Fanfic: Fala Sério,Amor!(Terminada)
20 ANOS
Gente intrometida
A minha mãe e a minha avó sempre gostaram de buraco. Uma vez por semana elas se reuniam com as amigas chegadas a um carteado para jogar e botar conversa fora. Encaravam aquilo como um jogo sério, mas também um momento para beber vinho e tagarelar como se não houvesse amanhã. Em alguns dias a casa ficava lotada, com uma mesa da Terceira Idade (que minha avó preferia chamar de Melhor Idade) e outra da Gostosa Idade (como minha mãe se referia aos 40 e uns dela e das amigas). Eu, claro, tentava arrumar algo pra fazer na rua e não ser abduzida para o mundo do baralho. Quando não conseguia, ficava no quarto com meus irmãos navegando na web ou jogando algum videogame.
Num desses dias de carteado eu estava bem tristinha. O palhaço do Cadu, meu namorado de uns quatro meses, tinha saído com os amigos na noite anterior e eu só soube no dia seguinte. E ele não foi para um programinha masculino, tipo Maraca ou jogo de sinuca, não! Foi para um barzinho cheio de gente bonita no Leblon, não me levou sei lá por quê. Disse que ia ficar em casa estudando. Palhaço! Mil vezes palhaço! Ele só não esperava que a Angel estivesse no mesmo lugar. Ela me disse que ele estava todo animadinho, todo sorrisos, alegre, feliz como nunca, cercado de amiguinhos idiotinhas.
Poxa, ele podia ter me dito que ia sair com os amigos, né? Eu não ia ficar chateada, nunca fiz o tipo ciumenta, ciúme não é a minha praia, sempre achei que ambos os lados merecem ter momentos únicos com os amigos. Mas como ele não contou, pior!, mentiu!, eu estava pau da vida.
O meu celular tocou. Era o palhaço. A Miranda estava ao telefone
há horas com uma amiga, então saí do quarto pra falar no corredor.
— Custava ter me dito a verdade? — fui logo dizendo.
— Que verdade? — o palhaço cínico se fez de palhaço desentendido. — Que em vez de ver um filme comigo você preferia sair com seus amigos?
— Como é que é? — indagou o palhaço, bancando o indignado.
— Eu sei de tudo, Cadu. Sei que você estava ontem à noite no Leblon com aquela camiseta com uma prancha estampada que eu te dei, com o Zé, o João, o Thiago e o Lucas.
— Fala sério, amor! De onde você tirou essa idéia? — dissimulou o palhaço.
— Não vem com fala sério, amor pra cima de mim, não, Cadu! E pára de mentir porque eu odeio mentira! A Angel me contou tudo!
Nesse momento, senti que o burburinho da sala, onde estavam minha mãe, minha avó e amigas, havia parado por completo. A sala agora parecia uma biblioteca, silêncio total.
— Que fofoqueira! — entregou-se o palhaço.
— Fofoqueira nada! — indignei-me.
— Ela é sua amiga, isso sim! — gritou minha avó da sala.
Levei um susto.
— Homem é tudo igual, não presta desde novinho — concordou Ninel , amiga da família há anos.
Resolvi aproveitar a deixa.
— A Angel é minha amiga! Ela só quer o meu bem!
— Ela quer separar a gente, isso sim! Invejosa! Barangona!
Encalhada! — enfureceu-se o palhaço.
— Eu vou virar sapatão e namorar a Angel! Fala isso que assim esse idiota pára de atormentar você, Jennifer Maria! Não enche o saco, garotão de meia-tigela! — gritou dona Hilda, uma velhinha empinada, ex-bailarina, que sempre pareceu ser a mais recatada e elegante de todas, num surto que me surpreendeu e me deixou de olhos arregalados.
— Nada disso! Volta pra camiseta! Que audácia! Onde já se viu? Uma tremenda falta de respeito ele ir pra gandaia com os amigos fanfarrões com uma camiseta que você deu com tanto amor! — opinou dona Ruth, de uns 75 anos, que eu nunca tinha visto na vida.
— E pede ela de volta! Se estiver em bom estado eu dou pro meu afilhado — berrou Maite, amiga de anos da minha mãe. .
Achei ótima a sugestão das senhoras que estavam completamente envolvidas na minha discussão amorosa.
— Precisava ter ido com a camiseta que eu te dei? Se você tivesse ficado com alguém a minha camiseta agora estaria com o cheiro da mocréia. Uma camiseta tão linda, que eu te dei só porque você gosta de pegar onda.
— Mas é péssimo surfista! Péssimo surfista! Fala isso, Jennifer Maria! — gritou minha mãe.
— Mesmo sendo péssimo surfista! Péssimo surfista! — disse eu, feliz por espezinhar o palhaço após o conselho materno.
— Não peguei ninguém, Jenni — assegurou o palhaço. — Nem ia pegar, não fui com essa intenção.
— Então por que foi com a camiseta? Você sabe que fica bem gatinho com ela.
— Só peguei porque era a primeira da pilha na gaveta — respondeu o palhaço insensível.
— E por que não me chamou pra ir com vocês? — quis saber eu.
— Por que esses pastéis estão tão murchos, hein? São de ontem, Dulce Maria? — quis saber minha avó,Blanca.
— Claro que não, mamãe, fiz hoje à tarde.
— Estão uma porcaria. Uma por-ca-ri-a! — estrilou Ninel.
— Não é de admirar que com uma mãe relaxada dessas a Jennifer Maria seja relaxada nos relacionamentos.
— Dona Hilda! Que absurdo! Eu não sou nada relaxada!
— É, sim, senhora, não discuta comigo! Relaxada, relaxada, relaxada! Olha aí, sua filha também é e por isso o cara meteu um par de chifres na testa dela — concluiu dona Hilda.
— Dona Hilda! Eu não sei se ele me chifrou! — reagi, exaltada, tapando o telefone para que o Cadu não ouvisse.
— Tadinha, Jennifer Maria é do tipo que vai sofrer com homem pro resto da vida — decretou Ninel.
— Ah, isso vai — concordou Maite.
— Droga! Não devia ter jogado fora o ás de copas! Podia ter feito uma trinca.
— Cala a boca, Ninel! Pára de entregar o jogo! — manifestou-se Maite. — Dá pra ouvir a conversa da Jennifr Maria e jogar ao mesmo tempo! Atenção nas cartas!
Precisei intervir de novo, dessa vez, apareci na sala para acalmar a mulherada exaltada que metia a colher no meu relacionamento.
— Gente! Eu tô falando! Silêncio, por favor! — pedi, irritada. — E então, posso saber por que você não me chamou, Cadu?
— Porque eu estava com o Thiago. E você não gosta do Thiago. Ele queria conversar e...
— Quem disse que eu não gosto do Thiago? — perguntei.
— Caguei pro Thiago! Caguei baldes pro Thiago! — berrou dona Hilda, inflamada, do alto dos seus quase 100 anos.
Ignorei essa parte.
— Thiago é um libertino! Um libertino! — opinou minha avó, com as vísceras.
Ignorei essa parte também. Até porque não tinha idéia do que era libertino. E a minha avó não conhecia o Thiago.
— A base de uma relação é a sinceridade, Cadu — desabafei.
— Boa, Jennifer Maria! — apoiou-me Fuzz, amiga de poucos dias da minha mãe, quietinha até então. — Esse vinho tá com gosto de vinagre, hein?(Não muda nunca....¬¬)
— Tá, é? Comprei na promoção...
— Eu te avisei, Dulce Maria, eu te avisei, vinho em promoção é uma porcaria! Vai dar dor de cabeça em todo mundo! — enfatizou minha avó.
— A gente sempre contou a verdade um pro outro — disse eu, já meio zonza com tanto bafafá. — E agora? Como é que eu vou fazer pra confiar em você novamente, hein?
— Hein? — exaltou-se Ninel. — Repete, Jennifer Maria!
— E meus sentimentos, como é que ficam? Você acha que eu sou um capacho que você pisa, pisa e eu continuo te amando? Não mesmo! Eu sou uma menina de respeito, muito direitinha! Vai cantar em outro galinheiro, seu safadinho! — disse dona Hilda.
— Vai catar coquinho! - gritou dona Ruth.
— Fecha a canastra, Ruth! Ô, gente, presta atenção no jogo! — exasperou-se Maite.
Aquela discussão com tantas participações especiais estava me enlouquecendo. Fui para a sala novamente e pedi silêncio para a mulherada.
— Shhhh!!!! — fiz, enérgica.
Voltei para o corredor.
— Então, Cadu, como eu estava dizendo...
— Está tudo acabado entre nós! — gritou minha mãe, ignorando meu apelo de silêncio.
— E não me procura mais! Seu delinqüentezinho sem caráter, devasso e mentiroso! — acrescentou minha avó. — Minha filha, essa samambaia está horrorosa, você não tem mão pra planta, impressionante. Tsc, tsc, tsc... E pensar que eu sou ótima com tudo o que é verde, que desgosto...
— Eu sou péssima dona de casa, mamãe.
— Ah, isso é mesmo. Não foi à toa que quase Christopher te largou. Jennifer Maria vai pelo mesmo caminho. Não vai ter homem que agüente essa menina — rogou minha avó.
Ainda sem acreditar que estava naquela situação nonsense, tentei ignorar as vozes da sala e continuar com o Cadu:
— Acho que a gente precisa conversar ao vivo...
— Pra quê? Ô, garota burra! — gritou dona Hilda.
— Vai voltar pra ele que nem um cachorrinho. Mulher é tudo igual, viu? — completou Maite.
— Pára, gente! Ele é meu namorado! E tem que se explicar direito — eu pedi a compreensão das senhoras, que a essa altura tinham esquecido a jogatina. O meu diálogo estava muito melhor do que o marasmo das cartas.
— Quem é que tá aí? — perguntou o palhaço.
— As amigas da minha mãe e da minha avó.
— E suas amigas! Só queremos o seu bem! Vimos você nascer, te pegamos no colo e trocamos muita fralda sua suja de cocô. Diz isso pra esse traidor, Jenni! — acrescentou Ninel.
— Jenni, não, Ninel. Jennifer Maria, por favor — corrigiu minha mãe.
Ignorei as duas.
— A gente pode se ver amanhã?
— Pode — respondeu o palhaço, mais calminho.
— E leva todos os presentes que eu, idiota, comprei pra você com a minha mesada. Quero tudo de volta — gritou minha mãe.
— Eu te amo — declarou-se o palhaço, meloso.
— Eu não sei se te amo mais.
— Claro que eu não te amo mais! Eu não te amo maaaaaiiisss!!! Ó, garota buuurra! — xingou-me de novo dona Hilda. Suuuuper fofa. Continuei com o Cadu:
— Preciso olhar no seu olho e entender o porquê dessa mentira. Eu não tolero mentira.
— Eu não perdôo mentira! Perdôo tudo, menos mentira, seu bostinha! — meteu-se dona Hilda de novo na minha conversa. — Perdoar é muito mais forte que tolerar! Jennifer Maria é péssima nos argumentos. Ó, garota sem iniciativa! Sem vocabulário! Não acredito, Ninel, você deixou passar o quatro de paus!
— Você tá muito brava comigo? — quis saber o palhaço, fazendo voz de criança carente.
— Brava, triste e magoada.
— E me sentindo traída! Traída, seu filho-d...!
— Dona Hildaaaa! Olha a boca! A JenniferMaria não fala palavrão! — irritou-se minha mãe. — As discussões dela são no salto alto! — orgulhou-se.
Taí uma verdade. Nunca baixei o nível nas minhas discussões. Sou uma barraqueira muito chique.
Desliguei o telefone e voltei para a sala, exausta. As vozes femininas e suas opiniões exacerbadas ainda ecoavam na minha cabeça.
As mulheres estavam paradas, olhando para mim, em silêncio, esperando uma frase, uma atitude, um sorriso.
— Vocês, hein? Não perdoam, mesmo!
Elas riram orgulhosas.
— Obrigada pela ajuda. Vocês foram nota mil. Um pouco intrometidas demais, mas nota mil.
— E vê se segue nossos conselhos, hein, Jennifer Maria? Odeio dar conselho pra uma pessoa e vê-la fazer exatamente o contrário. Nada me irrita mais do que isso — disse dona Ruth, aquela que eu nunca tinha visto na vida.
No dia seguinte, continuei sem entender por que o Cadu não me disse que ia sair com os amigos e terminei com ele.
E ainda pedi a camiseta de surfista pro afilhado da Ninel, que (pasme!) ligou pra cobrar.
Comentemmmmmmmmm Plixxxxxxxxxxxx
Bjs Miranda ^^
Autor(a): mrbdlove175
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Comentários da Fanfic 5
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rufleskari Postado em 19/11/2009 - 13:45:58
Adorei
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mione Postado em 19/11/2009 - 02:16:38
muito boa a sua web
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writer Postado em 19/11/2009 - 01:26:47
Pô, muito boa! Depois passa na minha webnovela, me cadastrei ontem.
Minha webnovela é 'Um garoto com o seu olhar'. Não tem nada a ver com RBD, é criação minha mesmo. ^^
Parebéns, continue postando! Tá ficando legal! -
ponchitoydulcita Postado em 19/11/2009 - 01:06:45
adorei tudinho posta mais
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ponchitoydulcita Postado em 19/11/2009 - 00:31:56
adorei posta mais