Fanfics Brasil - 15h47 Se eu ficar - Finalizada {Adaptação Ponny}

Fanfic: Se eu ficar - Finalizada {Adaptação Ponny} | Tema: Rebelde, Ponny.


Capítulo: 15h47

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Acabaram de me levar da sala de recuperação para a Unidade de Tratamento Intensivo, ou UTI. É uma sala em formato de ferradura, e vejo uma dúzia de camas e um grupo de enfermeiros que não param de circular pelo espaço, lendo as impressões dos computadores que saem de algum lugar à altura dos nossos pés e que registram os nossos sinais vitais. No meio do quarto há ainda mais computadores e uma escrivaninha enorme, com outra enfermeira sentada.


Há duas enfermeiras que me observam, além de uma ronda interminável de médicos. Um deles é um homem taciturno, rechonchudo, tem cabelo loiro e bigode e com o qual não simpatizo muito. E a outra é uma mulher cuja pele é tão negra que chega a ser azul e ela tem a voz muito alegre, me chama de “docinho” e não para de esticar os cobertores da minha cama, mesmo que eu não esteja fazendo praticamente nenhum movimento com o corpo para tirá-los do lugar.


Há tantos tubos ligados em mim que não consigo contá-los: um ligado à minha garganta, respirando por mim; outro no meu nariz, e que mantém o meu estômago vazio; um na minha veia, me mantendo hidratada; um na minha bexiga, fazendo xixi por mim; muitos estão ligados ao meu peito, registrando as batidas do meu coração; outro está ligado a meu dedo, registrando a minha pulsação. O respirador que está cumprindo o papel da minha respiração tem um ritmo tão suave quanto um metrônomo: inspira, expira, inspira, expira.


Ninguém, a não ser os médicos, os enfermeiros e uma assistente social, veio me ver. É a assistente social quem conversa com o vovô e a vovó, com a voz baixa e solidária. Ela diz a eles que o meu estado é grave. Não tenho certeza do que isso significa — grave. Na TV, eles dizem que o estado dos pacientes é crítico ou estável. Grave soa como algo ruim. Grave, em inglês, significa “túmulo”. O lugar para onde você vai quando as coisas aqui não estão dando mais certo.


— Queria que houvesse algo que pudéssemos fazer — afirma vovó. — Me sinto uma inútil em ficar aqui parada, só esperando.


— Vou verificar se a senhora pode vê-la, nem que seja um pouquinho — oferece a assistente social. Ela tem cabelos grisalhos e frisados e uma mancha de café em sua blusa. A sua expressão é de gentileza. — Ela ainda está sedada devido à cirurgia e continua com o balão de oxigênio para ajudá-la a respirar enquanto seu corpo se recupera do trauma. Mas, para pacientes em estado de coma, ajuda muito escutar a voz de seus familiares.


O vovô reage com um gemido.


— Tem alguém para quem vocês possam ligar? — pergunta a assistente social. — Parentes que possam ficar aqui com vocês... Sei que deve ser muito difícil, mas, quanto mais forte vocês forem, mais poderão ajudar a Anne.


Eu me assustei quando ouvi a assistente social dizer meu nome. Soa como um alarme estridente perceber que é sobre mim que eles estão falando. O vovô fala o nome de várias pessoas que estão a caminho neste exato momento, tias, tios... Não ouço qualquer menção a Alfonso.


É ele quem eu realmente quero ver. Queria poder saber onde ele está agora para tentar ir até lá e encontrá-lo. Não faço a menor ideia de como Alfonso vai descobrir o que aconteceu comigo. Nem a vovó nem o vovô tem o telefone dele. Eles não andam com o celular, então Alfonso não vai conseguir entrar em contato com eles. E eu nem sei se passaria pela cabeça dele ligar para os meus avós. As pessoas que normalmente poderiam dar a notícia do que aconteceu comigo não estão mais em condições de fazer isso.


Permaneço aqui, observando esse corpo entubado e sem vida que sou eu. Minha pele está cinza. Meus olhos fechados com uma espécie de esparadrapo. Queria que alguém viesse tirálo.


Ele provoca coceira. A enfermeira legal aparece. Ela tem pirulitos no jaleco, embora aqui não seja a unidade de pediatria.


— Como você está, docinho? — pergunta ela, como se tivéssemos acabado de nos encontrar, por acaso, no supermercado.


As coisas não começaram tão bem entre Alfonso e eu. Acho que eu tinha aquela ideia de que o amor é capaz de superar tudo. E, quando saímos do concerto de Yo-Yo Ma, tanto eu quanto ele nos demos conta de que estávamos nos apaixonando. Pensei que essa fase era o grande desafio. Nos livros e nos filmes, as histórias sempre acabam quando as duas pessoas finalmente dão o beijo romântico e o “foram felizes para sempre” fica implícito, simples assim.


Não foi bem assim com a gente. O fato de pertencermos a dois universos sociais completamente diferentes tinha lá suas desvantagens. Continuamos a nos encontrar na ala de música, mas nossas conversas eram muito formais, como se nenhum de nós quisesse estragar o que tinha acontecido de bom. Mas quando nos encontrávamos em qualquer outro lugar da escola — quando sentávamos juntos na cantina ou quando estudávamos um ao lado do outro no pátio num dia ensolarado era como se algo estivesse errado. Alfonso e eu nos sentíamos desconfortáveis um com o outro. A conversa era artificial. Quando um começava a falar sobre determinado assunto, o outro falava também, simultaneamente, sobre outro assunto totalmente diferente.


— Vai, fala você — disse eu.


— Não, fala você primeiro — respondeu Alfonso.


Toda essa gentileza era terrível. Eu queria superar isso, voltar ao brilho daquela noite no concerto, mas não sabia ao certo o que precisava fazer para recuperar aquilo.


Alfonso me convidou para assistir a um ensaio da banda dele. E foi pior do que na escola. Se eu já me sentia um peixe fora d’água na minha própria família, me senti um peixe em Marte entre os amigos de Alfonso. Ele estava sempre cercado de pessoas animadas e descoladas, garotas bonitas que tingiam o cabelo e usavam piercing, caras rebeldes que se entusiasmavam quando o Alfonso começava a conversar sobre rock com eles. Eu não me encaixava no grupo. E definitivamente não sabia como conversar sobre rock. Era uma linguagem que eu deveria ter aprendido, já que era musicista e filha de pai também músico, mas não aprendi. É como os falantes de mandarim, que mais ou menos conseguem entender cantonês, mas não compreendem de fato a língua; mesmo que pessoas que não são chinesas suponham que todos os chineses podem se comunicar entre si, o fato é que o mandarim e o cantonês são, na verdade, dialetos diferentes.


Eu odiava ter de ir aos shows de Alfonso. Não por ciúmes, nada disso. Nem porque eu não era muito fã daquele tipo de música. Eu adorava observá-lo tocando. Quando Alfonso estava no palco, era como se a guitarra e ele fossem um só, o instrumento uma extensão natural do seu corpo. E, quando descia, ele estava todo suado, mas era um tipo de suor tão limpo que parte de mim se sentia tentada a lamber o seu rosto, como se Alfonso fosse um pirulito. Mas não fazia isso.


Quando as fãs se aproximavam dele, eu me esgueirava e ficava num canto. Alfonso tentava me puxar de volta, colocava o braço ao redor da minha cintura, mas eu me desvencilhava dele e voltava para as sombras.


— Você não gosta mais de mim? — repreendeu-me Alfonso depois de certo show. Ele estava brincando, mas pude sentir por trás daquela pergunta repentina que Alfonso estava chateado.


— Não sei se devo continuar vindo para os seus shows — falei.


— Por que está dizendo isso? — perguntou. Dessa vez, ele não se preocupou em esconder a mágoa.


— Acho que a minha presença acaba impedindo você de curtir melhor as coisas. Não quero ser uma preocupação pra você.


Alfonso disse que não se incomodava em ter de se preocupar comigo, mas posso dizer que parte dele se importava sim.


Provavelmente, Alfonso e eu teríamos terminado naquelas primeiras semanas não fosse pela minha família. Na minha casa, com a minha família, nos sentíamos em terra firme. Depois de um mês de namoro, levei o Alfonso para o nosso primeiro jantar em família. Ele se sentou na cozinha com o meu pai e os dois ficaram falando sobre rock. Fiquei observando, e mesmo sem entender metade do que falavam, diferentemente dos shows da banda dele, não me senti excluída.


— Você joga basquete? — perguntou meu pai. Em se tratando de assistir aos jogos, meu pai era um fanático por beisebol, mas quando o assunto era jogar, ele preferia fazer cestas no basquete.


— Claro — respondeu Alfonso. — Quer dizer, não sou muito bom...


— Você não precisa ser bom, só precisa se empenhar. Quer jogar um pouco? Você já está com os seus tênis de basquete — disse meu pai, olhando para os tênis de cano alto de Alfonso.


Depois, ele se virou para mim: — Se importa?


— Nem um pouco — respondi, sorrindo. — Vou treinar um pouco enquanto vocês jogam.


Os dois foram para a quadra de uma escola primária que ficava bem perto de casa.


Retornaram quarenta minutos depois. Alfonso estava com a pele brilhando, suado e parecia meio aturdido.


— O que aconteceu? — perguntei. — O coroa derrubou você?


Alfonso balançou a cabeça, afirmando, mas depois a balançou de novo, negando.


— Bem, sim, é mais ou menos isso. Uma abelha picou a palma da minha mão enquanto estávamos jogando e o seu pai agarrou a minha mão e sugou o veneno.


Assenti. Esse era um truque que meu pai tinha aprendido com a vovó, e diferentemente do que se faz com o veneno das cobras, a técnica de fato funcionava com picadas de abelhas.


Tiram-se o ferrão e o veneno, e então, resta apenas uma leve coceira.


Alfonso esboçou um sorriso envergonhado. Depois inclinou-se e sussurrou ao meu ouvido:


— Acho que estou me sentindo meio estranho porque estou mais íntimo do seu pai do que de você.


Dei risada. O que ele disse não deixava de ser verdade. Nas poucas semanas em que estávamos juntos, não havíamos feito nada muito além de nos beijar. E não que eu fosse algum tipo de puritana. Eu era virgem, mas certamente não fazia questão de continuar assim. E com certeza Alfonso não era virgem. O problema é que os nossos beijos também estavam cheios daquela gentileza toda das nossas conversas.


— Talvez seja hora de mudarmos isso — sussurrei de volta.


Alfonso ergueu as sobrancelhas como se quisesse me perguntar algo. Fiquei com as bochechas coradas. Durante todo o jantar, sorrimos um para o outro enquanto ouvíamos Teddy, que não parava de falar sobre os ossos de dinossauro que ele aparentemente tinha desenterrado do jardim naquela tarde. Papai havia feito sua famosa carne assada, que era o meu prato favorito, mas eu não tinha o menor apetite, então, fiquei revirando a comida no prato, na esperança de que ninguém notasse. Enquanto isso, uma agitação crescia dentro de mim. Pensei no diapasão que uso para afinar o violoncelo. Quando eu o utilizava, atingia notas de “Lá” — vibrações que aumentavam, aumentavam, até que a afinação harmônica atingia todo o espaço. Era isso que o sorriso de Alfonso estava causando dentro de mim durante aquele jantar.


Depois que jantamos, Alfonso deu uma olhadela no achado fóssil de Teddy. Em seguida, subimos para o meu quarto e fechei a porta. Mai não tinha permissão para ficar sozinha em casa com garotos (não que ela tenha tido a oportunidade). Meus pais nunca estabeleceram nenhuma regra em relação a isso, mas tive a sensação de que eles sabiam o que estava acontecendo entre o Alfonso e eu e, embora meu pai gostasse de bancar o Papai sabe tudo, meus pais eram uns tapados quando o assunto era amor.


Alfonso deitou na minha cama e cruzou os braços por detrás da cabeça. Sua expressão era puro sorriso: olhos, nariz, boca.


— Me toque — disse ele.


— O quê?


— Quero que me toque como você faz com o violoncelo.


Comecei a retrucar, dizendo que aquilo não fazia o menor sentido, mas então percebi que fazia todo o sentido. Fui até o meu armário e peguei um dos meus arcos.


— Tire a camiseta — falei com a voz trêmula.


E Alfonso obedeceu. Mesmo sendo magro, ele tinha um corpo surpreendente. Eu poderia ter ficado ali por vinte minutos, só observando os contornos do seu tórax. Mas ele queria que eu me aproximasse mais. E eu também queria.


Sentei ao lado dele na cama, e o corpo do Alfonso estava ali, todo esticado bem à minha frente. O arco tremeu quando o coloquei sobre a cama. Com a minha mão esquerda, acariciei a cabeça de Alfonso como se fosse a voluta do violoncelo. Ele sorriu e fechou os olhos. Eu me senti mais à vontade. Toquei as orelhas dele como se fossem as cravelhas, brinquei um pouco com elas e Alfonso sorriu, discretamente. Coloquei dois dedos sobre as maçãs do rosto dele.


Em seguida, depois de respirar fundo para tomar coragem, fui para o tórax dele. Passei a mão para cima e para baixo, percorrendo todo o torso, concentrando-me nos tendões musculares, imaginando que cada um deles representava uma nota: Lá, Sol, Dó, Ré. Rocei a ponta dos dedos sobre elas, uma por vez. Alfonso permaneceu em silêncio como se tivesse concentrado em alguma coisa.


Peguei o arco e o passei na altura do quadril dele, onde imaginei que seria a ponte do violoncelo. Comecei a tocar devagar, mas depois aumentei a velocidade e a força como se a música que estava tocando na minha cabeça estivesse aumentando de intensidade. Alfonso continuou imóvel, deixando apenas escapar alguns gemidos por entre os lábios. Olhei para o arco, para as minhas mãos e para o rosto de Alfonso e fui tomada por uma explosão de amor, desejo e por um estranho sentimento de poder. Nunca imaginei que eu pudesse fazer alguém se sentir dessa forma.


Quando terminei, ele se sentou e me beijou, um beijo longo e profundo.


— É a minha vez — disse Alfonso.


Ele me colocou de pé e começou a tirar a minha camiseta e abaixar a minha calça jeans.


Depois, sentou na cama e me deitou sobre o seu colo. A princípio, Alfonso não fez nada, só me abraçou. Então fechei os olhos para sentir o seu olhar sobre o meu corpo, senti-lo me olhar como nunca ninguém jamais o fizera.


Então ele começou a tocar.


Alfonso dedilhou as cordas em cima do meu peito, como se elas estivessem ali, o que me fez sentir cócegas e dar risada. Delicadamente, ele passou as mãos um pouco mais embaixo. Parei de rir. As vibrações do diapasão começaram a ficar ainda mais fortes, e se intensificavam toda vez que o Alfonso me tocava em algum lugar que não tinha tocado antes.


Depois de certo tempo, ele começou a dedilhar como num acorde espanhol, uma batida mais concentrada e rápida. Usou a parte de cima do meu corpo como se fosse o braço do violão, e acariciou o meu cabelo, meu rosto, meu pescoço. Tocou o meu seio e a minha barriga, mas pude senti-lo em lugares onde a mão dele nem tinha passado perto. À medida que me tocava, a agitação interna aumentava, o diapasão emitia vibrações enlouquecedoras, ardentes, descontroladas, até que o meu corpo inteiro estava zunindo e eu, sem fôlego. E quando senti que não poderia aguentar nem mais um minuto, um turbilhão de sensações se transformou num crescendo estonteante, levando cada parte do meu corpo ao delírio, ao estado de alerta máximo.


Abri os olhos, saboreando a calma enternecedora que percorria todo o meu corpo. Comecei a rir. E Alfonso também. Nos beijamos por muito tempo até que chegou a hora de ele ir para casa.


Eu o acompanhei até o carro e senti vontade de dizer-lhe que o amava. Mas seria algo muito clichê depois do que tínhamos feito. Então esperei e disse que o amava no dia seguinte.


— Que alívio! Pensei que você só estava me usando como objeto sexual — brincou ele, dando risada.


Depois disso, continuamos tendo problemas, mas a gentileza excessiva de um com o outro certamente não era mais um deles.


__________________________________.


Postado!!


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Autor(a): LollaVondy

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 6



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  • byaoliveyra1 Postado em 03/06/2015 - 23:09:38

    Continua por favor estou amando a fanfic e queria tirar uma dúvida a prévia que você escreveu o capítulo na verdade que está assim prévia ( pra onde ela foi) ponny faz parte da fanfic se eu ficar? Por favor me responde e continuaaaaaa não abandona a fanfic please

  • dudanunes Postado em 25/05/2015 - 15:24:02

    Maissss

  • Evelin✩ Postado em 25/05/2015 - 10:52:28

    Posta Mais <3 PFT *-*

  • dudanunes Postado em 25/05/2015 - 10:20:23

    Posta mais <3

  • Site Una Fénix Postado em 22/05/2015 - 12:34:42

    To lendo <3 <3 . posta mais <3

  • Mikaella Borges Postado em 22/05/2015 - 11:54:57

    Continua pleas, to amando


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