Fanfic: A Noiva Enganada Finalizada | Tema: AyA

Poncho aproximou-se da janela com passos lentos. Já estava escurecendo e as ruas do centro de Moab começavam a esvaziar, os turistas voltando a seus hotéis ou entrando nos muitos restaurantes por ali espalhados. Ficou imóvel durante alguns instantes, então virou-se novamente para Anahi. Não sabia por onde começar. Respirou fundo, tentando encontrar coragem. E se ela não compreendesse?
— Anahi, naquele dia em que você partiu, eu comecei a me sentir... Como posso dizer... Muito estranho. Não sei exatamente o que aconteceu e minhas lembranças não são muito claras. Foi como se tudo tivesse sido um sonho... Um sonho muito mau.

Ele fez uma pausa, tentando encontrar as palavras certas para explicar o que lhe acontecera. E as encontrou. Palavras muito precisas e que iriam assustá-la, aliás, que o assustavam muito, também. Portanto, tentou ser o mais moderado possível.
— Comecei a ter reações esquisitas e meus sentidos ficaram muito aguçados. Podia ouvir coisas que aconteciam a um quarteirão de distância e, ainda por cima, havia... Havia vozes em minha cabeça que me deixavam louco. No começo, fiquei muito confuso, sem saber o que fazer. Faltei a uma apresentação da peça, mas fui aceito de volta com uma advertência. Naquela época, comecei a ter as fantasias mais malucas possíveis a respeito dos agentes da polícia federal. Achava que eles estavam me perseguindo. Passei a ter medo de ir ao teatro. Tinha verdadeiro pavor de sair de casa.
— Ele fez uma pausa, então continuou. — Durante uma apresentação, mais ou menos uma semana depois da sua partida, fiquei convencido de que havia agentes da polícia no teatro, fingindo-se de espectadores. Que eles tinham colocado dezenas de microfones nas minhas roupas, a fim de escutar todas as minhas conversas. Que eles iam me prender... e me matar. Então, durante um intervalo, eu corri para o andar de cima do teatro, tirei as roupas e fugi pela saída de incêndio.
Poncho parou de falar e olhou para Anahi. Seu rosto permanecia impassível. Tentou adivinhar o que se passava por sua mente. Será que ela estava perplexa? Preocupada? Chocada?
Continuou seu relato, sabendo que as palavras pareciam ter sido ensaiadas, embora jamais tivesse ensaiado coisa alguma.
— Voltei para casa e comecei a revirar tudo em busca de microfones ocultos. Cheguei até a quebrar a parede da sala. Sei que isso não faz sentido algum, mas eu não estava no meu juízo perfeito. Esse tipo de comportamento durou mais ou menos um mês. Era rude com todos os meus amigos. Achava que eles eram espiões e que iriam me entregar para a polícia. Então, resolvi desaparecer. E fui para as ruas, onde passei a viver ao lado de mendigos e prostitutas. Dormíamos debaixo de pontes ou em casas abandonadas.
Ele fez outra pausa, tentando imaginar o que Anahi estaria achando de tudo aquilo. Não conseguiu. O rosto dela estava desprovido de emoções.

comentem amores