Fanfic: História de um grande amor (aya)-Adaptada-Finalizada | Tema: Ponny

Poncho sentia-se acossado por Anahí .

Pensou que passar depois de quatro dias intermináveis dentro de uma carruagem fechada seria capaz de afastá-la de sua mente. Ainda mais em Londres, com todas as diver­sões que a cidade proporcionava.

Ledo engano.

A última conversa não lhe saía da mente e sempre lhe ocorria o que deveria ter acrescentado ao diálogo deles. Nisso a memória se desfazia e restava apenas a imagem daqueles imensos e tristes olhos azuis.

Sentia culpa, e essa era uma emoção que ferroava, quei­mava e estrangulava. A raiva seria muito mais precisa e simples de diagnosticar.

Era o que experimentava por Leticia e pelos homens com quem ela havia se relacionado.

O remorso era outra coisa bem diferente e seria impossível viver com aquele sentimento. Teriam de voltar a ser felizes como antes. Anahí também se mostrara satisfeita, embora se queixasse de suas falhas.

Poncho jurou que faria a felicidade da esposa. Se ela acei­tasse a afeição que ele era capaz de lhe dar, poderiam voltar à existência satisfatória que tinham antes. Anahí teria o bebê e eles formariam uma família. Faria amor com ela de todas as maneiras, inclusive com as mãos e os lábios. Exceto com as palavras. Ele já a conquistou uma vez. Poderia re­petir a dose.

Duas semanas mais tarde, sentada no novo salão rosa, Anahí tentava ler um livro, mas olhava pela janela a maior parte do tempo. Poncho tinha mandado avisar que chegaria naquele dia, e a cada ruído que lembrava a apro­ximação de uma carruagem, seu coração disparava.

O sol já se escondia no horizonte e ela não havia conse­guido ler uma página do livro. Preocupada, uma criada trou­xe o jantar, mas a sopa ficou intacta. Anahí acabou por adormecer no sofá.

Algumas horas depois, ela não escutou o barulho dos cas­cos nem das rodas. Cansado da viagem, Poncho apeou do coche, ansioso para ver Anahí . Pegou uma sacola de mão, um pacote feito com capricho e deixou o restante da bagagem no veículo para os criados transportarem. Olhou para cima e não viu luzes em seus aposentos. Esperava que ela não estivesse dormindo. Não teria coragem de acordá-la, mas queria conversar e reparar seus erros.

Subiu os degraus e tentou tirar a lama das botas. O mordomo, que o aguardava com ansiedade semelhante á de Anahí , abriu a porta antes de ele bater.

— Boa noite, Jack— Poncho cumprimentou-o, afável.

— Fico feliz em ser o primeiro a desejar-lhe as boas-vin­das, milorde.

— Obrigado. Minha esposa ainda está acordada?

— Encontra-se no salão rosa, milorde. Lendo, eu suponho. Poncho tirou o casaco e piscou atônito.

— Jack, não temos nenhum salão rosa.

— Não tínhamos. Trata-se do antigo salão oeste, milorde.

— Ah, então foi redecorado. Isso é ótimo. Quero que ela pense em Rosedale como seu lar.

— Assim como todos nós, milorde.

Anahí conseguiu angariar a lealdade da equipe de auxiliares, e as criadas a idolatravam.

— Farei uma surpresa a ela.

Atravessou o saguão e virou à direita na direção do antigo salão oeste. Pela porta entreaberta via-se o tremeluzir de uma vela. Teria de lembrar Anahí que ler com pouca lu­minosidade era prejudicial.

Empurrou a porta e espiou. Deitada no sofá, ela dormia com um livro sobre a barriga. Na mesa lateral, a refeição não terminada. A inocência adorável da esposa fez seu co­ração ficar angustiado. Sentiu falta de Anahí e pensou nela, e na despedida infeliz, em todos os minutos do dia. Mas até ali não havia entendido a profundeza e o poder daquele sentimento.

Embora não lhe agradasse acordá-la, teria de fazê-lo, a não ser que a deixasse dormir ali. O que seria uma incoe­rência.

Aproximou-se do sofá, empurrou a bandeja para o lado e sentou-se na beira da mesa, deixando o pacote no colo.

— Acorde, minha queri... — Lembrou-se de que Anahí pediu para ele não usar mais termos afetuosos. — Acorde, Anahí .

Ela piscou.

— Poncho? — falou com voz sonolenta.

— Olá, querida. — Problema dela se não gostasse. Ele não deixaria de usar apelidos carinhosos.

— Eu quase havia desistido de esperá-lo — ela contou, depois de um longo bocejo.

— Eu disse que chegaria hoje.

— Mas as estradas...

Ainda não totalmente acordada, Anahí não lembrava da raiva que sentia do marido.

— Não estavam tão ruins. — Ponchosorriu e acariciou-a na face. — Senti sua falta.

Novo bocejo a acometeu.

— É mesmo?

— Muita. E você?

De nada adiantaria mentir. Poncho sabia que ela o amava.

— Eu... também. Tudo transcorreu de acordo com o espe­rado em Londres? — ela perguntou com cortesia.

— Eu preferia que você tivesse me acompanhado. — A declaração foi feita com excesso de formalidade. — Passou bem durante a minha ausência?