alfonso a odiasse de verdade, por que teria se dado ao trabalho de representar
um papel tão elaborado quando ela perdera a memória? Por que sentira qualquer obrigação
em relação a alguém que o havia roubado?
– Está esperando um filho dele – murmurou ela. E, sim, tinha ideia do quanto a mãe de um
filho de Alfonso seria digna de cuidados, mas por que ele não fizera o que Christopher sugerira
e a colocara simplesmente em um apartamento qualquer? Por que a paparicara, fizera amor
com ela, agira como se gostasse dela?
De fato a amava? Tal declaração lhe devia ter sido muito custosa. Alfonson ão era um
homem inclinado a dar voz aos próprios sentimentos. Durante todo o tempo em que estiveram Juntos, antes do sequestro, ele nunca lhe revelara nenhum deles. Mas demonstrara de muitas formas que gostava dela.
Poderia voltar a confiar em Alfonso? Tal pensamento a assustava e ao mesmo tempo lhe
oferecia certa paz. A escolha seria dela. Ela determinaria o próprio futuro.
Mesmo enquanto as opções se alternavam na mente de Anahí , ela sabia o que faria. Tinha
plena ciência do que queria, mesmo sabendo que talvez não fosse a melhor escolha. O coração
nem sempre fazia a escolha mais sábia, pensou com expressão pesarosa.
Ainda assim, descobriu-se entrando na casa e indo à procura de Alfonso. A preocupação
lhe dava um nó nas entranhas, mas ela sabia que estava tomando a decisão certa, mesmo que
não lhe parecesse tão certa assim no momento.
Anahí o encontrou na sala onde o deixara, olhando pela janela com um drinque na mão. Os
irmãos haviam partido e o silêncio tornava a atmosfera pesada. Ela estacou por um instante,
reunindo coragem. Alfonso tinha a aparência de quem não dormia havia dias. A calça comprida estava amarfanhada e as mangas da camisa enroladas até os cotovelos. A sombra de
uma barba lhe escurecia a mandíbula e os cabelos estavam desgrenhados.
Ainda assim, era extremamente desejável. Anahí teve ímpetos de cruzar a sala em
disparada e se atirar naqueles braços fortes. Queria que ele a abraçasse e lhe dissipasse os
medos e as dúvidas. O nó que sentia na garganta se agigantou e Anahí soube que tinha de
falar naquele momento ou arriscar não ser mais capaz.