Fanfic: Vingança & Liberdade | Tema: Rebelde, Vondy.

– Acho que Christopher os dispensou. – Dulce mordeu o lábio ao ver Perla erguer as sobrancelhas.

– Dispensou? Ari fez o mesmo há quatro meses quando chegamos aqui. Tivemos uma briga colossal. – Perla sorriu e colocou a mão sobre a barriga.

Brianna riu, sentou no sofá  e começou a amamentar o filho. Perla sentou ao lado dela, e as duas a observaram com curiosidade. Dulce sentiu seu cabelo arrepiar.

– Nós não vamos demorar. Eu só queria repassar a agenda com você. Esta noite teremos um jantar informal, seguido de um rápido ensaio. A maioria dos convidados chegará amanhã. O casamento será às 15 horas, certo?

–  Certo. – Dulce sorriu e Brianna arregalou os olhos.

– Nossa, você é muito bonita! Como conheceu Christopher?

Brincando com o estojo de veludo, Dulce afastou a tristeza que surgira do nada. As duas moças não eram apenas da mesma família: também  eram amigas. Sua família estava o caos, e ela não tinha com quem  conversar.

– Ele tinha alguns negócios a fazer no Rio. Eu o estou ajudando.

– Certo, tudo bem. – Perla levantou e cutucou Brianna.

– Vamos deixá-la em paz. Daqui a uma hora os rapazes vão remar. Se você nunca viu, não vai querer perder.

Brianna tirou o filho adormecido do seio e colocou-o para arrotar.

Quando chegaram à porta, esta se abriu e Christopher apareceu. Olhou imediatamente para Dulce e para o estojo que estava em sua mão.

Dulce ficou com a boca seca e sentiu a onda de calor que sempre sentia ao vê- lo.

– Christopher? – disse Perla.

– O quê? – perguntou ele, ainda olhando para Dulce.

– Você precisa nos dar espaço para sairmos.

Ele resmungou e se afastou, e ficou segurando a porta. Brianna olhou para ele com impaciência.

– Nós passamos a programação para Inez. Você não terá desculpa para chegar atrasado.

– Eu nunca me atraso.

– Ah, tem razão. Você se atrasou duas horas para a festa de noivado de Perla... E uma hora para o batizado de Dimitri.

– Isso significa que só vou me atrasar meia hora para o casamento. Agora, por favor, vão chatear seus maridos e me deixem em paz.

As duas resmungaram e saíram. Ele se voltou para Dulce com um sorriso que logo se apagou.

– Elas a aborreceram? – ele perguntou, preocupado.

– Não, elas foram muito simpáticas.

– Não sei se elas são simpáticas. Eu simplesmente as tolero. – Contradizendo o que dizia, sua voz tinha um tom afetuoso que deixou Dulce comovida.

Christopher valorizava a família e ficara arrasado quando ela se desmanchara. Apesar disso, ele queria destruir a dela. Ela entendia os motivos, mas isso lhe doía  profundamente.

– Dulce?

Ela se virou bruscamente e  voltou para o quarto. Ele foi atrás dela e segurou-a pelo pulso enquanto ela soltava o estojo.

– O que há de errado? Se Brianna e Perla lhe disseram algo que a aborreceu...

– Não, eu lhe disse que elas foram adoráveis! Elas são gentis e divertidas e... e incríveis. – Ela engoliu as lágrimas que ameaçavam lhe subir aos olhos.

– Você esteve com elas por apenas 20 minutos.

– Foi suficiente.

– Suficiente para quê?

– Para saber que eu quero o que elas têm. E que provavelmente jamais terei. Até agora a minha história tem sido mais que desanimadora.

Ele franziu a testa.

– Você não tem uma história.

– Constantine me usou para sujar o nome do meu pai, e...

– Eu não quero que você diga  o nome dele na minha presença – interrompeu ele secamente.

– E você? Você me faz ansiar por coisas que não tenho o direito de esperar, Christopher. Isso faz com que eu seja que tipo de tola?

– Você não é tola. Você é a pessoa mais corajosa e leal que eu conheço – falou ele com seriedade. – O tolo sou eu.

*

Pouco depois, enquanto ela assistia aos irmãos  remarem  em perfeita harmonia no lago do resort, as palavras de Christopher não lhe saíam da cabeça. Christopher ocupava a posição do  meio, com Sakis à sua frente e Ari às suas costas. Fascinada, ela observava seus ombros fortes se movimentarem.

– Eles não são maravilhosos? – suspirou Perla encantada.

– São – concordou Dulce.

– Acho que eles fazem isso para nos perturbar e nos deixar excitadas – reclamou Brianna, mas Dulce reparou que ela não tirava os olhos de cima do marido.

Quando os homens voltaram à praia, as duas moças correram até eles e todos formaram um grupo. Christopher viu Dulce e caminhou em sua direção.

– Eu não esperava que você estivesse aqui. Você deveria estar descansando.

– Fui convidada. Espero não estar sendo uma intrusa.

– Se você foi convidada, não está se intrometendo. Venha se juntar a nós. – Ele pegou na mão dela e levou-a até onde Ari e Sakis estavam virando o barco para que secasse. Os dois olharam para ela, mas mal lhe disseram algumas palavras.

Quando Ari pediu a Christopher que o acompanhasse até o abrigo de barcos, Dulce sentiu uma pontada de nervosismo. Perla arranjou um jipe para levá-la de volta à Villa.

Meia hora mais tarde, quando Christopher voltou, estava tenso e extremamente agitado. Ele a pegou no colo e levou-a para o quarto. Fez amor com ela com uma paixão feroz e silenciosa que a deixou calada e sem fôlego, antes de abraçá-la e cair no sono.

Os olhos dela se encheram de lágrimas que ela se apressou em secar. Não adiantava sonhar que as coisas se tornariam cor-de-rosa entre ela e Christopher. Por mais que ela quisesse que fosse diferente, os dois estavam na contagem regressiva para se separarem para sempre.

*

O Casamento foi lindo e elegante como todos os eventos que Perla organizava. Dulce observava os noivos dançarem na pista do cassino, que ficava diretamente acima da água, e tentava controlar seus sentimentos.

Christopher jamais seria seu. Ela nunca teria um casamento como aquele. Christopher jamais olharia para ela da mesma maneira que Ari estava olhando para Perla. Ela nunca sentiria o peso do filho dele na barriga.

Apesar de saber que Christopher lhe fizera um favor ao trazê-la até ali, Dulce sentia seu desespero crescer. Ele não precisava dela para salvá-lo de seus pesadelos. Tinha uma família que o adorava e que iria apoiá-lo quando ele resolvesse se abrir para ela.

Dulce precisava parar de se lamentar e tocar sua vida.

Seu tempo na casa de Christopher, em sua cama, acabara. Pensando bem, ela deveria agradecer por ele tê-la convencido a continuar com o trabalho voluntário, que seria um salva-vidas num mundo que estava afundando. Precisava aprender a viver sem as coisas que não podia  controlar.

Christopher passou por ela, dançando com uma elegante senhora de  cabelo grisalho e de olhar triste. A senhora disse algo, e ele olhou para ela. Seu sorriso era gentil, mas cauteloso, e Dulce reparou que a senhora ficara ainda mais triste.

Acima do som da música, Inez ouviu o balbucio doce de uma criança, virou e viu que Brianna estava atrás dela.

– Aquela é a mãe deles. O relacionamento entre eles tem sido precário, mas todos estão tentando se entender novamente. Espero que vocês dois também façam isso.

Dulce sacudiu a cabeça.

– Receio que isso seja impossível. Brianna riu.

– Creia, eu já vi o impossível acontecer nessa família. Aprendi a não prever mais nada. – Ela sorriu para o bebê, balançou o corpo ao ritmo da música e foi encontrar o marido.

Dulce se comoveu ao ver Sakis abraçar a esposa com o filho no colo.

– Qual é o problema agora? – disse a voz de Christopher em seu ouvido.

Ela pestanejou e conseguiu dar um sorriso.

– Nada. Casamentos...Eles  me deixam emocionada.

Ele olhou para ela desconfiado, e segurou-a pelo braço.

– Dance comigo.

– Você tem uma família grande – disse ela, depois que ele a enlaçou.

– Às vezes eles são irritantes.

– Ainda assim, vocês parecem cuidar um do outro.

– Força do hábito – disse ele.

– Não, não é. Ari sabe quem eu sou?

– Ele desconfia. Eu não confirmei nem neguei porque não é da conta dele. Ele que conclua sozinho. Por que a pergunta?

– Ele está me vigiando como uma águia desde que chegamos, e não me dirigiu mais que duas palavras. Foi isso que eu quis dizer. O que existe entre você e seus irmãos não é  hábito:  é amor.

Christopher retorceu a boca, mostrando sua mágoa.

– O amor não acabou com os pesadelos que me assombraram durante todos esses anos, Dulce.

– Porque você não permitiu. Você rechaçou todas as tentativas de ajuda porque pensou que tinha que enfrentar seus demônios sozinho e fazer as coisas do seu jeito.

A crítica sincera atingira o alvo. Christopher ficou calado até a música acabar. E então, disse bruscamente:

– Eu não queria parecer fraco. Eu me odiava todas as vezes que não conseguia entrar num quarto escuro ou caminhar por uma rua sem luz. Não conseguia sentir o cheiro de cigarro sem suar frio. Você sabe o que é isso?

– Não, mas sei que nunca vai acabar enquanto você mantiver isso enterrado. Ele foi profundamente atingido por seu carinho, por sua força, e sentiu vontade de abraçá-la com força. De repente, tudo que ele sempre desejara e pelo qual tanto ansiara parecia ter se fundido na mesma mulher.

– Não está mais enterrado. Há um mês, eu era o mesmo garoto perturbado que Ari encontrou naquele buraco. Mas você deu um jeito nisso.

– Não, eu não sou responsável por isso.

Ele a segurou pela nuca e sussurrou em seu ouvido:

– É sim. Você me viu, Dulce. Eu não conseguia dormir no escuro. Entrava em pânico ao ouvir uma porta se fechando atrás de mim. Foi por isso que me cerquei de vidros. Com você ao meu lado, eu voei até aqui sem precisar de remédios para dormir.

– E, mesmo assim, você não falou comigo durante horas.

Ele soltou um suspiro.

– Neste momento, as coisas estão muito confusas. Vamos aproveitar o casamento e voltar para o Rio. Então, poderemos consertar as coisas entre nós. Porque eu ainda não estou preparado para deixá-la ir embora.