Fanfic: After Love || Vondy | Tema: Vondy

Talvez isso ajudasse a resolver seus problemas em relação ao futuro.

— Então, vou ter você o dia todo ou só no café da manhã? — Ele se inclina para calçar os tênis.

— Gostei desses calçados, estou querendo dizer isso há um tempo. — Aponto os tênis pretos que ele está calçando.

— É… Obrigado… — Ele amarra o cadarço e fica de pé. Para quem tem um ego tão grande, Christopher não sabe receber elogios. — Você não me respondeu.

— Só no café da manhã. Não posso perder todas as aulas. — Tiro a camiseta dele e visto a minha.

— Certo.

— Só preciso prender os cabelos e escovar os dentes — digo quando termino de me trocar. Quando começo a escovar minha língua, Christopher bate à porta. — Entra — murmuro com a pasta na boca.

— Faz tempo que não fazemos isso — ele diz.

— Sexo no banheiro? — pergunto. Por que eu disse isso?

— Nãããooo… Eu ia dizer ‘escovar os dentes juntos’. — Ele ri e abre uma das embalagens de escova de dente de dentro do armário. — Mas se você quiser fazer sexo no banheiro… — Christopher provoca e eu reviro os olhos.

— Não sei por que eu disse isso, foi a primeira coisa que me ocorreu. — Dou risada de minha estupidez e língua solta.

— Foi bom ouvir. — Ele enxágua a escova e não diz mais nada. Depois de escovarmos os dentes, e de eu tentar pentear os cabelos para prendê-los em um rabo de cavalo, descemos.

Karen e Christian estão na cozinha comendo mingau de aveia. Christian sorri para mim; ele não parece muito surpreso ao ver Christopher comigo. Karen também não. Acho até que parece até… alegre? Não dá para saber, porque ela leva a xícara de café à boca para disfarçar o sorriso.

— Vou levar a Dulce ao campus hoje — Christopher diz a Christian.

— Tudo bem.

— Está pronta? — Christopher se vira para mim, e faço que sim com a cabeça.

— Vejo você na aula de Religião — digo a Christian antes de Christopher me arrastar, literalmente, para fora da cozinha. — Por que a pressa? — pergunto quando saímos. 

Ele pega a bolsa de meu ombro enquanto caminhamos até o carro.

— Nada, mas conheço vocês dois; se começarem a conversar, nunca vamos sair daqui, e com Karen junto, ainda por cima, eu morreria de fome e vocês ainda estariam conversando. — Ele abre a porta do carro para mim e dá a volta para abrir a do motorista e entrar.

— Verdade — sorrio.

Discutimos por vinte minutos se devemos ir ao IHOP ou ao Denny’s e, por fim, decidimos ir ao IHOP. Christopher diz que eles fazem a melhor torrada francesa, mas eu só acredito comendo.

— Vamos ter uma mesa livre daqui a dez ou quinze minutos — uma mulher baixinha com um cachecol azul no pescoço nos diz quando entramos.

— Tudo bem — digo, mas Christopher questiona:

— Como assim?

— Não temos nenhuma mesa disponível no momento — ela explica de modo educado. Christopher revira os olhos, e eu o afasto dela para nos sentarmos no banco na entrada.

— Bom ver que você voltou — brinco.

— Que conversa é essa?

— Só quis dizer que você voltou a ser esquentadinho.

— Quando deixei de ser?

— Não sei, no nosso encontro, e um pouco ontem à noite.

— Invadi um quarto e arranquei você de lá — ele relembra.

— Eu sei. Estou tentando fazer uma piada.

— Bom, tenta fazer uma piada engraçada da próxima vez — ele resmunga, mas vejo que está segurando o riso. 

Quando finalmente sentamos, fazemos o pedido a um rapaz com uma barba que parece ser um pouco comprida demais para alguém que trabalha como garçom. Quando ele se afasta, Christopher reclama e jura que, se encontrar um fio de cabelo na comida, vai perder a cabeça.

— Precisava mostrar a você que continuo esquentadinho — ele diz, e eu dou risada.

Adoro ver que ele está tentando ser um pouco mais bacana, mas também adoro sua atitude e sua maneira de não se importar com o que as pessoas pensam. Gostaria de ser assim também. Ele faz mais uma lista de coisas que o incomodam até a comida chegar.

— Por que você não pode faltar o dia todo? — Christopher pergunta ao dar uma mordida na torrada.

— Porque… — começo. Ah, porque, sabe como é, vou trocar de campus e não quero complicar as coisas perdendo pontos de participação antes de pedir transferência no meio do semestre. — Não quero perder a chance de tirar a nota máxima — digo a ele.

— Estamos na faculdade, ninguém vai às aulas — ele diz pela centésima vez desde que o conheci.

— Você não está animado com a ioga? — pergunto aos risos.

— Não, nem um pouco.

Terminamos o café da manhã, e o clima continua leve enquanto Christopher dirige até o campus. Seu telefone vibra no painel, mas ele o ignora. Quero atender por ele, mas estamos nos dando muito bem. Na terceira vez em que toca, eu acabo falando.

— Não vai atender?

— Não, vai cair na caixa de mensagens. Deve ser minha mãe. — Ele levanta o telefone para me mostrar a tela. — Viu? Ela deixou uma mensagem de voz. Quer ouvir? — ele pergunta.

Minha curiosidade fala mais alto, e eu pego o telefone da mão dele.

— Põe no viva-voz — ele me lembra.

— Você tem sete novas mensagens — a voz robótica anuncia quando ele estaciona o carro.

Ele resmunga.

— É por isso que nunca escuto.

Teclo o número um para ouvir todas elas.

— Christopher… Christopher… é a Dulce… eu… — tento apertar o botão para encerrar a mensagem, mas Christopher pega o telefone da minha mão.

Ai, Deus.

— Eu… bom, eu… preciso falar com você. Estou no meu carro e estou muito confusa… — Minha voz está histérica na mensagem e sinto vontade de sair do carro.

— Por favor, desliga — imploro, mas ele segura o telefone com a outra mão para que eu não o alcance.

— O que é isso? — ele pergunta, olhando para o aparelho.

— Por que não tentou entrar em contato? Você simplesmente me deixou ir embora, e agora estou pateticamente ligando para você e chorando em sua caixa de recados. Preciso saber o que aconteceu com a gente. Por que dessa vez foi diferente? Por que não lutar? Por que você não lutou por mim? Eu mereço ser feliz, Christopher.

Minha voz ridícula domina o ambiente do carro, e me prende ali dentro.

Fico em silêncio e olho para as mãos sobre o colo. Isso é humilhante. Eu quase havia me esquecido dessa mensagem, e gostaria de não tê-la ouvido, muito menos agora.

— Quando foi isso?

— Enquanto você estava fora.

Ele respira fundo e interrompe a mensagem.

— Por que estava confusa? — ele pergunta.

— Acho que você não quer falar sobre isso. — Mordo o lábio.

— Quero, sim. — Christopher solta o cinto de segurança e se vira para mim.

Olho para ele e tento pensar em como dizer isso.

— Aquela mensagem de voz horrorosa é da noite… da noite em que beijei o Pablo.

— Ah. — Ele vira o rosto para o outro lado.

O café da manhã correu muito bem, mas foi destruído pela minha mensagem de voz idiota, deixada no meio de um turbilhão de emoções. Eu não deveria ser responsabilizada por isso.

— Antes ou depois do beijo?

— Depois.

— Quantas vezes vocês se beijaram?

— Uma.

— Onde?

— No meu carro.

— E depois? O que você fez depois de deixar essa mensagem? — Ele levanta o telefone entre nós.

— Voltei para o apartamento dele. — Assim que digo isso, Christopher encosta a testa no volante. — Eu… — começo a dizer.

Ele ergue um dedo para me calar.

— O que aconteceu no apartamento dele? — Ele fecha os olhos.

— Nada! Comecei a chorar e ficamos vendo TV.

— Você está mentindo.

— Não, não estou. Dormi no sofá. A única vez em que dormi no quarto dele foi quando você apareceu lá. Não fiz nada com ele além desse beijo, e há alguns dias, quando a gente se encontrou para almoçar, ele tentou me beijar e eu recusei.

— Ele tentou beijar você de novo?

Merda.

— Sim, mas ele entende o que sinto por você. Sei que fiz uma baita confusão com isso tudo e me arrependo por ter ficado com ele. Não tenho um bom motivo nem uma desculpa, mas sinto muito.

— Você se lembra do que disse, certo? Que vai ficar longe dele? — Sua respiração está controlada, controlada até demais, quando ele levanta a cabeça do volante.

— Sim, eu me lembro. — Não gosto dessa ideia de ele me dizer com quem posso ou não ter amizade, mas não posso garantir que não faria o mesmo se os papéis estivessem invertidos, o que tem acontecido muito ultimamente.

— Agora que sei os detalhes, não quero voltar a falar sobre isso, tá? Estou falando sério… tipo, não quero nem ouvir a por/ra do nome dele saindo da sua boca. — Ele está tentando ficar calmo.

— Tá certo. — Concordo e estendo o braço para segurar a mão dele. Também não quero mais falar sobre isso. Já dissemos tudo o que podemos sobre o assunto, e falar sobre isso só vai causar mais problemas desnecessários para nós e para nosso relacionamento já tão perturbado.

É um alívio ser a causa do problema dessa vez, porque a última coisa de que Christopher precisa é de outro motivo para odiar a si mesmo.

— É melhor irmos para a aula — ele diz por fim.

Meu coração está apertado por causa de seu tom frio, mas fico calada quando ele afasta a mão da minha. 

Christopher me leva ao prédio de filosofia, e eu procuro Christian no caminho, mas não o encontro. Ele já deve ter entrado.

— Obrigada pelo café da manhã — digo e pego minha bolsa da mão de Christopher.

— Não foi nada. — Ele dá de ombros e eu tento sorrir antes de me virar.

Sinto sua mão em meu braço e, antes mesmo de me beijar, Christopher me pega do jeito que só ele sabe pegar.

— A gente se vê depois da aula. Te amo — ele diz e se afasta, e eu entro ofegante e sorridente.