Fanfic: A Noiva Enganada Finalizada | Tema: AyA

O consultório do Dr. Holyoak ficava no primeiro andar do hospital, uma sala confortável com uma mesa de mogno, poltronas, um sofá e um diva. Anahi chegou na hora marcada e passou um longo tempo respondendo perguntas sobre Poncho. O médico lhe informara, assim que ela entrara.
— Tudo o que você me disser aqui é confidencial. Sinta-se a vontade para me contar qualquer coisa sobre Alfonso que você achar que possa nos ajudar a entender o que está se passando. Temos o mesmo objetivo: a recuperação dele.
E ela contou tudo. O namoro rápido, o casamento por causa do visto de permanência, sua partida, o primeiro surto psicótico de Poncho em Nova York.
— Quando eu telefonei a fim de lhe dizer que meu pai havia morrido, Poncho se comportou de uma maneira muito esquisita. Mais tarde, veio a se esquecer dessa ligação. Era como se ele estivesse em outro mundo.
— Compreendo... — O médico pareceu estudá-la por alguns instantes. — Olhe Sra. Herrera, o mais provável é que esse último surto de Poncho tenha sido uma reação ao incidente no rio. Vemos a mesma coisa ocorrer cora soldados sob o fogo inimigo ou sobreviventes de grandes tragédias. Às vezes, a mente não consegue suportar tanto.
— Mas quem quase se afogou fui eu. E consegui lidar bem com o problema.
— Certo. Acontece que tudo leva a crer que Poncho tenha uma predisposição genética a esse tipo de coisa.
Anahi compreendia. Poncho era doente e não conseguia fazer nada a respeito. Não era um simples caso de fraqueza emocional. Não era culpa dele... Nem dela. Predisposição genética. Preocupada, ela perguntou:
— Mas... Ele vai melhorar? O médico sorriu.
— Já está melhorando. A medicina avançou muito nesses últimos trinta anos, Sra. Herrera. Acabou com o estigma do louco. Se a pessoa que tiver problemas mentais receber tratamento adequado, poderá perfeitamente levar uma vida normal, como qualquer outra.

Aquelas palavras soaram como um bálsamo na alma machucada de Anahi.
— Poncho andou tendo pesadelos horríveis nos últimos tempos. Sonhava que pessoas queridas cometiam suicídio. Será que isso se deve ao fato de eu tê-lo abandonado? Ele não costumava ter esses pesadelos na época em que vivíamos juntos, em Nova York.
— Os pesadelos podem dizer alguma coisa sobre o nível de ansiedade da pessoa. Pelo que a senhora me contou, ele não tem dormido direito ultimamente por causa do excesso de trabalho. Em certos casos, a falta de sono pode desencadear uma reação dessas.
— Compreendo.
O Dr. Holyoak lhe fez mais perguntas sobre o humor de Poncho, seus hábitos, vida social e ambiente familiar. Anahi lhe contou tudo o que sabia. As escolas tradicionais, as universidades famosas, as mansões de família, o título de nobreza.
— A mãe dele, lady Herrera, é depressiva. Eu andei lendo sobre o assunto. Sei que é ignorância de minha parte, mas nunca soube que a depressão era uma doença mental.
— Nem sempre é. Mas, pelo que está falando, talvez o caso da mãe de Poncho seja. Conte-me tudo o que sabe. Ela está se tratando?
— Não faço idéia. O que Poncho me contou é que a depressão é tão forte, que ela passa dias sem sair da cama. Às vezes, até semanas. Será que isso tudo tem alguma relação com o que aconteceu a Poncho?
— Sim, embora não queira dizer que o problema seja o mesmo. Há muitas coisas nesse campo que ainda desconhecemos. Olhe, sra. Herrera, depois de tudo que me contou, tenho a impressão de que os dois surtos psicóticos de Poncho foram desencadeados por incidentes cheios de tensão, ambos envolvendo perdas, ou ameaça de perda. Algo que se liga perfeitamente ao que me disse a respeito dos pesadelos que ele vinha tendo. — O médico fez uma pausa. — Conte-me a respeito de seu trabalho.
Ela contou. Sua chegada aos Estados Unidos para tentar a carreira de ator. A peça da qual fora despedido. O anúncio do jeans Ben Rogan.
O papel de Sêneca Howland, em Os Pioneiros.
— Poncho é um excelente ator, Dr. Holyoak. Muitas vezes eu não sabia se ele estava sendo sincero ou apenas representando. Isso a nível de vida pessoal. Não tenho mais esse tipo de dúvida hoje em dia, mas ainda não consigo entender suas emoções.
— Com o tipo de educação que recebeu, ele deve ter mesmo muita dificuldade em expressar seus sentimentos. Talvez por isso os tenha canalizado no ato de representar.
Anahi concordou com a cabeça.
— Entendo.
O médico mudou de assunto.
— Estou interessado em obter mais algumas informações a respeito da mãe de Alfonso. O pai dele telefonou, mas não pude atendê-lo. Acho que vou entrar em contato com ele agora mesmo. A senhora sabe qual é a diferença de horários entre os Estados Unidos e a Inglaterra? Anahi lhe disse.
— Ótimo. Vou conversar com lorde Herrera o quanto antes. A conversa chegara ao fim.
Anahi se levantou.
— Será que eu poderia visitar Poncho, agora?
— Claro. Ele já está num quarto comum. Jason Smith vai levá-la até lá.
Poncho estava sentado na beirada da cama, quando Anahi apareceu para visitá-lo. Usava jeans e uma camiseta polo que ela lhe trouxera de Moab. Seu rosto estava quase normal.
Quase.
Ele se levantou para recebê-la e, aproveitando que não havia ninguém espiando pela janelinha, beijou-a com paixão. Jason Smith ou algum outro enfermeiro aparecia constantemente para vê-lo e, quando Anahi vinha visitá-lo, a vigilância deles era ainda maior.
Sentaram-se na cama e ela levantou a mão a fim de acariciar seu rosto.
— Você já fez a barba. Que bom. Ele deu um sorriso amargo.
— Sob pesada supervisão. Para evitar cortes, me disse Jason. Mas é claro que a verdade é outra. Eles têm medo de que eu me mate. Ou mate alguém. — Poncho fez uma pausa. — Só que eu jamais faria isso.

Mas Poncho também jamais imaginara que fosse cuspir numa pessoa. E cuspira.