Fanfic: Vingança & Liberdade | Tema: Rebelde, Vondy.

Capitulo 11

Dulce recuou até suas pernas encostarem no vaso sanitário, e caiu sentada em cima da tampa.

– Eu não... Está dizendo que meu pai fez isso com você? – Ela não conseguia acreditar.

– Não pessoalmente – falou Christophher com ironia. – Ele contratou capangas para fazerem o serviço.

– Mas... por quê?

Ele pegou uma toalha e enrolou-a em volta da cintura.

– Você pesquisou a minha família. Sabe o que aconteceu com meu pai. Ele foi processado por fraude, corrupção e desvio de dinheiro. Entre outras coisas. Ele também estava envolvido com pessoas muito perigosas.

Christopher saiu do banheiro, e ela foi atrás dele, apavorada.

– Meu pai era uma delas?

– Christopher olhou para ela e sentiu pena. Não  era  fácil  enfrentar a  verdade. Em seus momentos mais sombrios, não conseguia acreditar na dor que sentira quando o pai o abandonara.

– Meu pai devia muito dinheiro ao seu, por causa de um esquema que os dois haviam montado. Quando ele foi preso, todos os seus bens foram bloqueados. Seu pai reclamou por não receber a sua parte e, quando viu que não seria pago, tomou outras providências.

Dulce ficou aterrorizada e olhou para a toalha que encobria as cicatrizes.

– Então, eu estou aqui  para pagar pelos pecados do meu pai – balbuciou ela.

– Seu pai me fez pagar pelos erros do meu pai. Ele queria o dinheiro e  o poder de volta. Nada mais  lhe importava, nem os gritos torturantes de um garoto apavorado...

Ele se calou ao ver a angústia nos olhos dela.

– Quantos anos você tinha?

Christopher passou a mão na  cabeça. Mesmo sabendo que não deveria expor suas feridas, não conseguia calar a boca.

– Eu tinha 17 anos. Uma noite, eu voltava para casa, depois de sair com amigos, e os capangas dele me agarraram. Ele mandou me levarem de Atenas para a Espanha e me jogarem num buraco, em algum lugar perto de Madrid. Duas semanas mais tarde, depois de ter juntado cada centavo que conseguiu com a família e com os amigos para pagar o resgate de dois milhões de dólares que seu pai exigiu, Ari me encontrou.

Ela levou as mãos à cabeça e puxou o cabelo.

– Por favor, quando você diz um buraco... Não quer dizer literalmente, não é? – Ela parecia implorar para que ele não confirmasse que seu pai era um monstro.

– Ah, é sim, anjo. Um buraco de mais de três metros de profundidade, com paredes lisas. Escuro e frio. Uma refeição por dia e um balde para aliviar minhas necessidades.

– Não...

– Sim! E você sabe o que os capangas faziam para se distrair?

Ela sacudiu a cabeça e arregalou os olhos, horrorizada, quando ele deixou cair a toalha e lhe mostrou a pele marcada.

– O que eles chamavam de tatuagens com cigarro.

Ela sacudiu a cabeça freneticamente, deixou  as  lágrimas  rolarem, jogou-se sobre a cama e colocou as mãos sobre o rosto. Soltou um gemido agonizante, seguido por outros cada vez mais fortes. Christopher sentiu o peito se apertar com uma emoção que não queria definir. Cada gemido que ela dava o atingia profundamente, até que ele não conseguiu  mais suportar.

– Dulce! Pare de chorar  –  exclamou ele em voz rouca.

Ela sacudiu a cabeça, mas não parou.

– Pare, ou vou jogá-la no mar e você vai ter que nadar até a praia.

A ameaça surtiu efeito. Ela  enxugou o rosto e olhou para ele com um olhar suplicante.

Ele não podia culpá-la por procurar uma verdade diferente daquela com a qual ele destruíra o seu mundo. Droga, era o que ele fazia desde que seu pai fora indiciado.

– Eu fui atrás do dinheiro. Tracei o caminho percorrido pelo resgate por meio de empresas de fachada e de contas no estrangeiro. Levou alguns anos, mas, por fim,  descobri onde  ele foi parar.

– Na conta do meu pai?

– Exato. Desde então, eu me dediquei a investigar como cada centavo tinha sido usado.

Ela curvou os ombros e recomeçou a chorar. Ele teve a certeza de que ela perdera o chão. Depois de vários minutos, ela ergueu a cabeça.

– Muito bem. Farei o que você quiser, pelo tempo que  você determinar.

Foi a vez de Christopher sentir o chão tremer sob os pés. Ele ficou chocado ao perceber o quanto a queria. Mas não por motivo de vingança. Por um motivo bem diferente: queria-a por ela mesma, não por causa de seu pai.

– Dulce...

– Como? Entregando-me seu corpo toda vez que eu quiser?

Ela ficou muito pálida, mas ele viu a mulher corajosa que descobrira existir por baixo do falso brilho erguer a cabeça.

– Se for o que você quer...

– Eu não quero um cordeiro sacrificado e também não quero que você se mate para salvar  aquele canalha!

Christopher percebeu que nãotinha resposta. Não sentira a satisfação nem a sensação de triunfo que esperara sentir quando atingisse  aquele momento. Ele olhou para ela, viu a confusão e o sofrimento refletidos em seu rosto e ficou surpreso. O chão ainda balançava sob seus pés, mas ele levara muito tempo trilhando aquele caminho para deixá-lo. Ou não?