Fanfic: Se eu ficar - Finalizada {Adaptação Ponny} | Tema: Rebelde, Ponny.
Amanheceu. E dentro do hospital, há um tipo de aurora diferente, um farfalhar de cobertores, um esfregar de olhos. De certa forma, o hospital nunca dorme. As luzes permanecem acesas e as enfermeiras, acordadas. Apesar de ainda estar escuro lá fora, pode-se dizer que as coisas começam a despertar. Os médicos estão de volta, puxando as minhas pálpebras para cima, colocando a luz daquela lanterna sobre mim, franzindo as sobrancelhas enquanto escrevem no meu prontuário como se eu os tivesse decepcionado.
Não me importo mais. Estou cansada disso tudo e sei que logo tudo vai acabar. A assistente social também voltou. Parece que a noite de sono não surtiu muito efeito. Seus olhos continuam pesados, o cabelo, meio ondulado, meio desgrenhado. Ela lê o meu prontuário e recebe informações das enfermeiras sobre a minha noite instável, o que faz com que a assistente social pareça ainda mais cansada. A enfermeira de pele negra-azulada também está de volta. Ela me cumprimenta, dizendo o quanto está feliz em me ver de novo, no quanto pensou em mim na última noite, desejando que eu estivesse aqui. Então, ela percebe a mancha de sangue no meu cobertor e emite um tsc, tsc, tsc antes de sair às pressas para trazer um cobertor limpo.
Depois que Mai saiu, não recebi muitas outras visitas. Acho que Blanca não tem mais ninguém para trazer até aqui. Pergunto-me se todas as enfermeiras sabem dessa história de que sou eu quem tem de tomar a decisão. A enfermeira Ramirez com certeza sabe. E acho que a enfermeira que está comigo agora também, a julgar pela forma como me parabeniza por eu ter sobrevivido à noite. E Blanca se comporta como se soubesse também, já que fez questão de trazer todo mundo aqui. Gosto muito dessas enfermeiras. Espero que elas não levem a minha decisão para o lado pessoal.
Estou tão cansada agora que mal consigo piscar os olhos. É só uma questão de tempo, e uma parte de mim se questiona por que estou tentando adiar o inevitável. Mas sei por quê. Estou esperando Alfonso voltar. Embora pareça que ele se foi para sempre, provavelmente faz apenas uma hora. E ele pediu para eu esperar, então é isso que vou fazer. É o mínimo que posso fazer por ele.
Meus olhos estão fechados, então eu o ouço antes de vê-lo. Ouço sua respiração rápida e ofegante. Alfonso respira como se tivesse acabado de correr numa maratona. Então sinto o cheiro do suor dele, um aroma agradável e almiscarado que, se eu pudesse, colocaria dentro de um vidro e usaria como perfume. Abro os olhos. E Alfonso fecha os dele. Mas suas pálpebras estão rosadas e inchadas, então sei muito bem o que ele andou fazendo. Foi por isso que ele saiu? Para chorar sem que eu o visse?
Ele não senta na cadeira. Desmorona sobre ela feito uma peça de roupa que atiramos no chão depois de um dia longo. Alfonso cobre o rosto com as mãos e respira fundo, tentando se manter firme. Depois de um minuto, ele põe as mãos sobre o colo.
— Só quero que ouça — diz ele com uma voz que parece estilhaçada.
Abro bem os meus olhos, ajeito o corpo da melhor forma possível. E ouço.
— Fique. — Com essa única palavra, a voz de Alfonso falha, mas ele engole a emoção e prossegue. — Não há como descrever o que aconteceu com você. Não tem nem um ponto positivo nisso. Mas existe um motivo para você viver. E não estou falando de mim. É só que... não sei. Talvez eu esteja falando besteira. Sei que estou em estado de choque. Sei que ainda não digeri o que aconteceu com os seus pais, com o Teddy... — Quando diz “Teddy”, a voz dele falha de novo e uma avalanche de lágrimas desaba e escorre pelo rosto de Alfonso. E eu penso: Eu te amo.
Ouço-o inspirar para tentar se acalmar. Então, ele continua:
— Tudo que consigo pensar é em como vai ser uma merda se a sua vida acabar agora. Sei que a sua vida vai ser uma droga de qualquer jeito, depois do que aconteceu. E não sou tão idiota assim pra achar que posso desfazer isso ou que qualquer outra pessoa possa. Mas não consigo me conformar com a ideia de que você não vai envelhecer, de que não vai para a Juilliard tocar o violoncelo na frente de uma plateia enorme para eles ficaram tão arrepiados quanto eu fico toda vez que vejo você pegar o seu arco, toda vez que vejo você sorrir pra mim. Se você ficar, vou fazer tudo o que você quiser. Vou sair da banda e vou para Nova York com você. Mas se quiser que eu saia da sua vida, vou fazer isso também. Estava conversando com a Liz e ela disse que, talvez, voltar para a sua antiga vida fosse doloroso demais, e que talvez seja mais fácil para você simplesmente apagar todos nós da sua vida. Vai ser uma barra pesada para mim, mas posso aguentar. Aceito perder você desse jeito, se eu não perdê-la hoje. Vou deixá-la livre. Se você ficar.
E então, Alfonso se descontrola. Ele explode em soluços como socos numa pele macia.
Fecho os olhos. Cubro as minhas orelhas. Não posso ver isso. Não posso ouvir isso.
Mas então, não é mais o Alfonso que escuto agora. É aquele som, um gemido baixo que num instante alça voo e se transforma em algo doce. É o violoncelo. Alfonso colocou os fones nos meus ouvidos mortos e o iPod sobre o meu peito. Ele pede desculpas, diz que sabe que essa não é a minha favorita, mas que foi o melhor que ele conseguiu fazer. Ele aumenta o volume para que eu possa ouvir a música flutuando sobre o ar da manhã. Depois, segura a minha mão.
É Yo-Yo Ma. Andante con poco e moto. O piano baixo soa quase como um aviso. E então, entra o violoncelo, como um coração sangrando. E sinto como se algo dentro de mim explodisse.
Estou sentada ao redor da mesa de café da manhã com a minha família, tomando café quentinho, rindo do bigode que o achocolatado formou perto da boca do Teddy. Lá fora, está nevando.
Estou visitando um cemitério. Três túmulos debaixo de uma árvore, numa colina, com vista para um rio.
Estou deitada ao lado de Alfonso, com a cabeça sobre o peito dele, num banco de areia, bem perto do rio.
Ouço as pessoas dizendo a palavra órfã e percebo que estão falando de mim.
Estou passeando pelas ruas de Nova York com a Mai, e as sombras dos arranha-céus recaem sobre o nosso rosto.
Estou segurando Teddy no colo, fazendo cócegas nele e ele curva o corpo de tanto rir.
Estou sentada com meu violoncelo, o mesmo que mamãe e papai me deram depois do meu primeiro recital. Meus dedos acariciam a madeira e a cravelha, que com o tempo e o uso ficaram gastos. Meu arco está posicionado sobre as cordas. Olho para minha mão agora, esperando para começar a tocar.
Estou olhando para a minha mão, que está envolvida pela mão de Alfonso.
Yo-Yo Ma continua tocando, e sinto como se o piano e o violoncelo entrassem no meu corpo, do mesmo jeito que o soro e as transfusões de sangue fizeram. E as lembranças da minha vida como era e os flashes do que poderia ser continuam vindo cada vez mais rápidos e fortes. Sinto como se não pudesse acompanhá-los, mas eles continuam vindo e tudo se choca, até que não aguento mais. Até que não consigo mais ser esta daqui nem por um segundo mais.
Vejo um clarão ofuscante, sinto uma dor horrível que me rasga por um momento intenso, um grito silencioso do meu corpo quebrado. Pela primeira vez, posso sentir o quanto seria extremamente agonizante ficar.
Mas então, sinto a mão de Alfonso. Não é só uma simples sensação, sinto o toque dele mesmo. Não estou mais toda encolhida na cadeira. Estou deitada no meu leito do hospital, de novo com o meu próprio corpo.
Alfonso está chorando e eu choro também, em algum lugar dentro de mim porque finalmente posso sentir as coisas. Não estou sentindo apenas a dor física, mas uma dor por tudo que perdi, e é algo tão profundo e catastrófico que vai deixar uma cratera dentro de mim que jamais poderá ser preenchida. Mas agora também consigo sentir tudo o que tenho na minha vida, e isso inclui tudo o que perdi bem como o desconhecido que a vida poderá me trazer. É demais para mim. Os sentimentos se acumulam, ameaçando escancarar o meu peito. A única forma de sobreviver a isso é me concentrar na mão de Alfonso, que está segurando a minha.
E, de repente, tudo que preciso é segurar a mão dele mais do que já precisei de qualquer outra coisa na vida. Não apenas sentir que ele segura a minha mão, mas segurar a dele também. Reúno cada gota de energia na minha mão direita. Estou fraca, e fica difícil fazer isso. É a coisa mais difícil que terei de fazer. Junto todo o amor que já senti, toda a força que vovó, vovô, Mai, as enfermeiras e Blanca me deram. Junto todo o ar que mamãe, papai e Teddy me dariam se pudessem. Concentro todas as minhas forças nos meus dedos e na palma da minha mão direita como se fossem um raio de laser. Imagino a minha mão acariciando o cabelo de Teddy, pegando o arco posicionado sobre o violoncelo e entrelaçada com a mão do Alfonso.
E então aperto.
Depois relaxo, sentindo-me exausta, em dúvida se realmente fiz aquilo. Qual é o significado disso. E se foi importante.
Então sinto a mão do Alfonso apertar ainda mais a minha, e é como se a sua mão pudesse suportar o meu corpo inteiro. Como se pudesse me levantar da cama naquele momento. Então, ouço sua respiração profunda, e depois a sua voz. É a primeira vez que realmente posso ouvilo.
— Anne? — pergunta ele.
Autor(a): LollaVondy
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 6
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byaoliveyra1 Postado em 03/06/2015 - 23:09:38
Continua por favor estou amando a fanfic e queria tirar uma dúvida a prévia que você escreveu o capítulo na verdade que está assim prévia ( pra onde ela foi) ponny faz parte da fanfic se eu ficar? Por favor me responde e continuaaaaaa não abandona a fanfic please
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dudanunes Postado em 25/05/2015 - 15:24:02
Maissss
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Evelin✩ Postado em 25/05/2015 - 10:52:28
Posta Mais <3 PFT *-*
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dudanunes Postado em 25/05/2015 - 10:20:23
Posta mais <3
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Site Una Fénix Postado em 22/05/2015 - 12:34:42
To lendo <3 <3 . posta mais <3
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Mikaella Borges Postado em 22/05/2015 - 11:54:57
Continua pleas, to amando