Fanfic: After Love || Vondy | Tema: Vondy

121

POV CHRISTOPHER

— Vejo você em casa, Dulce — Christian diz quando Dulce e eu saímos do carro do meu pai e caminhamos na direção do meu.

Olho para ele e digo um “vai se fo/der” bem baixinho.

— Deixa o Christian em paz — ela avisa e entra no meu carro.

Quando entro, eu ligo o ar quente e me viro para ela com olhos cheios de gratidão.

— Obrigado por ir para casa comigo, mesmo que seja só hoje.

Dulce só assente e encosta o rosto na janela.

— Você está bem? Sinto muito por hoje, eu… — começo.

Ela suspira e me interrompe:

— Só estou cansada.

Duas horas depois, Dulce está dormindo na cama, abraçada ao meu travesseiro e com os joelhos unidos próximos do peito. Ela é linda mesmo exausta. Ainda é muito cedo para dormir, então entro no closet e pego a cópia de Orgulho e preconceito que ela me deu. A caneta marca-texto amarela cobre muito mais trechos do que pensei, então eu me deito ao lado dela mais uma vez e começo a ler as partes grifadas. Uma delas chama a minha atenção:

“São muito poucas as pessoas que eu realmente amo, e ainda menos as que tenho em alta conta. Quanto mais conheço o mundo, mais insatisfeita fico com ele; e todo dia se confirma minha crença na inconsistência de todo caráter humano, e na pouca confiança que se pode ter na aparência tanto do mérito quanto da razão.”

Essa certamente é do nosso começo. Consigo imaginá-la agora, irritada, sentada em sua cama pequena naquele quarto, com uma caneta marca-texto e o livro na mão.

Olho para ela e dou risada. Ao folhear as páginas, vejo um padrão; ela me detestava. Eu sabia disso na época, mas ser lembrado é muito estranho.

“Elizabeth, você tem diante de si uma infeliz alternativa. A partir de hoje você será uma estranha para os seus pais. — Sua mãe nunca mais olhará para você se você não se casar com o sr. Collins; e eu, se você aceitar se casar.”

A mãe dela e Noah.

“Pessoas irritadiças nem sempre são sábias.”

Não é mesmo?

“Não tive o prazer de entendê-lo.”

Nem eu mesmo me entendia, e ainda não entendo, na verdade.

“Eu poderia facilmente perdoar o orgulho dele, se não tivesse ofendido o meu.”

Ela grifou isso no dia em que eu disse que a amava e retirei o que disse. Sei disso.

“Devo aprender a me contentar com ser mais feliz do que mereço.”

Mais fácil falar do que fazer, Dul.

“Gostar de dançar era um passo para se apaixonar.”

O casamento. Com certeza. Eu me lembro de como ela sorriu para mim e fingiu não sentir dor quando pisei em seus pés várias vezes.

“Todos sabemos que é um homem orgulhoso e desagradável; mas isso não seria nada se você gostasse dele.”

Isso ainda é verdade. Christian diria algo assim a Dulce, e provavelmente já disse.

“Até este momento, eu nunca me conheci.”

Não sei bem qual de nós dois combina mais com isso.

“‘Creio que existe, em todos os tipos de disposição, a tendência a um determinado tipo de maldade peculiar, algum defeito natural, que nem mesmo a melhor educação é capaz de suplantar.’

“‘E o seu defeito é uma propensão a odiar as pessoas.’.”

“‘E o seu’, respondeu ele com um sorriso, ‘é voluntariamente compreendê-las mal’.” Cada trecho é mais verdadeiro que o outro, e volto para a parte inicial do romance tão familiar.

“É razoável; mas não é bonita o bastante para me tentar; e no momento não estou disposto a me envolver com moças desdenhadas pelos outros homens.”

Certa vez, disse a Dulce que ela não fazia meu tipo — que imbecil eu fui. É só olhar para ela. Ela é o tipo de todo mundo, ainda que a pessoa seja muito idiota para perceber a princípio. Minhas mãos continuam folheando, e meus olhos analisam várias frases marcadas que se relacionam a nós dois, ou a como ela se sente em relação a mim. Esse é o melhor presente que receberei na vida, sem dúvida alguma.

“Você me enfeitiçou, corpo e alma.”

Uma de minhas frases preferidas, eu a usei uma vez quando nos mudamos para cá. Ela enrugou o nariz quando eu disse a frase, riu de mim, e jogou um pedaço de brócolis em mim. Ela está sempre jogando coisas em mim.

“Mas as pessoas em si mudam tanto que sempre existe algo de novo a ser observado.”

Eu mudei para melhor, por ela, desde que a conheci. Não sou perfeito, por/ra, nem chego perto de ser, mas poderia ser um dia.

“Pouca felicidade perene caberia a um casal que apenas se aproximara por suas paixões serem mais fortes que suas virtudes.”

Não gosto dessa nem um pouco. Sei exatamente o que estava passando na cabeça dela quando fez esse destaque. Seguindo em frente…

“A imaginação de uma dama é muito rápida; salta da admiração para o amor, e num instante do amor para o casamento.”

Pelo menos, não é só a mente de Dulce que faz essa maluquice.

“Apenas o amor mais profundo vai me convencer a me casar.”

Ela deixou o resto da frase de fora, a parte que diz “e é por isso que devo acabar como uma solteirona”. Apenas o amor mais profundo vai me convencer a me casar. Humm… não sei nem se isso me faria mudar de ideia. Não existe a possibilidade de haver um amor mais profundo do que o que sinto por essa garota, mas não muda minha opinião sobre o casamento. As pessoas não se casam mais pelos motivos certos, se é que um dia já fizeram isso. No passado, era por status ou dinheiro, e agora é só para terem certeza de que não serão solitários e tristes — duas coisas que quase toda pessoa casada ainda sente, de qualquer modo.

Coloco o livro no criado-mudo antes de apagar a luz, e deito a cabeça no colchão. Quero pegar meu travesseiro de volta, mas ela o está segurando com força e não quero ser grosseiro.

— Você pode parar de ser tão teimosa e ir para a Inglaterra comigo? Não consigo ficar sem você — sussurro em seu ouvido enquanto ela dorme, passando o polegar pela pele quente de seu rosto.

Estou ansioso para dormir de novo, dormir de verdade com ela ao meu lado.