Fanfics Brasil - Um grito no vazio O dia em que a Terra parou

Fanfic: O dia em que a Terra parou | Tema: História Original


Capítulo: Um grito no vazio

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“235 anos se destruindo.


20 condenados entre 4,5 bilhões de ignorantes.


Há pouco mais de dois séculos atrás, contos de fadas nos traziam histórias de um mundo fantasioso e mágico, já hoje, contos de fadas nos trazem um planeta azul e habitável.


E é disso que não passam.


De contos de fada...


Afasto uma de minhas últimas canetas com tinta de um trapo qualquer que chamo de diário. Levanto do chão seco e rachado onde eu há pouco havia sentado. Guardando o caderno velho em minha surrada bolsa de couro, eu me sacudo levemente para tirar a maldita areia que insistia em grudar em mim. O sol, escaldante, como sempre, não hesitava em deixar horríveis manchas no alto de minhas bochechas e nariz impiedosamente, o que me deixava ainda mais irritada.


Olho para o nosso breve acampamento improvisado. Tendas do tamanho de um minúsculo casebre já antigas, caixas ou malas espalhadas despreocupadamente pelos cantos, restos de comida e uma fogueira mediana com suas chamas crepitando ruidosamente em meio à ventania que acariciava meus cabelos. Por mais calmo que tudo parecesse, não podíamos, de jeito algum, chamar a atenção de um mísero grilo.


Esfregando minhas mãos uma na outra, me permito fechar os olhos por um pequeno instante e imaginar-me sozinha em meio às estrelas que iluminavam o caminho de pessoas quaisquer que buscavam respostas no céu. Tolice.


Tirando-me de meus devaneios, uma voz masculina soa por trás de mim não muito longe.


 Ana! Vê se mexe essas suas pernas magricelas e vêm aqui me ajudar. – dizia Aaron enquanto corria desengonçadamente com um pedaço de peixe na boca em direção à tenda que ficava pouco atrás da fogueira. Soltei um suspiro massageando minhas têmporas. Nada ficava parado por muito tempo aqui.


– O que foi dessa vez? Não tinha mais ninguém para você chamar, não? – perguntei emburrada. Era meu turno para a vigia e até então eu não tivera tempo suficiente para nem mesmo um leve cochilo.


Meus pensamentos foram interrompidos por um súbito grito agonizante vindo de uma das três tendas que ali havia. Era uma voz feminina e infantil.


– Krista?! – arregalei os olhos para Aaron em busca de uma resposta que não viera, ao invés disso ele apenas apertou ainda mais o passo, já eu, preocupada, limitei-me apenas a segui-lo.


Terminando de comer o peixe de aparência duvidosa, o garoto limpou as mãos apressadamente nas calças cáqui que usava e foi logo adentrando a tenda que abrigava a dona dos preocupantes gemidos de dor.


– Krista? – ele procurava freneticamente com os olhos, provavelmente tentando adaptá-los à escuridão que ali dentro havia, até que juntos avistamos um pequeno monte em meio a pilhas de cobertores. Logo ele já estava a andar apressado para lá – Merda! O que aconteceu contigo? – ele exclamou parecendo assustado com o estado da menina.


Tomei a frente dele e corri até a garotinha que, pálida, tremia até os ossos gemendo baixinho.


Ao pousar meus olhos sobre ela meu coração apertou. Provavelmente sabia o que assombrava a saúde da pequena.


– Não... – senti minhas mãos gelarem ao olhar os sintomas de Krista. - Ei, Aaron... Não chegamos lá tarde demais, não é mesmo? – arregalei meus olhos para ele esperando uma resposta que acalmasse meu coração saltitando no peito.


Krista era a vigésima de nós, havíamos encontrando-a em meio à nossa fuga dos malditos capangas da WNGO mais cedo, enquanto passávamos por um vilarejo qualquer que havia sido atingido em cheio por uma antiga praga que vinha assombrando alguns cantos do continente, cuja origem ou tratamento ainda eram desconhecidos. Aparentemente, sua família e conhecidos estavam mortos, e os poucos sobreviventes que ali residiam, em seus últimos suspiros. Não podíamos deixá-la naquele lugar para morrer, ainda mais sozinha.


Aaron cerrou os punhos sem expressão alguma em seu rosto e deixou-se cair desajeitadamente ao meu lado sentando-se perto a mim.


A garotinha esticou a mãozinha frágil até o moreno, mas, naquele instante, ele já estava longe demais para se interar com o mundo ao redor, isso estava mais do que claro para mim.



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Autor(a): U5H10

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