Fanfic: •●๋• Alguém para amar ●ღ•

CAPITULO IX

Uma onda de mágoa abateu-se sobre Christopher, enquanto saíam do salão do Wing Golden. Belinda! Rangeu os dentes só em pensar nes­se nome. Durante a noite de magia que passara com Dulce, quantas vezes o aviso martelara sua mente!

"Fale agora! Conte-lhe sobre Belinda!"

Mas deixara a idéia de lado porque não quisera que­brar o clima de encantamento que os envolvia.

E as palavras foram se tornando cada vez menos importantes, na medida em que transcorria a noite. A intimidade entre eles fora tão intensa, tão preciosa e inebriante, que dispensava uma terceira pessoa. Mencionar Belinda teria sido uma grosseria imper­doável. Preferira deixar para a manhã seguinte, antes que Dulce fosse embora.

Se ao menos ele não tivesse dormido tanto!

Se ao menos Dulce o tivesse acordado antes de sair!

Mas o que poderia ter dito?

Sinceramente, não sabia. Belinda tornara-se total­mente irrelevante, perdida em tudo o que Dulce pro­metia. Sequer pensara nela quando ligara para Global naquela manhã para falar com Dulce. A intensa fe­licidade que o invadia ocupara todos os espaços de seu corpo e de sua alma, não deixando uma brecha para qualquer outro pensamento, exceto para reforçar os vínculos com Dulce.

Vínculos que já haviam sido rompidos.

Vínculos que ele mesmo destruíra em seus ataques cruéis à suposta falta de moralidade e respeito de Dulce em usar as pessoas.

Vínculos que, certamente, não poderiam ser recuperados.

Não precisava fitar Dulce para perceber com que eficácia destruíra a doce cumplicidade que haviam partilhado.

Os três se dirigiam ao setor de embarque, mas não estavam juntos. Ela caminhava com eles, mas mantinha-se à parte. Christopher sentiu a separação.

Ele percebera a decisão cristalizando-se nos olhos dela, o brilho do azul-violeta endurecendo. Dulce er­guera as barreiras, impedindo qualquer entrada em seu espaço. Ela caminhava sozinha.

E tudo por culpa dele! Nem tudo. Sua querida ex-esposa tinha muito a ver com a situação. Apesar de exibir o novo marido que lustrava seu ego e sua alma tão pequena, Belinda ainda sentia-se no direito de intrometer-se na vida dele. Claro, á idéia dele e Dulce juntos absolutamente não combinava com ela, não depois de tudo o que contara a Dulce a respeito da vida conjugai deles. Isso só revelaria ao mundo sua verdadeira personalidade egocêntrica, egoísta e mimada.

Céus! Dulce não percebera isso?

Chegaram ao portão de embarque. Automaticamen­te, Christian e ele afastaram-se para dar passagem a Dulce. Ela passou com a maior naturalidade.

Nem mesmo o feminismo mais radical resiste à cor­tesia tradicional. O pensamento surgiu com um flash e Christopher logo se condenou por tamanha mordacidade. Na verdade, não mais rotulava Dulce como uma feminista. Era apenas uma mulher inteligente que de­sejava ver sua inteligência respeitada. Não havia nada de extremo nessa atitude.

Ela apanhou um pacote com fones de ouvido no ca­minho para o túnel de embarque. Era mais um indício eloqüente. Fones de ouvido cortavam qualquer possi­bilidade de comunicação durante o vôo. Christopher pre­cisava conversar com ela. Precisava esclarecer os mal-entendidos. Precisava pedir desculpas pelas coisas hor­ríveis que dissera. Que pensara. Que fizera.

Seu olhar deteve-se nas curvas sensuais dos quadris de Dulce enquanto venciam a curta distância do túnel até o avião. Pôde até sentir a maciez daquela carne pressionada contra seu corpo na hora do amor. Isso reavivou o desejo que se apossara dele no momento em que a revira. Ele ergueu os olhos, mas a visão dos movimentos vibrantes dos cabelos gloriosos de Dulce tornou a dor do desejo ainda mais aguda.

Droga!, esbravejou mentalmente, sentindo a força de sua masculinidade desperta. Fique frio, ordenou a si mesmo. Se não conseguisse lidar com a indiferença de Dulce, estaria perdido. Como iria recuperar o que perdera, ele não sabia. Precisava começar de algum modo e seria melhor agir corretamente.

A comissária cumprimentou-o com um sorriso calo­roso e um brilho de interesse nos olhos vivos. Christopher irritou-se. Sem razão. Afinal, ele mesmo não se sentira instantânea e fortemente atraído por Dulce? Ainda se sentia, embora considerasse muito mais importante o que estava dentro de sua mente e de sua alma. E, mais do que qualquer outra coisa, ele queria uma mu­lher que compreendesse e partilhasse do que havia dentro de sua mente e de sua alma. Com toda a ho­nestidade. Não a simulação que Belinda demonstrara no início.

Dulce. Sua franqueza o encantara, cativara e extasiara. Seguiu-a através do corredor que a comissária indicava, decidido a romper as barreiras que o distan­ciavam dela. Dulce Saviñon era a mulher que sempre sonhara, em todos os sentidos. Sua outra metade. Ou, certamente, quem mais se aproximava de seu ideal de mulher. Tinha que conquistá-la novamente.