Fanfic: ≈●๋•≈Bebê à vista≈•●๋≈

CAPÍTULO TRÊS

Era o destino, concluiu Dul. De que outra forma explicar que, numa pou­sada com vinte cômodos, Chris fosse se acomodar justamente no quarto ao lado do dela! Aliás, o quarto que fora de Alma até sua morte...

E pensar que cogitara não hospedá-lo. A pousada estava lotada, até o terceiro andar, onde ficava o antigo aposento de Dul. Havia apenas três dias, ela, Pascoal e Martim o prepararam para receber hóspedes.

— Você devia ficar satisfeito — comentara ela com Chris, quando ele observou que não havia vagas. — Outro quarto alugado significa mais lucro para você.

— Ao diabo com os rendimentos. Onde eu vou dormir?

Ele batera à sua porta por volta das dez horas e ela atendera cautelosa, mas ele não mencionara mais nada so­bre casamento. Educado, perguntara onde poderia se ins­talar, mas irritou-se ao saber que não havia vaga.

— Vou ver se encontro um lugar para você na pousada Taylor — prontificara-se Dul.

Tratava-se de outra hospedaria instalada em outra velha construção vitoriana, não tão bonita quanto a pousada de Alma, mas bastante confortável.

— Vou dormir na saleta — declarou Chris, olhando por sobre o ombro dela para o sofá que ficava em seus aposentos.

Dul sabia que Alma às vezes alojava Chris ali, quando não havia vaga.

Mas ela não era Alma.

— Receio que não seja possível — declarou.

Ele ergueu uma sobrancelha.

— Por que não? Alugou esse espaço também?

Dul prendeu a respiração.

—  Estou fazendo o melhor possível para administrar o seu negócio de maneira profissional e isso significa basica­mente alugar quartos. É isso o que tenho feito. Isso não significa que deva renunciar a mim mesma.

— Você dorme na saleta?

— A saleta faz parte de meus aposentos.

Quase um apartamento, o amplo cômodo contava com dois ambientes, um quarto e uma saleta, além de um banheiro. Dul não dormia na saleta, mas não queria que Chris dormisse ali, tampouco. Seria íntimo demais, próximo demais.

— Você não demorou para se mudar para cá, não é? — observou ele, acusador. — Tia Alma está na cova há quanto tempo? Duas semanas?

Dul empalideceu, como se houvesse levado um tapa. Ele passou a mão na nuca e resmungou:

— Desculpe-me, não quis dizer isso. Geralmente, não sou tão rude.

— Pois sim — ironizou ela.

Chris observou-a.

— Também, não é todo dia que um homem descobre que vai ser pai.

Dul contraiu os lábios e abraçou a si mesma, protegen­do-se, mas não ia pedir desculpas.

— Vou ligar para a outra pousada.

— Não se incomode. Vou dormir na copa.

— Dul arregalou os olhos.

— Na copa?!

— Qual o problema? Alugou o local também?

— Ora, Chris, só tem uma namoradeira ali!

— Para mim, serve.

Dul olhou para o teto.

— Não seja ridículo.

—  É isso, ou você me deixa ficar na saleta...

Dul cerrou os dentes.

— Na saleta, não.

Chris ergueu o sobrolho, malicioso.

— Não é como se nunca tivéssemos estado tão perto...

Ela sentiu o rosto queimar.

— Eu disse não!

Chris recuou um passo e ergueu as mãos, defensivo.

— Tudo bem. Vou ficar na copa, então.

Vendo-o seguir para a escadaria, Dul insistiu:

— Vou ligar para a outra pousada!

— Faça o que quiser. Eu não vou embora. 

Dul olhou-o frustrada e irritada.

—  Vá em frente! Durma na namoradeira! Arranje um torcicolo. Vai ser bem feito por sua teimosia.

E bateu a porta, determinada a ignorá-lo. Dali a um pouco, chegaria um casal de hóspedes e, normalmente, aguardaria na copa, lendo ou vendo televisão.

Não tinha mais aquela opção.

Assim, permaneceu no quarto, ora lendo, ora dando voltas pelo aposento. No horário previsto para a chegada do casal, o telefone tocou. Era a esposa, cancelando a reserva.

— Desculpe-me por ligar tão tarde — pediu ela. — Foi uma emergência de família.

— Sem problemas — assegurou Dul. Então, desligou e fechou os olhos. — Oh, raios.

Não precisava avisar Chris. Estava decidida a não avisá-lo.

Mas em sua vida já passara noites dormindo em locais desconfortáveis o bastante para se compadecer, até mesmo por Chris. Relutante, desceu até a copa.

Estava escuro, mas o luar entrava pela janela alta e estreita, Chris estava deitado na namoradeira, todo desajeitado.

— Veio ver se estou confortável? — disparou ele.

—  Vim avisar que você pode ocupar o quarto que cha­mamos de Coleman — respondeu Dul, com os dentes cer­rados. — Os hóspedes acabaram de cancelar a reserva.

Ao luar, ela discerniu o sorriso sarcástico que ele deu antes de se levantar. Trajava apenas um short masculino.

E Dul retornara febril ao quarto, a imagem de Chris seminu grudada em sua mente.

Agora, constatava que tê-lo no aposento ao lado, com apenas uma parede a separá-los, era pior do que imaginara.

Subiu na cama e puxou o lençol até o queixo. Determi­nada, deu as costas à parede. A lembrança. A Chris.

Não adiantou. Sabia que ele estava ali.

Assim como estivera da última vez...