Fanfic: Fala Sério,Mãe!(Terminada)
21 anos
Vôo solo
- Você tem certeza de que é isso que você quer?
- Absoluta.
Com olhos e cílios encharcados, ela me deu mais um abraço esmagado. Era o décimo, décimo primeiro, por aí. Mas parecia o ultima daquela manhã em que, de malas prontas, eu me despedia de uma era. Dentro de alguns instantes, fecharia a porta e deixaria para trás o apartamento e todas as histórias que vivi dentro dele.
Ah, se as paredes falassem! Eu sei que falei por elas. E como! Mamãe também falou. Dez vezes mais que eu. Miranda e Juju falaram e continuam, como a mamãe, falando muito, sempre. Enquanto morou aqui, meu pai, verdade seja dita, também falou pelos cotovelos. Somos uma família de comunicação. Literalmente, já que eu me formo em Jornalismo no ano que vem e o Juju demonstra sérias inclinações para a profissão. Miranda já avisou que quer ser médica, mas meus pais preferem acreditar que, em vez disso, ela se tornará uma famosa jornalista especializada em saúde.
Agora acabou o que era doce. Tenho de ir. Mesmo. Os diálogos, as emoções e todos os momentos que importam vão ficar guardados numa gavetinha muito especial da memória. Toda vez que der saudade é só ir lá, abrir, relembrar e matar a saudade.
Saio tranqüila, boba de felicidade, com a sensação indescritível de quem realiza um sonho. Com a grana do estágio, consegui dizer sim à proposta de uma colega de turma para dividir um minimicromicroapartamento em Copacabana, Que é perto da minha faculdade e do meu estágio, com ela e mais quatro amigas.
Decisão dura de ser tomada, afinal, com a minha mãe, além de casa, comida e roupa lavada, sempre tive amor, atenção e colo. Mas estava desgastante ir da Tijuca para a Urca, da Urca para o Flamengo e do Flamengo para a Tijuca todo santo dia. Minha mãe não reagiu nada bem quando eu contei a novidade.
- Não diga sandice, Jennifer Maria! Você é um bebê! – ela esperneou, mão no peito, expressões de diva de ópera.
- Mas eu vou vir sempre aqui.
- Não é a mesma coisa! Ai, Deus, a minha filha não gosta de mim! O que foi que eu fiz?
- Mãe, que drama desnecessário! Eu te amo, você sabe disso. Mas preciso viver minha vida.
Depois de muito choro, de muito abraço e de muitas juras de que a visitaria toda a semana, mamãe viu que a mudança era a melhor solução e conformou-se.
- Levou suas bonecas, seus bichinhos de pelúcia? – perguntou, lágrimas nos olhos.
- Não. Vou deixar tudo aí.
- Não acredito! Jurei que fosse me livrar daquela tralha! Aquilo só serve para acumular poeira.
- Lamento, mãe, mas eles não cabem na minha casa nova.
- E sua foto com o Tio Patinhas? Tirei do porta-retratos da sala e botei na sua mala, para você enfeitar a casa nova.
- Não acredito! Aquela foto é péssima, estou hor-ro-ro-sa nela, você que insistiu para bater!
- E cobertores, lençóis, essas coisas? Pegou tudo direitinho?
- Sim.
- Como você vai fazer para lavá-los?
- Acumulo a roupa suja até fazer um montão e trago aqui quando vier te visitar.
- De “acumulo a roupa” até “um montão” está corretíssima. A segunda parte é que não vai acontecer. Recomendo que você descubra onde tem lavanderia na sua vizinhança ou compre uma máquina de lavar.
- Não cabe no apartamento.
- Não cabe nada nesse apartamento? Como é que vocês vão fazer com o sofá?
- Que sofá? Não tem sofá, tem só uma poltrona e uma cadeira.
- E onde as pessoas vão sentar?
- Na poltrona, na cadeira ou no chão, ué.
- No chão?
- Estilo oriental, mãe, é só levar na esportiva.
- E as camas?
- Tudo beliche.
- Para descobrir segredo, você sabe, é só botar o chinelo em cima da barriga da pessoa quando ela estiver dormindo e começar a fazer perguntas.
- Fala sério, mãe! Eu não quero descobrir segredo de ninguém. Segredo é segredo, a pessoa me conta se quiser.
- Ah, é que eu quero dar dicas, mães dão dicas quando os filhos saem de debaixo de sua saia.
- Então trate de me dar uma dica melhor.
- Deixe-me ver, deixe-me ver... já sei! Antes de sair não deixe de conferir se todas as luzes estão apagadas.
- Tá. Boa dica.
- Observe os prazos de validade antes de comprar.
- Beleza.
- Não se drogue.
- Nunca!
- Não solte pum de janela fechada, você disse que o apartamento é um ovo e seu pum é pum de categoria.
- Tá, mãe, pode deixar – concordei, com um sorriso.
- Não fale com estranhos.
- Manhê! Se eu não falar com estranhos, não caso!
- É verdade, é verdade, Deus me livre.
- Também não é para “Deus me livre!”, né?
- Tem razão, filhota. Ah, sim! Cuidado ao atravessar a rua!
- Mãe, eu tenho 21, não 2 + 1!
- Tá! Tá! Lembrei de uma dica importantísssima: compre um aspirador portátil, é a invenção do século.
- Vou botar na minha lista de desejos de aniversário, quem sabe assim eu não ganho um de presente?
- Entendi a indireta, está bem, eu dou o aspirador.
- Oba!
- Outra coisa: não namore mais meninos do tipo adrenalina. Não quero mais ver você pulando de asa-delta, de pára-quedas, de bungee jump, cuspindo fogo... nada disso! E motoqueiro, nem pensar! Fora de cogitação!
- Tá ótimo, mãe. Mais dicas?
- Tenho. Não perca o hábito de abraçar quem você ama.
- Xá comigo.
- E não faça sexo sem amor.
- Ô, mãe... aí eu não posso prometer – impliquei.
- JenniferMaria, olha o respeito! – bancou a ríspida para logo depois rir cúmplice comigo.
Passamos alguns segundos com os olhos grudados uma na outra, sem piscar. O que se passava pela cabeça dela eu não sei. Na minha, um monte de cenas da minha vida, cenas engraçadas, desastradas, tristes... cenas com ela.
- Vou sentir saudades das nossas conversas, mãe.
- Eu também. Muita.
- Até das nossas brigas.
- Até. Aprendi muito com elas. Aprendi muito com você.
- Jura? – reagi, surpresa.
- Se você tiver aprendido comigo um décimo do que eu aprendi com você, serei uma mãe para lá de feliz, pois vou saber que te criei muito bem para esse mundo doido aí de fora.
- Pára, mãe! Assim eu vou chorar!
Agarrei minha mãezona e a enchi de beijos. Depois disse:
- Ainda vamos aprender muito uma com a outra. Não é porque estou saindo de casa que vou deixar de aprender com você. Temos a vida toda pela frente.
- Arrã... – disse ela baixinho, enxugando as lágrimas, evitando me olhar nos olhos para não abrir ainda mais a torneira.
Depois de me despedir de nariz inchado de todo mundo, eu me virei e fechei a porta, partindo para uma nova etapa da minha vida. Quando saí do prédio, Angel e Zora já me esperavam no carro. Do meu agora antigo apartamento, veio o último aviso:
- Jennifer Maria! Não se esqueça de só deixar o tênis do chulé na área de serviço ou do lado de fora da janela! Senão as meninas não vão mais conseguir dormir!
Olhei para cima com cara de brava, mas abri um sorrisão quando vi minha família debruçada na janela para me dar até logo. Minha mãe me encarava como quem encara uma criança indefesa. Naquele momento, me emocionei e tive a gostosa certeza de que ela não vai mudar nunca, por mais que eu cresça.
Entrei no carro e Angel brincou:
- Não adianta. Mãe é tudo igual, só muda de endereço. Lá em casa foi a mesma coisa na hora da despedida.
- É... – concordei sorrindo, antes de abrir o vidro para o último recado familiar: - Eu não tenho chulé!
- Tem sim! – berrou minha mãe, toda chorosa.
- Um beijo, mãe! E obrigada por tudo! Eu te amo! – gritei, lá do fundo da alma.
- Eu também, minha filha. E quando chegar no apartamento me liga!
Não tive tempo de responder. O carro arrancou, as lágrimas escorriam.
FIM
Cabôoo
Valeu pra quem leu(Só uma,mas tudo bem NÉ?)
Autor(a): mrbdlove175
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Comentários da Fanfic 9
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ametrine Postado em 23/11/2009 - 19:45:31
LINDA,MARAVILHOSA WEB,QUASE CHOREI TAMBEM NO FINAL,TAVA OUVINDO UMA MUSICA TRISTE...!!!!!!!!!!!!!!!!!! PARABENS!!!!!!!!!!!!!!1
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ametrine Postado em 22/11/2009 - 08:09:00
eeee mae chata,posta ++++++++++++++++++++++++++++++
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ametrine Postado em 21/11/2009 - 13:53:09
adorei!!!!!!!!!!
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ametrine Postado em 21/11/2009 - 08:12:07
POSTA +++++++++++++++++++++++++++
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ametrine Postado em 20/11/2009 - 14:54:29
posta +++++++++++ que menina atirada!!!!!!!
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ametrine Postado em 20/11/2009 - 06:59:42
ai! que isso! eu tenho 12 anos,e minha mãe nunca precisou fazer isso comigo,eu to amando,posta +++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++
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ametrine Postado em 19/11/2009 - 18:08:13
se fosse eu,botava essa menina no carro,mandava pra casa com o pai,assistia 300 filmes no shopping e ela ficava sem shopping por 1 ano,que menina abusada!
POSTA ++++++++++++++++++++++ -
rufleskari Postado em 19/11/2009 - 13:49:48
Adorei!!!
Posta mais!!!!! -
mione Postado em 19/11/2009 - 02:17:56
adorei