Fanfic: •●๋• Alguém para amar ●ღ•

Ela parou ao lado de duas poltronas vazias junto à janela. O terceiro lugar dava mais para o corredor. Dulce olhou para a poltrona solitária e Christopher de­duziu que ela a escolheria, se não agisse rápido.

—  Há espaço no compartimento logo ali, Dulce — ele a avisou.

Dulce olhou na direção que ele indicava e moveu-se para acomodar a pasta e a jaqueta. Christopher voltou-se para Christian às suas costas.

—  Melhor sentar-se aqui. Fica mais fácil pegar os drinques.

Rindo, Christian aceitou a sugestão. Percebendo a ma­nobra de Christopher, Dulce lançou-lhe um olhar feroz e, sem nenhuma palavra, esperou que ele colocasse sua mala no compartimento. Depois, Christopher se afas­tou, permitindo que ela se sentasse primeiro.

Em vez de sentar-se, ela falou com Christian, num tom persuasivo:

—  A vista de Sídnei é maravilhosa, Christian. Parece uma cidade de contos de fadas assim toda iluminada.  Acho que você deveria sentar-se aqui, perto da janela. Já vi esta cena inúmeras vezes. Além do mais, aqui estará mais perto de seu amigo Christopher e poderão conversar à vontade.

Christian hesitou por um momento. Porém, teve o bom senso de olhar para Christopher e captou a mensagem contida nos olhos dele.

—  Não, não, obrigado. Estou muito bem aqui. — Negou gesticulando com as mãos. — Você e Christopher sentam juntos.

Ponto! Ela admitiu que Christopher Uckermann marcara um ponto. Não estava disposta a discutir. Concordando com um movimento de cabeça, sentou-se no banco junto à janela, sem demonstrar que sentia-se apanhada na armadilha engendrada por Christopher. Sem o menor ves­tígio de frustração, de irritação, de resignação ou contrariedade. Ela se sentou com ar de digno alheamento, fechou o cinto de segurança, cruzou as mãos no colo e virou o rosto para a janela.

Christopher sentou-se ao lado dela.

Ela ignorou a presença dele com tal imobilidade, como se ele não existisse.

Christopher decidiu que deveria atacar logo, antes que ela colocasse os fones de ouvido.

— Peço desculpas. — O tom de voz refletia sua sinceridade.

Dulce não deu mostras de tê-lo ouvido. Continuava imperturbável. O rosto meio encoberto pelos cabelos impedia que Christopher notasse alguma mudança de ex­pressão. Ele olhou para as mãos dela. Os dedos longos e elegantes imóveis. Poderiam ser parte integrante de uma estátua de mármore, tão brancos, sem vida. Ainda assim, a lembrança deles, carinhosos, ardentes, tocan­do eroticamente sua pele, reacendiam o fogo do desejo em seu íntimo.

—   Por quê?

Palavras frias, despidas de qualquer sentimento, pronunciadas sem nenhuma emoção. Mas eram uma resposta.

—   Por não confiar em você.

Dulce permaneceu em silêncio. Ela também não confiara nele. Deixara-se influenciar pelas palavras de Belinda, não lhe dando a chance de uma explicação. Um senso de injustiça envolveu-a, despertando a fúria e a frustração por ter alimentado a falsa imagem que ela própria transmitira a Christopher. A imagem de uma aranha viúva-negra que devorava os homens, depois de conquistá-los.

Como pudera ser tão destrutiva? Passara a olhar Christopher através da ótica tendenciosa e egoísta de Belinda. Christopher preparava um novo discurso de justi­ficativa, quando Dulce finalmente falou, descartando qualquer sentimento de autopiedade.

—  Você julgou. — Palavras duras, implacáveis, ditas sem inflexão, sem movimentar um só músculo da face.

Ele ouviu o som do martelo da condenação na voz dela. Sentiu a sentença de morte pairando sobre sua cabeça e, imediatamente, combateu-a.

—   Você também, Dulce.

Um lento movimento de cabeça. Vagarosamente, ela se voltou para fitá-lo. Olhos cor de safira.

—  Desisti, Christopher. Sem rancor, sem acusações, sem
cobranças.

O sentimento de culpa aqueceu o rosto de Christopher. Ele quisera reduzi-la a nada. Ela o deixara sentir-se nada. Não percebia nenhuma evidência de que Dulce pretendia jogar sujo com Christian. Ou que fora infiel ao marido. Tudo não passara de tolices de sua parte, pro­vocadas pelos sentimentos turbulentos que ela lhe des­pertara com a aparente indiferença.

—Sinto muito. O que eu disse foi injusto e imerecido — ele admitiu.

—Sim, foi. Isso é um indício do que posso esperar de você, caso seus desejos sejam frustrados — Dulce acrescentou friamente.

—Não. Juro que não é verdade. Agora entendo me­lhor as coisas.

Ela virou novamente o rosto para a janela.

A conversa foi interrompida pela voz da comissária com as instruções de procedimento. Enquanto o avião taxiava, ele conteve o ímpeto de segurar na mão de Dulce, forçando um contato físico, mesmo que ela interpretasse o gesto como uma agressão, uma domi­nação dos desejos dela. Porém o que ele não sabia era se esse gesto devolveria a intimidade que haviam par­tilhado, se enfraqueceria as reservas que agora Dulce mantinha em relação a ele. Um toque de carinho con­seguiria o que as palavras não haviam conseguido?

Christopher apostou na segunda hipótese. Se não que­brasse as resistências de Dulce naquela noite, ainda haveria o dia seguinte. Teria muitas oportunidades para demolir as barreiras que ela erguera. Cada mo­mento ao lado dela, seria um exercício de novas in­formações. Cedo ou tarde encontraria a chave que lhe abriria novamente as portas para o coração de Dulce. Nesse ínterim, deveria respeitar a vontade dela.