Fanfic: Um garoto com o seu olhar

Capítulo 1 - Solidão

Fevereiro, 2001

Ele estava sentado, encostado em uma parede, em um lugar meio escondido, rodeado por plantas de pequeno e médio porte. Estava vestido com uma calça jeans preta, uma camisa social também preta, com listras verticais em tons de cinza, e um tênis preto com detalhes brancos. Seus cabelos negros, cujo corte parecia propiciar ainda mais o resultado meio bagunçado em que se situavam, eram balançados pelo vento, fazendo com que roçassem as pontas em sua testa. Estava olhando as outras crianças brincarem na piscina, com um olhar aparentemente distante, pensativo, melancólico.

É incrível como a morte dos pais pode alterar profundamente as percepções de um garoto de oito anos. Já se passara um mês, mas vê-los morrerem fez com que a depressão atingisse-o com sua força mais profunda, cruel e desumana: a força da depressão que atinge uma criança que vê seus pais serem assassinados...

...

xXxX: Olá... (disse uma voz suave)

‘Oi...’ foi o que respondeu o garoto, com um olhar triste em direção àquela linda menina de olhos castanho-claros que se punha de pé em sua frente. Ela estava vestida com uma camisa rosa curta, uma saia preta curta com um abanhado cinza, meias listradas de cores cinza e rosa que chegava aos joelhos e cabelos castanhos (quase da cor dos olhos) amarrados, com um penteado que deixava uma franja sobre o olho direito, dando-lhe um ar de anjo, mais do que os que as crianças já possuem. Ela viu aqueles lindos olhos de cor cinza claro. Que espetáculo. Nunca vira um rosto tão inimaginavelmente belo com olhos tão estranhamente penetrantes e de cor tão deslumbrante. Era tudo fascinante. E ela pensou ‘Os olhos dele são cinza... Parecem que combinam propositadamente com esse ar que paira por aqui... Tudo está cinza, sombrio... misterioso’.

xXxX: Meu nome é Amanda... Estou aqui já faz uma hora (com uma voz baixa e cautelosa, como se estivesse medindo as palavras) e desde que cheguei você está aí, nesse mesmo lugar...

A garota faz uma pausa. Percebe que ele já voltara a olhar para baixo. Ela olha para a piscina, depois olha para ele, que não retribui o olhar.

Amanda: Qual é o seu nome?

Ele demora um pouco a responder e, acariciando uma pequena flor vermelha com quatro pétalas, cada uma delas menor do que uma unha, cujo caule não chegava a ter a espessura um milímetro de diâmetro. ‘Felipe...’ Ele respondeu, sem olhar para o rosto da garota.

Amanda: Você não quer brincar...? Eu e os meus primos vamos brincar de pique-esconde, pensei em você... Estamos só dando uma trégua no jogo, mas, o que você acha...?

Lipe: (Mais uma vez demora a responder) Não estou com vontade... (olha para a piscina, vê uma criança descendo pelo tobogã. Olha para a garota, gira a flor entre o polegar e o indicador da mão esquerda, com suavidade) É melhor você ir, não perca seu tempo aqui. (Vê que o rosto dela é de uma beleza sem igual e que seus olhos, fixos nos dele, brilham como se sendo iluminados pelo brilho da lua em uma noite de lua cheia. Lembra dos seus pais. Volta sua atenção para a piscina, mas o pensamento em seus pais.)

Amanda: Ah... (com certa decepção) Não considero perda de tempo estar com você ou qualquer pessoa... Mas, me diz, porque você está aqui, tão quieto, tão... só...?

Lipe: Não quero falar sobre isso... (Diz ele, voltando a olhar para a flor).

Amanda: (sentindo a dor da flor, vendo que ele olhava agora para a flor e a apertava) Não faz isso... (com um tom decrescente de voz) Está machucando...

Lipe: (Voltando a olhar para a garota, que estava com os olhos agora marejados, e vendo que ela era tão sensível quanto a flor) Vá embora! ... Saia daqui! (disse com uma voz ríspida, olhando fixamente para ela. Preferia machucá-la assim a fazer com que ela sentisse pena dele e sofresse muito mais ao tomar conhecimento da dor que o assolava).

***