Fanfic: After Love || Vondy | Tema: Vondy

— Tá bom — Dulce sussurra, finalmente.

E meu coração acelera.

— Vou mostrar… vou mostrar o quanto te amo e que isso pode dar certo. Mas não desiste de mim ainda, tá? — Levo a mão à maçaneta.

Ela morde o lábio inferior, e eu tiro a mão da maçaneta para me aproximar de novo. Quando chego mais perto, ela me encara com os olhos cautelosos. Quero beijar seus lábios de novo, sentir seu abraço, mas, em vez disso, dou um único beijo em seu rosto e me afasto.

— Tá — ela repete, e eu saio pela porta.

Preciso de toda a autodisciplina que existe dentro de mim para sair do banheiro, principalmente quando me viro e ela está tirando a camiseta e expondo a pele clarinha, que parece que não vejo há anos.

Encosto a porta e me apoio no batente, fecho os olhos para não chorar de novo. Merda. Pelo menos, ela disse que vai pensar. Parecia muito apreensiva, como se estivesse sofrendo só de pensar em estar comigo de novo. Abro os olhos quando a porta do quarto de Christian se abre, e ele aparece no corredor vestindo uma polo branca e uma calça cáqui.

— Oi — ele diz para mim ao pendurar a mochila no ombro.

— Oi.

— Ela está bem? — ele pergunta.

— Não, mas espero que fique.

— Eu também. Ela é mais forte do que pensa.

— Sei que é. — Uso a camisa para secar os olhos. — Sou apaixonado por ela.

— Eu sei — ele diz, o que me surpreende.

Olho para ele de novo.

— Como eu mostro isso a ela? O que eu faço? — pergunto. Ele olha para mim com uma expressão de dor, mas logo muda quando responde:

— Você tem que provar que vai mudar por ela; tem que tratá-la como ela merece ser tratada e dar o espaço de que ela precisa.

— Não é muito fácil dar espaço — digo a ele. Não acredito que estou falando com Christian sobre isso de novo.

— Mas você tem que fazer isso, senão ela vai ficar contra você. Por que não tenta mostrar, de um modo que não sufoque, que vai lutar por ela? É só o que ela quer. Que você se esforce.

— Um modo que não ‘sufoque’?

Eu não a sufoco. Certo, talvez eu sufoque, mas não consigo me controlar, não existe meio-termo para mim; ou a afasto de mim ou a puxo para muito perto. Não sei equilibrar as coisas.

— É — ele diz, como se eu não estivesse sendo sarcástico.

Mas, como preciso da ajuda dele, ignoro a resposta.

— Pode me explicar o que isso quer dizer? Me dá um exemplo, qualquer coisa assim.

— Bom, você poderia convidá-la para um encontro. Vocês já tiveram um encontro de verdade? — ele pergunta.

— Sim, claro que sim — me apresso em responder. Não tivemos?

Christian arqueia uma sobrancelha.

— Quando?

— Bom, nós fomos ao… e teve uma vez em que… — Não tenho respostas. — Bom, talvez não — concluo.

Poyato a teria convidado para um encontro. E Pablo? Se ele a convidou, juro que vou…

— Certo, então marca de sair com ela. Mas não hoje, porque ainda é muito cedo, até mesmo para vocês dois.

— O que isso quer dizer? — pergunto.

— Nada, só estou dizendo que vocês precisam de um tempo. Bom, ela precisa; caso contrário, você só vai afastá-la, mais do que já afastou.

— Quanto tempo preciso esperar?

— Alguns dias, pelo menos. Tenta agir como se vocês estivessem começando a namorar, ou como se você estivesse tentando fazer com que ela aceite ser sua namorada. Na prática, vai ter que fazer com que ela se apaixone por você de novo.

— Está dizendo que ela não me ama mais? — pergunto.

Christian revira os olhos.

— Não. Nossa, quer parar com esse pessimismo o tempo todo?

— Não sou pessimista — digo para me defender. No mínimo, nunca fui tão otimista como agora.

— Sei…

— Você é um idiota — digo ao enteado do meu pai.

— Um idiota a quem você não para de pedir conselhos amorosos —  ele se gaba com um sorriso irritante.

— Só porque você é meu único amigo que tem um relacionamento de verdade, e por acaso conhece a Dulce melhor do que ninguém… além de mim, claro. — Ele abre um sorriso ainda maior.

— Você acabou de me chamar de amigo.

— O quê? Não fiz isso, não.

— Sim, fez — ele diz, claramente feliz.

— Não quis dizer amigo-amigo, quis dizer… não sei o que quis dizer, mas com certeza não foi ‘amigo’.

— Claro. — Ele ri e eu ouço o chuveiro ser fechado dentro do banheiro.

Acho que ele não é tão ruim, mas nunca vou admitir isso para ele.

— Posso oferecer uma carona até o campus hoje? — Eu desço a escada com ele.

Ele balança a cabeça, negando.

— Que parte de não sufocar você não entendeu?

— Eu gostava mais de você quando não era tão linguarudo.

— Eu gostava mais de você… bom, nunca gostei de você — ele diz, mas sei que está só me provocando.

Nunca pensei que ele gostasse de mim, na verdade. Pensei que me odiasse pelas coisas que já fiz a Dulce. Mas ele está sendo meu único aliado nessa confusão que criei.

Estendo o braço e o empurro com delicadeza, o que o faz dar risada, e quase começo a rir junto quando vejo meu pai no fim da escada observando nós dois como se fôssemos artistas de circo.

— O que você está fazendo aqui? — ele pergunta e toma um gole da caneca de café.

Encolho os ombros.

— Eu trouxe Dulce para casa… bom, para cá. 

Esta é a casa dela agora? Espero que não.

— Ah — meu pai diz e olha para o Christian. Provavelmente de modo muito intenso, eu diria.

— Tá tudo bem, pai. Eu posso dar carona para ela sempre que quiser. Pode parar de querer bancar o protetor, e tenta lembrar qual de nós é seu filho de verdade.

Christian me lança um olhar enquanto descemos, e nós três entramos na cozinha. Pego uma xícara de café, ainda percebendo o olhar de Christian sobre mim. Meu pai pega uma maçã da fruteira sobre o balcão e dá início a um sermão paternal.

— Christopher, Dulce se tornou parte da família nos últimos meses, e aqui é o único lugar para onde ela pode vir quando você… — Ele para de falar quando Karen entra na cozinha.

— Quando eu o quê? — pergunto.

— Quando você faz besteira.

— Você nem sabe o que aconteceu.

— Não preciso saber a história toda. Só sei que ela é a melhor coisa que aconteceu na sua vida, e estou observando você cometer os mesmos erros que cometi com sua mãe. — Ele está falando sério?

— Não sou nem um pouco parecido com você! Sou apaixonado pela Dulce, e faria qualquer coisa por ela, que é tudo para mim, o que não tem nada a ver com a sua história com a minha mãe! — Bato a xícara com força no balcão, derramando café.

— Christopher… — Dulce diz atrás de mim. Droga.

Para minha surpresa, Karen sai em minha defesa.

— Vitor, deixe o garoto em paz. Ele está fazendo o melhor que pode.

Os olhos do meu pai se suavizam quando ele olha para a esposa. E então, volta a olhar para mim.

— Desculpa, Christopher, só estou preocupado com você. — Ele suspira e Karen sobe e desce a mão pelas suas costas.

— Tudo bem — digo e olho para Dulce de pé, de calça jeans e moletom da WCU. Está inocentemente linda, com os cabelos úmidos soltos ao redor do rosto sem maquiagem. Se ela não tivesse aparecido na cozinha, eu teria dito que ele é um imbecil e precisa aprender a cuidar da própria vida.

Pego um guardanapo de papel para limpar o café que derramei no balcão de granito caríssimo.

— Está pronta? — Christian pergunta a Dulce, e ela assente, ainda olhando para mim.

Quero muito levá-la, mas preciso ir para casa dormir, ou então tomar um banho, deitar na cama e olhar para o teto, limpar tudo… bom, qualquer coisa além de ficar aqui conversando com meu pai.

Ela finalmente desvia os olhos dos meus, e então sai da sala. Quando ouço a porta da frente se fechar, suspiro alto.

Assim que começo a me afastar de meu pai e de Karen, ouço os dois falando sobre mim, claro.