Fanfic: Um garoto com o seu olhar

Capítulo 17 - Garotas

                Felipe e Amanda estavam feridos em seus corações. Não podiam negar que ainda eram estranhos um para o outro, o que fez com que Amanda e ele cessassem o abraço. Sem nada falarem, ela seguiu em direção à porta da casa da árvore. Iria embora. Felipe olhava para o chão. A garota desceu a árvore. Ele não foi atrás.

                Já era tarde da noite. Os avós de Felipe haviam retornado do jantar. Ele não conseguia dormir. Teve um pesadelo terrível, por isso, levantou-se e foi comer alguma coisa.

xXxX: Acordado a essa hora, Lipe?

                Seu avô estava na biblioteca e o vira passar.

Felipe: Tive um pesadelo, não consigo mais dormir.

Vô Schnell: Pesadelo? Quer me contar com o que sonhava?

Felipe: Foi só um pesadelo.

                Lembrou-se do pesadelo. Uma arma apontada para sua cabeça. Sangue por toda a parte e a voz de uma pessoa gritando por ele. Decidiu tentar esquecer por um momento as imagens que vinham à tona.

Felipe: Vovô, lembra-se que hoje à tarde o senhor estava comentando que queria um motorista particular?

Vô Schnell: Lembro sim. E foi ontem à tarde, pois já passam da meia noite.

Felipe: O pai de um amigo meu é motorista e acaba de ser desempregado.

Vô Schnell: E ele é uma pessoa confiável?

Felipe: Creio que sim. Se quiser, posso falar com o meu amigo e o senhor marca uma entrevista com o pai dele. O que acha?

Vô Schnell: Sehr gut. (tradução do alemão: Muito bom.) Assim me poupa trabalho.

                Felipe e o avô conversaram mais uns vinte minutos. Logo depois, o senhor Schnell achou que era melhor seu neto tentar dormir novamente. Foi difícil, mas Felipe conseguiu finalmente dormir.

                Era sexta-feira e Felipe não apresentava aquele entusiasmo comum a todos estudantes da sua idade. O final de semana se aproximava e, com isso, poderia curtir mais a nova cidade, pois nas duas semanas anteriores mal teve tempo de sair de casa com tanta coisa para organizar.

                Chegou ao colégio e fez questão de ir até a sala de Emanuel, mesmo não sabendo onde ficava. Disse-lhe que o senhor Schnell gostaria de contratar o pai de Emanuel e essa notícia o deixou muito feliz. Emanuel também não pôde deixar de perceber a tristeza estampada na cara de Felipe, mas, pela falta de tempo, decidiu deixar o assunto para o intervalo.

Emanuel cursava o mesmo ano que Amanda, o oitavo ano do ensino fundamental, mas eles não estudavam juntos. A sala dele ficava de frente à dela e Felipe sabia muito bem, pois estivera ali no dia anterior. Amanda o vira conversando com Emanuel, pois eles estavam fora da sala. Eles trocaram tímidos olhares, o que foi suficiente para deixá-la vermelha e fizesse com que ela alisasse o cabelo, pondo-o para detrás da orelha com a mão direita.

Felipe chegou vinte minutos atrasado. Era aula de biologia, com o professor Marcelo Brandão, o mesmo das duas últimas aulas da segunda-feira. Por conta do seu atraso, o professor pegou pesado com Felipe, exigindo um resumo da aula e de tudo o que já passou para a turma. Deveria ser entregue segunda, após o final de semana. Perderia boa parte deste coletando dados sobre a origem da vida, metabolismo celular e vírus. Alice se insinuava o tempo todo, mas Felipe não estava bem. Mal olhava para ela.

Quando deu nove horas, Felipe encontrou Emanuel, que estava muito feliz pela oportunidade que Felipe conseguira para o pai. Amanda, que chegara juntamente com Luísa e outras colegas de classe, foi logo cercada por Ricardo, Guto e outros garotos do ensino médio, que praticamente voaram sobre as meninas.

Felipe sentara, como de costume, em uma mesa afastada. A mesma mesa na qual sentava todo santo dia. Emanuel não parava de falar. Contava como estivera triste ontem e seu pai e sua mãe tentavam calcular as despesas. Felipe parecia estar em outro mundo, de vez em quando olhando para Amanda, que lhe retribuía o olhar e mexia no cabelo. Ricardo notava a troca de olhares com certa inveja. Estava querendo ficar com Amanda antes mesmo de Felipe aparecer na cidade.

Emanuel: Saquei o que está acontecendo – disse Emanuel para Felipe, balançando a cabeça sorrindo maliciosamente.

Felipe: Hã?

Emanuel: Você está aí, triste, distraído. Eu vi você olhando para a Amanda. Estava quase babando. Olha, o Ricardo Holanda está fechando o cerco para ela desde que as aulas começaram. Mas, que ela é uma gatinha, é sim.

Felipe: E você, olhando para a menina que está do lado dela? Não só baba!

Emanuel: Fala baixo, cara. E o nome dela é Luísa, está bem?

Felipe: Então você confirma?

                Emanuel ficou vermelho. Contou que desde que começou a estudar no Colégio Superior em Educação, há quatro anos, é apaixonado pela Luísa. Logo se sentiu à vontade para falar sobre Luísa com Felipe.

Emanuel: E é isso. E você e Amanda, o que há entre vocês?

Felipe: A gente se beijou, antes de ontem.

                Emanuel ficou paralisado. A vice-presidente das líderes de torcida? ‘Não! Está de brincadeira comigo?’, falou, e Felipe contou o que aconteceu, resumidamente. O intervalo havia acabado e Felipe achou estranha a ausência de Alice. Descobriu que ela estava se agarrando com um garoto do terceiro ano.

                Quando retornou à sala de aula, o professor Ronaldo Maia o aguardava. Era aula de filosofia e política.