Estou em um prédio alto, chorando. Me perco facilmente do mundo real, como se estivesse acabando ali. Me passa um turbilhão de problemas na cabeça, como o trabalho, a casa, as contas.. Preciso pular, não quero mais essa vida. Inclinei-me um pouco mais a frente e percebi a altitude que estava, mas fechei os olhos e saltei. No ar, tudo esta tão lento, estou girando e girando, de repente sinto um tremor, foi então que acordei. A dias tenho tido pesadelos, essa solidão está me matando. Na noite não consigo dormir, tenho ficado vagamente acordada durante horas, preciso de um homem, ou não. Olho para o relógio, "merda", estou atrasada. Olho para meu cachorro que "como sempre", está na minha porta a olhar para mim.

l – Porque não me acordou toby? você é o homem dessa casa

Que estupidez, será mesmo que eu ia esperar um ser animal me acordar e dizer: levante-se está na hora. Acho que estou enlouquecendo mesmo, como eu ia esperar de um cachorro que somente virou um pouco a cabeça como quem diz "não entendi sua louca". Meu chefe já tem me cobrado a meses um pouco mais de organização na minha vida, se ele soubesse o quanto é difícil ter essa que tenho, não diria essas coisas. Apressei-me, sem tempo de tomar nenhum café, apenas tropeçando em toby que insiste todos os dias brincar com os meus pés.

l – Agora não toby, estou atrasada. "Falei quase caindo

Abro a porta, "nossa", que frio faz em Paris naquela manhã, percebo ao lado um caminhão de mudanças, até que enfim vão morar na casa do "seu Jorge", ele pôs a placa aluga-se a quase um ano, tomara que seja uma mulher bem culta na qual possa me ensinar a ser mais pontual. Caminho até o carro e vejo "mulheres" correr de minis shorts e camiseta, não entendo como elas conseguem, estou com dois legs, uma blusa, um blaser, um casaco e ainda sim estou congelando, queria ter essa disposição de acordar bem cedo e ir praticar exercício. Aqui está eu, Dulce Maria, começando "mais um" dia nesse meu louco mundo. 

Abro a porta do meu carro, não é um modelo atual, não costumo me apegar a essa moda de momento, valorizo bem o meu dinheiro, não que eu seja "mão de vaca", mas prefiro gastar em livros, onde meu conhecimento explore melhor. O telefone toca, é meu chefe, já imagino o que ele irá dizer, "atrasada de novo", então ignoro, consigo levá-lo na palma da mão, pois é o meu pai. E assim liga 1, 2, 3 vezes, então decido atender, quem sabe não ocorreu algo pior.

l – O que houve? esta um trânsito terrível, estou tentando chegar cedo. "Mentindo, porém indagada a dizer aquilo, o trânsito estava mais livre que a minha vida amorosa", em poucos minutos chego aí.

Cheguei ao meu trabalho, "barulhento", sou publicitária em uma empresa de revistas de famosos, não vou dizer que "amo" o que faço, foi o único que me sobrou pra ter uma vida boa nessa cidade tão cara. Apesar de ter um pai tecnicamente rico, não usufruo de seus bens, já ganho o bastante para ter minha casa.

l – Chegou atrasada mais um vez Dulce, não vou tolerar mas isso, apesar de ser minha filha, tenho que impor as mesmas condições dos outros funcionários.

Eu poderia ter falado mil coisas, dizer como ele poderia tratar a própria filha daquela maneira, mais tinha que concordar que ele estava certo, então me calei e sentei-me em frente a meu computador decorado de borboletas roxas e vermelhas, "eu amo borboletas". Comecei a pensar na minha nova vizinha, será que ela é legal? preciso conhecê-la quando acabar meu espediente, não tenho amigos desde que vim pra essa cidade, aliás, não tenho amigos desde que sofri minha desilusão amorosa no meu ultimo casamento, porém não vou falar isso em meus pensamentos, até porque é somente uma lembrava catastrófica que tenho. Fotos, telefones, manchetes.. como uma famosa consegue ser tão bem de vida e ainda sair matérias do tipo, "Margarete abandonou a música por depressão", "Paul Misord sofre de dependência química após alegar está cansado da vida artística", se eu fosse artista, estaria em um belo cruzeiro no oceano indico, indo visitar os pingüins, não me afundando nos males.