Fanfic: •●๋• Alguém para amar ●ღ•

CAPITULO VI

Christopher quase não acreditava que Dulce Saviñon estivesse em seu apartamento.

Não conseguia afastar os olhos dela. Nem mesmo para preparar o café. Era praticamente um absurdo relacionar essa mulher com a aliada feminista de Belinda na tarefa de destruir os homens.

Impressões falsas, mentiras... Ele movimentou a ca­beça, afastando esses pensamentos. A realidade era aquele encantamento que materializava tudo o que sempre sonhara numa mulher. Sua inteligência, a la­tente sexualidade, a expressão honesta, a aceitação de seus sentimentos, tornavam-na incrivelmente especial.

Talvez devesse contar-lhe sobre Belinda. Mas Dulce não comentara nada sobre o ex-marido. Ambos os casamentos haviam sido um erro. Nenhum deles sabia como seria viver com a pessoa certa. Como a própria Dulce dissera a Christian, ninguém gostava de falar dos próprios erros. Para que perder um tempo precioso que poderia ser melhor aproveitado na descoberta do que estava acontecendo entre eles?

— Você é uma pessoa privilegiada com esta vista fantástica — Dulce disse, depois de um suspiro longo e apreciativo.

Sim, ele pensou, vendo-a parada junto às janelas imensas da sala de visitas, que se abriam para o porto. O teatro, a ponte, os navios ao longo do Circular Quay, proporcionavam um espetáculo de luzes. Entretanto, ela ofuscava e superava tudo. Pés descalços, cabelos soltos, as curvas sedutoras de sua feminilidade deli­neadas pela luz do abajur. Perguntou-se se alguém já teria tido a idéia luminosa de retratá-la numa tela. Mentalmente, enumerou os pintores que conhecia. Quem lhe faria justiça?

Ela se voltou para fitá-lo junto ao balcão da cozinha, num nível mais elevado que o piso da sala.

—   Você é rico, Christopher? — ela perguntou inesperadamente.
Ninguém jamais formulara aquela pergunta de um modo tão franco. Ele sorriu, divertido com a total falta de sutileza.

—   Devo admitir ou negar?

—Você quer ver o efeito que sua resposta causará sobre mim?

—Suponho que independente da minha resposta, o efeito será o mesmo. Ou seja, nenhum.

Dulce riu.

—Não estou aqui pelo seu dinheiro. Aceitei seu convite antes mesmo de ver seu BMW. Porém, um carro tão caro, este apartamento... Bem, não sugerem um homem propriamente pobre.

—Isso a incomoda?

—Não. — Ela encolheu os ombros. — Apenas quero saber mais a seu respeito.

Com movimentos lentos, ele colocou o pó na cafe­teira, ligando-a na tomada. Parecia considerar a me­lhor resposta.

—Incomoda a você, Christopher? — ela indagou, após um breve silêncio.

—Creio que rico não seja a palavra adequada. Nun­ca pensei em mim como um homem rico... até a noite passada. — Fitou-a direto nos olhos. — Ser rico é possuir coisas de grande valor, Dulce. Nunca valorizei a riqueza porque sempre foi assim, durante toda minha vida. E, de repente, descobrimos que o dinheiro não pode nos dar aquilo que realmente desejamos.

—Sua família é muito rica?

—Mmm... — Ele colocou o bule de café e duas xí­caras numa bandeja, levando-a para a sala de visitas. — No século passado, os Uckermann já eram comer­ciantes bem-sucedidos. Possuíam navios, estaleiros e casas de leilões. Muitos investimentos, propriedades e comércio.

Dulce ergueu as sobrancelhas.

—Mas sua família não freqüenta a alta-sociedade. Não me lembro de ter ouvido ou lido seu sobrenome nas colunas sociais.

—Minha família é muito discreta. Não gosta de badalações. Além disso, sou o único que mora na Aus­trália. Meu irmão prefere Mônaco e minha tia vive na Itália há anos.

—O que aconteceu com os demais membros da família?

Ele a olhou pensativamente, antes de responder:

—  A riqueza não nos livra da morte. — Pousou a bandeja sobre a mesa com tampo de vidro. — Creme?
Açúcar?

Dulce se serviu. Sentaram-se no sofá de couro. Ela o olhou com ar especulativo.

—   Por que agente literário?
Christopher encolheu os ombros.

—  Gosto de incentivar os autores e ver seus livros publicados. A literatura proporciona prazer e cultura para outras pessoas.

Por um instante, o olhar dele se perdeu no passado. O que dissera era uma verdade. Nunca teria sobrevi­vido à infância sem a companhia dos livros. Movimen­tou a cabeça como se quisesse afastar tais pensamentos. Não pretendia desenterrar velhos pesadelos. Não queria que Dulce sentisse pena dele. Queria seu calor. Queria toda a essência íntima de Dulce Saviñon.