Fanfic: A Noiva Enganada Finalizada | Tema: AyA

Alfonso me pediu em casamento no mesmo dia em que conseguiu um papel naquela peça da Broadway. Eu nem desconfiava que ele precisava do visto de permanência. Isso não me passou pela cabeça, nem quando, logo após a lua-de-mel, começamos a ser visitados por agentes da polícia. Você não imagina como esse pessoal pode ser desagradável. Apareciam nas horas mais impróprias e nos submetiam a interrogatórios intermináveis, a fim de verificar se estávamos casados de verdade. Nós éramos colocados em quartos diferentes e tínhamos de responder às perguntas mais ridículas possíveis. Diana fez uma careta.
— Eu pensei que isso só acontecesse em filmes.
— Que nada. Eles perguntavam de que lado da cama eu dormia, qual era a cor da escova de dentes de Poncho, que tipo de cueca ele usava...
— E de que tipo ele usa?
— Diana!
— Desculpe. Eu estava brincando. — Ela fez uma pausa.
— Você não tem culpa de ter se apaixonado por ele. Só o conheço por fotografia, mas deu para perceber que o cara é sexy até dizer chega.
Diana tinha razão. Poncho, com seu rosto de traços firmes e marcantes, era um dos homens mais bonitos que já conhecera na vida. E o corpo, então. Forte, bronzeado, cheio de músculos... Praticara remo quando estudara em Eton e Oxford.
Perdida em seus pensamentos, Anahi começou a se lembrar da gostosa rotina diária de seus quatro meses de casamento. Levantavam-se de manhã bem cedo e iam correr nas ruas do East Village, desertas àquela hora. Atravessavam a Brooklyn Bridge e, no caminho de volta, paravam num café e tomavam um cappuccino. Dali eram cinco quarteirões até o prédio onde moravam, cujo hall de entrada cheirava a repolho fervido. Subiam os quatro andares até o pequeno apartamento alugado, tiravam as roupas e faziam amor debaixo do jato forte do chuveiro.
Anahi fechou os olhos no momento em que o vento soprou de novo, levantando uma nuvem de areia amarelada que envolveu-lhe o corpo.
Diana passou a mão pelos cabelos e perguntou:
— Anahi, você tem certeza de que foi só por causa do visto de permanência? Eu falei com ele pelo telefone. A impressão que tive foi das melhores. Acho... Que ele amava você de verdade.
A princípio, Anahi também achara. Mas não demorara a descobrir a amarga verdade. Ele representara o tempo todo.
— Poncho só ama sua própria carreira, Diana. Ele nunca... Sentiu nada por mim.
— Talvez você esteja exagerando. Por que não liga para ele e tenta acertar as coisas?
— Eu já fiz isso, mas ele não retornou minhas ligações. Deixei seis recados na secretária eletrônica e até agora, nada. Ele não está sabendo a respeito da morte de papai. O que devo fazer? Ligar de novo e deixar uma mensagem avisando que meu pai morreu durante a cirurgia?
Diana encarou-a com olhos solenes.
— Se você fizer isso, é provável que ele ligue de volta.
Nova York
Quando o telefone tocou, o som da campainha pareceu tão alto que Alfonso Herrera pulou de susto. Ficou encarando-o durante um longo tempo. Era um aparelho vermelho, que Anahi batizara de "Bat Phone".
O clique da secretária eletrônica soou como um tiro de revólver em seus ouvidos e, segundos depois, sua própria voz gravada enchia a tela. "Você ligou para a residência de Poncho Herrera. Por favor, deixe seu recado logo após o sinal".
0 bip mais lembrava um arranhão. Unhas afiadas num quadro negro.
— Poncho, aqui é Anahi. Você deve ter saído... Olhe, eu peço desculpas por deixar esse tipo de recado na secretária eletrônica, mas é que não tenho conseguido encontrá-lo em casa ultimamente. Meu pai... Faleceu durante a cirurgia do coração a qual foi submetido. Gostaria que me telefonasse quando pudesse. Um beijo.
Poncho Herrera ficou ali, parado no meio da sala, o olhar perdido no infinito. Anahi havia falado com ele? O telefone tocara?
"Meu pai faleceu..."
Havia imaginado aquilo?
Olhou para o enorme porta-retrato em cima de uma mesa, exibia a fotografia tirada no dia de seu casamento.