Fanfic: Nudez Mortal FINALIZADA | Tema: Herroni
Comparada com as outras partes da casa que ela já conhecia, aquela sala era espartana, projetada rigorosamente para o trabalho. Não havia estátuas sofisticadas, nem lustres pendentes. O console largo, em forma de U, os equipamentos de acesso a redes de comunicações, pesquisas e informações eram totalmente pretos, cheios de controles e pontos para conexão de monitores.
Maite já ouvira que o Centro Internacional de Pesquisas Criminalísticas, o CIPC, tinha o mais avançado sistema de banco de dados do país. Suspeitava que o de Alfonso estava no mesmo nível. Ela não era nenhuma especialista em computação, mas viu logo de cara que aquele equipamento era incomparavelmente superior a qualquer um que a Polícia de Nova York e a Secretaria de Segurança usavam, ou tinham condição de ter, mesmo na arrogante Divisão de Detecção Eletrônica.
A parede comprida que ficava de frente para o console estava totalmente tomada por seis imensas telas. Uma segunda estação de trabalho auxiliar exibia uma pequena central de tele-link revestida de metal brilhante, um segundo aparelho de fax a laser, uma unidade de envio e recepção de hologramas, e vários outros equipamentos de informática que ela não identificou.
O trio de estações de comunicação tinha monitores individuais, ligados a tele-links próprios. O piso era feito de placas vitrificadas, com padrão em forma de diamantes e em cores neutras que se misturavam uns com os outros, como se houvesse um líquido entre eles. Uma única janela mostrava imagens da cidade, e pulsava com as últimas cores do sol que desaparecia lentamente. Parecia que, mesmo ali, Alfonso fazia questão de uma atmosfera especial.
- Que aparelhagem! - comentou Maite.
- Não é tão confortável quanto a do meu escritório, mas tem o básico. - Alfonso se pôs atrás do console principal e colocou a mão espalmada na tela de identificação. - Alfonso. Ligar equipamento. Ouviu-se um zumbido discreto, e todas as luzes do console se acenderam. - Este é um novo sistema de identificação por impressão palmar conjugado a identificador vocal - continuou, e fez um gesto para que Maite se aproximasse. - Liberar dados no
nível de segurança amarelo.
Após o leve aceno de cabeça que ele fez, Maite espalmou a mão na tela e sentiu o leve calor do raio de leitura. - Perroni.
- Pronto. - Alfonso se sentou ao lado dela. - Agora, o sistema vai aceitar seus comandos de voz e mão.
- O que é nível de segurança amarelo?
- O suficiente para lhe fornecer todos os dados que você precisa pesquisar - ele sorriu -, mas sem autonomia para anular um comando meu.
- Humm... - Maite olhou para os controles, todas aquelas luzes piscando pacientemente, e a miríade de pequenas telas e medidores. Ela desejava que Feeney estivesse ali, com seu cérebro que parecia computadorizado. - Quero uma pesquisa sobre Edward T. Simpson, Secretário de Segurança de Nova York. Todos os dados financeiros.
- Direto no coração - murmurou Alfonso.
- Não tenho tempo a perder. Este equipamento pode ser rastreado?
- Não apenas ele é impossível de ser rastreado, como também não deixa vestígios da pesquisa que é feita.
- Simpson, Edward T. - anunciou o computador, com uma voz feminina e sensual. - Dados financeiros sendo pesquisados.
Ao ouvir a voz, Maite levantou a sobrancelha e Alfonso sorriu.
- Prefiro trabalhar com vozes melodiosas - explicou ele.
- O que eu ia perguntar - retornou ela - é como você consegue acessar os dados sem que apareça, no Compuguard, o programa de proteção do sistema.
- Nenhum sistema é totalmente resistente à invasão ou quebra de sigilo, nem mesmo o onipresente Compuguard. Ele é excelente para barrar o hacker de nível médio, ou a maioria dos ladrões eletrônicos. Com o equipamento certo, no entanto, fica comprometido. Eu tenho o equipamento certo. E aqui estão os dados. Tela um ordenou.
Maite olhou para a frente e viu o relatório financeiro completo de Simpson aparecer no monitor grande. Ali estavam todas as movimentações usuais: aluguel de carros, financiamentos, extratos de cartões de crédito, e todas as suas transações eletrônicas automáticas.
- A conta do American Express é salgada - ela avaliou. - E acho que ninguém sabe que ele possui uma casa em Long Island.
- Só que esses não são motivos para assassinato. Ele mantém um padrão bancário de Categoria A. Isso quer dizer que ele paga tudo o que deve. Ah, e aqui está um extrato bancário. Tela dois.
Maite estudou os números, mas não ficou satisfeita.
- Não há nada de errado. Depósitos e retiradas na média esperada, pagamento de contas por transferência, tudo batendo com o relatório de crédito. O que é Jeremys?
- Vestuário masculino - explicou Alfonso, com um quase imperceptível sorriso de desdém. - Roupas de segunda classe.
- Só que é muito dinheiro para gastar em roupas - comentou ela, torcendo o nariz.
- Querida, assim vou ter que corromper você. Essa quantia só é exagerada pelo fato de serem roupas de qualidade inferior. - Ela fungou e enfiou os polegares no bolso da frente das calças largas. - E aqui está a conta de investimentos. Tela três. Pouca personalidade - acrescentou Alfonso, depois de dar uma rápida olhada.
- Como assim?
- Olhe os investimentos, estão todos aí. Tudo de baixo risco. Títulos públicos, alguns fundos mútuos, um punhado de blue chips. E tudo aqui mesmo no planeta.
- E o que há de errado com isso?
- Nada, se você se contenta em deixar o dinheiro parado, acumulando poeira. - Deu uma olhada para ela, de lado. - Você investe seu dinheiro, tenente?
- Sim, claro. - Alfonso ainda estava tentando compreender as abreviações e pontos percentuais na tela. - Acompanho o índice das ações duas vezes por dia.
- Não é um bom padrão para o seu dinheiro. - Ele quase tremeu ao dizer isso.
- E o que devo fazer?
- Coloque o que você tem nas minhas mãos e eu dobro o valor para você em seis meses.
- Não estou aqui para ficar rica. - Ela simplesmente franziu os olhos, ainda tentando ler o relatório de investimentos.
- Ora, querida - corrigiu ele, com aquele leve sotaque irlandês. - Todos nós estamos.
- E quanto às contribuições políticas e humanitárias, esse tipo de coisa?
- Acesso à lista de gastos para isenção fiscal - ordenou Alfonso. - Mostrar na tela dois. Maite aguardou e começou a bater com a mão na perna, impaciente, enquanto os dados começaram a aparecer.
- Ele coloca o dinheiro onde o coração está - murmurou ela, analisando os pagamentos feitos ao Partido Conservador e ao fundo de campanha do Senador DeBlass.
- Fora isso, não é muito generoso. Humm... - A sobrancelha de Roarke se levantou. - Interessante... temos aqui uma contribuição muito importante para a Organização dos Valores Morais.
- Esse é o nome de um grupo extremista, não é?
- Eu a chamaria assim, mas os adeptos preferem pensar nela como uma organização dedicada a salvar a nós, pobres pecadores, de nós mesmos. DeBlass é um dos seus defensores ferrenhos.
Maite estava concentrada, como se estivesse pesquisando em seu arquivo mental, e disse:
- Eles são suspeitos de sabotar os principais bancos de dados de várias das grandes clínicas de controle de natalidade.
- Imagine, todas aquelas mulheres decidindo por si próprias se querem ou não engravidar, e quantos filhos desejam. - Alfonso estalou a língua. - A que ponto o mundo está chegando? Obviamente, alguém precisa fazê-las voltar à realidade.
- Claro. - Ainda insatisfeita, Maite enfiou as mãos nos bolsos. - Essa é uma ligação perigosa para alguém como Simpson. Ele gosta de ficar em cima do muro e posar de moderado.
- Para disfarçar suas tendências e conexões conservadoras. Nos últimos anos, vem removendo com cautela as camadas mais radicais. Quer ser governador, e talvez acredite que DeBlass consiga colocá-lo lá. Política é um jogo de toma-lá-dá-cá.
- Política. O disco de chantagem de Sharon DeBlass estava cheio de políticos. Sexo, assassinato, política - murmurou Maite. Quanto mais as coisas mudam...
- Sim, mais continuam como sempre foram. Os casais ainda se entregam a rituais para se cortejarem, os seres humanos seguem se matando, e os políticos continuam a beijar bebês e a mentir. Algo não estava certo, e ela desejou mais uma vez que Feeney estivesse ali. Assassinatos típicos do Século XX, pensou, cometidos por motivos típicos do Século XX. E ainda havia mais uma coisa que não mudara desde o último milénio: impostos. - Dá para conseguirmos a Declaração do Imposto de Renda dele? Os últimos três anos?
- Isso é um pouco mais complicado. - A boca de Alfonso se abriu quase em um sorriso diante do desafio.
- E também é um delito federal. Escute, Alfonso...
- Espere um instante. - Apertou um botão, e um teclado manual surgiu da parte de baixo do console.
Um pouco surpresa, Maite observou enquanto os dedos dele bailavam sobre as teclas.
- Onde foi que você aprendeu a fazer tudo isso? - Mesmo com todo o treinamento exigido pelo Departamento, ela ia pouco além das pesquisas manuais.
- Um pouco aqui, um pouco ali - respondeu ele, distraído -, durante a minha juventude perdida. Tenho que passar pelo sistema de segurança para conseguir invadi-lo, e isso vai levar algum tempo. Por que não pega um pouco mais de vinho para nós?
- Olhe, Alfonso, eu não devia ter pedido. - Com um ataque de consciência, ela chegou mais perto dele. - Não posso deixar que isso prejudique você...
- Shhh... - Suas sobrancelhas se franziram, em concentração, enquanto tentava achar um caminho através do labirinto da segurança do sistema.
- Mas...
- Nós já abrimos a porta, Maite. - Levantou a cabeça, e um forte ar de impaciência lhe encheu os olhos. - Agora, ou a gente entra ou desiste e vai embora.
Maite pensou nas três mulheres mortas, porque ela não conseguira impedir. Não sabia o suficiente para ter impedido. Balançando a cabeça para a frente, ela se virou. O batuque sobre as teclas recomeçou. Depois de servir o vinho, ela foi até o console e ficou em pé diante das telas. Estava tudo em ordem, meditou. Avaliação de crédito com a categoria mais elevada; pagamento das contas rigorosamente em dia; quantidade de investimentos relativamente pequena e, supôs, bem conservadora. É claro que ele gastava mais dinheiro do que a média das pessoas nos quesitos roupas, vinhos e jóias. Mas não era crime ter um gosto refinado e caro. Pelo menos quando a pessoa pagava por tudo o que comprava. Nem mesmo a segunda casa era uma infração, ou crime. Algumas das contribuições políticas eram inesperadas para alguém que se dizia moderado, mas mesmo assim não havia nada de criminoso nisso. Maite escutou Alfonso xingando baixinho e olhou para trás. Era como se ela nem estivesse ali. O estranho é que ela não imaginava que ele tivesse os requisitos técnicos para acessar os sistemas manualmente. Pelo que Feeney comentava, aquela era uma arte quase perdida, exceto para pessoas da área técnica e os hackers. No entanto, ali estava ele, rico, privilegiado e sofisticado, quebrando a cabeça sobre um problema normalmente delegado aos empregados mal pagos que faziam hora extra em serviços de escritório. Por um instante, ela se permitiu esquecer o que estavam fazendo e sorriu para ele.
- Sabe, Alfonso, você é uma gracinha. Ela compreendeu então que, pela primeira vez, tinha conseguido realmente surpreendê-lo. Levantando a cabeça, ele mostrou um olhar espantado que durou quase dois segundos. Então, o sorriso astuto voltou ao seu rosto. O sorriso que fazia o coração dela disparar.
- Você vai ter que me agradar bem mais do que isso, tenente. Consegui colocá-la lá dentro.
- Está brincando? - Uma forte excitação se espalhou por seu sistema enquanto ela girava o corpo de frente para as telas. Mostre logo.
- Telas quatro, cinco e seis.
- Chegamos no fundo do pote. - Maite franziu a testa ao ver o total de ganhos brutos. - Parece que tudo está, como direi... dentro do esperado para o salário que ele ganha.
- É... Um pouco de juros e dividendos adquiridos através de investimentos... - Alfonso estava analisando todas as páginas. Alguns pagamentos recebidos por palestras e discursos. Ele vive perto do limite, mas dentro de suas posses, de acordo com o que os dados estão mostrando.
- Droga! - Ela entornou o resto do vinho com um gole só. - Que outros dados pode haver?
- Vindo de uma mulher esperta, essa é uma pergunta incrivelmente ingénua. Contas clandestinas - explicou ele. - Dois conjuntos de livros contábeis são o método mais consagrado e tradicional de se esconder entrada ilícita de dinheiro.
- Mas se é dinheiro ilícito, quem é que seria burro o bastante para documentá-lo?
- Uma pergunta muito antiga. O caso é que as pessoas fazem isso. Ah, como fazem! Sim - acrescentou ele, respondendo à pergunta que não chegou a ser feita sobre seus próprios métodos contábeis. - É claro que eu também faço.
- Não quero nem saber dessas coisas - retrucou Maite, lançando-lhe um olhar duro. - O caso é que, pelo fato de fazer, sei bem como se faz. Movimentou os ombros.
- As cartas dele estão todas aqui na mesa, não é o que parece? - Com alguns comandos, Alfonso fez com que todos os relatórios da Receita Federal se reunissem em uma só tela. - Agora vamos um pouco além. Computador, quero as contas, no exterior, de Simpson, Edward T.
- Não há outros dados conhecidos - respondeu a máquina.
- Sempre há outros dados - murmurou Alfonso, sem desistir. Voltou a atacar as
teclas, e algo começou a zumbir.
- Que barulho é esse, Alfonso?
Autor(a): taynaraleal
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 84
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maite_portilla Postado em 24/07/2017 - 16:36:32
acabou? nao acredito:( essa foi uma as melhores historias eu ja li aqui nesse site. essa fanfic foi perfeita do inicio ao fim. amei ela e ja estou ansiosa para a sua proxima fanfic. vc é com certeza uma a melhores escritoras daqui e espero que continue escrevendo muitas historias.
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maite_portilla Postado em 18/07/2017 - 02:31:26
Que bom que voltou realmente. Estou amando, continua logo <3
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maite_portilla Postado em 11/07/2017 - 16:48:20
Opa, leitora nova aqui. Já li sua fanfic toda e pensei que tinha abandonado. Fico muito feliz que vc tenha voltado. Continua logo
taynaraleal Postado em 12/07/2017 - 17:11:25
Que bom que gostou meu amor, seja bem vida, voltei para ficar agora
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suenosurreal Postado em 27/03/2016 - 11:55:53
Mew quero esse Alfonso pra vida, gente que homem! Maite para de graça e se assumem logo, são tão lindos juntos *-* continuaaaaa
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mylene_herroni Postado em 17/01/2016 - 02:29:34
continuaaa. adoro essa fic
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mylene_herroni Postado em 05/12/2015 - 23:48:21
Continuaaaaaaa! Eu também acredito no Poncho, Mai ♡
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mylene_herroni Postado em 28/11/2015 - 01:10:55
Aiii eu sinceramente espero que não seja o Poncho. Continuaaaaaa.
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Postado em 26/11/2015 - 13:37:47
O Alfonso tem que estar na estação espacial! Pmldds ele não pode ser o assassino (na vdd pode, tudo é possível) ISSO TEM QUE SER UMA ARMAÇÃO, POSTA MAAAAAIS
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Fabi Sales Postado em 24/11/2015 - 21:58:00
POSTA MAAAAIS, MULHER! ATÉ EU TÔ CURIOSA PRA SABER O QUE ACONTECEU E TÔ DOIDA PRA VER MOMENTOS HERRONI, POSTAAAAAAA <33
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Fabi Sales Postado em 18/11/2015 - 17:46:04
POSTA MAIS, POR FAVOR! <33