Fanfic: O dia em que a Terra parou | Tema: História Original
Com destreza e agilidade me esquivei de sua mão imponente sobre meu antebraço, e, levemente agachada, me misturei à multidão que ia e vinha a todo o vapor.
Era agora ou nunca. Meu único pensamento era correr e às vezes lembrar-me de respirar.
Meus pulmões pareciam que a qualquer momento explodiriam assim como minhas pernas se despedaçariam. A única coisa que me mantinha firme era a vontade de ver papai.
Aos tropeços e trombadas com estranhos eu ia chegando cada vez mais próxima ao meu objetivo; O Centro de Controle. Lá, o atual Líder Da Base, papai, se reunia para passar e retomar estratégias e afins. Era o único lugar que eu poderia imaginar que o encontraria, o que me restava era rezar para que eu estivesse certa.
Aos poucos eu me via rodeada agora apenas por adultos com seus semblantes assustados. Era deprimente olhar para todos os cantos e em nenhum achar algo reconfortante. Afastei meus devaneios e agora, não mais correndo, eu dava passadas largas e firmes, já que, sem fôlego algum, eu estava quase me arrastando. A adrenalina evaporara e a única sensação que eu tinha era de lágrimas se formando e nublando a minha visão.
Funguei ruidosamente e com os punhos cerrados rente ao corpo eu agora já conseguia ver a entrada do prédio mediano de estrutura antiga e cinzenta. Tomei fôlego novamente e me coloquei a correr com toda a minha vontade com os braços pendendo num vai e vem em busca de forças para continuar.
Pessoas me olhavam e apontavam para mim.
“Pobre garotinha...” era a frase dita por alguns, outros simplesmente continuavam sua jornada sem dar importância ao que ocorria ao seu redor. Não os culpo, também gostaria de poder fazer o mesmo.
E então, finalmente, meus pés alcançaram os primeiros degraus da escadaria que dava acesso à entrada do edifício. Muitas pessoas circulavam por lá, em sua maioria apressadas. Deixei-me ignorar tudo ao meu redor; mães lamentando por serem separadas de seus filhos, idosos reclamando de não poderem evacuar tranquilamente, soldados impacientes com a situação...
E então eu vi papai no mesmo instante que coloquei meus pés dentro do hall de entrada.
Com seus cabelos um tanto grisalhos ele ajeitava os óculos quadrados sobre o nariz e hora ou outra afrouxava a gravata que parecia estrangula-lo aos poucos. Uma onda de alívio correu por meu corpo e me permitiu desabar de joelhos no chão frio de mármore branco e dourado do local, mas antes mesmo de apoiar meu peso completamente no chão fui segurada e levantada por um par de braços fortes que me impediam de passar e alcançar meu objetivo.
– Mas... Que diabos você está fazendo aqui, menina?! – O soldado exclamava com grosseria enquanto me colocava de pé. – Crianças não deveriam estar aqui, e algo me diz que você sabe disso!– Ele soltava as palavras fortemente atraindo a atenção de alguma das pessoas ao nosso redor.
Enquanto comprimia meus ombros rudemente ele chamava alguém, provavelmente para me levar para junto de todas aquelas crianças de novo...
– Ana! – Uma voz familiar soou pelo gélido hall. Uma voz quente e acolhedora que fez com que as lágrimas que eu segurava até então se soltassem com uma incrível facilidade. – E-Eu não acredito... – Ele correu com uma expressão num misto de preocupação e alivio. – Você deveria ter evacuado, sua pestinha...
Estiquei meus braços trêmulos em sua direção e, sem hesitar, ele me abraçou permitindo que eu afundasse minha cabeça em seu ombro.
– Eu não poderia sair daqui sem você... – funguei e levantei meu rosto para poder encarar seus olhos incrivelmente claros que tanto me acalmavam – Sem a mamãe...
– Sh Sh... Tá tudo bem, querida. – Ele alisou meus cabelos – Vai ficar tudo bem... – ele se corrigiu.
Mas eu sabia que não ia.
Outro estrondo, desta vez ecoando com muito mais intensidade. Provavelmente um desmoronamento em algum lugar não muito longe daqui.
Prensei meus braços ao redor do pescoço de papai assustada, assim como todas as pessoas que passavam de um lado para o outro.
Somos interrompidos por uma voz dura e fria vindo de uma das inúmeras portas que aquele local tinha.
– Felix, precisamos de você. – Disse outro homem bem vestido se referindo a papai – Agora. – Continuou, dessa vez olhando diretamente para mim.
Algo me dizia que eles não aceitavam a presença de crianças ali.
– Querida... Eu preciso trabalhar. – Ele segurou meus ombros com delicadeza. – Você sabe o que deve fazer, certo?
Paralisei ao ouvir suas palavras. Ele queria que eu evacuasse? Sem ele? Sozinha?
Ao perceber minha confusão interior ele logo fez um sinal de silêncio e continuou tranquilamente com seus olhos nublados:
– Vá, querida. Você vai ficar bem. Eu vou ficar bem. – Ele me deu um beijo na testa – Mamãe está olhando por nós, se lembra disso?
Ele sabia que de mim nenhuma resposta a não ser lágrimas e mais lágrimas viriam, então com um simples gesto com as mãos ele chamou um soldado e falou com um sorriso triste no rosto:
– Levem-na em segurança.
Autor(a): U5H10
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