Fanfics Brasil - Capitulo Treze Vingança & Liberdade

Fanfic: Vingança & Liberdade | Tema: Rebelde, Vondy.


Capítulo: Capitulo Treze

14 visualizações Denunciar


CAPÍTULO 13


 


 


– Eu lhe disse que você é melhor que qualquer comprimido para dormir.


Dulce riu, enquanto Christopher lhe tirava o vestido e esperava que ela  se livrasse dos sapatos para se dirigir à cama. O pingente de diamante, que ele ficara tão feliz ao vê-la usar no casamento, estava pendurado entre seus seios.


– Fique com ele – disse Christopher enquanto o avião entrava numa zona de turbulência. Os dois caíram juntos na cama e se beijaram.


– Fico feliz por ter alguma utilidade – disse ela rindo quando se afastaram para recuperar o fôlego.


Ele ficou muito sério.


– Você se tornou fundamental na minha vida, querida. Mais do que nunca, você é a minha salvadora, o meu anjo.


Ele a beijou novamente. Dulce fechou os olhos e pensou que podia sentir sua alma através daquele beijo reverente, e ignorou uma voz que lhe dizia que ela estava se iludindo.


Enquanto ele acabava de despi-la gentilmente e fazia amor com ela com uma paixão que a comovia, Dulce tentava segurar as lágrimas.


Mais tarde, ele se abraçou a ela e dormiu. Dulce não conseguiu conciliar o sono e pensou no casamento. Christopher a apresentara à mãe, e ela novamente vira tristeza em seus olhos. No final da festa, quando ele abraçara a mãe para se despedir e sussurrara algo em seu ouvido, ela vira a senhora irromper em lágrimas enquanto a família corria para acalmá-la.


Ela ficara olhando para eles. Ari lhe lançara um olhar, dera um sorriso contido e lhe fizera um sinal com a cabeça. Não fora um gesto de aceitação, mas também não fora a  fria acolhida que lhe dera antes.


Enquanto faziam as malas, ela perguntara a Christopher o que acontecera com sua mãe.


– Depois que meu pai foi preso, ela se isolou totalmente. Deixou Atenas e se trancou em nossa casa em Santorini – respondera ele com indiferença, mas ela percebera que ele estava angustiado.


Ela se lembrara do que ele dissera sobre  ser abandonado.


– Ela não estava presente quando você foi sequestrado, estava?


O rosto dele demonstrara sofrimento, mas, logo em seguida, algo mais comovente: perdão.


– Não, não estava. Mas eu tinha  Ari e Sakis. Eles tiveram que ser fortes por causa dela. Foi isso que eu disse a ela esta noite, porque nós  dois precisávamos ouvir.


As palavras tinham ressoado dentro dela, mas o que Dulce continuava a ouvir era o que ele lhe dissera na pista de dança. Eu não estou preparado para deixá-la ir embora.


Dulce sentiu o coração se apertar. Ele pretendia ficar mais algum tempo com ela, como se fosse um troféu que relutasse em largar. E seu tolo coração tocava um samba ao pensar que passaria mais alguns momentos com ele...


Ela acordou sendo beijada na testa e no rosto.


– Ótimo, você está acordada. Acabamos de aterrissar.


Ela bocejou.


– Já? Tenho a sensação de que acabei de dormir.


Ele riu.


– São 15 horas. Temos muito a fazer até a noite.


Ela viu seu sorriso e se sentiu feliz.


– Você parece estar de bom humor, querido.


Ele a abraçou e encarou-a com seriedade.


– Há um motivo para isso. Pela primeira vez, em 12 anos, eu dormi a noite inteira sem ter pesadelos.


Ele viu o rosto dela se iluminar de alegria antes que ela o puxasse e lhe desse um beijo suave e doce.


– Ah, Christopher, estou tão feliz por você.


– Eu estou feliz por nós – respondeu ele, dando-lhe outro beijo e se levantando para se vestir. – Mexa-se, doçura, a não ser que você queira se mostrar para o agente da alfândega quando ele subir a bordo.


Ela pulou da cama e se vestiu.


Só quando chegaram em casa ela se lembrou do que ele dissera no avião.


– O que você quis dizer com temos muito a fazer até a noite? Nós não vamos sair, vamos? – Ela choramingou.


Christopher tirou o celular do  bolso e checou mais uma das várias mensagens que começara a receber assim que tinham descido do avião.


–  Não, nós não vamos sair. Vamos receber um convidado.


– Um convidado? Quem?


– Eu convidei seu pai para jantar.


Dulce ficou paralisada, como se tivessem lhe dado um banho de água fria.


– O meu pai vem aqui? E você não pensou em me contar? O que o faz pensar que eu quero vê-lo?


– Precisamos. Está na hora de acabar com isso de uma vez por todas.


– E você não se importa com a maneira como eu me sinto?


– Pensei que tínhamos concordado em consertar as coisas quando chegássemos ao Rio – falou ele, surpreso.


– Sim, mas quando você disse “nós”, eu pensei que estava se referindo a nós dois. Como sou tola. Porque eu não existo sem o meu pai, não é?


– Do que você está falando? Claro que existe.


– Então, por que você fez o convite sem eu saber?


– Porque tenho culpa por você estar no meio de tudo isso. – Ele suspirou e passou a mão na cabeça. – Tive uma chance de consertar as coisas  com minha mãe, nas Bermudas. Podemos nunca mais voltar a ser o que éramos, mas isso é melhor do que nada. A partir de agora, é você quem escolhe o tipo de relacionamento que quer ter com seu pai. Esse foi um problema que eu lhe causei e tenho o dever de consertá-lo.


Ela ficou mais calma, mas tinha a impressão de que acontecera  algo errado entre a saída do aeroporto e a chegada em casa.


Às 19 horas a campainha tocou. Parada ao lado de Christopher, Dulce alisou a roupa e ajeitou o cabelo, sentindo-se muito nervosa.


O mordomo entrou na sala, seguido de Fernando.


Fernando parou, olhou para Christopher e, depois, para ela. Seu rosto era uma máscara de ódio e de maldade, que ela sempre se recusara a ver.


Agora ela via quem ele realmente era. Imagens das cicatrizes de Christopher lhe passavam pela cabeça, e ela contraía as mãos espasmodicamente.


– Não vou lhe  estender a mão porque esta não é uma visita social – disse Fernando a Christopher. – E  também não vou jantar com vocês.


– Por mim, tudo bem. Francamente, quanto mais  rápido  acabarmos  com isso, melhor. Mas é preciso lembrá-lo de que você só está aqui por causa de Dulce. Ela pode ser sua filha, mas, agora, está sob a minha proteção. Espero que você não esqueça disso. Os negócios entre você e eu estarão liquidados até o fim desta semana.


Fernando olhou para Dulce.


– Você vai ficar parada e deixar que ele fale com seu pai desse jeito? Você é uma decepção.


– Isso não é surpresa. Eu tenho sido uma decepção para você desde que nasci, só por ser menina.


– Sua mãe deve estar se virando no caixão por causa do seu comportamento.


Dulce ergueu o queixo.


– Não. Todos os dias a mamãe me dizia o quanto se orgulhava de mim. Foi ela quem me encorajou a ir  em busca dos meus sonhos. Você sabia que ela queria ser escultora?


– Onde você quer chegar?


– Ela tinha talento, pai. Mas desistiu de tudo por sua causa. Foi ela,  não você, quem me ensinou o significado da lealdade e da família. Você só se preocupava em explorar essa lealdade para satisfazer seu egoísmo.


Fernando ficou furioso e se voltou para Christopher, com os olhos chispando.


– Foi para isso que eu vim até aqui? Para levar um sermão de uma criança ingrata?


Christopher deu de ombros e sorriu.


– Eu estou achando muito divertido.


– Se você tem um objetivo, filho, sugiro que vá direto ao ponto.


O sorriso de Christopher desapareceu, e ele ficou rígido. Seu corpo parecia vibrar de raiva, suas narinas fremiam  enquanto ele tentava se controlar.


– Eu não sou seu filho. E você não é digno de ser pai. É uma vergonha que você não tenha aprendido a ser um melhor pai com a mãe que o criou na favela, e que você insiste em dizer que não é verdade. Não se dê o trabalho de negar novamente. Eu sei tudo sobre você, Saviñón.


Pela primeira vez, desde que entrara, Fernando ficou  assustado. Encaminhou-se para o bar e ficou olhando as garrafas. Sem pedir licença, serviu uma dose de uísque e tomou um grande gole.


– Eu embelezo um pouco a  verdade. E daí? Você já destruiu a minha campanha. O que você quer? A minha empresa? É este o seu jogo? Você quer agarrar as ações da Saviñón Holdings como se fossem amendoins? Só sobre o meu cadáver.


A gargalhada de Christopher foi ameaçadora o suficiente para causar um arrepio em Dulce


– Creia, há algumas semanas eu teria prazer em seguir a sua sugestão, mas você está enganado. Sua empresa não me interessa.


Fernado ficou alerta.


– O que mudou?


– A sua filha.


– É mesmo?


Dulce sacudiu a cabeça, perplexa.


– Você realmente não sabe quem é ele, pai?


Christopher deu um sorriso debochado.


– Ah, ele sabe quem eu sou. Só espera que eu não saiba o que ele fez há 12 anos.


Fernando perdeu a cor e ficou cinza.


– Não sei do que você está falando...


Dulce se adiantou, sentindo o veneno da raiva, da decepção e da dor se espalhar por suas entranhas.


– Não ouse negar. Não ouse! – A voz dela se apagou num soluço. – Você mandou sequestrarem e torturarem um garoto! Por dinheiro! Como pôde fazer isso?


Os olhos de Fernando, que ela sempre achara serem iguais aos seus, escureceram com uma raiva sinistra.


– Como pude? Eu fiz por você. As belas roupas que você queria e o lindo carro que dirigia? De onde você pensa que veio o dinheiro? Eu precisava dele para salvar a empresa. Aliás, o dinheiro era meu. Por que eu deveria voltar para a fazenda, só porque Uckermann não podia manter o dinheiro no bolso e ficar sossegado, para não chamar atenção?


Dulce colocou a mão na boca e ficou gelada.


– Nossa Senhora, você é um verdadeiro monstro.


Fernando contraiu o queixo e olhou para Christopher.


– É nessa hora que você entrega todas as informações que colheu a meu respeito para a polícia?


Christopher olhou para ele com desprezo.


– Para você comprar sua saída da prisão? Não.


Christopher se voltou para Dulce e lhe lançou um olhar aliviado, como se tivesse acabado de tirar um peso dos ombros.


– Isso fica a critério de Dulce, e somente dela.  Eu  não tenho mais nada a ver com você.


Dulce ergueu a cabeça e olhou para os dois.


Um era altivo, orgulhoso e  bonito. Um homem de quem ela tentara não gostar, mas cuja vulnerabilidade sofrida a atraíra para ele e a fizera enxergar o adolescente apavorado que procurava por respostas.


Os olhos dela se encheram de lágrimas, e ela olhou para o monstro que era seu pai.


– Eu não tenho nada a lhe dizer. Não quero vê-lo nunca mais. Adeus.


Ela se voltou, saiu correndo da sala e subiu a escada.


 


Christopher perdeu tempo colocando Fernando porta afora. Fora sincero quando dissera que não tinha mais nada a ver com ele. Não queria mais vingança. Tudo aquilo acabara no momento em que conhecera Dulce. Talvez, ingenuamente, achara que o encontro com Benedicto fosse ser uma catarse. Em vez disso,  deixara Dulce ainda mais angustiada.


Ele subiu a escada correndo. Talvez ela  tivesse  razão.  Na sua pressa  em resolver a situação entre os dois, ele lhe preparara uma cilada. Mas iria compensá-la. Precisavam superar o que acontecera. Os sentimentos que ele tentara reprimir haviam explodido em sua cara quando ele acordara no avião. Na ausência da ansiedade e do medo, o motivo pelo qual ele queria acordar todos os dias ao lado de Dulce ficara muito claro.


O sentimento fora tão  intenso  que ele quase dissera a ela, mas resolvera esperar até que ela enfrentasse o pai. Agora, arrependia-se. Deveria tê-la deixado saber o quanto representava para ele antes de fazê-la ver Benedicto.


Ele abriu a porta do quarto.


– Dulce, sinto muito por...


O que ele viu o emudeceu e quase dobrou seus joelhos. Ela estava com os olhos vermelhos de tanto chorar. Por sua causa. Mas mesmo o arrependimento não o impediu de ver o que estava acontecendo.


– O que você está fazendo? – perguntou ele, usando a parte do seu cérebro que ainda não tinha congelado. Duas malas estavam abertas sobre a cama, uma, cheia de roupas. Ela estava fazendo as malas...


Ela se voltou e jogou o top que segurava dentro da mala. Quando se voltou para ele novamente, seus olhos estavam cheios de lágrimas.


– Obrigada por abrir os meus olhos para a verdade – falou ela em voz rouca.


– Esqueça os agradecimentos e me diga o que está fazendo.


Ela passou a mão no rosto.


– Estou indo embora, Christopher.


– Você, o quê? – ele estava perplexo.


– Você vai voltar para a casa do seu pai?


Ela estremeceu.


– Não. Eu nunca poderia voltar para lá.


– Então, para onde você vai?


– Vou ficar com Camila.


Por fim, ele conseguiu mexer os pés e se aproximou. Arrancou da mão dela os shorts que ela ia colocar na mala.


– Acho que perdi alguma coisa, querida. Por que você não me explica?


– Não posso ficar aqui.


Ele sentiu o coração se retorcer.


– Por que não?


O rosto dela se encheu de angústia.


– Porque meu pai tem razão. A comida que ele colocava na mesa, as roupas que eu usava, a nossa educação de qualidade. Tudo isso foi pago com o seu sofrimento.


– Não diga isso...


Ela continuou a falar em voz trêmula.


– Eu nunca parei para pensar, mas me lembro que, há 12 anos, ele chegou em casa e disse à minha mãe que os nossos problemas tinham sido resolvidos. Nós não éramos exatamente pobres, mas, depois que ele convenceu minha mãe a vender o rancho, ele tinha feito maus investimentos e a empresa sofreu com isso. Eles discutiam muito, e eu costumava rezar, pedindo para que eles parassem de brigar. Pode imaginar como me senti quando minhas preces foram atendidas? E, agora, 12 anos mais tarde, descubro que consegui o que pedi por causa do seu... – Ela engasgou e começou a jogar freneticamente as roupas dentro da mala.


Por mais desesperado que estivesse, Christopher não sabia o que dizer. Ela  estava se torturando, e ele não podia fazer nada  para impedir.


– Anjo...


– Eu não sou um anjo, Christopher. Sou filha de um monstro, de um diabo sem coração, que tortura crianças e que não sente nenhum remorso. Como você consegue olhar para mim?


– Porque você não é ele! – exclamou, pegando nas mãos dela e fazendo com que o encarasse. – Você não é responsável pelas ações do  seu  pai. Fique, Dulce. Tínhamos combinado conversar sobre nós assim que acabássemos com ele.


– Mas não existe “nós”, existe? Nós... Nós só dormimos juntos porque as circunstâncias nos uniram. Se não fosse pelo meu pai, você nunca teria vindo para o Brasil.


– E você está indo embora porque acha que não fomos feitos um para o outro? – Ele a observava, pensando em como se sentiria se ela fosse embora. A percepção do que estava acontecendo o atingiu e levou-o ao desespero.


– Estou indo embora porque você precisa esquecer tudo e todos associados com o seu tormento. Do contrário, você nunca irá se curar.


Ele soltou as mãos dela e o gelo que o envolvia desde que entrara no quarto endureceu um pouco mais, ameaçando partir seu coração. Ele olhou para seu lindo rosto molhado de lágrimas, procurando um sinal de esperança que pudesse aliviá-lo da devastação em que estava afundando.


– Então, é isso? Esta é a sua decisão. Você está fazendo isso para o meu bem, mas eu não posso dar a minha opinião? – Christopher não conseguiu evitar o tom de amargura.


A resposta de Dulce foi recuar e recolher as últimas peças de  roupa. Com mãos trêmulas, ela fechou  as malas e tirou-as de cima da cama.


– Responda, Dulce!


Ela parou na porta e se voltou.


– Adeus, Christopher


– Vá para o inferno!  –  resmungou ele.


 


*****


 


– A mesa quatro pediu mais feijoada para todos e uma garrafa de vinho. – Camila entrou na cozinha e foi dar uma olhada na panela de feijoada que Dulce preparava. – Fantástico. Eu volto  em um minuto para pegar o pedido.


Dulce enxugou a testa e olhou por sobre o ombro.


– Pietro, você pega o vinho. Eu vou servir a feijoada.


– Quem a nomeou rainha da cozinha?


– Eu, quando ganhei no cara ou coroa.


Ultimamente ela ria com maior facilidade do que ria no passado. Não passava  dez  segundos  sem  pensar em Christopher, mas poder brincar com o irmão era um bom sinal de que a ferida em seu coração acabaria cicatrizando. Certo?


– Você trapaceou.


– Então, você explica para Camila por que o vinho não está aqui quando ela voltar.


Pietro saiu resmungando e se dirigiu ao porão que servia de adega e de despensa. Dulce o  ouviu  reclamar, porque os queijos que Camila guardava ali tinham um cheiro insuportável.


O lado positivo era que, em meio ao caos e ao sofrimento, ela e seu irmão tinham se reaproximado muito mais do que  ela  esperava.  Os  dois  ainda  não tinham resolvido o que fazer depois de terem se afastado de casa e da empresa. Camila os encorajara a esperar algum tempo para se recuperarem e se reconciliarem, e lhes oferecera emprego no restaurante. Dulce ainda  fazia trabalho voluntário e se dividia entre os dois empregos.


Manter-se ocupada  impedia  que a dor se transformasse em  agonia. À noite, ela ficava acordada e passava pelo inferno de imaginar se sofreria para sempre. De se perguntar se Christopher deixara o Rio durante aquelas três semanas que tinham se passado desde a última vez que o vira.  De pensar se os pesadelos tinham acabado ou piorado depois da sua passagem pela vida dele.


Christopher era forte. Iria sobreviver...


Mas ele a chamou de sua salvadora, seu anjo, e você o deixou.


– Não. – Ela controlou a dor. Fizera a coisa certa.


– Não o quê? Se  disser que  eu trouxe o vinho errado, vá você buscá-lo – disse Pietro.


Dulce viu Camila entrar na cozinha e lhe lançar um olhar estranho.


– Temos novo pedido. Mesa um. E uma feijoada para um.


– Nossa, mana, hoje você está arrasando.


– Tudo bem, eu vou servir e...


– Não, eu não anotei o pedido de bebidas. Acho que também vão querer uma entrada. Você pode cuidar disso? – pediu Camila.


– Sim, mas não estou vestida para servir.


– Não estamos no Four Seasons, querida. Além disso, você precisa  ter um descanso do fogão. Arrume seu cabelo e vá anotar o pedido.


Dulce olhou para a saia preta e para a camiseta cinza. Prendeu o cabelo atrás das orelhas e viu o olhar preocupado que Camila costumava dar antes de sacudir a cabeça e dizer o que a preocupava.


– Eu estou bem.


– Ótimo – disse Camila. – Então, vá atender a mesa um.


Dulce lavou as mãos e secou-as no avental. Tirou-o e pendurou-o no gancho ao lado do espelho, evitando olhar para a própria imagem. Ficaria deprimida ao ver o rosto vermelho, resultado de ter passado três horas cozinhando.


Ela pegou um bloco, um lápis e o cardápio, e se dirigiu à mesa um.


– Você...! – exclamou, ouvindo o barulho das coisas que deixara cair no chão. Alguns fregueses se viraram, alguém recolheu e lhe entregou o bloco, o lápis e o cardápio. Ela quis agradecer, mas não conseguiu falar.


Ficara paralisada ao ver Christopher Uckermann.


– Não fique aí parada, menina. A vida vai passar por você – disse Camila atrás dela.


Dulce respirou fundo e  fez força para se mexer.


Enquanto ela se aproximava, Christopher acompanhava seus movimentos. Estava bonito como sempre, mas parecia mais magro. Seu cabelo crescera um pouco e parecia  estar despenteado.


– Sente – ordenou ele.


Ela sentiu o coração acelerar, umedeceu os lábios e sacudiu a cabeça.


– Não posso. Estou trabalhando.


– Eu pedi a Camila que a dispensasse. Sente-se – repetiu.


Dulce sentou. Ele olhou para ela como se quisesse devorá-la... Ou estaria tentando registrar seu rosto na memória pela última vez? Ela se sentiu angustiada.


– O que faz aqui, Christopher?


Ele a encarou e respirou profundamente.


– Estava embalando minhas coisas e achei algo que você esqueceu. – Ele colocou o caderno de desenho em cima da mesa.


Ela sentiu o peso do desespero.


– Obrigada. – Ela hesitou, mas as palavras saíram de sua boca. – Então, você está deixando o Rio?


– Aqui não há mais nada para mim.


Dulce sentiu o coração se despedaçar e seus olhos se encheram de lágrimas.


– Eu... Espero que seja feliz. Ele soltou um rosnado.


– Espera? – perguntou ele com sarcasmo. – Eu acreditaria nisso, vindo da mulher diante de quem estou, mas a mulher que desenhou isso... – Ele folheou o bloco antes de recomeçar a falar. – Essa mulher tinha força interior. Ela teve coragem suficiente para expressar o que tinha no coração, o que saía do fundo da sua alma. Olhe para ela.


Ela olhava para ele  e  seu corpo tremia enquanto ela balançava a cabeça.


– Olhe para ela!


Dulce olhou para o bloco. O primeiro desenho era o que ela tinha feito depois de terem feito amor pela primeira vez, no iate. Os que se seguiam eram variações do mesmo tema. Ela retratara Christopher várias vezes, cada vez com mais cuidado e detalhes. O último retrato o mostrava rindo com os irmãos, na festa de casamento. Este ela desenhara de memória, na última noite que estavam nas Bermudas. Quando acabara de fazê-lo, o que sentia por Christopher se solidificara.


Christopher virou a página, e ela viu a imagem do filho de Brianna e Sakis. Dimitri já mostrava os traços fortes e atraentes da família Uckermann e fora o modelo que ela usara nos desenhos que fizera a seguir, quando não resistira e dera vazão ao desejo secreto de ver como seria um filho dela e de Christopher.


– Você deve achar que sou uma espécie de perseguidora louca.


– Não há perseguição quando a pessoa perseguida é igualmente apaixonada pelo perseguidor – declarou ele


Ela sentiu o coração se apertar e começou a tremer.


– Você não pode, Christopher. Eu arruinaria a sua vida.


– Antes de conhecer você, pensei que minha vida estava arruinada. Eu estava dominado pela raiva e pela ânsia de vingança. Deixei que isso me dominasse e que me impedisse de ver o que era importante. Família. Amor. Pensei que não havia mais nada pelo qual valesse a pena lutar. Mas eu estava errado. Havia você. A minha vida será arruinada, mas só se você não estiver nela.


Dulce deixou que as lágrimas rolassem.


Christopher olhou ao redor.


– O que há ali atrás?


– Uma sala para festas particulares.


– Eestá ocupada?


Antes que ela tivesse parado de sacudir a cabeça, ele a pegava pela mão e a puxava até lá.


– Ouça bem... Você me disse que eu sempre a veria como a filha de um monstro, mas esqueceu que também é filha de uma mãe amorosa, que todo dia agradecia por você ser especial. O que você acha que ela sentiria ao vê-la enterrada aqui, se punindo pelos pecados do seu pai?


Ela fechou os olhos, mas continuou a chorar.


– Abra os olhos, Dulce.


Ela fungou e obedeceu, olhando para ele por entre as lágrimas.


– Agora abra os olhos de verdade e veja a pessoa maravilhosa que você é. Veja a pessoa que eu vejo. A pessoa corajosa e talentosa que fez aqueles desenhos.


– Ah, Christopher – exclamou ela.


– Você tem um sonho e  eu  quero fazer parte dele. – Ele lhe acariciou o rosto.


– Eu desejo tanto que esse sonho se torne realidade...


– Então me perdoe por tê-la chantageado e dê uma chance a nós dois.


– Perdoá-lo? Não há nada a perdoar. Eu deveria lhe agradecer por ter me arrancado da minha existência vazia. Mesmo antes de conhecê-lo realmente, você já tinha me dado  energia  para lutar pelo que eu queria.


– Então, você vai lutar por nós? Vai me dar uma chance de provar que sou digno do seu amor e de lhe mostrar o quanto você significa para mim?


Ela tocou o rosto dele, e ele beijou a mão dela.


– Meu querido, eu me apaixonei por você logo depois que o  conheci. Juro que nunca vou confessar quando  foi que isso aconteceu...


Ele riu, e o rosto dela  se iluminou com um sorriso.


– Anjo... Não discuta comigo – disse ele ao vê-la ficar séria. – Eu amo você com todo o meu coração. Você é o meu anjo, e eu vou dizer isso até que você acredite.


–  Isso quer dizer que não vamos navegar em águas tranquilas, vamos?


– Não. – Ele riu e beijou-a até deixá- la tonta. – Mas isso fará parte da nossa história. E, falando em navegar... Eu mandei seus desenhos para o nosso departamento de design na Grécia. Eles querem conversar com você se quiser.


– Mesmo?


– Mesmo. Eu deveria lhe dar boas notícias mais vezes: esse seu sorriso de felicidade faz coisas incríveis comigo...


Ela lhe tampou a boca e olhou assustada por cima do seu ombro enquanto se ouviam dois sinais quase que simultâneos de mensagem num celular. Christopher resmungou e estava a ponto de atender quando alguém bateu na porta.


– Droga, eu sabia que deveria ter escolhido um lugar mais reservado.


Pietro entrou, trazendo uma garrafa de champanhe e duas taças, que colocou sobre uma mesa.


– Você protegeu a minha irmã quando fui muito burro para fazê-lo. Serei eternamente grato. – Ele estendeu a mão para Christopher.


Christopher apertou a mão dele.


– Esqueça. Qualquer um que não tenha medo de dizer que foi burro merece o meu respeito. Obrigado pela bebida, mas, como você sabia?


Dulce conteve uma risada. Pietro suspirou e indicou uma parede.


– Há uma abertura que dá para a cozinha. Camila esteve espionando vocês desde que entraram aqui.


Christopher olhou para trás. Camila abriu a janela e olhou para Inez.


– Sua feijoada é muito boa, mas eu sempre achei que seu futuro estava em outro lugar. – Ela jogou um beijo para Dulce e fechou a janela.


Pietro foi embora, e Christopher se voltou para Dulce e sorriu.


– Está pronta para começar a nossa aventura, agape mou?


– O que isso quer dizer?


– Meu amor. – Ele ficou sério. – Eu aprendi a falar português pelos motivos errados. Vou lhe ensinar grego pelos motivos certos.


– Você realmente está pretendendo deixar o Rio?


– Sim. Depois que convenci Fernando a passar a empresa para o seu nome e o de Pietro, desisti da minha vingança implacável. Só de pensar que iria perdê-la durante o processo, fiquei desesperado.


– O quê? Você o fez passar a empresa para nós... Christopher, nós não a queríamos!


– Ela foi do seu avô e da sua mãe. É justo que seja sua e de Pietro. Se vocês não a quiserem, com certeza encontrarão uma maneira de tirar proveito de sua venda.


– Daria o suficiente para ajudar o Centro de Convívio e as crianças da favela.


– Ótimo. Vamos fazer isso.


Ela se comoveu ao ver seu olhar carinhoso.


– Eu amo você, Christopher. Obrigada por ter vindo me procurar.


– Eu não poderia fazer o contrário, anjo, porque sem você eu fico perdido.


Ela ergueu a cabeça, e ele lhe deu um beijo tão terno que as lágrimas lhe subiram aos olhos.


– Precisamos conversar a respeito dessas lágrimas... – Ele se irritou ao ouvir o celular tocar novamente.


– Seus irmãos? – perguntou.


– E suas esposas. Ari quer saber se ainda estou vivo. Sakis quer saber se pode contratá-la para desenhar o nosso próximo petroleiro.


– E as esposas?


Christopher deu uma olhada para a janela que dava para a cozinha e  voltou  a olhar para ela.


– Elas querem saber se já podem começar a planejar o nosso casamento.


Dulce tirou o celular da mão dele, desligou-o e enfiou-o no bolso da sua calça. Abraçou-o pela cintura e se colocou na ponta dos pés, para falar em seu ouvido:


– Vamos responder a todos eles amanhã de manhã. Agora, quero que você me leve para o iate e que faça amor comigo, que mostre que sou sua novamente. Tudo bem?


– Mais do que bem, meu anjo. É o que planejo fazer pelo resto das nossas vidas.


O brilho de amor e de adoração que ela via em seus olhos, enquanto Christopher pegava na mão dela e eles  saíam da sala, ficaria gravado no coração de Dulce para sempre.


 


 


 


FIM!



Compartilhe este capítulo:

Autor(a): Thaaaay

Este autor(a) escreve mais 2 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?

+ Fanfics do autor(a)
- Links Patrocinados -
Prévia do próximo capítulo

  Eu estou adaptando uma web que se chama "Louca Por Você" Eu já estou quase na metade do livro, se vocês quiserem acompanhar ou ler outros livros adaptados por mim: Site: Yoble  Comunidade: Historias da Thay http://www.yoble.com.br/Community/55601 Comunidade onde esta sendo postada:  Web Novelas Vondy http://www.yoble.com.br/c/web ...


  |  

Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 32



Para comentar, você deve estar logado no site.

  • stellabarcelos Postado em 21/09/2015 - 17:57:45

    Que fanfic linda! Amei muito! Parabéns

  • kelly Postado em 18/08/2015 - 16:07:06

    ai que ódio desse fernando!! e fiquei muito p da vida com a dul por ela ter ido embora! como pôde? Ainda bem que ee persistiu e foi atras dela!!!! amei essa história tanto qnt amei noite com o inimigo!

  • kelly Postado em 18/08/2015 - 15:07:02

    Thaaaay, minha amada! foi pura coincidência! Eu nem sabia que vc estava postando esse livro. Eu conheço essa história desde o inicio do ano passado. Tenho ele no meu pc. E uma leitora minha - Yasmim - me pediu pra postar quando eu terminasse de postar where i need to be-wanted-anything like me. Eu não entro lá no yoble desde que você encerrou 'noite com inimigo'! Eu já vinha adaptando desde que a yasmim me pediu, e já tenho a obra toda adaptada, apenas a formatação do capítulo é que faço quando vou postar. E só comecei a postar agora, pq eu só queria postar depois que encerrasse a outra. Então, só posso dizer que todas nós temos mentes brilhantes! por pensar nessa história e postá-la ao mesmo tempo. Seu banner ficou muito lindo! Parabéns! - sei fazer isso não! kkkkkkkkkkkkkkkkkk! beijos amada, sucesso!

  • kelly Postado em 06/08/2015 - 11:01:19

    AI MEU DEUSS!!! como ela diz que não h´futuro pra eles? ainda bem que ele não vai acatar a decisão dela! continua logo flor!!!!

  • kelly Postado em 24/07/2015 - 09:01:59

    Ai meu Deus!!!! Ai que ódio desse fernando! A vontade que to de dar umas facadas nesse pai monstro da dul!!!! Quando ele vai perceber que a ama meu Deus! Ele precisa dela, só se sente bem com ela, quer estar com ela!!!! E a Dul? Como vai ficar qnd essa história toda terminar? Ai ai ai.... continua logo thayyyyy

  • kelly Postado em 24/07/2015 - 08:56:35

    Ai minina eu terminei de ler!!!!!! Amei!!!!!! Muito lindaaaaaa - só não consegui comentar! Lesadinha eu..... o link da que eu posto aqui é: http://fanfics.com.br/fanfic/45380/where-i-need-to-be-wanted-anything-like-me-vo ndy

  • Thaaaay Postado em 22/07/2015 - 19:43:12

    Kelly: Eu acabei aquela lá já, comecei outra. Tu posta web né? me manda o link para poder ler. Se tu quiser tbm, cria um tópico lá na WNV e faz parte da familia também, se precisa de ajuda em algo as meninas são umas fofas elas te ajudam. Até fazer banner se você quiser. Vou postar mais tarde pra ti.

  • kelly Postado em 20/07/2015 - 16:41:17

    Ai meu Deus!!!!!!!!!!!!!!! eles ficaram juntos!!!!! agora eu quero ver como ela vai se sentir quando souber o q o pai dela fez a ele! eu to meio perdida lá na movimentação na outra. mas to lendo e amando! esse fds nem li, mas vou voltar a ler agora. bj

  • Thaaaay Postado em 17/07/2015 - 14:49:26

    kelly: kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk bem assim mesmo, jamais desistira dele. Ta louca kkkkkkkkkkkkkkkk Kelly te pedir uma coisa, lá no yoble aquela comunidade é a dos perdidos, ai só posto lá os comentarios e no topico mesmo lá na vondy. Pode deixar que eu vou continuar postando aqui pra você, fico feliz que esteja gostando amo essa historia demais. Obrigadaaaa!!!

  • kelly Postado em 16/07/2015 - 22:45:21

    Ai meu Deus!!!!! Ele realmente acha que em meia hora ela vai desistir de ficar com ele? Só se for muito burra!!!!! Kkkkkkkkk continua flor!!!!


ATENÇÃO

O ERRO DE NÃO ENVIAR EMAIL NA CONFIRMAÇÃO DO CADASTRO FOI SOLUCIONADO. QUEM NÃO RECEBEU O EMAIL, BASTA SOLICITAR NOVA SENHA NA ÁREA DE LOGIN.


- Links Patrocinados -

Nossas redes sociais