Fanfic: Misteriosa e Sedutora {O Baile de Máscaras} • Vondy

Dul não pestanejou. O rosto do homem tinha cicatrizes enormes. Todas as pessoas deveriam estremecer ao vê-lo. Exatamente o que ela não podia fazer. Aliás, ela fez o contrario. Avançou decidida, em direção a ele, colocou-se na ponta dos pés e afastou uma mecha de cabelos caída sobre uma das sobrancelhas.

-         É, vc teve sorte – ela disse ao examinar a cicatriz que quase dividia a pálpebra em suas e que acabava, como um raio, no canto do olho. – Mais uma fração de milímetros, e vc teria perdido a visão. O que aconteceu? Foi acidente de carro?

-         Digamos que meu cavalo ficou sem pára-brisa.

Dul estranhou.

-         Cavalo?

Jumbo deu uma risadinha.

-         É brincadeira. Mojo e EU não sabemos montar. Nós viramos com nosso jipe.

-         Que chamam de cavalo?

Jumbo pareceu impressionado com a dedução de Dulce.

-         Acertou. Um dia, o cavalo resolveu derrubar Mojo quando foi de encontro a uma montanha.

-         Ah.

Havia alguns bancos altos junto a uma bancada. Dulce subiu em um deles. Sob os olhares perplexos, principalmente de Ucker, ela começou a levantar a manga da blusa, enrolando-a até acima do cotovelo.

-         Estão vendo? – ela expôs a cicatriz no cotovelo esquerdo. – Ela sobe até o ombro. Tive sorte em não perder o braço.

Ucker respirou fundo. Parecia ter levado um soco, não sabia que Dulce tinha sofrido algo assim.

Mojo assobiou.

-         Isso não é tudo. – Dul levantou a blusa e mostrou várias linhas próximas as costelas. – Tenho outras ainda, mas meu marido certamente não iria gostar nada se EU tentasse exibi-las aqui.

-         O que houve com vc? – Ucker quis saber.

-         Acidente de carro. Como o Mojo.

-         Quando foi?

-         Há vários anos EU diria – Mojo afirmou. – Quanto tempo teve de ficar de cama?

-         Dois meses. Sem contar as cirurgias plásticas que fiz depois.

-         EU precisei de seis meses de cama. – Mojo contou com orgulho, como se estivessem em uma competição. – Os médicos não botavam fé em minha recuperação.

-         EU perdi metade de meu sangue – Dul continuou.

-         Metade? – Mojo caçoou.

Dulce deu uma risadinha.

Quase. Se meu irmão não tivesse me acudido logo, EU não estaria aqui agora.

Ucker estava pálido.

-         Cláudio estava com vc?

-         Ele estava me seguindo.

-         Onde?

-         Costa Rica. As estradas são perigosas naquelas montanhas.

-         Trate de ficar longe delas por aqui.

-         Será difícil, não? – Dulce deu de ombros.

-         Quanto mais longe vc ficar das estradas, melhor.

Dul não deu importância à ordem de Ucker. Estava novamente atenta ao cozinheiro gigante.

-         Quanto à cozinha...

-         O que tem a cozinha? – Mojo quis saber.

-         Pelo que me disseram, é território proibido.

Mojo se limitou a cruzar os braços.

-         Bem – Dulce continuou. – Como tiramos esta manhã para revelar alguns segredos, tenho outro.

-         Outro?

-         EU não sei cozinhar.

O gigante arregalou os olhos.

-         Está falando sério?

-         Estou. Nossa cozinheira, em Costa Rica, tentou me ensinar, mas acabou desistindo. Disse que sou um caso perdido.

Ucker relaxou o suficiente para sorrir.

-         Quantos jantares estragou?

-         Perdi a conta. Por sorte, meu irmão sempre teve muita paciência comigo. Para me compensar...

-         Por minha causa? – Ucker a interrompeu.

-         Não. Por cauda de minha tia. – Dulce desceu do banco e sorriu para os empregados. – E aí? O problema foi resolvido? Continuará cozinhando para nós, Mojo?

-         Contem comigo. Se quiser algo especial para o jantar uma noite desses, é só dizer.

-         Obrigada.

-         De nada. A senhora é diferente do que EU esperava. Seu único defeito, EU acho é ser magra. Mas nisso podemos dar um jeito.

Ucker procurou abreviar a conversa, pois sabia que algo viria de Mijo, conhecia mto bem seu dom de prever as coisas, e foi conduzindo Dul até a porta.

-         Ela está bem assim. – falou Ucker.

-         Quando começar a comer por dois, ficará mais bonita ainda. – soltou Mojo.

Ucker quase tropeçou.

-         O que disse Mojo? – perguntou Dul interessada e curiosa.

-         EU herdei a percepção de minha mãe – Mojo contou.

Christopher puxou Dulce pela mão.

-         Ora, não vê que Mojo está caçoando de nós? É cedo demais para saber, não é mesmo querida?

Dul só fez que sim com a cabeça.

-         Vc ainda não entendeu, chefe? – falou Jumbo.

-         Prefiro continuar sem entender. – Ucker falou e saiu puxando pela mão de Dulce.

~//~  ~//~   Mais Tarde  ~//~  ~//~

-         Mas patrão? – Jumbo tentava contestar algo.

Ucker não ergueu os olhos do livros de contabilidade.

-         Nem mais, nem menos Jumbo. Ela está no comando. Se ela quer mudar os móveis de um lado para o outro, vc muda.

-         Mas ela está fazendo uma lista chefe!

-         Uma lista?

-         Sim. Estou dizendo isso para que vc possa se preparar.

-         Mas de que diaxo está falando Jumbo?

-         Da lista! Ela está parecendo o Papai Noel. – Jumbo começou a nadar de um lado para o outro. – EU não deveria ter espiado, mas espiei. Parece sério. A lista está toda numerada. – Jumbo parou e apoiou as mãos nos quadris. – O que é que EU faço?

-         Parece que terei de falar com ela – disse Ucker. – Sabe onde posso encontra-la?

-         Em um dos quartos. EU ficarei esperando aqui.

Chrisropher a encontrou no quarto que ele havia pensado em destinar a filha. Dulce estava curvada sobre o arco da janela que dava para o jardim. Parecia estar equilibrando algo nas mãos. No chão, ao lado dela, estava a tal lista presa a uma prancheta. Ao se lembrar da indignação com que Jumbo mencionara a lista, Ucker sorriu consigo mesmo.

Dul estava vestida de acordo com o papel que estava desempenhando, usava um avental e seus cabelos longos e macios estavam presos em um coque. Simplesmente linda.

Ucker aproximou-se sem que Dulce desse por sua presença. Em um piscar de olhos, desfez o coque e os cabelos ruivos caíram por sobre os ombros de Dulce.

-         Nunca pensei que fosse ver esse dia, mas Jumbo está com medo de vc.

Dul virou-se par Ucker e os dois riram.

-         EU percebi. Acho que foi a prancheta que o assustou. Não imaginei que um pouo de organização pudesse se transformar em um problema.

-         Já teve alguma idéia? – Ucker perguntou.

-         Na verdade, tive algumas. Em minha opinião, este é o quarto ideal para Sarita.

-         Concordo com vc.

Ucker havia se esquecido da boneca que comprara para Sarita. Quando Dul falou sobre o quarto, ele viu a caixa. Era uma boneca de porcelana com cabelos pretos longos. O vestido era feito de cetim e rendas.

-         Ouvi dizer que as meninas gostam de bonecas que se pareçam com elas – Ucker disse, constrangido.

Dul fechou os olhos e conteve um suspiro. Como um homem sensível como Ucker podia achar que não havia lugar em seu coração para o amor?

-         Ela é linda. Tenho certeza de que Sarita irá adorar.

-         EU a comprei para lhe dar de presente no Natal, mas pensei melhor e resolvi entrega-la no dia que ela se mudar para cá. Em sinal de boas-vindas. O que vc acha Dulce?

Era a primeira vez que Dulce o sentia inseguro. Ucker deveria querer mto ter essa filha consigo. Era admirável que estivesse se esforçando tanto para recebe-la. E ela o ajudaria em tudo que pudesse. Apenas lamentava, no fundo, que Ucker não tivesse demonstrado o mesmo interesse por ela, sua esposa.

-         O presente é perfeito Christopher. – Dul murmurou. – Para qualquer ocasião.

Assim que disse aquelas palavras, Dul fez menção de se afastar. Ucker segurou-a pelo braço.

-         EU fiz algo errado?

-         Não, é claro que não.

-         Vc ficou aborrecida. Por que?

-         Não seja tolo.

-         É por causa de ontem à noite? Vc acha que a deixarei em segundo plano quando minha filha chegar?

Dulce não estava com forças nem com disposição para aquela conversa. Como poderia explicar a um homem que não acreditava no amor que ela passara sua vida inteira à procura dele? E que o amor seria mto mais importante para a sua filha do que para uma linda boneca de porcelana?

Ela tbm havia sido criança um dia e sabia o que significava crescer em um ambiente frio, sem pais, sem amor e sem alegria.

Olhou para os olhos amendoados de seu marido. Já os vira brilharem como aço e como fogo. Naquele momento,estavam ternos e gentis.

-         Não Christopher. Isso não me acorreu. O que realmente me preocupa é a idéia de vc não saber mais amar.

CONTINUA...