Fanfic: A Noiva Enganada Finalizada | Tema: AyA

Levantando a mão a fim de espantar um mosquito que zumbia em seu ouvido, perguntou apenas:
— Você abre a porta à noite para todo mundo?
A voz dele atingiu-a como um soco. Era grave, solene, a voz típica de um homem culto e refinado que fora educado nas escolas mais tradicionais da Inglaterra. A voz que devia soar pelo teatro e ficar na alma das pessoas mesmo depois de terminada a peça.
Forçou um sorriso.
— Sim. Algum problema?
Ele fez uma careta e entrou no hall, fechando a porta atrás de si. Anahi acendeu as luzes e a sala ficou intensamente iluminada.
Arrependeu-se imediatamente de seu ato, mas não havia nada que pudesse fazer a respeito. Ver Poncho no claro era muito mais perigoso. Ali, bem debaixo de seu nariz, estava o homem que havia corrido pelas ruas de Nova York a seu lado, o homem que, durante quatro meses, a havia transformado na mulher mais feliz do mundo. Seu amante. Seu marido. O sol de sua vida.
Pensou em alguma coisa para falar.
— Você... quer tomar um drinque? Um café, talvez?
Poncho não respondeu imediatamente. Estava muito ocupado, olhando para ela. A camisola de seda grudava em seu corpo úmido, revelando curvas deliciosas.
"Ela é ainda mais bonita e sensual do que eu me lembrava."
— Um uísque, se não for dar trabalho. Enquanto Anahi abria o armário das bebidas, ele aproveitava para olhar em volta.
Uma sala aconchegante, sem dúvida. Móveis rústicos, um piano, sem lareira, tapetes de lã de carneiro cobrindo o chão de pedra, estantes cheias de livros. Lembrava vagamente sua casa de campo em Kent, onde costumava passar as férias quando adolescente.
A voz de Anahi interrompeu-lhe os pensamentos.
— Puro ou com gelo?
— Com gelo, por favor.
Ela foi para a cozinha rapidamente, de onde voltou com um balde de madeira. Serviu a bebida e entregou-lhe o copo, evitando olhá-lo nos olhos.
— Não quer se sentar?
Poncho tomou um gole de uísque.
— Obrigado.
Ela sentou-se na poltrona em frente e esperou que ele dissesse alguma coisa. Não teve de esperar muito tempo.
— Você está isolada, Anahi. Não tem medo de ficar aqui?
O que ele estaria querendo dizer com isso? Que o lugar não era seguro?
— Não precisa começar a se preocupar agora, Poncho. Você desapareceu por mais de um ano. Eu podia ter morrido e você nem estaria sabendo.
Ele franziu a testa, prevendo que o negócio não iria ser nada fácil. A mensagem nos olhos dela era muito clara:
"O que você fez durante esse tempo todo? Por que nunca deu sinal de vida?"
Tinha a resposta para as duas perguntas, mas não se sentia pronto para dar as explicações necessárias. Ela não iria entender. Na maior parte das vezes, nem ele mesmo entendia. A coisa havia sido muito séria. E o pior é que um dia poderia voltar.
Se voltasse, sua vida estaria arruinada.
Tomou mais um gole de uísque e tentou manter a calma.
— Fico feliz que esteja viva. Se você morresse... Acho que morreria junto.
Anahi resolveu encará-lo. Será que estava sendo sincero? Depois daquela enorme mentira, era difícil acreditar nele. O pior de tudo era que jamais conseguira adivinhar o que se passava por sua cabeça. Poncho não mostrava suas emoções como as outras pessoas que conhecia. Bem, na cama, tudo havia sido diferente. Mas, fora dela... Anahi se levantou.
— O que veio fazer aqui, Poncho? Você disse que queria falar a respeito do que aconteceu. Será que tem uma explicação para um desaparecimento que durou catorze meses?
Poncho ficou pálido. E ela esperou que ele falasse que falasse alguma coisa, qualquer coisa que lhe trouxesse um pouco de alívio. Que ele tivesse sido preso. Que tivesse sofrido um acidente. Que ficara em coma.
Que quisera vê-la e não pudera.
Mas Poncho Herrera não disse nada.
Então, magoada, ela explodiu:
— Escute aqui, Poncho. Eu não merecia ser usada desse jeito. Jamais lhe ocorreu que eu queria me casar e ter filhos? Que eu queria... Um casamento de verdade?
"Um casamento de verdade?"