Fanfic: A Noiva Enganada Finalizada | Tema: AyA

Poncho pensou no sogro que não chegara a conhecer. "Eu devia ao menos ter comparecido ao enterro."
Confuso, tentou novamente se lembrar da conversa que tivera ao telefone com Anahi, quando ela lhe falara da morte do velho Sam. Então, por que não conseguia se lembrar do fato?
Bem, ele sabia o motivo. Achava que sabia. Só não queria pensar no assunto.
— E você, Poncho? — continuou ela. — Qual é o seu papel no filme?
Ele colocou a musse de chocolate na geladeira.
— Vou fazer Sêneca Howland, o melhor amigo do major John Powell durante a expedição de 1869. Acabarei sendo assassinado pelos índios nas últimas cenas.
Anahi deu um sorriso.
— E quem vai fazer o papel do Major Powell?
— Martin Place.
Ela ficou surpresa. Martin Place, um ator famoso de quarenta e poucos anos, havia acabado de ganhar seu segundo Oscar. O orçamento do filme devia ser bem maior do que imaginara a princípio.
O telefone tocou e Anahi secou as mãos no avental antes de tirar o fone do gancho. Era Nick, avisando que o passeio tinha acabado e que os famintos turistas mal podiam esperar para provar o peixe com molho de camarão prometido.
— Pode trazê-los, Nick. Já está tudo pronto. Ela desligou e virou-se para Poncho.
— Obrigada pela ajuda.
Ele deu aquele sorriso que costumava tirar o fôlego de qualquer mulher que tivesse sangue nas veias.
— O prazer foi todo meu. Bem, onde você vai querer jantar essa noite? Qual é o melhor restaurante da cidade?
Ela hesitou.
— Atualmente, acho que o Moenkopi Café. Eles servem pratos deliciosos.
— Ótimo. Posso passar as sete para apanhá-la? Anahi tirou o avental e pendurou-o atrás da porta.
— Prefiro encontrar você no restaurante. Agora, se me dá licença, preciso ir até o alojamento da equipe de produção a fim de satisfazer a curiosidade de Norton Stills. — Ela deu um sorriso. — O homem é curioso até dizer chega.
— Curioso e às vezes um tanto aborrecido, a bem da verdade. Aliás, também estou indo para lá. Quer uma carona?
Ela olhou para as próprias mãos.
— Acho que estou cheirando a cebola.
Você espera até que eu me arrume um pouquinho?
Poncho olhou-a com ternura.
— Eu espero o tempo que for necessário.
Pouco depois entravam no Austin-Healey de Poncho, no-vinho em folha. Anahi esperou que ele desse a partida no carro, então perguntou:
— Onde você está hospedado?
— No Anasazi Palace. Passei na sua casa pela manhã, mas você já havia saído para o trabalho. Ia convidá-la para fazer cooper comigo.
Cooper.
Anahi lembrou-se das corridas pelas ruas de Nova York. E dos banhos que as seguiam. Sexo debaixo do chuveiro.
— Ah, sei.
— Você ainda corre, Anahi?
— De vez em quando.
Sozinha. Sozinha pela estrada abandonada, do lado noroeste do rio. O Colorado, em vez de East River.
Chegaram à cidade em cinco minutos. Moab crescera muito naquele último ano, as calçadas cheias de turistas entrando e saindo de lojas bonitas e sofisticadas. Nas ruas, os ciclistas disputavam espaço com carros novos e reluzentes.
Parando num sinal vermelho, Poncho comentou:
— Gostei da sua casa.
Anahi olhou para ele, surpresa. Já tinha visto fotos da propriedade da família Herrera, uma enorme mansão de campo com milhares de metros quadrados de gramados impecáveis. Então, por que motivo ele gostara da casa dela? Bem, até que era um lugar gostoso e aconchegante... Mas que caía aos pedaços. Pensou nas ervas daninhas que cresciam no jardim, na cerca quebrada e no piso rachado dos quartos.
— A casa está precisando de cuidados, Poncho. Meu pai nunca teve tempo de arrumá-la. Estava ocupado demais com a empresa.
O sinal abriu e Poncho engatou a primeira.
— Talvez haja alguma coisa que eu possa consertar.
— Ele piscou para ela. — Acho que, no fundo, sou um pedreiro frustrado.
Era verdade.