Fanfics Brasil - Capítulo 30 Nudez Mortal FINALIZADA

Fanfic: Nudez Mortal FINALIZADA | Tema: Herroni


Capítulo: Capítulo 30

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O choque penetrou primeiro em seu sistema nervoso. Seu cérebro morreu antes, de modo que seu corpo começou a sofrer convulsões e tremia sem parar, enquanto os olhos se transformavam em vidro. Resistindo à necessidade de gritar, ela chutou a faca para longe da sua mão ainda trêmula e olhou para a criança. Os imensos olhos de boneca olhavam fixamente para ela, e lhe diziam, uma vez mais, que ela chegara tarde demais.


Forçando o corpo a relaxar, ela não deixou que nada mais penetrasse em sua mente, a não ser o relatório que tinha que fazer. A sessão de simulação com o uso de realidade virtual estava terminada. Seus sinais vitais foram registrados novamente, antes de Maite ser levada para a fase final dos testes. A entrevista com a psiquiatra. Maite não tinha nada contra a Doutora Mira. Era uma profissional dedicada à sua vocação. Se trabalhasse em um consultório particular, ganharia o triplo do salário que conseguia no Departamento de Segurança da Polícia. Tinha uma voz calma, com um leve sotaque da classe alta da Nova Inglaterra. Seus olhos azul-claros eram gentis e penetrantes. Aos sessenta anos, parecia confortável com a meia-idade, e muito longe de parecer uma pessoa idosa. Seus cabelos tinham um tom de mel escuro, e viviam presos na parte de trás da cabeça em um coque muito elaborado e impecável. Usava um paletó em tom de rosa, absolutamente limpo e sem rugas, com um tranquilizador alfinete circular, de ouro, na lapela. Não, Maite não tinha nada contra ela, pessoalmente. Simplesmente detestava psiquiatras.


- Tenente Perroni. - Mira se levantou de uma poltrona azul quando Maite entrou na sala. Não havia nenhuma mesa, nenhum computador à vista. Aquele era um dos truques, Maite sabia. Fazer com que os avaliados se sentissem relaxados e esquecessem que estavam sob intensa observação.


- Doutora. - Maite se sentou na poltrona que Mira indicara.


- Estava para me servir de um pouco de chá. Você me acompanha?


- Claro. Mira se moveu com graça até o aparelho, ordenou dois chás, e levou as xícaras até as poltronas. - Foi uma pena que o seu teste tenha sido adiado, tenente. Com um sorriso, ela se sentou e provou o chá. - As conclusões do processo são mais apuradas e certamente mais benéficas quando as observações são feitas nas vinte e quatro horas seguintes ao incidente.


- Foi algo que não pudemos evitar.


- Estou ciente. Seus resultados preliminares são satisfatórios.


- Que bom!


- Você continua a recusar a auto-hipnose?


- É opcional. - Maite detestou o tom defensivo de sua voz.


- Sim, é verdade. - Mira cruzou as pernas. - Você passou por uma experiência muito difícil, tenente. Existem alguns sinais de fadiga física e emocional.


- É que estou trabalhando em outro caso, que está exigindo muito de mim e me tomando muito tempo.


- Sim, também tenho essa informação. Está tomando o medicamento padrão para indução de sono? Maite experimentou o chá. Era, como ela suspeitara, floral, no aroma e no sabor.


- Não. Não estou tomando. Já passamos por isso antes. As pílulas para dormir à noite são opcionais, e eu opto por não ingeri-las.


- Porque elas limitam o seu controle,


- Isso mesmo. - Maite olhou para a psiquiatra. - Não gosto de ser colocada para dormir, e também não gosto de estar aqui. Não aprecio estupro cerebral.


- Você considera nossos testes um tipo de estupro? Não havia um só tira em toda a Força que não achasse isso. Maite respondeu: - Não é algo que se faz por escolha, certo? Mira suspirou, intimamente.


- Tenente, a eliminação de um suspeito, não importam as circunstâncias, é uma experiência traumática para um policial. Se o trauma afetar as emoções, as reações e a atitude, o desempenho do policial vai diminuir. Se o uso de força terminal foi provocado por um problema físico, tal problema deve ser localizado e reparado.


- Conheço as regras, doutora. Estou cooperando por completo. Apenas não sou obrigada a gostar disso.


- Não, não é. - Mira, de modo elegante, equilibrou a sua xícara sobre o joelho. - Tenente, esta é a sua segunda eliminação terminal. Embora isso não seja fora do comum para uma policial com o seu tempo de serviço, há muitos outros que jamais precisaram tomar tal decisão. Gostaria de saber como se sente a respeito da escolha que fez, e dos resultados.


Gostaria de ter sido mais rápida, Maite pensou. Gostaria de que aquela criança estivesse brincando com suas bonecas agora, em vez de estar sendo cremada.


 


- Considerando que a minha única escolha era deixá-lo me retalhar em pedaços ou impedi-lo, me sinto bem com a decisão que tomei. Minhas advertências foram feitas, e ignoradas. A arma de atordoamento não teve efeito. A prova de que ele ia, realmente, matar, estava bem no chão entre nós, em uma poça de sangue. Portanto, também não tive problemas com os resultados.


 


- Você se sentiu perturbada pela morte da criança?


- Acredito que qualquer pessoa se sentiria perturbada pela morte de uma criança. Especialmente em se tratando do assassinato monstruoso de alguém indefeso.


- E você nota algum paralelo entre a criança e você? - perguntou Mira, baixinho, e viu que Maite se retraiu e se fechou. Tenente, nós duas sabemos que estou perfeitamente ciente das suas experiências de infância. Você sofreu abusos, fisicamente, sexualmente e emocionalmente. Foi abandonada quando tinha oito anos.


- Isso não tem nada a ver com...


- Acho que tem muito a ver com o seu estado mental e emocional - Mira interrompeu. - Durante dois anos, entre os seus oito e dez anos, você viveu em um abrigo, enquanto seus pais eram procurados. Não tem lembrança dos primeiros oito anos de sua vida, nem do seu nome, nem das circunstâncias ou do local de nascimento. Embora os olhos de Mira fossem suaves, eram agudos e astutos. - Você recebeu o nome de Maite Perroni e foi finalmente colocada para adoção. Não teve controle sobre nada disso. Foi uma criança sofrida e dependente do sistema, que de muitas maneiras falhou com relação a você.


Foi necessária toda a força de vontade de Maite para manter os olhos e a voz firmes quando disse:


- Da mesma forma que eu, parte do sistema, falhei em meu dever de proteger a criança. A senhora quer saber como me sinto a respeito, Doutora Mira? Deprimida. Doente. Arrasada. - Eu sinto que fiz tudo o que poderia fazer. Passei novamente pelo problema através da simulação em realidade virtual, e tomei a mesma atitude, mais uma vez. Porque não há como mudar aquilo. Se eu pudesse ter evitado que a criança morresse, teria feito isso. Se pudesse ter prendido o suspeito, eu o teria feito.


- Mas essas questões estavam fora do seu controle. Megera esperta, Maite pensou.


- Estava sob meu controle a ação terminal de matar o suspeito. Após utilizar todas as opções padronizadas, fiz uso do meu controle sobre a situação. A senhora leu o meu relatório. Foi uma ação terminal válida e justificável.


Mira ficou calada por um momento. Suas habilidades, ela sabia, jamais haviam sido capazes sequer de arranhar a muralha de defesa externa de Maite.


- Muito bem, tenente. Você está liberada para reassumir suas funções, sem restrições. Mira estendeu a mão antes mesmo de Maite poder se levantar. -Agora, cá entre nós e extra-oficialmente... - Há alguma coisa? Mira simplesmente sorriu. - É verdade que com muita frequência a mente protege a si mesma. A sua se recusa a trazer à tona os primeiros oito anos de sua vida. Mas aqueles anos fazem parte de você. Posso ajudar a trazê-los de volta, quando estiver pronta. E, Maite... - acrescentou com aquela voz calma e controlada -, posso ajudá-la a lidar com eles.


- Eu transformei a mim mesma no que sou, e posso viver com isso. Talvez não queira me arriscar a viver com o resto que ficou para trás. - Maite se levantou e caminhou em direção à porta. Quando se virou para trás, Mira continuava sentada da mesma forma que tinha estado, com as pernas cruzadas e uma das mãos segurando a linda xícara. O aroma da infusão de flores continuava no ar. - Agora, um caso hipotético, doutora - começou Maite, e ficou aguardando pela concordância de Mira. - Uma mulher que possui consideráveis privilégios financeiros e sociais escolhe se transformar em uma prostituta. - Diante da sobrancelha levantada de Mira, Maite xingou baixinho, com impaciência. - Não precisamos enfeitar a terminologia, doutora. Ela escolhe ganhar a vida fazendo sexo. Esfrega isso na cara de sua família bem posicionada, incluindo o seu avô ultraconservador. Por quê?


- É difícil descobrir um motivo específico através de informações tão genéricas e pouco delineadas. A razão mais óbvia seria a que essa mulher só consegue descobrir valor em si mesma e desenvolver a auto-estima através de suas habilidades sexuais. Ela adora ou detesta o ato. Intrigada com a resposta, Maite se afastou um pouco da porta.


- Se detestasse o ato, por que se tornaria uma profissional nisso?


- Para punir.


- A si mesma?


- Certamente, e a todos aqueles próximos dela. Para punir, Maite ficou analisando. O diário. Chantagem.


- Se um homem mata, doutora - continuou ela -, de forma cruel e brutal. Se o assassinato está vinculado a sexo, e é executado de uma maneira única e bem específica. Ele grava tudo, depois de ter enganado um sofisticado sistema de segurança. Uma cópia da gravação do assassinato é enviada à pessoa responsável pela investigação. Uma mensagem é deixada na cena do crime, uma mensagem que vangloria o ato. O que é esse homem?


- Você não está me dando muitas informações - Mira reclamou, mas Maite conseguiu ver que conseguira captar a sua atenção. - Diria que ele é inventivo, começou ela.


- Uma pessoa que planeja tudo, é um voyeur. Confiante, talvez convencido e arrogante. Você disse que o ato teve detalhes específicos, então mostra que ele quer deixar a sua marca, e quer também exibir as suas habilidades, o seu cérebro. Usando a sua experiência, observação e talentos de dedução, tenente, acha que ele gostou do ato de assassinar?


- Sim. Acho que ele se deleitou, adorou tudo.


- Então ele certamente vai querer se deleitar novamente Mira acenou com a cabeça.


- Já o fez. Dois assassinatos, com menos de uma semana entre eles. Ele não vai esperar muito, antes de cometer o terceiro, vai?


- É duvidoso. - Mira tomou mais um pouco de chá, como se estivessem discutindo as últimas tendências da moda. - Os dois assassinatos estão conectados de alguma forma, há algo mais em comum, além do executante e do método?


- Sexo - respondeu Maite.


- Ah... - Mira colocou a cabeça para o lado. - Com toda a nossa tecnologia, com os surpreendentes avanços que foram alcançados no campo da genética, nós ainda somos incapazes de controlar as virtudes humanas e suas falhas. Talvez sejamos humanos demais para nos permitirmos essa interferência. As paixões são necessárias para o espírito humano. Aprendemos isso no começo deste século, quando a engenharia genética quase ficou fora de controle. É uma pena que algumas paixões se distorçam. Sexo e violência. Para alguns, isso ainda é um casamento natural. Levantou-se para pegar as xícaras e colocá-las ao lado da máquina, e disse: - Estou interessada em saber mais a respeito desse homem, tenente. Se e quando você decidir que quer um perfil completo dele, espero que me procure.


- É um caso com Código Cinco.


- Entendo - disse Mira, olhando para trás.


- Se nós não conseguirmos pegá-lo antes do próximo ataque, pode ser que eu mude de idéia e venha vê-la.


- Estarei disponível.


- Obrigada.


- Maite, lembre-se de que mesmo as mulheres fortes e que fizeram a si mesmas


possuem pontos fracos. Não tenha medo deles. Maite sustentou o olhar de Mira por mais um instante.


- Tenho trabalho a fazer - disse, por fim.  



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Autor(a): taynaraleal

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A sessão de testes a deixou tremendo. Maite compensou isso, mostrando-se grosseira e criando um clima de antagonismo com seu informante, o que quase a fez perder uma dica importante em um caso envolvendo contrabando de produtos químicos. Seu estado de espírito continuava longe de estar elevado quando se apresentou de volta na Central de Polícia. N ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 84



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  • maite_portilla Postado em 24/07/2017 - 16:36:32

    acabou? nao acredito:( essa foi uma as melhores historias eu ja li aqui nesse site. essa fanfic foi perfeita do inicio ao fim. amei ela e ja estou ansiosa para a sua proxima fanfic. vc é com certeza uma a melhores escritoras daqui e espero que continue escrevendo muitas historias.

  • maite_portilla Postado em 18/07/2017 - 02:31:26

    Que bom que voltou realmente. Estou amando, continua logo <3

  • maite_portilla Postado em 11/07/2017 - 16:48:20

    Opa, leitora nova aqui. Já li sua fanfic toda e pensei que tinha abandonado. Fico muito feliz que vc tenha voltado. Continua logo

    • taynaraleal Postado em 12/07/2017 - 17:11:25

      Que bom que gostou meu amor, seja bem vida, voltei para ficar agora

  • suenosurreal Postado em 27/03/2016 - 11:55:53

    Mew quero esse Alfonso pra vida, gente que homem! Maite para de graça e se assumem logo, são tão lindos juntos *-* continuaaaaa

  • mylene_herroni Postado em 17/01/2016 - 02:29:34

    continuaaa. adoro essa fic

  • mylene_herroni Postado em 05/12/2015 - 23:48:21

    Continuaaaaaaa! Eu também acredito no Poncho, Mai &#9825;

  • mylene_herroni Postado em 28/11/2015 - 01:10:55

    Aiii eu sinceramente espero que não seja o Poncho. Continuaaaaaa.

  • Postado em 26/11/2015 - 13:37:47

    O Alfonso tem que estar na estação espacial! Pmldds ele não pode ser o assassino (na vdd pode, tudo é possível) ISSO TEM QUE SER UMA ARMAÇÃO, POSTA MAAAAAIS

  • Fabi Sales Postado em 24/11/2015 - 21:58:00

    POSTA MAAAAIS, MULHER! ATÉ EU TÔ CURIOSA PRA SABER O QUE ACONTECEU E TÔ DOIDA PRA VER MOMENTOS HERRONI, POSTAAAAAAA <33

  • Fabi Sales Postado em 18/11/2015 - 17:46:04

    POSTA MAIS, POR FAVOR! <33


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