Fanfic: Nudez Mortal FINALIZADA | Tema: Herroni
Ela balançou a cabeça de novo, mas desta vez havia cansaço em seu gesto. Ele ouviu o suspiro escapar, e, tirando vantagem disso, chegou-a mais para perto.
- Você não pode me contar?
- Não.
Ele concordou, mas seus olhos brilharam com impaciência. Ele devia saber; nada daquilo deveria ter importância para ele. Ela própria não devia ter importância. Mas muita coisa a respeito dela lhe interessava.
- Pode contar para mais alguém, então? - murmurou.
- Não há mais ninguém. - Reparando então o que poderia ser deduzido disso, ela se afastou. - Eu não quis dizer...
- Eu sei que não. - O sorriso dele era irônico e não muito divertido. - Mas não vai haver ninguém mais, para nós dois. Não por algum tempo. O passo que ela deu para trás não era uma fuga, mas uma declaração de distanciamento.
- Você está contando com muitas coisas como certas, Alfonso.
- De modo algum. Nada é garantido. Você é trabalho, tenente, uma grande quantidade de trabalho. Seu jantar está esfriando. Ela estava cansada demais para discutir, cansada demais para argumentar. Sentou-se e pegou o garfo.
- Você esteve no apartamento de Sharon DeBlass durante a última semana?
- Não, por que faria isso?
- Por que alguém faria? - Ela o estudou demoradamente. Ele fez uma pausa, e então compreendeu que a pergunta não era gratuita.
- Para reviver o evento - sugeriu ele. - Para ter certeza de que nada incriminador havia sido deixado para trás.
- E como dono do prédio, você poderia entrar lá tão facilmente quanto entrou aqui. Sua boca se apertou ligeiramente. Irritação, ela avaliou, a irritação de um homem que já estava farto de responder às mesmas perguntas. Era algo pequeno, mas uma boa indicação da sua inocência.
- É verdade - respondeu ele. - Eu não creio que tivesse dificuldade para fazer isso.
Minha chave mestra me colocaria lá dentro.
Não, pensou ela, a chave mestra não teria passado pelo lacre de segurança da polícia. Isso ia requerer um nível diferente de autoridade ou um especialista em segurança.
- Imagino, tenente, que você suspeita que alguém fora do seu departamento esteve no apartamento depois do assassinato.
- Pode crer que sim - concordou ela. - Quem lida com o seu sistema de segurança, Alfonso?
- Utilizo os serviços da Lorimar, tanto para negócios quanto em minha casa. - Levantou o cálice. - É mais simples assim, porque eu sou o dono da companhia.
- Claro que é. Suponho que você conheça muita coisa a respeito de segurança, também.
- Podemos dizer que eu tenho um interesse antigo por questões de segurança. Foi por isso que comprei a companhia. - Pegou um pouco da massa com ervas, levou o garfo até os lábios dela e ficou satisfeito quando a viu aceitar a porção oferecida. - Maite, eu estou com a tentação de confessar tudo, só para tirar esse olhar infeliz de seu rosto e vê-la comer com tanto entusiasmo quanto da outra vez. No entanto, quaisquer que sejam os meus crimes, e eles são muitos, sem dúvida, nenhum deles inclui assassinato.
Maite olhou para o prato e começou a comer. O fato de ele conseguir ver o quanto ela estava infeliz a incomodava.
- O que quis dizer ainda há pouco quando falou que eu era trabalho?
- Você analisa as coisas com muita precisão e controle, com muito cuidado; pesa as possibilidades, as opções. Não é uma criatura movida por impulso, e, embora eu acredite que você possa ser seduzida, com o método apropriado e o toque certo, isso não seria um fato corriqueiro.
- É isso o que pretende fazer, Alfonso? - Ela levantou os olhos de novo. - Tentar me seduzir?
- Eu vou seduzir você - rebateu ele. - Infelizmente, não esta noite. Além disso, quero descobrir o que a faz ser como é. E quero ajudá-la a conseguir o que deseja. Neste exato momento, o que você precisa é encontrar um assassino. Você culpa a si mesma - acrescentou. - Isso é tolo e irritante.
- Eu não me culpo.
- Então se olhe no espelho - Alfonso falou, baixinho.
- Não havia nada que eu pudesse fazer - Maite explodiu. Nada que eu pudesse fazer para impedir coisa alguma do que aconteceu.
- E você acha que deve ser capaz de parar isso agora, alguma coisa disso? Tudo?
- Isso é exatamente o que se espera que eu faça.
- Como? - Ele fez a cabeça pender para o lado.
- Sendo esperta. - Ela empurrou a mesa. - Sendo precisa. Fazendo meu trabalho. Havia algo mais ali, ele sentiu. Algo mais profundo. Juntou as mãos sobre a mesa.
- E não é o que você está fazendo agora? As imagens invadiram-lhe o cérebro. Todas as mortes. Todo o sangue. Todo o desperdício.
- Agora elas estão mortas. - O gosto das palavras era amargo em sua boca. - Deveria haver algo que eu pudesse ter feito para impedir isso.
- Para impedir um assassinato antes que ele tivesse acontecido, você teria que estar dentro da cabeça do assassino - disse ele, com calma.- Quem conseguiria conviver com isso?
- Eu posso conviver com isso - atirou ela de volta. E era a pura verdade. Ela poderia viver com qualquer coisa, menos com o fracasso. - Servir e proteger, isso não é apenas um lema, é uma promessa. Se não consigo cumprir com a minha palavra, não sou nada. E eu não as protegi, nenhuma delas. Posso servir, mas apenas depois que elas já estão mortas. Que droga, ela era pouco mais do que um bebê. Apenas um bebê, e ele a explodiu em pedaços. Não cheguei a tempo. Não estava lá a tempo de impedir, e deveria estar. - Sua respiração foi cortada por um soluço, causando-lhe surpresa. Apertando a boca com a mão, ela se deixou cair no sofá. - Ah, Deus... - era tudo o que conseguia dizer. - Deus, Deus! Ele foi até ela. Por instinto, agarrou-lhe os braços com firmeza, em vez de abraçá-la.
- Se não puder ou não quiser conversar a respeito do assunto comigo, vai ter que fazer isso com alguém. Você sabe disso.
- Eu consigo lidar com o problema. Eu... - Mas o resto das palavras ficou em sua garganta quando ele a sacudiu.
- E o que isso está custando a você? - ele quis saber. - E o quanto ia fazer diferença para alguém se você deixasse o segredo de lado? Por apenas um minuto, deixasse de lado?
- Não sei. - E talvez esse fosse o seu medo, ela compreendeu. Talvez não fosse mais capaz de mostrar o distintivo, ou empunhar a arma, ou manter a própria vida, caso se permitisse pensar muito profundamente, ou sentir em demasia. - Eu a vejo - disse Maite, soltando um suspiro profundo. - Eu a vejo sempre que fecho meus olhos ou paro de me concentrar no que precisa ser feito.
- Conte-me.
Ela se levantou, pegou o seu cálice de vinho e o dele, e voltou para o sofá. Alguns longos goles ajudaram a sua garganta seca, e acalmaram a parte pior dos seus nervos. Era fadiga, avisou a si mesma, que a deixava tão fraca a ponto de não conseguir se segurar.
- A chamada veio quando eu estava a meio quarteirão de distância. Tinha acabado de encerrar um outro caso, e terminara de registrar os dados. A Central convocou a unidade mais próxima. Violência doméstica. Isso é sempre complicado, mas eu estava praticamente na porta. Então, fui até lá. Alguns vizinhos estavam do lado de fora, todos falando ao mesmo tempo. A cena voltou em sua mente, com nitidez, como um vídeo que já estivesse no ponto exato da cena. - Havia uma mulher de camisola, e estava gritando. Seu rosto estava machucado, e um dos vizinhos estava tentando colocar uma atadura em seu braço. Ela estava sangrando muito, então eu pedi para chamarem uma ambulância. Ela só ficava dizendo: ”Ele a pegou. Ele pegou minha filhinha.” Maite tomou mais um gole. - Ela me agarrou, me sujou toda de sangue, gritando, chorando e me dizendo que eu tinha que impedi-lo, tinha que salvar a sua filhinha. Eu deveria ter pedido um reforço, mas achei que não podia esperar. Subi as escadas, e já conseguia ouvi-lo antes de chegar ao terceiro andar, onde ele havia se trancado. Estava possesso. Acho que ouvi a garotinha gritar, mas não tenho certeza. Fechou os olhos então, rezando para que estivesse errada. Ela queria acreditar que a criança já estava morta, já estava além da dor. Ter estado tão perto, apenas a alguns passos... Não, ela não poderia viver com aquilo. - Ao chegar à porta, agi pelo procedimento padrão. Soube o nome dele pelos vizinhos, e assim o chamei pelo nome e falei também o nome da criança. Normalmente, o contato fica mais pessoal, mais real, se você usa os nomes das pessoas. Então eu me identifiquei e avisei que estava entrando. Mas ele continuava esbravejando. Dava para ouvir as coisas se quebrando lá dentro, mas já não se conseguia ouvir a criança. Acho que eu pressenti. Antes de arrombar a porta, eu pressenti. Ele usara a faca de cozinha para retalhá-la por completo. As mãos de Maite tremiam enquanto ela levantava o copo novamente. - Havia tanto sangue! Ela era tão pequena, mas havia tanto sangue! No chão, pelas paredes, em volta dele. Pude ver que o sangue ainda estava pingando da faca. O rosto da menina estava virado para mim. Um rostinho com grandes olhos azuis, como os de uma boneca.
Autor(a): taynaraleal
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Ela ficou em silêncio por um instante e então colocou o cálice de lado. - Ele estava drogado demais para a arma de choque fazer efeito. Continuou vindo na minha direção. Havia sangue pingando da faca, e respingado em volta dele todo, e ele continuava vindo. Então, eu o olhei bem nos olhos, direto nos olhos. E o matei. - E logo no di ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 84
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maite_portilla Postado em 24/07/2017 - 16:36:32
acabou? nao acredito:( essa foi uma as melhores historias eu ja li aqui nesse site. essa fanfic foi perfeita do inicio ao fim. amei ela e ja estou ansiosa para a sua proxima fanfic. vc é com certeza uma a melhores escritoras daqui e espero que continue escrevendo muitas historias.
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maite_portilla Postado em 18/07/2017 - 02:31:26
Que bom que voltou realmente. Estou amando, continua logo <3
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maite_portilla Postado em 11/07/2017 - 16:48:20
Opa, leitora nova aqui. Já li sua fanfic toda e pensei que tinha abandonado. Fico muito feliz que vc tenha voltado. Continua logo
taynaraleal Postado em 12/07/2017 - 17:11:25
Que bom que gostou meu amor, seja bem vida, voltei para ficar agora
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suenosurreal Postado em 27/03/2016 - 11:55:53
Mew quero esse Alfonso pra vida, gente que homem! Maite para de graça e se assumem logo, são tão lindos juntos *-* continuaaaaa
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mylene_herroni Postado em 17/01/2016 - 02:29:34
continuaaa. adoro essa fic
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mylene_herroni Postado em 05/12/2015 - 23:48:21
Continuaaaaaaa! Eu também acredito no Poncho, Mai ♡
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mylene_herroni Postado em 28/11/2015 - 01:10:55
Aiii eu sinceramente espero que não seja o Poncho. Continuaaaaaa.
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Postado em 26/11/2015 - 13:37:47
O Alfonso tem que estar na estação espacial! Pmldds ele não pode ser o assassino (na vdd pode, tudo é possível) ISSO TEM QUE SER UMA ARMAÇÃO, POSTA MAAAAAIS
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Fabi Sales Postado em 24/11/2015 - 21:58:00
POSTA MAAAAIS, MULHER! ATÉ EU TÔ CURIOSA PRA SABER O QUE ACONTECEU E TÔ DOIDA PRA VER MOMENTOS HERRONI, POSTAAAAAAA <33
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Fabi Sales Postado em 18/11/2015 - 17:46:04
POSTA MAIS, POR FAVOR! <33