Fanfic: A Noiva Enganada Finalizada | Tema: AyA
Não querendo dizer nada que pudesse prejudicar a carreira de Poncho, ela limitou-se a responder:
— Melhorando.
Norton Stills fez que sim com a cabeça e permaneceu em silêncio durante algum tempo. Então, comentou, finalmente:
— Olhe, Anahi, eu sei que você deve estar aborrecida em ver as dificuldades pelas quais Poncho está passando agora, mas lembre-se de que coisas muito piores costumam acontecer num estúdio de cinema. O importante é que ele melhore logo e possa viver uma vida normal o quanto antes.
Tocada pela gentileza do produtor, ela disse apenas:
— Obrigada, Norton.
Ele deu um suspiro e continuou:
— Tenho uma irmã que sofre de psicose maníaco-depressiva. Por isso, sei exatamente o que você está passando.
Anahi ficou surpresa.
— Sua irmã é doente?
— Sim. E não só ela. Há uma porção de gente assim aí fora. Pessoas em situações ainda mais difíceis. Avise-me se eu puder fazer qualquer coisa por vocês. Se quiser posso dar alguns telefones. Informações legais, redes de apoio. Você não está sozinha, Anahi.
"Você não está sozinha."
Porém, apesar das palavras de Norton Stills, Anahi sentia-se muito triste ao levar Poncho para casa às duas da manhã, após a cena em questão ter sido repetida dezenas de vezes.
Ela passou o percurso todo tentando animá-lo, mas Poncho parecia não lhe dar atenção. Era evidente que estava preocupado e envergonhado com seu mau desempenho.
Ao chegarem em casa, Anahi foi direto para o quarto. Mas Poncho não a acompanhou.
— Vou tomar uma xícara de chá, Anahi. Você deve estar exausta. Vá se deitar que eu não demoro.
Enquanto a água fervia, ele começou a pensar no que acontecera no estúdio naquela noite. Na irmã de Norton Stills, que, segundo Anahi, era maníaco-depressiva. No anúncio do jeans Ben Rogan, em sua participação no JoAnn Caroll Show. Na cena de amor que fizera nu ao lado de Ingrid Haggman. Nos passeios que dava ao lado de Anahi e de Boris. Nos pequenos consertos que ainda fazia na casa.
Pensou em seus pais. No conde Herrera, amigo pessoal da rainha Elizabeth. Em sua mãe depressiva que se recusava a sair da cama. No seu irmão John, muito mais velho que ele, um homem admirável, cheio de virtudes.
E pensou nele mesmo. Alfonso Charles Herrera. Que deixara o mundo dourado do dinheiro e privilégios onde vivia na Inglaterra para tentar a sorte nos Estados Unidos. Para ser ator. Na época, o ato de representar lhe era algo tão gostoso quanto uma brisa fresca num dia tórrido de verão. Mas agora...
Agora as coisas estavam começando a mudar. E ele descobria quem era na verdade.
Mais uma vez, Poncho sonhou com pessoas amadas tentando dizer adeus à vida. Só que com uma diferença. Em lugar de se encher de desespero, ele corria ao telefone, chamava um médico e o auxílio chegava antes que a tragédia acontecesse.
Uma língua rosada lambeu-lhe o rosto inteiro. Patas pressionaram seu peito. Acordando, o coração disparado, Poncho percebeu imediatamente que seu corpo estava coberto de suor. "O sonho". Olhou para Boris, então para Anahi que levantava a cabeça, os cabelos em desalinho emoldurando-lhe o rosto perfeito, os pequenos brincos de brilhante piscando sob a luz do luar que entrava pela janela aberta.
O cachorro deitou-se aos pés da cama.
Alfonso estendeu os braços e abraçou a mulher que amava, fortalecendo-se com sua presença, encontrando conforto em seu carinho e em seu afeto.
— Eu te amo, Anahi.
— Eu também te amo, Poncho. — Ela fez uma pausa.
— Você teve... Outro daqueles pesadelos?
— Tive. Mas o final foi um pouco diferente. Digamos que dessa vez as coisas acabaram bem. Ou acho que acabaram. — Ele fez uma pausa. — Estou um pouco confuso, só isso.
Ela acariciou-lhe o rosto de leve com a ponta dos dedos. Estava úmido. De suor.
— Vou lhe fazer um chá, querido. Ele afastou-se dela.
— Não.
— Ora, mas por quê? Você adora tomar uma xícara de chá a qualquer hora!
— Eu consigo muito bem preparar o chá sozinho, Grace.
Não sou inválido. Posso cuidar de mim mesmo, será que não percebe?
Anahi lembrou-se do dia anterior, quando tivera de levá-lo ao estúdio em Moab. Ele não tinha condições de ir sozinho. Não podia dirigir. Como também não conseguira tomar conta de si mesmo quando tivera o surto na praia. Anahi deu um sorriso e procurou dizer com cuidado:
— E claro que eu sei que você pode preparar um chá sozinho, meu amor. Mas o que há de tão horrível no fato de eu cuidar de você?
Ele parecia zangado. De verdade.
— Nada. Tudo.
— Nós somos casados, Poncho. Temos a obrigação de cuidarmos um do outro. Será que não percebe?
Poncho não respondeu.
Ela sabia que ele estava tenso, mas pressionou-o mesmo assim.
— Isso faz parte do casamento, Poncho. Se amanhã eu precisar de ajuda, sei que poderei contar com você.
Ele recostou-se no travesseiro e olhou para Anahi. Ela estava nua. Completamente.
— Eu não quero que você seja minha protetora, Anahi. Você é minha mulher.
Anahi não pôde deixar de admirar aqueles ombros fortes, aquele corpo que era em si a própria definição da masculinidade.
— Exatamente. Sou sua mulher. Na saúde e na doença. Até que a morte nos separe. Não foi isso que prometemos no dia do nosso casamento?
Poncho ficou ainda mais tenso. Ela continuou:
— Eu te amo, Poncho. E você o meu protetor. E você quem dá sentido à minha vida. Será que não compreende?
Não. Ele não compreendia. E disse com a voz cheia de mágoa:
— Você não entende o quanto isso é horrível, Anahi. Você não sabe o que está dizendo.
Ela apertou os olhos.
— Claro que sei. Eu estava ao seu lado quando tudo aconteceu, Poncho. Ouvi seus gritos. Fui visitá-lo no hospital. É claro que eu sei!
— Não! Não sabe!
Foi naquele instante que Anahi percebeu que Poncho não falava sobre si, mas sobre sua mãe.
— Poncho, eu não me casei com você esperando que a vida fosse ser um mar de rosas. Eu sabia que haveriam problemas.
Como ele não falasse nada, ela continuou:
— Meu pai costumava dizer que a vida era como uni rio, com seus períodos de calmaria e seus períodos de turbulência. E que ele não seria tão bonito e interessante se as águas fossem sempre tranqüilas e serenas.
Períodos de calmaria e períodos de turbulência. Poncho lembrou-se de um Natal, um Natal acontecido havia tantos e tantos anos... Seus pais tinham oferecido um grande almoço aos amigos. A mansão estava lotada. Sua mãe, feliz e elegante, não parava de rir. Todos riam. Tudo é um sonho, um mar de felicidade. Mas, à noite...
A noite, quando todos os convidados já tinham id embora e os empregados arrumavam a casa, o humor d sua mãe mudara completamente. E ela se trancara n quarto, de onde vinham gritos pavorosos de dor e d angústia.
Sim. Alfonso compreendia os períodos de calmaria os períodos de turbulência. Na verdade, eram esses extremos da experiência humana que o haviam atraído par o teatro. A comedia e a tragédia. A alegria e a tristeza. O bem e o mal.
Consciente de que estava a ponto de revelar coisa muito íntimas, coisas com as quais ainda não estava pronto para lidar, acabou dizendo:
— Não sou tão burro assim, Anahi. Eu entendo dessas coisas. — Levantou-se e vestiu um robe. — Vou faze um chá.
Na cozinha ele pôs a chaleira no fogo. Então, foi par a sala escura e abriu o piano. Com dedos incertos, começou a tocar sua música clássica favorita, o Prelúdio em C menor de Chopin. Depois, tentou mudar para o blues, para Cole Porter, para Gershwin, para Rodgers Hart. Finalmente, começou a tocar a música dele e d Anahi, Love is here to stay.
De súbito avistou-a parada junto à porta. Ela também vestira um robe. E lhe disse:
— O chá está pronto, Poncho.
Ele não tinha ouvido a chaleira apitar. Não precisava de uma protetora. Mas Anahi lhe dissera que ele era o protetor. Alguém que dava sentido à vida dele.
Levantou-se, fechou o piano e aproximou-se dela com passos lentos.
— Eu te amo muito, Anahi.
— Eu também te amo, Poncho.
Quando se deram conta, estavam um nos braços do outro, apertando-se com força, beijando-se com paixão e loucura. O toque de Anahi e as coisas que ela havia lhe falado antes fizeram com que, finalmente, as palavras se soltassem de sua garganta. Confissões.
— Minha mãe... Não se levantava da cama nem para tomar banho. Era como se não tivesse mais dignidade... Tinha vontade de mudar, só que não conseguia agir de maneira diferente. Um dia ela disse a meu pai que queria acabar com tudo aquilo, que não agüentava mais viver daquele jeito. Eu costumava ficar ouvindo as conversas atrás da porta. Sabia que aquilo era errado, mas morria de medo de que ela realmente fosse se matar. Então ficava ali, parado, rezando para que as coisas melhorassem, de modo que ela pudesse escolher a vida... e não a morte.
Ouvindo aquelas palavras murmuradas no escuro, Anahi compreendeu que Poncho lhe contava um segredo. Seus segredos e os da sua família. Em sua imaginação, via um menino pequeno e assustado ouvindo sua mãe dizer que ia abandoná-lo do jeito mais definitivo possível. E, depois, encontrando-a inconsciente na cama, incapaz de acordá-la, certo de que estava morta. Certo de que sua mãe se matara. Então, esquecendo a cena toda. Enterrando-a no fundo da mente. De onde ela saía de vez em quando a fim de aparecer-lhe em forma de pesadelos.
— Não sei quando foi que minha mãe se tornou depressiva
— ele continuou. — Acho que ela já sofria do mal quando solteira. Parece que as coisas pioraram depois que meus avós morreram num acidente de carro, quando viajavam pela Riviera Francesa. Eu era muito pequeno na época.
Então, lady Herrera também não sabia lidar com perdas.
— E como está ela agora?
— Bem melhor. O problema já foi quase todo superado. Pelo que fiquei sabendo, ela está se tratando com um ótimo psiquiatra em Londres. A medicina evoluiu muito nos últimos vinte anos.
A voz dele tremeu ligeiramente e Anahi imaginou n que deveria estar pensando. Talvez tentasse entende como sua mãe sequer pudera pensar em se matar, quando tinha dois filhos. Quando tinha um marido. Quando tinha um lar. Era provável que ele nunca soubesse se, naquela fatídica noite, sua mãe realmente tentara dar adeus à vida ou se tudo não passara de um acidente.
Anahi compreendia o dilema de Poncho que, embora mais e mais doloroso, lembrava sua própria dúvida.
Poncho se casara com ela por amor... Ou porque precisava do visto de permanência para fixar residência nos Estados Unidos?
Como ele próprio, Anahi sabia que precisava encontrar a resposta em seu coração. Ou aprender a aceitar a dúvida cruel, e tentar conviver com ela... Até o fim de sua vida.
Na semana seguinte, eles voltaram a Grand Junction a fim de conversar novamente com o Dr. Holyoak. O psiquiatra ficou tão satisfeito com o estado de Poncho, que reduziu ainda mais os remédios. Agora, ele só precisava da dose de manutenção, que se resumia a dois comprimidos diários.
As filmagens foram encerradas logo depois. O alojamento foi desativado e a cidade voltou a ter seu movimento normal. E foi aí que Anahi compreendeu que sua vida iria mudar para sempre. Califórnia. A hora da partida se aproximava. Havia, porém, uma coisa muito importante a fazer antes de ir.
Telefonar para os donos do cachorro. Eles deviam estar sofrendo. Não era justo deixá-los em agonia, sem saber se o animal estava vivo ou morto.
Conforme os dias foram se passando, Anahi esperou que Poncho falasse qualquer coisa a respeito da mudança. Mas ele nem sequer tocou no assunto. Em vez disso, passava o tempo todo fazendo jardinagem e terminando os consertos da casa. Parecia satisfeito com aquele tipo de vida. Uma semana depois, marcou uma hora com um psicoterapeuta da cidade. Quando voltou para casa, após a sessão, foi direto para a cozinha e tirou uma lata de cerveja da geladeira. O calor era insuportável, os termômetros deviam estar passando dos trinta e cinco graus. A sombra.
Anahi entrou na cozinha quando a lata já estava quase vazia. Percebeu que as mãos de Poncho tremiam ligeiramente.
Aquilo não deixava de ser muito estranho. Ele parará de tremer havia muitos dias. Ela pensara que Poncho estava bem. Ele parecia bem de verdade.
Ela perguntou:
— O que aconteceu?
Ele tomou mais um gole de cerveja.
— Estou voltando da minha consulta com o psicoterapeuta que o Dr. Holyoak recomendou.
— E... Que tal? Você gostou?
Se ele tinha gostado? Ele ficara abalado até o último fio de cabelo, isso sim. Não tinha imaginado que falar com um estranho sobre seus problemas mais íntimos fosse algo tão difícil. Mas pretendia continuar. Para seu próprio bem. Para o bem de Anahi. E dos filhos que, um dia, poderiam vir a ter.
Ele deu um sorriso irônico.
— Bem... Digamos que tenha sido uma tarde difícil para mim.
A resposta evasiva irritou Anahi. Não agüentava mais aquela espera. Por que Poncho não tomava logo uma decisão? Por que a mantinha naquela espera sem fim?
— Poncho, pelo amor de Deus, fale de uma vez por todas! Nós vamos mesmo para a Califórnia? Você pretende comprar uma casa? Eu preciso saber o que esperar da minha vida!
Ele sentiu-se tomado por uma súbita energia. A vida fluindo. Mudança. Decisão. Vontade. Uma vontade enorme contra a qual vinha lutando desde o fim do mês de abril, quando voltara para Anahi, quando vira aquele lugar pela primeira vez. Um lugar que lhe parecera mágico. Encantado.
— Não, Anahi —- ele respondeu por fim. — Nós não vamos para a Califórnia.
O coração de Anahi disparou.
— Não? Então o que vamos fazer?
Ele terminou de tomar a cerveja e jogou a lata no lixo.
— Não sei, Anahi.
— Mas...
— Já disse que não sei. — Ele parecia irritado.
— Vamos deixar para resolver isso depois. Agora, se me dá licença, vou dar uma volta com Boris.
Anahi o encarou de maneira um tanto suspeita. Eles não iam mais para a Califórnia.
Aparentemente, não iam mais a lugar nenhum. Aquilo só podia significar uma coisa.
— Alfonso, por acaso você está pensando em abandonar a carreira?
Ele olhou bem dentro dos olhos dela e a expressão de seu rosto era a de alguém que tinha perdido uma pessoa querida.
— Estou.
— Não, Poncho! Não faça isso por mim! Por favor!
Poncho lançou-lhe um olhar estranho e abriu a geladeira a fim de apanhar outra cerveja.
Anahi continuou a falar a voz carregada de ansiedade.
— Não faça isso, Poncho! Eu nunca lhe pedi para desistir da sua carreira!
Ele bateu a porta da geladeira com toda a força.
— Cale a boca!
E, dizendo isso, deixou a cozinha e saiu para o jardim, Boris afastando-se a fim de segui-lo.
Muito tempo depois Anahi ainda estava ali, no meio da cozinha, pensando no que tinha dito. Sabia que estava errada. Havia lhe pedido para desistir de sua carreira. Não diretamente, é claro. Mas de uma centena de maneiras diferentes.
Não podia ter feito aquilo.
Sentia-se cansada e muito, muito confusa. Eles tinham de ir para a Califórnia, custasse o que custasse. Alfonso jamais a perdoaria se sacrificasse a carreira por sua causa. E aquilo iria ser motivo de tantas brigas, que a separação não demoraria a chegar. O ato de representar era a vida de Poncho. E ela não queria que ele mudasse. Nunca.
Califórnia...
Era lá que morava o sonho de qualquer artista. Era lá o lugar de seu marido.
Lembrou-se do cachorro.
Boris.
E obrigou-se a fazer o que deveria ser feito.
Ligou para o número de telefone que havia aparecido na faixa. Sentia que estava fazendo a coisa certa, mas sabia também que traía Poncho da forma mais cruel possível. Paciência.
Autor(a): Mika
Este autor(a) escreve mais 24 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?
+ Fanfics do autor(a)Prévia do próximo capítulo
Talvez, se tivesse sorte, pudesse comprar o cachorro de seus verdadeiros donos. E então, Boris seria deles para sempre.Quando uma voz feminina soou do outro lado da linha Anahi pensou em desligar. Mas não o fez.— Boa tarde. Eu vi o seu anúncio a respeito de um husky siberiano perdido.— O cachorro? Você o achou? — A mulher parecia ...
Capítulo Anterior | Próximo Capítulo
Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 29
Para comentar, você deve estar logado no site.
-
queren_fortunato Postado em 16/12/2015 - 15:09:02
Que lindooooo
-
hadassa04 Postado em 02/10/2015 - 00:35:35
Sem palavras texto muito bem escrito, enredo envolvente, fiquei totalmente apaixonada.
-
hadassa04 Postado em 01/10/2015 - 17:59:39
Ai gente tadinho do Poncho surtou de vez.
-
hadassa04 Postado em 01/10/2015 - 15:44:53
Tadinho do Poncho... ele surtou por amor....
-
hadassa04 Postado em 01/10/2015 - 15:25:38
Pq agora eu sei que aconteceu alguma coisa. Então vou parar de comentar e ler um pouco mais.
-
hadassa04 Postado em 01/10/2015 - 15:24:45
Vontade de dar umas porradas na Annie por ter deixado as coisas como estavam
-
hadassa04 Postado em 01/10/2015 - 15:23:59
Vontade de matar o Poncho por não ter dado sinal de vida por 14 meses
-
hadassa04 Postado em 01/10/2015 - 15:23:19
Mikaella essa fic é bárbara, estou lendo sem conseguir parar
-
hadassa04 Postado em 01/10/2015 - 14:08:23
Mikaella sei que ja finalizou mas agora que estou começando... Então vou comentando de acordo com a leitura.
-
franmarmentini♥ Postado em 02/08/2015 - 00:34:03
Foi intensa essa fic*