Fanfic: Nudez Mortal FINALIZADA | Tema: Herroni
A sessão de testes a deixou tremendo. Maite compensou isso, mostrando-se grosseira e criando um clima de antagonismo com seu informante, o que quase a fez perder uma dica importante em um caso envolvendo contrabando de produtos químicos. Seu estado de espírito continuava longe de estar elevado quando se apresentou de volta na Central de Polícia. Não havia mensagem alguma de Feeney.
Os outros policiais de sua seção sabiam exatamente onde Maite passara o dia, e fizeram o possível para ficar fora do caminho dela. Como resultado disso, ela trabalhou sozinha e contrariada, por uma hora. Seu último esforço foi tentar uma ligação para Alfonso. Não ficou surpresa nem particularmente desapontada quando foi informada de que ele não estava disponível. Deixou um e-mail para ele, pedindo um encontro, e depois deu o dia por encerrado. Pretendia afogar as mágoas em alguma bebida barata, ouvindo música medíocre enquanto assistia à apresentação de Anahi no Esquilo Azul. O lugar tinha um nível baixíssimo, e ficava muito próximo de ser uma espelunca. A luz era fraca, a clientela facilmente irritável, e o serviço, deplorável. Exatamente tudo o que Maite procurava para aquela noite. A música alta a atingiu como uma onda violenta, assim que entrou. Anahi estava conseguindo manter sua curiosa voz esganiçada acima do som da banda, que consistia em um único rapaz, todo tatuado, que pilotava um instrumento eletrônico.
Maite dispensou a oferta de um sujeito de casaco com capuz, que lhe propôs um drinque em uma das cabines privativas para fumantes. Conseguiu passar através da multidão até chegar a uma mesa, apertou um botão para pedir uma dose dupla de nocaute e se recostou para apreciar a apresentação de Anahi. Ela não era tão má assim, Maite decidiu. Nem tão boa, também, mas os clientes não eram muito exigentes. Anahi estava usando tinta sobre o corpo naquela noite, com seu pequeno e curvilíneo corpo servindo de tela para respingos e listras em laranja e violeta, com manchas estrategicamente colocadas em um tom de esmeralda. O som dos braceletes e correntes que usava se misturava enquanto ela tremulava o corpo em volta do palco elevado e apertado. Um passo abaixo, a massa humana girava, acompanhando-a. Maite observou um pequeno pacote fechado que passava de mão em mão em volta da pista de dança. Drogas, é claro.
O governo havia feito uma guerra contra elas, depois as legalizara, a seguir as ignorara. Finalmente, tentou regulamentar seu uso. Nada parecia ter funcionado. Maite não conseguiu se empolgar com a ideia de fazer uma batida policial, e em vez disso levantou a mão e acenou para Anahi. A parte vocal da canção acabou assim, de repente. Anahi pulou para fora do palco, apertou-se entre a multidão e encostou o quadril pintado na beira da mesa de Maite.
- Oi, estranha!
- Estou bem, Anahi. Quem é o artista?
- Ah, um cara que eu conheço. - Anahi virou de costas e bateu na nádega esquerda com a unha de três centímetros de comprimento. - Caruso, é o nome dele. Veja aqui, ele me autografou. Está tocando de graça, só para tornar seu nome conhecido. - Seus olhos reviraram quando viu uma garçonete colocar um copo comprido, cheio de um líquido espumante azul, na frente de Maite. Você pediu um nocaute? Era melhor pegar logo um martelo e se colocar desmaiada.
- É que hoje o dia foi um cocô - murmurou Maite, tomando o primeiro e terrível gole. - Nossa! Isto aqui não podia estar pior.
- Posso dar uma parada no show por um tempinho e ficar aqui com você. - Preocupada, Anahi chegou mais perto.
- Não, estou legal. - Maite arriscou a vida tomando mais um gole. - Só passei para dar uma olhada no seu número, e deixar a cabeça esfriar um pouco. Anahi, você não está usando esse troço que está rolando por aqui, está?
- Ei, qual é? - Mais preocupada do que insultada, Anahi sacudiu o ombro de Maite. - Estou careta, limpa. Você sabe disso. Tem sempre algum bagulho diferente passando por aqui, mas é tudo coisa leve. Umas pílulas de felicidade, alguns calmantes, uns adesivos para deixar ligado. - Ela cutucou Maite. - Se você está a fim de dar uma dura por aqui, bem que podia pelo menos esperar pelo meu dia de folga.
- Desculpe. - Aborrecida consigo mesma, Maite esfregou as mãos sobre o rosto. - Não estou pronta para consumo humano, no momento. Volte para lá e cante. Gosto de ouvir você.
- Tá bem. Mas se quiser companhia na hora de cair fora, me dê um sinal. Acho que dá para eu sair.
- Obrigada. - Maite se recostou e fechou os olhos.
Foi uma surpresa quando a música ficou mais calma, quase melodiosa. Se você não abrisse os olhos e visse o ambiente, até que não era tão mau.
Por vinte créditos Maite poderia ter colocado os óculos especiais para aumentar o bem-estar e relaxar um pouco com as luzes e formas que combinavam e acompanhavam a música. Naquele momento, porém, preferia o breu total em seus olhos.
- Isto aqui não se parece muito com o seu gabinete de trabalho contra a injustiça, tenente. Maite levantou os olhos e deu de cara com Alfonso.
- Para todo lado que eu me viro, você aparece.
Ele se sentou diante dela. A mesa era tão pequena que seus joelhos batiam um no outro. Sua forma de se ajustar ao pequeno espaço foi deixar as coxas escorregarem por entre as dela.
- Foi você que me chamou, lembra? E deixou este endereço na Central quando saiu.
- Eu queria um encontro, não um companheiro de bebida.
Olhando para o drinque sobre a mesa, ele se inclinou e deu uma cheirada.
- Nem vai conseguir, com esse veneno.
- Esta espelunca não serve vinhos finos nem scotch envelhecido.
- Por que não vamos, então, a algum lugar que sirva? - Ele colocou a mão sobre a dela com o simples objetivo de vê-la olhar com cara feia e puxar a mão.
- Estou com um mau humor terrível, Alfonso. Marque um encontro para quando for bom para você, e depois caia fora.
- Um encontro para quê? - A cantora chamou sua atenção. Ele levantou uma sobrancelha, vendo-a rolar os olhos e fazer gestos. - Olhe, Maite, a não ser que a cantora esteja tendo algum tipo de ataque, me parece que ela está fazendo sinais para você.
Resignada, Maite olhou para cima e balançou a cabeça.
- É uma amiga minha. - Ela balançou a cabeça mais enfaticamente quando Anahi sorriu e levantou os dois polegares. - Ela acha que eu me dei bem.
- E está certa. - Alfonso pegou o drinque e o colocou sobre uma mesa ao lado, onde mãos vorazes lutaram para pegá-lo. Acabei de salvar a sua vida.
- Mas que droga...
- Se quer ficar bêbada, Maite, pelo menos escolha alguma coisa que vai deixar o seu estômago bem revestido. - Ele procurou no cardápio, contraindo os olhos. - Não há nada desse tipo que possa ser adquirido aqui. - Levantando-se, pegou-a pela mão. - Venha comigo.
- Estou muito bem aqui.
Com toda a paciência, ele se abaixou até que seu rosto ficou a poucos centímetros do dela.
- Você está com a esperança de ficar bêbada o suficiente para dar alguns socos em alguém, sem se preocupar muito com as conseqüências. Comigo, você não precisa ficar bêbada, nem tem que se preocupar. Pode me dar quantos socos quiser.
- Por quê?
- Porque há algo de muito triste em seus olhos. E isso me incomoda. - Enquanto ela estava tentando lidar com a surpresa dessa declaração, ele a colocou de pé e já estava se encaminhando com ela para a porta.
- Vou para casa - ela decidiu.
- Não, não vai.
- Escute, meu chapa...
Isso foi tudo o que ela conseguiu dizer antes de perceber que suas costas foram atiradas de encontro à parede e sentiu que sua boca estava sendo esmagada pela dele. Maite não lutou. Sua respiração tinha sido sugada pelo inesperado do gesto, pela tempestade que sentiu nele e pelo choque de uma carência súbita que a atingiu por dentro como um punho cerrado. Foi muito rápido, segundos apenas, antes de ela conseguir liberar a boca.
- Pare com isso - ela exigiu, e se odiou ao perceber que a sua voz não era mais do que um suspiro trêmulo.
- Não importa o que pense - começou ele, lutando para manter a própria compostura - existem momentos em que você precisa de alguém. - Com a impaciência tremendo em torno dele, Alfonso puxou-a para fora. - Onde está o seu carro? Ela fez um gesto em direção à ponta do quarteirão e o deixou empurrá-la pela calçada, dizendo:
- Eu não sei qual é o problema com você.
- Parece que o meu problema é você. Sabe com que estava parecendo? - ele reclamou, enquanto escancarava a porta do carro. - Sentada naquele lugar com os olhos fechados cheios de olheiras? - Descrever a cena serviu apenas para aumentar sua raiva. Ele a empurrou para o banco do carona e deu a volta no carro para tomar ele mesmo o lugar do motorista. - Qual é a porcaria do seu código? Fascinada com o açoite de sua explosão temperamental, ela se virou para digitar o código pessoalmente. Com a tranca desativada, ele apertou a ignição e se afastou com rapidez dali.
- Eu estava tentando relaxar - disse Maite, com cuidado.
- Mas você não sabe como - atirou ele de volta. - Guardou tudo aí dentro e depois não conseguiu se livrar da carga. Está caminhando sobre uma linha totalmente reta, Maite, mas ela é muito estreita.
- É para fazer isso que eu fui treinada.
- Você não sabe contra o que está lutando, desta vez.
- E você sabe. - Seus dedos, ao lado, apertaram a ponta do banco.
- Vamos conversar sobre isso mais tarde. - Ele ficou em silêncio por alguns instantes, tentando recompor suas emoções.
- Prefiro conversar agora. Fui visitar Elizabeth Barrister ontem.
- Eu sei. - Mais calmo, ele já estava se ajustando melhor ao ritmo sacolejante do carro. - Você está gelada. Ligue o aquecedor.
- Está quebrado. Por que não me contou que ela tinha pedido a você para se encontrar com Sharon e conversar com ela?
- Porque Beth me pediu isso em sigilo.
- Qual é o seu relacionamento com Elizabeth Barrister?
- Somos amigos. - Alfonso lançou um olhar de lado para Maite. - Tenho poucos amigos. Ela e Richard estão entre eles.
- E o senador?
- Detesto profundamente o seu ar podre, pomposo e hipócrita - disse Alfonso com toda a calma. - Se ele conseguir ser nomeado por seu partido para concorrer à presidência, vou colocar tudo o que possuo na campanha do seu oponente. Mesmo que seja o demônio em pessoa.
- Você devia aprender a falar com franqueza, Alfonso - disse ela, com a sombra de um sorriso irônico. - Sabia que Sharon mantinha um diário?
- É uma suposição natural. Ela era uma mulher de negócios.
- Não estou falando de registros profissionais. Era um diário. Um diário pessoal. Segredos, Alfonso. Chantagem.
- Ora, ora... - Ele não disse mais nada enquanto trabalhava a informação. - Você encontrou o seu motivo.
- Isso ainda precisa ser definido. Você tem muitos segredos, Alfonso.
Ele soltou uma meia gargalhada ao parar diante do portão de casa.
- Você realmente acha que eu poderia ser a vítima de uma chantagem, Maite?
Imagina que alguma mulher sem rumo e patética como Sharon ia desenterrar alguma informação sobre mim que você, por exemplo, não conseguisse, e usá-la para me prejudicar?
- Não. - Seria muito simples. Maite colocou a mão em seu braço. - Não vou entrar com você, Alfonso. - Aquilo não era assim tão simples.
- Se eu estivesse trazendo você aqui para fazermos sexo, nós teríamos sexo. Ambos sabemos disso. Você queria me ver. Está querendo experimentar o tipo de arma que foi usada para matar Sharon e a outra vítima, não está?
- Sim. - Maite soltou um breve suspiro. - Esta é a sua oportunidade. Os portões se abriram, e ele entrou com o carro.
Autor(a): taynaraleal
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 84
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maite_portilla Postado em 24/07/2017 - 16:36:32
acabou? nao acredito:( essa foi uma as melhores historias eu ja li aqui nesse site. essa fanfic foi perfeita do inicio ao fim. amei ela e ja estou ansiosa para a sua proxima fanfic. vc é com certeza uma a melhores escritoras daqui e espero que continue escrevendo muitas historias.
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maite_portilla Postado em 18/07/2017 - 02:31:26
Que bom que voltou realmente. Estou amando, continua logo <3
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maite_portilla Postado em 11/07/2017 - 16:48:20
Opa, leitora nova aqui. Já li sua fanfic toda e pensei que tinha abandonado. Fico muito feliz que vc tenha voltado. Continua logo
taynaraleal Postado em 12/07/2017 - 17:11:25
Que bom que gostou meu amor, seja bem vida, voltei para ficar agora
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suenosurreal Postado em 27/03/2016 - 11:55:53
Mew quero esse Alfonso pra vida, gente que homem! Maite para de graça e se assumem logo, são tão lindos juntos *-* continuaaaaa
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mylene_herroni Postado em 17/01/2016 - 02:29:34
continuaaa. adoro essa fic
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mylene_herroni Postado em 05/12/2015 - 23:48:21
Continuaaaaaaa! Eu também acredito no Poncho, Mai ♡
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mylene_herroni Postado em 28/11/2015 - 01:10:55
Aiii eu sinceramente espero que não seja o Poncho. Continuaaaaaa.
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Postado em 26/11/2015 - 13:37:47
O Alfonso tem que estar na estação espacial! Pmldds ele não pode ser o assassino (na vdd pode, tudo é possível) ISSO TEM QUE SER UMA ARMAÇÃO, POSTA MAAAAAIS
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Fabi Sales Postado em 24/11/2015 - 21:58:00
POSTA MAAAAIS, MULHER! ATÉ EU TÔ CURIOSA PRA SABER O QUE ACONTECEU E TÔ DOIDA PRA VER MOMENTOS HERRONI, POSTAAAAAAA <33
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Fabi Sales Postado em 18/11/2015 - 17:46:04
POSTA MAIS, POR FAVOR! <33